por Massimo Polidoro
(Continuação)
O PASSO EM FALSO DE HOUDINI
Quando o comitê se encontrou um mês mais tarde aí claramente havia uma guerra aberta entre Houdini, que queria expor a médium de uma vez por todas, e Margery, que queria fazer com que Houdini parecesse um tolo.
Foi então que Houdini fez seu pior movimento, introduzindo no cenário experimental uma limitação ridícula para controlar a médium. Era uma caixa de madeira grande dentro da qual a médium sentar-se-ia deixando só a sua cabeça e mãos para fora.
O problema principal com forma tão extrema de controle é que dava à médium a oportunidade de queixar-se que o gabinete impedia a materialização dos “pseudópodes” necessários para executar os fenômenos e a dava um álibi para uma possível ausência dos mesmos.
Havia também outra desvantagem: se o gabinete não fosse realmente à prova de fraude como Houdini acreditava ser e Margery pudesse achar uma maneira de fazer algumas fraudes, ela podia alegar que isto provava que ela tinha demonstrado capacidades paranormais. Se a fraude mais tarde fosse descoberta, Houdini pareceria incompetente.
Em 25 de agosto, no apartamento de o Dr. Comstock, Margery foi “encaixotada” e as luzes apagadas. A caixa com o sino, colocada numa mesa na frente do gabinete, tocou, mas quando as luzes foram ligadas, a tampa no gabinete parecia ter sido forçada para abrir. Houdini sugeriu que, com a tampa aberta, Margery podia ter tocado o sino por jogar sua cabeça para a frente. A médium negou qualquer responsabilidade alegando que ‘Walter’ tinha forçado a abrir a caixa-gabinete.
O gabinete tinha provado sua inutilidade mas Houdini quis tentar novamente. Ele tinha selado tampa com faixas de aço e cadeados e preparado para a próxima noite.
Essa noite começou com a entrada dramática de Bird que exigiu saber por que ele tinha sido deixado de fora das sessões espíritas. Houdini respondeu friamente, “Oponho-me ao Sr. Bird estar no local de sessão espírita porque traiu o Comitê e impediu seu trabalho. Ele não manteve para si coisas que lhe foram contadas em confiança mais estrita como deve a um Secretário ao Comitê” (Ibid., p. 15). Bird a princípio negou mas então admitiu que uma preocupada Margery o tinha convencido a contá-la os fatos. Tendo dito então, renunciou do comitê e partiu.
Então e aí Prince foi eleito como o novo Secretário. A sessão espírita começou com Margery confinada na caixa-gabinete e Houdini e Prince em seus lados segurando as suas mãos. Houdini particularmente insistiu que Prince nunca soltasse a mão da médium até que a sessão espírita estivesse terminada. Isto levou Margery a perguntar para Houdini o que ele tinha em sua mente.
- “Você realmente quer saber?” Houdini perguntou.
- “Sim”, disse a médium.
- “Bem, eu te contarei. Em caso de você ter contrabandeado algo para dentro da caixa-gabinete você agora não pode ocultar isto com suas mãos enquanto estejam seguras e enquanto elas estejam envolvidas você está desamparada”
- “Você quer me revistar?” ela perguntou.
- “Não, não se preocupe, esqueça,” disse Houdini. “Eu não sou médico”.
Logo depois, ‘Walter’ apareceu no círculo dizendo:
- “Houdini, você é muito esperto de fato mas isso não funcionará. Suponho que foi um acidente que essas coisas foram deixadas no gabinete?”
- “O que foi deixado no gabinete?” perguntou o mágico.
- “Foi puro acidente isto? Você não estava aqui mas seu assistente estava”.
‘Walter’ então declarou que uma régua seria achada na caixa do gabinete sob um travesseiro nos pés da médium e acusou Houdini de ter seu assistente o colocado aí para jogar suspeita sobre sua irmã. Então ele terminou com uma explosão violenta em que exclamou:
- “Houdini, seu maldito filho da puta, saia daqui e nunca mais volte. Se você não o fizer eu o farei”! (Pp. 17-18).
Uma procura do gabinete revelou a presença de uma régua de carpinteiro desmontável. Mas a pergunta surgiu: quem a colocou aí? Houdini alegou que foi Margery. Colocando a régua pela abertura do pescoço, o mágico explicou, ela facilmente podia ter tocado o sino. Também, a médium tinha sugerido que os buracos dos braços nos lados do gabinete fossem entabuados o que permitiria que ela movesse as suas mãos livremente e não controladas dentro do gabinete. Margery rejeitou as acusações e acusou Houdini, sugerindo que seu assistente Jim Collins tinha escondido a régua para desacreditá-la.
Collins, no entanto, tinha sido interrogado essa mesma noite na ausência do Houdini, e prestou juramento que ele não colocou qualquer régua dentro do gabinete, que ele nunca tinha visto essa régua, e que sua própria régua estava no seu bolso.
Mas de acordo com escritor William Lindsay Gresham, Collins admitiu que escondeu a régua: "Eu mesmo atirei isto na caixa. O chefe me pediu que o fizesse. ‘Ele queria dar um bom jeito nela’"(Gresham, bom 1961, p. 219).
Milbourne Christopher, mágico e historiador, expressou dúvida sobre este incidente em Houdini the Untold Story.
A fonte desta história, embora não dada por Gresham, foi Fred Keating, um mágico que tinha sido convidado dos Crandons em sua casa na rua Lime na época em que Carrington investigava a médium. Keating, no entanto, não era imparcial. Vários dias antes de Gresham falar com ele, Keating tinha visto um manuscrito inédito na coleção deste autor em que Houdini, enquanto elogiava Keating enquanto mágico, tinha comentado em termos pouco lisonjeiros as capacidades de Keating como um investigador de fenômenos psíquicos. Na opinião deste escritor, a história de admissão de Collins é pura ficção (Christopher, 1969, p. 198).
Quem pôs a régua na caixa permanece desconhecido até hoje. Talvez tivesse sido revelado se na época um laboratório pudesse ter examinado a régua achada dentro da caixa pelas impressões digitais ou outros vestígios úteis. Evidentemente o comitê da Scientific American não era tão científico afinal de contas.
Continua...
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