por Cleiton Heredia
Já ouvi alguns argumentarem que a religião tem o seu propósito positivo na sociedade, pois mesmo que a esperança que apregoa não se concretize de fato, ela age como um freio social, ou seja, incentiva a prática do viver correto e reprime o mal no ser humano.
Será?
Acho que isto pode ser questionado de inúmeras formas. Em primeiro lugar o conceito de certo e errado pode variar bastante de religião para religião. Por exemplo, para um mulçumano fundamentalista extremista matar milhares de pessoas inocentes em nome de Alá pode ser a coisa certa a se fazer, enquanto para os familiares cristãos que perderam seus entes queridos naquele atentado, tal atitude é interpretada como o cúmulo da maldade.
A idéia da religião como um freio social pode também ser questionada pelos crescentes casos de pedofilia entre alguns líderes religiosos de um importante segmento da cristandade, ou mesmo por outros líderes igualmente religiosos que são pegos em falcatruas visando o enriquecimento pessoal.
Não matar e não roubar são duas coisas básicas em qualquer sociedade minimamente civilizada, mas pelo que temos visto a religião tem sido muitas vezes impotente para impedir que tais atos sejam praticados por aqueles que a difundem e a defendem como a solução para os males da humanidade.
Se religião fosse um freio social eficiente teríamos entre as sociedades que a praticam de forma majoritária uma situação de quase completa isenção de violência e atos desonestos. Em contrapartida, as sociedades menos religiosas deveriam ser as mais problemáticas. Porém, segundo as pesquisas do sociólogo norte-americano Phil Zuckerman, os países menos religiosos do mundo são os mais justos, mais éticos, possuem forte economia, baixa taxa de criminalidade, os mais altos índices de qualidade de vida, altos padrões de vida e igualdade social.
O argumento de que existem boas e más pessoas em qualquer segmento da sociedade, inclusive entre aqueles que se dizem religiosos, é para mim mais um argumento contra a religião ser um eficaz freio social. Se nós encontramos em qualquer lugar bons e maus políticos, bons e maus policiais, bons e maus advogados, bons e maus médicos e também bons e maus religiosos, o que dá o direito à religião de sustentar a fama de ser um freio social?
Na verdade a religião nunca foi e nem será de fato um freio social funcional. Ela apenas possui um discurso que leva as pessoas a acreditarem nisto. Ela apenas chama de bem aquilo que outros chamam de mal. Ela apenas tem o poder de "santificar" um ato socialmente errado colocando na frente dele a suposta vontade soberana de uma divindade construída a imagem e semelhança da vontade soberana de seus adoradores.
O único freio social verdadeiramente eficaz é o CARÁTER!
Não adianta um pai ou mãe se iludir achando que criar seus filhos dentro de uma religião lhes garantirá que sejam cidadãos de bem. Eles só serão cidadãos de bem se tiverem caráter. As chances de um pai e mãe de caráter gerar e criar filhos que tenham caráter é muito grande, independente se são ou não religiosos. Pais de caráter só não obtém 100% de eficácia em produzir filhos com caráter por que ainda existe a questão do livre arbítrio.
Extremismo, fanatismo existe em qualquer organização. Ateus também podem ser fanáticos. Isso não vem da religião mas da maneira distorcida de ver de cada um. Se somos livres para não crer, somos também livres para crer. Para mim a vida seria pior sem fé, sem nenhuma esperança de consolo, pensando que sofro por acaso, por um triste azar da vida. Graças a Deus somos livres!
ResponderExcluirBeijos na alma!
A religião só garante o caráter do religioso quando outra pessoa está olhando. Patético.
ResponderExcluirDo mesmo tema, gosto da frase abaixo, atribuída à Steven Weinberg:
"Com ou sem religião teremos sempre boas pessoas fazendo coisas boas e más pessoas fazendo coisas más. Mas para termos boas pessoas fazendo coisas más, para isso é preciso uma religião".
Cleiton,
ResponderExcluirHá um ponto no qual a religiosidade funciona como freio social. O sentido é o de manter a esperança de vida melhor, como recompensa, e em razão disso, há um comportamento que não conspira na promoção do caos. Imaginemos milhares de pessoas que hoje sofrem, mas esperam o Reino do Céu, perdendo a esperança.
O que se conclui, em alguns casos, é que muitas pessoas só não partem para a guerra aberta em razão de uma esperança. Nesse sentido funciona como freio.
Lógico que o bom caráter independe disso tudo!
Enéias
Cleiton, concordo que a religião seja um freio social parcialmente eficaz.Só que a criminalidade se esconde atrás deste freio, às veses santificando-o. Concordo com você, a diferença está entre ser nascido ou ser parido.
ResponderExcluirEnéias,
ResponderExcluirConcordo que a religião ajude a sustentar algum tipo de esperança, porém tenho sérias dúvidas de que a perca deste tipo de esperança promova necessariamente o caos. Existe algum tipo de evidência histórica que confirme esta tese?
Imagine a seguinte situação: milhares de pessoas estão reunidas na praça de São Pedro para ouvir o Papa, quando este então surge e declara: "Deus não existe!" Será que aquelas milhares de pessoas sairão dali matando, roubando e estrupando?
A história nos ensina que o ser humano possui uma enorme capacidade de adaptação. Por que então não entender que ele seria capaz de se adaptar a realidade de um mundo sem Deus e continuar simplesmente vivendo da melhor forma que puder?
Quando o homem foi criado, a religião ainda não existia. E é bem provável que num futuro, do qual não sabemos ainda dizer se é próximo, se é distante, religiões sejam cousa do passado e, de certa forma, meras lendas.
ResponderExcluirTodos nós, de certa forma, nascemos ateus. E, de certa forma, em havendo vida pós-morte, lá não haverá religião alguma, não importa a qual lugar cada um de nós esteja destinado.
Religião pode ser encarada como um caminho necessário. Ou não. Depende de cada um.
No fim, se a religião acabar, homens restarão. Se, porém, a raça humana for extinta, onde estará a religião? Pois sem eles, o religare não existirá, pois é impossível haver religação entre dois elementos quando um de eles não existe. Não se pode ligar o rádio à energia eléctrica se não houver a tomada na parede. E não se pode querer usar a tomada da parede se não tivermos algum aparelho eléctrico! Ambos tem de existir para que a existência e o uso da conexão se faça possível.
É isso.
Cleiton,
ResponderExcluirótima postagem, mas mudando um pouco de assunto, assisti um filme esse fim de semana que acho que vc vai curtir. Sherlock Holmes de Guy Ritchie com Robert D. Junior.
O ceticismo em relação ao sobrenatural por parte deste detetive inteligentíssimo o faz desvendar truques que a todos parecem magia negra incontestável. Assista!
Quanto ao post, procuro sempre separar religião de fé em Deus. Parece impossível, mas eu estou conseguindo. O que vc no post chama caráter eu atribuo a influência Divina!
Valeu pela dica Alexandre!
ResponderExcluirEu não estava pensando em assistir a este filme, mas depois de seus comentários fiquei bem curioso.
Um abraço.