quinta-feira, 26 de julho de 2012

Eu acredito em fantasmas porque já vi um!

por Cleiton Heredia


Sabe quando alguém chega para você e argumenta: "Eu creio em espíritos porque eu já os vi com os meus próprios olhos?" Isto é algo que impressiona, não é mesmo? E mais ainda quando na sequência começa a lhe relatar com detalhes a experiência vivida por ele.

Muitos entendem que este tipo de testemunho é algo tão forte que poderia ser classificado como irrefutável. Será?

Sei o que você deve estar pensando: "As pessoas podem mentir ou podem ser enganadas a ver algo que não existe". Mas vamos imaginar uma situação onde podemos descartar com certeza absoluta não se tratar de uma mentira e nem de uma fraude. Ou ainda melhor, vamos imaginar que você mesmo os tenha visto. E agora? Fica difícil não acreditar, não é mesmo?

Bem, as coisas não são assim tão simples como aparentam ser. Assista a este vídeo e entenda o que pode estar por trás de grande parte das supostas aparições de espíritos, fantasmas, almas penadas, assombrações e coisas do gênero.



Agora entenda uma coisa, se você é uma destas pessoas que afirmam ter visto algo sobrenatural e inexplicável, eu não estou afirmando que você é um esquizofrênico ou tenha qualquer outro problema psicológico que necessite de tratamento. Eu não estou afirmando isto! Mas, se por acaso as tais aparições sobrenaturais que você presenciou só foram vistas por você, e mais ninguém, e também se elas não podem ser repetidas em um ambiente cientificamente controlado, bem... neste caso eu lhe aconselho a buscar ajuda médica.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Uns sofrem pela fé que professam, outros pela ausência dela

por Cleiton Heredia



Quando eu frequentava uma determinada igreja cristã protestante, constantemente ouvia testemunhos e histórias de recém-convertidos que foram abandonados por suas famílias e repudiados por seus amigos em razão da nova fé que passavam a professar.

As histórias que vinham de países como China, Oriente Médio e de algumas tribos africanas eram as que mais me impressionavam, pois falava de pessoas sendo perseguidas, maltratadas e até mortas somente por terem escolhido viver em harmonia com aquilo que a sua própria consciência aprovava.

Seus algozes eram muitas vezes seus próprios avós, pais, irmãos e parentes mais chegados. Eu pensava comigo: "Quanta coragem! Sofrer, mas não abrir mão daquilo que acha ser a decisão mais correta a ser tomada".

Lembro-me até hoje da história de uma menina de apenas 14 anos de idade que todos os sábados tinha que fugir de casa para ir até a igreja da nova fé que ela abraçara, mas sempre quando retornava para casa era espancada violentamente por seus pais. Eu pensava comigo: "Será que se eu estivesse no lugar desta menina, a minha fé suportaria tamanha provação?".

Eu queria ter aquele tipo de fé! Eu orava para que Deus me desse uma fé daquela qualidade. Sofrer, morrer se preciso for, mas nunca renunciar a aquilo que a minha consciência aprova como sendo "a verdade".

Bem, eu acho que as minhas orações foram de certa forma atendidas.

Depois de mais de 40 anos sendo um fiel seguidor de Jesus Cristo, resolvi criar coragem e sair em busca de respostas para várias perguntas que me condicionaram nunca fazer. Foi um caminho muito doloroso e difícil de ser percorrido, pois fui obrigado a ver todos os meus castelos de segurança serem destruídos, um após o outro. Precisei também atravessar certas pontes sabendo que elas ruiriam após eu atravessá-las impedindo o meu regresso. O lema que me impulsionava nesta jornada era um só: "A verdade não teme a investigação".

Cerca de dez anos após ter iniciado este processo, aqui estou eu, um agnóstico!

Alguns me perguntam, mas por que um agnóstico? A resposta é uma só: "Porque, até o momento, é a única postura que me permite continuar sendo honesto com a minha própria consciência".

