por Cleiton Heredia
Como pudemos ver pelas postagens anteriores a tese defendida pelo enfermeiro anestesista que também era arqueólogo amador, Ron Wyatt, pode até ser muito bonita, porém não pode ser sustentada cientificante.
Algumas pessoas um pouco melhor esclarecidas como, por exemplo, o jornalista apologista cristão Michelson Borges, preferem equiparar este tipo de informação com as muitas lendas urbanas e boatos (hoaxes) que circulam abundantemente pela internet e que sempre encontram alguém crédulo o bastante para acreditar nelas e as espalhar aos quatro ventos.
Particularmente falando, não acho muito correto comparar estas informações oriundas do trabalho feito por Wyatt como um "hoax". Os boatos virtuais são caracterizados como mentiras sutilmente elaboradas ou modificadas para se passarem por verdades. Um exemplo de hoax clássico que supostamente comprovaria a veracidade do texto bíblico é aquela estória do dia longo de Josué sendo atestado pelos computadores da NASA. Já no caso em questão temos a circulação de informações que foram pesquisadas e defendidas por um arqueólogo amador, mas que foram rechaçadas pela comunidade científica. Não se trata de mentira inventada, mas sim de uma tese equivocada.
A Revista Adventista (publicação oficial da Igreja Adventista do Sétimo Dia) do mês de março de 2009 trouxe um artigo escrito por um pastor especialista em Arqueologia Bíblica, Dr. Rodrigo Silva, intitulado "O êxodo que não existiu". Neste texto o Pr. Rodrigo analisa as descobertas divulgadas por Wyatt. Eis aqui alguns trechos da matéria:
"Por mais de uma vez tive [diz Rodrigo] a oportunidade de visitar, com a equipe arqueológica da Universidade Andrews, os locais a que Wyatt faz referência. Coletamos dados, fizemos análises, entrevistas, etc. e, depois de tudo isso, posso afirmar, sem temor de erro, que essas descobertas são completamente falsas."
Quanto a descoberta dos artefatos arqueológicos (rodas de carruagens) e ossadas fotografadas no fundo do local identificado por Wyatt como o Mar Vermelho, o artigo do especialista adventista esclarece:
"[Wyatt] sustentava que o Golfo de Áqaba, perto de Nuweiba, seria o local da travessia dos hebreus. Ali, num trabalho arqueológico submarino, Wyatt disse ter encontrado ossos humanos e rodas das carruagens de faraó cobertas de corais..."
Se você voltar para a apresentação em PowerPoint no 1º capítulo desta série verá que a roda que ali aparece na foto é uma roda de "ouro" com quatro raios (aro quádruplo), mostrando semelhança com algumas rodas de carruagens antigas expostas em museus.
"O que Wyatt não contou", diz Rodrigo, "é que os egípcios tinham dois tipos de carruagem: uma para a guerra, com aro sêxtuplo (...) e uma para passeios ocasionais, a quádrupla, que ele disse ter encontrado. Se a dita roda fotografada por Wyatt fosse mesmo autêntica, teríamos de perguntar por que faraó teria usado carruagens de passeio para perseguir o povo hebreu e deixado em casa as carruagens de guerra?"
As peças fotografadas por Wyatt provavelmente provieram de navios cargueiros que afundaram na região entre 1869 e 1981. A cidade de Hurghada, no norte do Mar Morto, chega a abrigar um sítio turístico para mergulhadores que desejam ver destroços de navios naufragados ali.
Segundo o Dr. Rodrigo, Wyatt também dizia saber o local onde fora escondida a Arca da Aliança. Depois de sua morte, seu substituto e principal aliado, Richard Rives, conseguiu autorização especial para escavar no local onde Wyatt disse ter visto e até fotografado a Arca. Porém, nada foi encontrado.
Quero concluir esta série com as palavras sensatas de advertência com as quais o Pr. Rodrigo encerra o seu artigo:
"Não acreditemos apressadamente em tudo o que se diz na internet, nem propaguemos o boato através de e-mails do tipo FWD. A descoberta de uma fraude pode colocar em descrétido a verdadeira mensagem que devemos anunciar."
Fim da série
Muito bom. Qual a próxima?
ResponderExcluirAbraços.