quinta-feira, 13 de março de 2008

Os Monoteístas – Os Povos de Deus


Terminei a leitura do livro ao lado e quero aproveitar o espaço deste blog para compartilhar alguns pontos interessantes e partilhar minhas impressões pessoais.

O autor, F.E.Peters, um dos maiores experts em fés monoteístas do mundo, é muito detalhista na forma de apresentar o assunto, o que, em minha opinião, dificulta um pouco o entendimento em algumas partes do livro. A leitura nas partes do livro que tratam dos judeus e dos cristãos é bem mais agradável que nas partes que tratam dos mulçumanos, que eu considerei um tanto quanto maçante e de difícil assimilação (a explanação é muito detalhada, mas não tão didática).

O livro basicamente apresenta uma comparação entre as três comunidades distintas de crentes em um único Deus (judeus, cristãos e mulçumanos), mostrando como se originaram, cresceram, se organizaram e mudaram até se tornarem aquilo que hoje vemos.

Quanto à origem dos mulçumanos, o autor estabelece uma diferença crucial entre os árabes (ismaelitas), identificados etnicamente como os descendentes de Ismael (filho de Abraão com Cetura), e o islã (religião mulçumana originada com o profeta Maomé). A única relação entre os descendentes de Ismael e os mulçumanos, reconhecida por estes últimos, é o fato de Ismael ser mencionado no Alcorão como alguém que peregrinou junto com seu pai Abraão até um local (Meca) para edificar uma construção sagrada (caaba) que mais tarde transformou-se num santuário.

Muito embora Maomé tenha enfatizado que o islã promulgado no Alcorão é a verdadeira “religião de Abraão”, não encontra-se qualquer pretensão de sua parte em afirmar que esta “verdadeira fé estava baseada na descendência de sangue abraâmica dos árabes por meio de Ismael” (diferente dos judeus cuja descendência por meio de Isaque e Jacó é vital). Em outras palavras, “os mulçumanos não são os ‘Filhos de Ismael’” (pág.36).

O autor faz uma viagem por toda a história recapitulando o desenvolvimento destes três segmentos religiosos, seus credos (ortodoxia), suas guerras contra a heresia, seus conceitos de comunidade e autoridade, e suas pretensões de cada um ser o verdadeiro povo de Deus na Terra.

Os últimos capítulos tratam da relação Igreja e Estado por parte dos cristãos, com todo aquele amálgama iniciado com a conversão de Constantino, e mostrando a diferença dos mulçumanos cuja Igreja é o Estado, e vice-versa.

Nos pensamentos finais o autor conclui:

“Os monoteístas são fanáticos até o osso, uma atitude que aprenderam no colo (alegórico) do Criador, que era, como ele mesmo observou, ‘um Deus ciumento’, que não toleraria nenhum concorrente ou rival e que exigiria fidelidade absoluta de seus seguidores. Não é de se admirar, portanto, que, quando as circunstâncias permitiam, judeus, cristãos e mulçumanos mostraram tolerância zero para com os vários goim, ethne, pagani ou kafirum que os cercavam. Esses tinham de reconhecer o Deus Uno Verdadeiro ou serem enviados à morte ou à escravidão.” (pág.353).

“O que os monoteístas não têm em tolerância, compensam em convicção. Deus não é só ciumento; é também absoluto em poder e absoluto em querer. Na Torá e no Alcorão essa vontade divina prescreve, com uma mão que parece pródiga, pena capital, mutilação, lapidação e açoite nesta vida para aqueles que desobedecerem aos seus mandamentos e, como se chegou a crer, tormentos ainda maiores na vida futura.” (pág. 356).

Se você estiver propenso a discordar das conclusões do autor, é bom lembrar que em seu livro na está em discussão o verdadeiro caráter de Deus, e sim como estes três segmentos religiosos, que afirmam serem Seu legítimo povo escolhido, O apresentaram e O representaram através da história.

2 comentários:

  1. Bom resumo e penso em ler o livro. Ao que me parece é um livro de cunho contextual com base na história de cada segmento.

    Boa dica.

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  2. Cleiton,

    Vou colocar esse livro na lista de minhas futuras leituras.

    Não sei se o livro faz referência ao monoteísmo egípcio do faraó Akenathon. Talvez não, por ter durado pouquíssimo tempo. Há quem diga que foi a primeira manifestação monoteísta da história.

    Tive aulas de "História do Povo e da Cultura dos Judeus" com uma professora Judia. Na opinião dela, a grande contribuição do judaísmo e o que o distinguiu das demais religiões não foi o monoteísmo, até porque, embora cultuassem a um único Deus, eles acreditavam na existência de outros. Deus era, para eles, o Deus dos deuses. Isso é evidente na narrativa bíblica. A grande contribuição foi a concepção de um Deus abstrato. Um Deus que não se circunscreve a imagens e não ser limitado a uma forma física. Um Deus que está em todos os lugares sem se confundir com o universo criado.

    Parabéns pelo resumo.

    O que você vai ler agora?

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