Assim como as pessoas daquelas histórias que eu antes ouvia, que sofreram pela decisão de ter abraçado a verdade que a consciência delas aprovava, eu também fui obrigado a sofrer as consequências das minhas próprias escolhas pessoais. Fui abandonado pela família e rejeitado pelos muitos amigos que tinha.

Quando alguns ainda perguntam se eu me arrependo de ter tornado pública a minha novas convicções, eu penso naqueles homens e mulheres que não tiveram medo de abraçar e viver em conformidade com a verdade que descobriram para si mesmos, e então respondo: "Arrependido eu estaria se estivesse escolhido o caminho mais fácil em detrimento a aquilo que hoje eu entendo como verdade".

E você que lê estas linhas, não peço que me julgue com base no seu conjunto pessoal de verdades que sempre irão te dizer que eu estou errado e você certo. A questão aqui não é descobrir quem tem a verdade única e absoluta, mas apenas pedir um pouco de compreensão, pois se você tem coragem de viver em harmonia com a sua consciência e em conformidade com o seu próprio conjunto de verdades, eu também!

sábado, 2 de junho de 2012

Um ateu também faz uso da "fé"?

por Cleiton Heredia

Dando continuidade à postagem anterior, esta 2ª parte da entrevista, que foi ao ar no dia seguinte (31/05/12), é ainda mais interessante, pois toca em um ponto bem delicado, a saber, a humildade que os ateus precisam ter para reconhecer que eles também precisam em algum momento se valer da "fé", no sentido de acreditar em algo que não pode ainda ser provado de forma cabal e incontestável.

Outra coisa interessante é a resposta do ateísmo para aquilo que os religiosos entendem como uma dimensão transcendental existente em todo ser humano que o leva a procurar na espiritualidade um sentido maior para a sua existência: a maldição da consciência que gera a angústia existencial.




Não foi minha intenção colocar o prof. Wagner Chagas como um porta voz do ateísmo, mesmo porque isto seria impossível uma vez que existem várias ramificações dentro ateísmo, mas acredito que suas respostas nos dão uma boa noção de como pensam os ateus que se posicionam dentro do "ateísmo cético".

Gostei especialmente da parte final desta 2ª entrevista onde é explicado o porque um ateu se preocupa em fazer o bem mesmo sem a perspectiva de uma recompensa ou castigo futuro.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

O que leva uma pessoa a se tornar um ateu?

por Cleiton Heredia

A pergunta do título desta postagem e outras mais como:

Como os ateus vêem a Bíblia dos cristãos?
Os ateus desconsideram por completo o fator social das religiões?
Como os ateus vêem os cristãos?

Serão respondidas pelo prof. Wagner Caldas nesta 1ª parte de uma entrevista dada ao programa "9 Minutos" no dia 30/05/12:




CONTINUA...

sexta-feira, 4 de maio de 2012

"Nós somos pagãos!"

por Cleiton Heredia



Sábado, dia 28 de abril por volta das 19:30h, na frente do Mosteiro de São Bento no centro da cidade São Paulo, um grupo de jovens formava uma pequena roda e discretamente conversavam entre si quando se aproxima um destes moradores de rua com uma garrafa em mãos contendo um líquido amarelado dentro. Ele se junta ao grupo e diz:

- Boa noite senhores, eu posso interromper um pouco? - sem esperar qualquer sinal de permissão ele continua - Estou há quatro dias sem comer e as pessoas nem param para me ouvir quando tento pedir-lhes qualquer tipo de ajuda. Estou muito fraco e minha situação é muito humilhante. Vocês não poderiam me ajudar com qualquer quantia para eu poder comprar algo para comer?

Apesar do forte cheiro de álcool facilmente notado em seu hálito enquanto falava, algumas pessoas do grupo levaram suas mãos ao bolso e de lá tiraram alguma quantia para ofertar ao pedinte. Não quero entrar no mérito da questão se o certo não seria dar-lhe dinheiro, devido à grande probabilidade do mesmo ser revertido em mais "cachaça", mas sim comprar-lhe um alimento. Não! Embora relevante, não é este o ponto agora! Quero apenas contar como esta história terminou.

