por Massimo Polidoro
(Continuação)
UMA MULHER EM DECLÍNIO
Os defensores de Margery a abandonaram um depois do outro, e a mulher, mais velha e mais gorda, procurou a consolação no álcool. As sessões espíritas, entretanto, continuaram e Crandon tentou de manter vivo o interesse em sua “Psique” recorrendo a qualquer estratagema que ele pudesse pensar.
Em uma destas sessões, por exemplo, Margery tentou repetir a experiência famosa de ligar dois anéis de madeira tentada 50 anos antes pelo Prof. Zollner com o médium Henry Slade. “Êxito”! regozijou o Dr. Crandon: Margery tinha podido ligar dois anéis feitos de madeiras diferentes. Por fim uma prova definitiva, sólida de algo que desafiava a física, matéria através de matéria.
Já que não é difícil de disfarçar a madeira ao longo da separação de tal maneira a deixá-la invisível ao olho, foi alegado que só os raios-x podiam estabelecer a verdade. Os anéis então foram enviados a Senhor Oliver Lodge na Inglaterra para prova independente. Quando Lodge abriu o pacote enviado pelos Crandons, no entanto, ele descobriu que um dos anéis tinha sido feito em pedaços, provavelmente durante a viagem. O que podia ter sido a única prova sólida da existência da realidade do sobrenatural, a “Pedra Rosetta” do espiritualismo, não tinha sequer sido bem empacotada. Que pena!
Em 1939, o Dr. Crandon morreu, e Mina, já por então uma alcoólatra inveterada, entrou num estado de profunda depressão. Em uma de suas últimas sessões espíritas, ela tentou saltar do telhado da casa.
Nos arquivos de Prince na ASPR ainda há uma coleção de documentos e relatórios inéditos, escrito pelos cientistas de Harvard e por vários pesquisadores psíquicos, dos quais emerge uma teoria interessante para explicar as sessões espíritas de Margery (Silverman, pp. 380-381).
As sessões espíritas podem ter sido um tipo de charada conjugal com a platéia de Margery não sendo Houdini, nem o grupo da Scientific American, nem os outros investigadores, mas seu marido. Ela ajudou-o a enganar a si próprio sobre suas capacidades psíquicas para poupar a ruína de seu casamento. Eles eram muito diferentes entre si, e Crandon tinha ficado entediado dela logo depois do casamento; no entanto, ele também tinha um temor forte da morte. Ao tentar mantê-lo ao seu lado, Margery acertou na idéia de manifestar espíritos para ele e isto funcionou. Ele agora se sentia como um novo Galileu para o meio milhão de seguidores de Margery, e continuou a exigir novos fenômenos. Veio exigir novas demonstrações da sua esposa com “manifesta brutalidade”.
A opinião dos vários peritos era que Margery queria abandonar as sessões espíritas e confessar a fraude, mas não o fez por saber que isto acabaria com seu casamento. O espião de Houdini, Griscom, tinha mesmo revelado ao mágico que uma vez, quando estava sozinho com a médium, ela expôs a ele sua admiração por Houdini por não ser enganado por ela, e por não ter medo “de dizer onde é o seu lugar”. “Respeito Houdini,” disse a Griscom, “mais que qualquer um do grupo. Tem ambos os pés no chão o tempo todo” (Ibid., p. 383).
A história de Margery acaba com um conto que soa folclórico, mas serve devidamente ao caráter misterioso que a médium tinha criado para si. Sentando ao lado da cama de Margery nos últimos dias de sua vida, o pesquisador psíquico Nandon Fodor lhe sugeriu que morreria mais feliz se ditasse uma confissão a ele e revelasse os métodos que usara para produzir seus fenômenos. Mina murmurou algo indiscernível. Fodor pediu-lhe que repetisse.
- “Certamente,” disse, “Eu disse que você pode ir para o inferno. Todos vocês ‘pesquisadores psíquicos’ podem ir para o inferno”.
Então, algo muito como a velha cintilação familiar de alegria nos seus olhos, ela o olhou e deu risadinhas suavemente:
- “Por que você não adivinha?” disse, e deu risadinhas outra vez. “Vocês irão todos adivinhar… para o resto de suas vidas”. (Tietze, p. 184-5).
Fim da série
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BIBLIOGRAFIA
Bird, J. M. 1924. Our Next Psychic, Scientific American, July 1924.
Christopher, M. 1969. Houdini: The Untold Story. New York: Thomas Y. Crowell.
Dingwall, E. J. 1928. Report on a Series of Sittings with the Medium Margery. Proceedings of the SPR, vol. XXXVI.
Doyle, A. C. 1930. The Edge of the Unknown. Reprint: 1992, New York: Barnes & Noble.
Gresham, W. L. 1961. Houdini: The Man Who Walked Through Walls. New York: Macfadden Books.
Houdini, H. 1924. Houdini Exposes the Tricks Used by Boston Medium “Margery”. New York: Adams Press Publishers.
Polidoro, M. 1995. Vaggio tra gli spiriti. (VA): Sugarco.
Prince, W. F. 1923. Review of My Psychic Adventure, Journal of the ASPR, vol. XVIII.
—–. 1933. The Case Against Margery, Scientific American, May 1933. Rhine, J. B. and Rhine, L. E. 1927. One Evening’s Observations on the Margery Mediumship. Journal of Abnormal Social Psychology
Silverman, K. 1996. Houdini!!! The Career of Erich Weiss. New York: Harper Collins.
—–. 1996. Notes to Houdini.!!! New York: Kaufman and Greenberg. Tietze, T. R. 1973. Margery. New York: Harper & Row.
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Artigo publicado na Skeptic, 1997, Vol. 5, Issue 3, tradução gentilmente autorizada
Traduzido por Vitor Moura através da Iniciativa Lúmen. Imagem de capa: The Margery’s Box / N.A.N., 2007. Outras imagens: Felix Physical Seance Circle.
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