sábado, 1 de maio de 2010

Viagem ao Passado

por Cleiton Heredia


Como eu havia comentado na postagem anterior, quando consideramos a possibilidade de viajar ao passado a coisa complica bastante.

Alguns podem achar que uma viagem ao passado seja mais simples que uma viagem ao futuro, pois o passado já ocorreu, mas futuro ainda não existe. Porém, esta não é bem a lógica das coisas na física. Se você conseguiu entender que a viagem ao futuro acontece devido à desaceleração do tempo do viajante em relação ao tempo no ponto de referência, então você já sabe não se trata de visitar uma época que ainda está por vir, mas sim vivenciar situações onde o tempo transcorre de forma diferenciada.

Mas e quanto a viajar para o passado?


O primeiro obstáculo que encontramos é a questão dos paradoxos. Caso fosse possível visitar o passado, o que aconteceria caso o meu eu do futuro se encontrasse com o meu eu do passado. Imaginemos que eu viaje para uma hora no passado e converse com o meu eu de uma hora atrás. Neste caso, se o meu eu do passado conversou com o meu eu do futuro, por que no futuro de onde eu vim não tinha qualquer lembrança desta conversa que ocorreu no passado? A coisa piora ainda mais se o eu do futuro assassinar o eu do passado. Como é possível existir um eu do futuro se na verdade ele já foi morto no passado? O eu do passado precisará sobreviver ao assassinato para tornar-se o seu próprio assassino vindo do futuro. Mas se sobreviveu é porque nunca existiu um assassinato.

São paradoxos como estes que nos levam a concluir que o passado não pode ser alterado, pois caso seja, pode inviabilizar completamente o futuro de onde veio a fonte da alteração.

Além da questão dos paradoxos, muitos afirmam ser impossível viajar ao passado, pois para isto seria necessário alcançar velocidades superiores a da luz; coisa que é completamente impossível de acordo com a Teoria da Relatividade. Mas eu não quero me referir a este tipo de viagem ao passado feita de forma similar à viagem ao futuro. A coisa é ainda muito mais maluca!


Estou me referindo à Curva de Tempo Fechada, chamada pelos físicos de CTC (Closed Timelike Curve), que tem sido alvo de intensas pesquisas teóricas nos últimos anos. Para entendermos melhor o que é uma CTC pense num looping de uma montanha russa. Por ela o carrinho avança no tempo e no espaço, porém, devido a uma deformação especial dos trilhos, ele volta para o ponto de onde veio. Uma CTC é mais ou menos isto, ou seja, é uma viagem aparentemente para frente, porém como se move num padrão deformado de espaço-tempo, volta-se ao passado.

Antes de você me acusar de estar assistindo demais a filmes de ficção científica, eu quero lhe dizer que a solução do matemático austríaco naturalizado norte-americano, Kurt Gödel, para as equações da Relatividade Geral admite a possibilidade, do ponto de vista físico, de uma geometria capaz de abrigar as Curvas de Tempo Fechada. Para um maior aprofundamento no assunto recomendo o livro do cosmólogo brasileiro, Mario Novello, "O Círculo do Tempo - Um Olhar Sobre Viagens Não-Convencionais no Tempo" (escrito por sugestão do diretor do Instituto de Ciências da Matéria da Universidade de Lyon, na França, E. Elbaz, a partir de exposições que havia feito em seminários internacionais para físicos).

Só temos um pequeno probleminha: Não sabemos ainda como se constrói uma CTC. Na verdade nem as entendemos teoricamente. Alguns cientistas afirmam que elas não são somente difíceis de serem criadas, mas são impossíveis. Outros, porém, aguardam uma melhor compreensão da matemática envolvida antes de concluírem de que os loopings de tempo são impossíveis.


Mas quem disse que precisamos construí-las. Nós poderíamos de repente encontrá-las por aí em algum canto deste vasto universo. O que eu quero dizer é que não podemos descartar a possibilidade de existir algum lugar do universo onde o campo gravitacional seja tão forte que acabe deformando drasticamente o espaço-tempo de forma que, sobre condições muito especiais, um looping de tempo natural seja criado. Estas entidades são popularmente conhecidas como os buracos de minhoca ou buracos de verme (worm hole).

Portanto, pelo menos de forma teórica, as viagens ao passado não podem ainda ser totalmente descartadas. Os cientistas ainda aguardam uma teoria que seja capaz de refutar de forma definitiva toda e qualquer possibilidade teórica de viajar para o passado, tal como a teoria das supercordas ou a teoria das membranas, ainda em fase de uma melhor compreensão.

Resumindo e concluindo: Viagens ao futuro são teoricamente possíveis e até já foram experimentalmente realizadas (é claro que em uma escala insignificante devido à baixa velocidade possibilitada pela atual tecnologia). Viagens ao passado ainda não foram totalmente descartadas por alguns físicos teóricos, porém já são consideradas como improváveis por grande parte da comunidade científica. Sendo assim precisamos entender que, pelo o que tudo indica, as viagens ao futuro serão sempre viagens apenas de ida.

P.S.: Não tenha formação em física, mas sou apenas um curioso que gosta de pesquisar sobre o assunto. Grande parte de tudo aquilo que foi escrito nesta e nas últimas duas postagens está baseado em um artigo escrito pelo professor de física da Universidade de Surrey, Jim Al-Khalili.

2 comentários:

  1. Cleiton,

    Boas postagens. Acabei de ler e notei que estou teclando à uma da madruga. Isso é que é gostar de ler temas em blogues.

    SDS

    ResponderExcluir
  2. Cleiton,

    Hoje assisti ao filme "Te amarei para sempre", no qual um dos personagens viaja no tempo e... (não vou contar o resto).

    Mudando de assunto: Você correu a meia-maratona noturna de Extrema?

    ResponderExcluir