O morador de rua pegou o dinheiro e agradeceu enfaticamente:

- Muito obrigado meus amigos! Só mesmo vocês, um grupo de jovens cristãos que tem Deus no coração, para me ouvir e me ajudar. A maioria das pessoas não quer nem parar para me ouvir, mas vocês são diferentes. Nota-se que são pessoas cristãs que amam a Deus. Muito obrigado! Que Deus continue com vocês e lhes dê em dobro todo o bem que fazem...

Um dos membros do grupo se vira para aquele homem, que não parava de agradecer, e educadamente o interrompe dizendo:

- Meu amigo, tudo bem! Vá agora se alimentar porque você está precisando. Mas só um detalhe: Nós não somos cristãos. Somos pagãos!


Religião não define caráter.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Prá Você - "Luciane"

por Cleiton Heredia



"O amor é a poesia dos sentidos. Ou é sublime, ou não existe. Quando existe, existe para sempre e vai crescendo dia a dia." - Honoré de Balzac

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Deus prefere ateus amáveis a cristãos desagradáveis

por Cleiton Heredia


Calma meu amigo cristão! Esta não é mais uma daquelas frases elaboradas por ateus com intuito de provocar a sua santa indignação. Ela foi elaborada pelo Pastor cristão Tom Tate da Igreja Metodista Unida de Rose City Park em Portland, Oregon nos Estados Unidos.

Seu objetivo ao estampar esta frase no letreiro principal da sua igreja foi apelar para a necessidade dos cristãos serem mais simpáticos e amorosos com as pessoas ao seu redor. Porém, acho que nem ele poderia imaginar a repercussão que isso causaria nas mídias sociais do país, levantando críticas e elogios de todos os tipos.

Por exemplo, um jovem cristão Mórmon escreveu um e-mail para a igreja dizendo: "Muito obrigado. Isso me fez repensar a forma como eu trato as pessoas". Por outro lado, um ateu também se manifestou dizendo: "Se houvesse mais igrejas como a sua, provavelmente reconsideraríamos muitas coisas".

O Pastor Tate, cuja igreja conta atualmente com 385 membros, também afirmou que esta é uma estratégia de "hospitalidade radical" para com aqueles que se sentem alienados pelos sistemas de fé.

Com certeza se perto de minha casa houvesse alguma igreja cristã com pessoas com este tipo de mentalidade aberta, eu seguramente lhes faria uma visita para conhecê-los melhor.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Uma boa regra para a vida?

por Cleiton Heredia


Assistindo a uns dos últimos episódios da 2ª temporada da série The Walking Dead deparei-me com um diálogo que achei muito interessante e levou-me a refletir um pouco melhor sobre algumas questões. Bem, vamos à cena:

***

Carl, uma criança com apenas 12 anos de idade, está ajoelhado diante do túmulo de sua amiga Sophia, quando chega Carol, a mãe da menina que ali está sepultada, e lhe diz:

- Sabe, vamos ver Sophia de novo no céu algum dia. Ela está em um lugar melhor.

Carl responde:

- Não ela não está lá! O céu é só outra mentira e se você acredita nisso, você é uma idiota!

O menino se retira do local e Carol vai em direção aos seus pais, Rick e Lori, reclamando com eles da forma como foi tratada por Carl. Rick, o pai, chama o filho em particular e lhe diz:

- Você respondeu para Carol?

Carl diz que não, mas o pai pressiona e ele então fala:

- Eu disse que é burrice acreditar no céu, porque é!

Rick respira fundo e argumenta com seu filho:

- Vamos pensar sobre isto um minuto. Ela acabou de perder a filha e quer acreditar que ainda está viva de algum jeito.

Carl tenta interromper o pai para se justificar, mas o pai lhe diz de forma firme:

- Não! Não fale! Pense! É uma boa regra para a vida.

