quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Valor Real e Valor Percebido


O que vale mais: Uma Ferrari 2009 ou uma jarra de porcelana comum, trincada e envelhecida? Você deve estar pensando que se trata de uma pegadinha, mas não é! Não se trata de nenhum raríssimo vaso chinês da dinastia Ming de incalculável valor histórico. Pode acreditar, estou falando de uma jarra destas comuns do século passado que ficaria encalhada caso fosse colocada à venda em uma loja de antiguidades.

Bem, neste caso você apostaria todas suas fichas que a Ferrari 2009, sem dúvida alguma, valeria mais, não é mesmo? Só não fale isto para a senhora proprietária desta jarra, que por sinal é minha mãe.


Ela guarda esta jarra como se fosse o objeto mais valioso do mundo, pois a mesma pertenceu a sua já falecida e muitíssimo querida avó materna, sendo o único objeto que guarda como lembrança dela.

A Ferrari 2009 e a jarra da avó de minha mãe é um exemplo da diferença entre Valor Real e Valor Percebido. Nem sempre um Valor Percebido por uma pessoa possui Valor Real que justifique esta valorização pelas demais pessoas. É aquilo que acostumamos chamar de "valor sentimental".

Mas existem outras situações onde nem sempre algo de Valor Real é notado como tal, pelo contrário, as pessoas são incapazes de perceber seu valor simplesmente porque o objeto de valor real não está inserido num contexto que as faça valorizá-lo.

Vou exemplificar isto com o vídeo abaixo feito por iniciativa do jornal Washington Post em abril de 2007. Mas antes me permita inseri-lo no contexto: Você entra no metrô em um dia como qualquer outro e se depara com um cidadão vestindo calça jeans, camiseta e um boné, num cantinho tocando um violino tendo a sua frente uma caixa. Assista ao vídeo:



Acredito que a maioria de nós teria a mesma reação das pessoas que por ali passaram naquela manhã. Aqueles que gostam de música clássica talvez vissem algo de valor naquela pitoresca cena e talvez se atrevessem a "perder" alguns minutinhos ouvindo àquele homem. Por outro lado, a esmagadora maioria simplesmente ignoraria por completo não atribuindo qualquer tipo de valor ao fato.


Porém, a situação mudaria radicalmente se ali, ao redor daquele homem, tivesse um forte esquema de segurança e uma placa com os dizeres: "Joshua Bell, um dos maiores violinistas do mundo, executando peças musicais consagradas num raríssimo violino Stradivarius de 1713, estimado em mais de três milhões de dólares".

Acredito que aquele espaço ficaria completamente congestionado pelos transeuntes amantes ou não da música, todos curiosos em ver de perto algo pelo qual milhares chegam a pagar até mil dólares para assistir em um teatro.

Caso o objeto ou momento em questão não represente algo de valor particularmente pessoal (sentimental) para nós, só aprendemos dar valor às coisas quando estão num contexto que as valorize.


As modernas empresas de sucesso descobriram e assimilaram rapidamente a lição de agregar valor aos seus produtos. Por exemplo: um mesmo chocolate pode custar até vinte vezes mais caro caso esteja numa bela e sofisticada embalagem acompanhada de uma etiqueta com uma marca mundialmente famosa.

O problema que vejo nesta história é que, se não aprendermos a identificar os valores reais em nossa vida, seremos manipulados pelos interesses gananciosos de um mercado e de uma mídia que só sabe fabricar necessidades que não existem e coagir-nos a pagar mais do que as coisas realmente valem.

Cabe aqui uma reflexão: Percebo o valor das coisas com base na minha experiência pessoal e com base na minha percepção consciente do valor real que elas possuem ou sou simplesmente mais um manipulado a valorizar somente àquilo que a grande parte dos alienados valorizam só porque um outro grupo de interesseiros um dia determinou que aquilo tivesse algum valor?

2 comentários:

  1. Cleiton:

    Belo texto. Acredito que todos temos alguma forma de alienação. Às vezes até me pergunto o que eu sou. Um produto? Um resultado como muitos que existem? Fica a sensação que o valor não está no bem em si, mas nos seus agregados e na forma como estes são apresentados (marketing).

    SDS

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  2. Muito interessante essa postagem. Ela reforça a ideia de que as coisas valem o quanto estamos dispostos a pagar por elas.

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