quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Razões pelas quais não acredito que o ateísmo seja uma verdade absoluta


Na última postagem que escrevi fui confrontado com a seguinte declaração: "A verdade absoluta é que tudo no Universo é material". Tal declaração foi feita no contexto de descartar qualquer outro tipo de interpretação do Universo que não seja a interpretação ateísta.

Como alguém que está em busca da verdade, não consigo simplesmente descartar outras possibilidades de interpretação do Universo e eleger o ateísmo como a única verdade a ser considerada, pois até hoje não existem provas contundentes e irrefutáveis para isto.

Entendo o ateísmo como uma maneira a mais de interpretar o Universo, mas que está longe de ser uma interpretação isenta de problemas conceituais, conforme veremos mais abaixo.


Para o ateísmo fazer sentido o Universo precisa ser eterno (sem um início) ou auto-existente (com um início independente de causas externas), porém em 1916, Albert Einstein começou a descobrir que sua Teoria da Relatividade apontava para um Universo com um início definido onde todo o tempo, toda a matéria e todo espaço surgiram.

Einstein sentiu-se desconfortável com a direção apontada por sua teoria e na tentativa de evitar que o Universo fosse um grande efeito dependente de uma causa qualquer (com um início absoluto), introduziu em suas equações uma constante cosmológica que se tornou conhecida como "fator disfarce".

Mais tarde, em 1922, o matemático russo Alexander Friedmann demonstrou oficialmente que o fator disfarce de Einstein continha um erro algébrico gravíssimo. Einstein no afã de evitar que sua teoria apontasse para um Universo com um início violou as regras da matemática ao fazer uma divisão por zero (mais tarde Einstein admitiu que este erro foi o pior de sua vida).


Porém, antes disto, em 1919, o cosmólogo britânico Arthur Eddington obteve uma comprovação empírica de que a teoria da relatividade estava correta em apontar para um Universo não estático e com um começo definido. Assim como Einstein, Eddington não ficou nem um pouco feliz com suas conclusões, mas como um bom cientista que era, sabia que contra fatos verificáveis não existe argumentos.

Outros cientistas, tais como o astrônomo holandês Willem de Sitter, estavam chegando à mesma conclusão afirmando que a teoria da relatividade exigia que o Universo estivesse em expansão.


Em 1927, Edwin Hubble conseguiu observar em seu telescópio de 100 polegadas no Observatório de Monte Wilson na Califórnia, que a expansão do Universo era um fato irrefutável. Ele observou que a luz emitida pelas galáxias observáveis apresentavam um desvio para o vermelho, indicando que elas estavam afastando-se de nós. O próprio Albert Einstein, em 1929, compareceu pessoalmente no Monte Wilson para constatar este fato.

A conclusão era inevitável: se o Universo está em expansão, isto significa que ele teve um início, pois se pudéssemos retroagir no tempo veríamos todo o Universo encolhendo até chegar a um único ponto. Os cientistas atualmente admitem que este ponto seja tão minúsculo que corresponde a um ponto matemático, ou seja, a nada (sem espaço e sem matéria). Sim, é isto mesmo que você está pensando: o mais moderno conhecimento científico de que dispomos aponta para um Universo que surgiu do nada!


Na verdade o Universo não está expandindo para um espaço vazio, pois o próprio espaço é que está em expansão. Assim como não havia espaço antes do Big Bang, também não existia matéria. Aliás, é uma grande bobagem falarmos num tempo "antes" do Big Bang, pois o próprio tempo só passou a existir após ele (não existe "antes" sem tempo).

Quer um ateu queira admitir ou não, esta conclusão de um Universo com um início definido e partir do nada tem tudo haver com o conceito teísta que admite a existência de um Deus que tudo criou. Veja bem, não estou afirmando que o teísmo seja uma verdade irrefutável, mas apenas sendo sincero em admitir que existem evidências muito lógicas para apoiar este conceito.


A partir daí basta continuar exercitando o raciocínio lógico da seguinte forma:

1- Tudo o que teve um começo teve uma causa.
2- O Universo teve um começo.
3- Portanto, o Universo teve uma causa.

Estas três premissas são verdadeiras?

Bem, quanto à segunda já verificamos que o conhecimento científico mais atual que dispomos diz que sim. Quanto à primeira premissa, conhecida também como a lei da causalidade, ela é o princípio fundamental da ciência, pois se existe alguma coisa que pode ser observada em relação ao Universo em que vivemos é que as coisas não acontecem sem uma causa. Negar a lei da causalidade é negar a própria racionalidade, pois o próprio processo do pensamento racional exige que reunamos as idéias (as causas) para então chegarmos às conclusões (os efeitos).

Agora, se você não concorda com a premissa três, cabe a você demonstrar que ela está errada. No entanto, enquanto não faz isto, terá que admitir que até o momento tudo nos leva a crer que o Universo teve uma causa qualquer para existir do jeito como é atualmente.

E, se teve uma causa, não existem motivos lógicos para quem quer que seja descartar o teísmo como uma das possibilidades de verdade.

3 comentários:

  1. Cleiton:

    Eis o caminho para o agnosticismo: não se tem segurança quanto ao Criacionismo nem quanto ao Evolucionismo...

    O Teísmo, mesmo como solução para o início, não garante ao homem o almejado galardão.

    O "Criador" seria um SER pessoal?

    Pois é...

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  2. Cleiton,

    O Deus imaginado pelas religiões é muito mais complexo do que o Universo, portanto, de acordo com esse pensamento - de que do nada o Universo não pode ter vindo - fica muito difícil explicar a origem de Deus. Ele por um acaso veio do nada? E qual seria a causa de Deus?

    A verdade é que até onde o ser humano pôde observar, Deus não existe.

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  3. Ricardo,

    Talvez você nunca venha a ler esse comentário, afinal, o seu vem de 2008 e estou comentando em 2012, mas acredito que isso será útil para pessoas que, como eu, tinham dúvidas e se interessaram pelo assunto e acabaram caindo aqui.

    Você aplicou o argumento 1 (tudo que teve um começo teve uma causa), no entanto, o Teísmo diz que Deus não teve um começo. Ele é eterno, logo, é auto-causado ou não teve causa.

    Agora é possível argumentar: "Se Deus pode ser eterno, porque o Universo não pode ser?". Aí está: Ele pode. Não existe motivo lógico para dizer que o Universo não pode ser eterno, NO ENTANTO, as evidências mostram que ele não é.

    Isso me leva a crer que existiu algo anterior ao tempo, matéria e espaço. E respondendo ao primeiro colega que postou, ele tem que ser um ser pessoal, porque ele optou por converter um estado de nulidade em um Universo tempo-espaço-matéria (um ser impessoal é incapaz de tomar decisões). Assim baseio meu Teísmo.

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