***

E eu estou aqui pensando: "A esperança do céu é uma boa regra para a vida?".

terça-feira, 20 de março de 2012

Um intrigante debate entre um cristão e um ateu

por Cleiton Heredia


Em 21 de fevereiro de 2000, o então Cardeal Joseph Ratzinger, atual Papa Bento XVI, e o filósofo ateu Paolo Flores d'Arcais se encontraram no Teatro Quirino em Roma para um debate público que reuniu mais de duas mil pessoas e durou cerca de duas horas e meia.

Este debate está transcrito na íntegra em um livro chamado "Deus Existe?", cujo título está mais para uma astuta estratégia de marketing do que realmente expressar o âmago dos temas ali tratados, e que trata na verdade de um confronto de opiniões sobre temas polêmicos tais como: fé e razão, moralidade e assuntos de ordem social.


Estou ainda lendo o livro, mas já terminei a parte onde o debate foi integralmente transcrito, e confesso que gostei muito do que li.

Por um lado, as argumentações de Joseph Ratzinger me ajudaram a ver este homem, que hoje é o representante máximo da Igreja Católica Apostólica Romana, com outros olhos. Sim, digo "com outros olhos" porque a igreja onde fui doutrinado desde a minha meninice (Igreja Adventista do Sétimo Dia) me condicionou a olhar para o Romanismo e para o Papado como um bicho de sete cabeças (os adventistas consideram a Igreja católica como uma igreja apostatada e projeta sobre o poder religioso papal a figura apocalíptica da grande prostituta e da besta). Porém, ao ler as palavras proferidas pelo atual Papa neste debate, pude ver apenas um homem de fé, como qualquer outro líder cristão protestante, defendendo suas crenças de forma ponderada, inteligente e respeitadora.

Por outro lado, também gostei muito da forma como o filósofo ateu Paolo Flores d'Arcais defendeu os seus pontos de vista, sendo igualmente ponderado, inteligente e respeitador.

Como era de se esperar em um debate como este, ninguém saiu vencedor ou perdedor, mas apenas deram um exemplo digno de como pessoas com pontos de vistas diferentes sobre a vida podem se encontrar e conversar de forma civilizada, defendendo o seu direito de acreditar segundo os ditames de sua consciência, sem que para isto precisem se agredir ou se matar mutuamente.

Que a humanidade aprenda e cresça com exemplos como este.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Dia do Mágico é comemorado em grande estilo em São Paulo!

por Ozcar Zancopé (para ver postagem original clique aqui)


Com o Show "Celebrações Mágicas", produzido especialmente para a comemoração do Dia do Mágico, a Cia. Mágica para Maiores e convidados apresentaram um extraordinário espetáculo que encantou o público presente.

Foram dois dias de apresentações (31/01 e 01/02/2012), com casa lotada e muita festa. Os espectadores foram recebidos no hall de entrada do teatro com apresentações de Close-Up e assistiram no palco seis Mágicos:

1- Fernando Ventura


2- Wagner Messa


3- Cleiton Heredia


4- Paolo DeMitri


5- Ortega


6- Cláudio Henrique


A Direção e apresentação estiveram a cargo de Ozcar Zancopé.


A seguir mais algumas fotos:

Ensaios



Bastidores


Público


Elenco

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Cosmologia Ateísta e Teísta

por Cleiton Heredia


Cosmologia é o ramo da astronomia que estuda a origem, estrutura e evolução do Universo a partir da aplicação de métodos científicos.

Com respeito à origem do universo o ateísmo possui uma visão naturalista, ou seja, o Big Bang ocorreu cerca de 13,7 bilhões de anos atrás, a Terra se formou a partir da matéria cósmica cerca de 4,6 bilhões de anos atrás, e as formas de vida na Terra, sem a ajuda de qualquer forças sobrenaturais, surgiram cerca de 4 bilhões de anos atrás. Várias hipóteses físicas estão sendo exploradas sobre a causa ou explicação do Big Bang como o modelo Hartle-Hawking, modelos de membrana cosmologia, modelos teóricos de cordas, modelos ekpirótico, modelos cíclicos, a inflação caótica, e assim por diante.

