terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Todo Religioso é um Torcedor


Ainda no clima futebolístico inspirado pela mais recente conquista do melhor time do país na atualidade, São Paulo Futebol Clube (a menção era totalmente desnecessária, porém inevitável), quero refletir um pouco na relação que existe entre um Torcedor e um Religioso.

Já notaram como nasce um Torcedor? Bem, o processo é muito simples e chama-se Tradição Familiar. Desde a mais tenra idade inicia-se um processo de catequização onde o pai procura incutir no filho a idéia de que o time para que ele torce é o melhor e os demais adversários são escolhas ridículas que devem ser evitadas a todo custo.


A criança é cercada de toda espécie de incentivos diretos e subliminares para levá-la a se tornar mais um torcedor do mesmo time que o pai torce. A criança ainda quando um bebê recém-nascido, sem a menor condição de entender o que é futebol, é colocada dentro de uma roupinha do time, e fotos são tiradas para que futuramente a criança veja que já nasceu predestinada a torcer para aquele time.

Ainda quando aprende a balbuciar as primeiras palavras, o pai já lhe ensina a entoar o grito de torcida de seu time. A criança desde cedo percebe que chama a atenção dos pais e se torna apreciada com orgulho pelos demais (do mesmo time, é claro) quando repete aquilo que o pai lhe ensinou. O estímulo é fortíssimo: "Que gracinha! Como ele é esperto!".

Por outro lado, é lhe inculcada propositalmente uma idéia completamente distorcida dos times adversários para que esta criança se sinta completamente desestimulada a vê-los com bons olhos: "Filho, olha lá os bambis"; "Filhos eles são todos um bando de gambás e galinhas pretas"; "Filho, lugar de porco é no chiqueiro"; e por aí vai.


O pai também faz a criança entender que as vitórias do seu time são a prova de que ela está no caminho certo em relação a sua "escolha". Porém, quando acontecem derrotas, procura fazê-la ver que a culpa foi do juiz que fez sacanagem ou dá quaisquer outras explicações que a desestimule a pensar que os outros times são melhores que o seu.

Neste processo, em nenhum momento, a criança é estimulada a pensar por si mesma avaliando de forma racional e imparcial se o time proposto por seu pai é realmente o melhor, ou mesmo, numa avaliação ainda mais profunda, se existe realmente a necessidade de se torcer por algum time.

O processo para tornar um ser humano em um Religioso é exatamente o mesmo que o descrito acima em relação a um Torcedor. Tradição Familiar!


A criança é doutrinada desde a mais tenra idade, recebendo todo tipo de incentivo que a faça compreender que teve a sorte de nascer na religião verdadeira. O condicionamento psicológico é tão forte e eficaz que a pessoa, mesmo depois que cresce, não consegue entender que toda sua religiosidade não passa de uma mera cultura religiosa programada em seu cérebro sem que ela tivesse condições de escolha.

Alguns podem querer contra-argumentar mencionando o fato de que muitos crescem e trocam para uma religião diferente àquela que receberam de seus pais, como se isto fosse uma prova de uma religiosidade racional com base na liberdade de escolha.

Bem, muitos também trocam de time depois que crescem. Eu mesmo fui Santista até meus 12 anos, quando percebi que na verdade eu não torcia para o Santos e sim para o Pelé. Foi o Pelé se despedir do Santos (1974) e eu deixei de ser Santista (fui torcer por outro santo, o São Paulo - Oh, bendita mudança!). Mas veja bem, a semente que me levaria a escolher um outro time já havia sido plantada. Na verdade eu estava utilizando meu livre arbítrio de uma forma limitada, pois não deixei de ser um torcedor, apenas troquei o time para qual torcer.


Desta mesma forma, o religioso que muda de religião pensa que está transcendendo sua cultura religiosa, quando na verdade só a está adaptando a algo que lhe seja mais interessante ou conveniente. Na verdade, trocar de time ou de religião não representa uma verdadeira mudança em relação aos conceitos básicos que nos foram transmitidos, pois essencialmente ainda continuamos torcedores e religiosos.

Portanto, acredito que todo sincero pesquisador da verdade deve ter coragem e sinceridade para retroagir em seus conceitos e paradigmas, não apenas no nível que questiona qual a religião verdadeira, porém indo mais além, questionando a real necessidade de se ter um time e ser um torcedor.

Muitos temem este processo dizendo que são passos para o ateísmo e para o agnosticismo, porém nada há que temer se entendermos que a verdade não teme a investigação. Pelo contrário, quanto mais profunda, minuciosa e sincera for a investigação, maior a possibilidade de se evitar o erro e encontrar a verdade.

4 comentários:

  1. Perfeito!

    Gosto de comentários corajosos. Indicarei esta postagem aos amigos.

    Abraços!

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  2. Texto inteligente sim...
    O que o autor entende ser a "verdade" a ser procurada?

    Jorge.

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  3. Ótima postagem,

    Eu gostaria de ler uma resposta sua à pergunta do Jorge.

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  4. A pergunta feita pelo Jorge exige que eu a responde mediante uma outra postagem.

    Irei prepará-la em breve.

    Um grande abraço.

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