O teísmo também tem se apropriado da visão cosmológica moderna, mas com a diferença de colocar Deus como o originador e mantenedor de todo o processo. No Big Bang Teísta não existe dúvidas ou debates quanto a aquilo que deu origem ao Big Bang, pois Deus ali aparece como a única resposta. Quanto à origem da vida existem muitas variações, sendo que geralmente as duas mais comuns são:

1- Criacionismo: Deus criou a vida, juntamente com a estruturação deste planeta (ou sistema solar) para sustentá-la, há cerca de algo entre seis e dez mil anos atrás.

2- Design Inteligente: Deus criou as primeiras formas de vida há 4 bilhões de anos atrás, e depois, de forma sobrenatural, as guiou em todo processo de formação e desenvolvimento de novas espécies até chegar ao surgimento do ser humano.

O mais interessante no debate entre o Naturalismo e o Big Bang Teísta é observar que ambos os grupos, analisando as evidências da cosmologia e da biologia, indicam que o seu modelo é a melhor explicação. As justificativas para Big Bang Teísta se concentraram em versões modernas dos argumentos cosmológicos e o argumento de Kalam que se resume da seguinte forma: Uma vez que tudo que existe possui uma causa para a sua existência, incluindo o universo, então Deus foi a causa do Big Bang.

As principais objeções aos argumentos teístas concentram-se basicamente em dois pontos:

1- A inferência a uma causa sobrenatural para preencher as lacunas da argumentação natural;

2- A extrapolação de que a primeira causa deve ser obrigatoriamente um ser único, pessoal, transcendente, onipotente, onisciente, onipresente, perfeito, absolutamente bom e amoroso.

Entre o modelo cosmológico naturalista e os propostos pelos teístas, confesso que nenhum dos dois me satisfaz plenamente. O primeiro por conter algumas brechas com possíveis explicações ainda não plenamente satisfatórias, e o segundo por tentar preencher estas mesmas brechas de uma forma simplista recorrendo ao sobrenatural.

Todas as vezes que procuro me definir entre a cosmologia ateísta e a teísta, sinto-me seriamente tentado a escolher o caminho mais curto e simples, admitindo a existência de alguma entidade sobrenatural por trás de tudo. Porém, quando penso que este tipo de escolha não me levará a lugar nenhum, ou seja, que ela não me garantirá que esta possível entidade seja o Deus com todos os atributos maravilhosos que aprendi em minha formação cristã, logo desisto.

Sendo assim prossigo em meu agnosticismo com os olhos bem abertos para os avanços da cosmologia na comunidade científica, mas no fundo torcendo para que surja alguma evidência que realmente me convença a optar pelo modelo teísta cristão. Afinal, quem não quer viver com a certeza de que esta vida tem algum propósito maior e que estamos todos sob o cuidado paternal de um Deus de amor?

Alguns insistem comigo que preciso dar um passo de fé, mas eu entendo que um passo deste tipo deve ser dado somente por alguém que está em busca de esperança e conforto, o que não é o meu caso. Eu continuo somente em busca da verdade.

sábado, 7 de janeiro de 2012

Sagrado = Verdade (?)

por Cleiton Heredia


Sou um adepto ao diálogo e à troca de ideias. Gosto de fomentar questionamentos que levem à reflexão e ajudem a enxergar um determinado assunto sob outras perspectivas.

Infelizmente, tal atitude é interpretada nos centros propagadores de cultura religiosa como algo potencialmente perigoso.

Mas pensar pode ser perigoso?

Para a maioria dos religiosos, o perigo passa a existir quando se atreve a pensar "fora da caixa" dos conceitos pré-estabelecidos por ensinamentos considerados sagrados, pois, para eles, sagrado é sinônimo de verdade.

Para os cristãos, a Bíblia é sagrada, então consequentemente nela só pode existir a verdade. Você pode até raciocinar em cima dela, mas nunca poderá duvidar dela.

Mas o que fazer quando surgem dúvidas sobre a veracidade de algo que a Bíblia relata ou ensina?

Bem, como para os cristãos trata-se de um livro sagrado, então não existe a menor possibilidade dele conter alguma inverdade, pois o binômio "sagrado = verdade" determinou isto. Neste caso, eles dizem que é você que precisa reinterpretar seus conceitos e mudar a sua forma de abordá-la até que finalmente compreenda a "verdade" nela contida.

O grande problema de se aceitar o sagrado como verdade inquestionável é que grupos diferentes consideram como sagrado coisas diferentes. Para o cristão é a Bíblia, para o muçulmano é o Alcorão, para o judeu é a Torá, para o hindu é o Rig Veda, e por aí vai.

Diversidade de coisas sagradas leva a uma diversidade de verdades.

Verdades estas que divergem entre si com tamanha intensidade que mutuamente se excluem, ou seja, para uma ser considerada verdade, a outra precisa necessariamente ser considerada como mentira.

E é exatamente por este motivo que é muito difícil e complicado o diálogo racional entre pessoas de culturas religiosas diferentes, cada uma com o seu conjunto de coisas sagradas entendidas como verdades inquestionáveis.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Sobre crenças e porque falar de ateísmo

Texto de Leon Sampaio


Acho que se investigarmos a razão das pessoas se afiliarem às religiões, pelo menos aqui no Brasil, a conclusão provável é que uma imensa maioria simplesmente foi doutrinada quando criança pelos pais. É muito difícil estarmos dispostos a reavaliar seriamente nossas crenças depois que passamos por isso, porque é um momento em que ainda não temos um senso crítico apurado, e confiar nas informações que nos são dadas (especialmente pelos pais, que geralmente têm as melhores intenções) é importante para a nossa integridade. "Não ande descalço", "não corra", "não pule a janela", "coma brócolis", "Deus tá te vendo", tudo no mesmo pacote.

No fim das contas, ser crédulo, nesse ponto, é uma vantagem tanto para a criança quanto para os pais, que se livram de um pouco da sua responsabilidade ao passo que ganham como aliado uma "babá" onipresente e onisciente que fiscaliza se a criança está andando na linha.

Essas informações viram parte de quem somos, mas é inevitável que em algum momento da nossa vida nos questionemos sobre a veracidade de cada uma delas. Algumas são corroboradas (e outras, derrubadas) por nossas experiências/observações do mundo, mas, para um cidadão médio, uma afirmação em especial acaba por não ter nenhum dado relevante a considerar, e essa dúvida pode causar muito mal estar: Há ou não há um deus?

O próprio ato de questionar, considerar por um breve momento que deus não existe, tentar se despir dessa crença tão primordial para avaliar com mais imparcialidade essa hipótese, já é – pelo menos nos 3 maiores monoteísmos da atualidade e na maioria das outras religiões que ouvi falar – uma falha grave que pode levar ao tormento INFINITO (pense bem, INFINITO! Imagine durante 5 segundos um tormento INFINITO). Quem é o louco que quer correr esse risco?
Poucos se atrevem. Menos ainda vão fundo nessa questão, a ponto de enxergar e honestamente reconhecer algumas informações e valores morais arbitrários que nos são transmitidos como vontade divina e verdade absoluta. Essas pessoas tem um papel importante na sociedade porque contribuem para disseminar algumas ideias até então marginais, fazendo com que alcancem um público maior, se tornem mais aceitas e, eventualmente, se tornem senso comum. Tais pessoas, em grande parte, são teístas tentando achar soluções para conflitos diversos. Graças a eles, hoje a Terra já não é mais chata nem é o centro do Universo, a escravidão não é mais aceitável em nenhum contexto, mulheres não são inferiores, nem homossexuais devem ser assassinados. Tudo isso é novidade para as religiões judaico-cristãs, dominantes aqui (mas nem tudo tem o mesmo nível de aceitação ainda). Graças a pessoas honestas, que souberam reconhecer as falhas do seus sistemas de crenças e abrir mão de suas convicções (ou das convicções dos seus antepassados) quando estas já não mais se sustentavam, progredimos.

Mas a importância desse grupo de religiosos moderados, liberais ou até não-praticantes não se resume à popularização de ideias simples e óbvias. Eles são também a ligação para que as pessoas possam transitar no vasto campo entre o fundamentalismo religioso e o ateísmo com mais segurança, sem ter de enfrentar tanta pressão da sociedade como, por exemplo, medo de decepcionar os pais. "Pelo menos acredita em Deus", dizem, muitas vezes sem perceber o grau de preconceito dessa afirmação.

A principal consequência dessa maior mobilidade, a meu ver, é gerar um fluxo maior de pessoas em direção ao ateísmo do que o oposto. Mesmo que no final das contas a imensa maioria nunca se torne ateia de fato, seja qual for a razão, esse "trânsito" continua sendo bom por dois motivos:

1- Mostra que essas pessoas estão mais propensas a revisar as próprias crenças (ou parte delas); 2- Que elas tendem a buscar o bem-estar social.

Por outro lado, os religiosos mais radicais, que não se dispõem a revisar suas crenças, ficam cada vez mais distantes, comprometendo um possível (e provavelmente inútil mesmo) diálogo e frequentemente atentando contra o bem-estar coletivo, travando batalhas contra o direito à liberdade individual ou ameaçando a independência do Estado frente às religiões.

Mas, em uma linha onde a prevalência é do teísmo, o ateísmo estar em posição diametralmente oposta não faz dele uma posição radical também? Uma sociedade regida pelo ateísmo não poderia provocar danos sociais tão graves quanto o extremo oposto?

Bem, a princípio, pelo menos usando o conceito de ateísmo ao qual me referi até agora, não. Também não se fala, entre os ateus, de um "Estado ateu" e sim, quando muito, de um Estado laico de fato, ou seja, um Estado que garante a liberdade de crença mas onde as decisões são tomadas de forma totalmente independente de qualquer religião. Esse papo é batido, costumam usar como exemplo os massacres promovidos por Stalin, Pol Pot e outros governos totalitários e ateístas, mas o fato é que o ateísmo é AMORAL. Ao contrário das religiões, que têm um conjunto de princípios, dogmas, doutrinas, tradições que promovem determinados comportamentos e reprovam outros (o que muitas vezes não é consenso nem dentro de uma mesma religião), o ateísmo não diz nada sobre como as pessoas devem se comportar, logo não pode ser responsabilizado por nenhuma ação. Um ateu apenas não acredita em deuses (e equivalentes), qualquer outro traço do seu caráter é particular, então seria uma missão "meio impossível" estereotipá-los, generalizar.

Justamente por ter tal liberdade de beber de diversas "fontes morais", um ateu pode ser tão intolerante, arrogante e malévolo quanto qualquer religioso fanático, assim como pode ser caridoso, bondoso e solidário. A mensagem aqui é clara: por ser ateu (ou teísta), você não se torna pior nem melhor que alguém. São os outros aspectos da sua personalidade que definem isso.

E quanto a esses ateus que atacam e blasfemam contra as religiões?

Para mim, parece simples: em uma democracia onde há liberdade tanto de crença quanto de expressão não temos a obrigação de considerar nada sagrado e intocável, muito menos devemos ser obrigados a sermos polidos em nossas críticas (sejam elas diretas e bem argumentadas ou a simples ridicularização, o escárnio). Sabemos que a religião durante muito tempo teve (e ainda tem, em parte) um poder político imenso e os dissidentes eram silenciados. Isso parece ter tornado a religião hipersensível a críticas, e os fiéis mais fanáticos se sentem pessoalmente ofendidos com qualquer zombaria. Mas ressalto aqui que a empatia é um fator de persuasão importante, então cabe a cada um decidir se quer aproximar, fazer acordos e esclarecer desavenças, ou só afastar possíveis desafetos. Mas isso não se aplica somente aos ateus. Os próprios teístas criticam e zombam uns dos outros, e parecem concordar entre si apenas quanto às opiniões preconceituosas sobre a integridade moral dos ateus, sem nenhum embasamento. Hoje, em rede nacional, em TV aberta, você ouve acusações das mais terríveis contra ateus, associando-os a crimes hediondos[1], mesmo quando uma simples pesquisa sobre religiosidade com a população carcerária levaria por água abaixo essas acusações. Não é à toa que a Fundação Perseu Abramo constatou que aqui no Brasil os ateus são o grupo mais detestado do país, merecendo repulsa, ódio ou antipatia de 42% da população[2]. Um estudo recente da Universidade da Columbia Britânica (Canadá), em conjunto com a Universidade de Oregon (EUA), chegou à conclusão também preocupante de que as pessoas acham que os ateus, ao lado dos estupradores, são os grupos mais indignos de confiança[3].

Esse panorama é muito sério, e os ateus têm tentado se organizar para fazer algo a respeito, o que não é nada fácil devido à heterogeneidade de pensamentos. Uma das maneiras para mudar esse quadro, segundo uma pesquisa publicada no Personality and Social Psychology Bulletin[4], é fazer com que os descrentes se exponham, não tenham vergonha e não se intimidem perante a sociedade. É nesse sentido que a Out Campaign[5], promovida pelo escritor e biólogo Richard Dawkins, autor de "Deus, Um delírio", convida ateus a "sairem do armário", em uma clara referência à luta dos gays contra o preconceito. No Brasil também há movimentação, como a campanha "Eu Sou Um Ateu Brasileiro", realizada no YouTube, onde várias pessoas de todo o Brasil declaram seu ateísmo em vídeo[6], e até uma campanha com outdoors em Porto Alegre, promovida pela Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos[7]. Houve também uma tentativa desta última ser veiculada em ônibus em Porto Alegre, São Paulo e aqui em Salvador, mas a empresa contratada se negou(!) a realizar o serviço[8].

Logo, fica claro que afirmar o ateísmo não é uma rebeldia vazia, nem uma afronta às religiões, muito menos um mantra para dissipar alguma dúvida em nossa posição. É, antes de tudo, uma rebeldia muito bem justificada contra o preconceito e uma afronta a uma sociedade que faz muitos ateus se esconderem, se envergonharem, se sentirem inferiores, impuros ou até perigosos. Somos poucos, mas estamos na sua escola, no seu trabalho, na sua vizinhança, dividindo um ônibus ou até um teto com você.

Nosso mantra é apenas um apelo à honestidade e ao direito à diversidade.

Referências:

1. http://ateusdobrasil.com.br/p/1811/
2. http://www.fpabramo.org.br/artigos-e-boletins/artigos/em-nome-da-diversidade
3. http://blogs.vancouversun.com/2011/12/01/do-christians-believe-in-atheists-ubc-study-finds-believers-distrust-atheists-as-much-as-rapists/
4. http://cienciaumavelanoescuro.haaan.com/2011/05/prevalencia-percebida-de-ateus-diminui-o-preconceito/
5. http://outcampaign.org/
6. http://youtu.be/_8tTupdejm8
7. http://sul21.com.br/jornal/2011/07/primeira-campanha-de-midia-sobre-ateismo-no-brasil-e-lancada-em-porto-alegre/
8. http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/844028-empresas-barram-campanha-publicitaria-que-questiona-existencia-de-deus.shtml

Leon Sampaio é estudante do Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia/UFBA, ateu, cético, humanista, mochileiro das galáxias e 94% chimpanzé.