sexta-feira, 5 de agosto de 2011

A Falácia do Escocês

por Cleiton Heredia


Fico analisando a postura de alguns "amigos" diante da minha decisão no passado de abandonar a Igreja Adventista do Sétimo Dia, e acho interessante ver como a mente religiosa deles funciona.

Aqueles que acompanham este blog sabem que nasci em um lar cristão adventista, fiz faculdade de teologia e durante mais de 20 anos servi a igreja adventista ocupando diversas funções eclesiásticas, tais como: pastor auxiliar, líder jovem, evangelista, palestrante, diácono e ancião.

Considero mais que justificável que minha mudança de conceitos tenha causado surpresa e assombro naqueles que me conheceram como um dedicado e atuante membro da igreja, porém isto não justifica ser julgado como um falseador da fé cuja vida foi pautada pela mentira e pelo engano.

Mas infelizmente foi isto que aconteceu!

Refletindo sobre isto pude perceber que estes que assim me julgaram estavam apenas usando uma artimanha lógica chamada "a Falácia do Escocês", que resumidamente consiste no seguinte:

Suponha que eu afirme que nenhum escocês põe açúcar no seu mingau. Você questiona isso apontando que seu amigo escocês chamado Angus gosta de colocar açúcar no seu mingau. Eu então digo "Ah, sim, mas nenhum Escocês 'de verdade' põe açúcar no seu mingau."

Percebeu a falácia? Para forçar um argumento eu invento uma definição falaciosa. A definição correta de escocês é uma pessoa nascida em um país chamado Escócia e nada mais do que isto. Porém, com intuito de tornar a minha afirmação verdadeira e refutar o argumento de que existem pessoas nascidas na escócia que colocam açúcar no mingau, eu simplesmente redefino a palavra escocês dizendo que somente os "verdadeiros" escoceses é que não colocam açúcar no mingau.

Quando alguns "amigos" ficaram sabendo de minhas mudanças, começaram a dizer:

- "Um verdadeiro cristão convertido nunca abandonaria a fé como ele fez!"

Portanto:

- "Se ele abandonou sua fé, nunca foi um verdadeiro cristão convertido".

A conclusão inerente a este tipo de raciocínio só poderia ser:

- "Ele foi um falso cristão durante todo este tempo. Nunca se converteu de fato. Foi um hipócrita mentiroso e esteve o tempo todo nos enganando!"

Mas por que será que algumas pessoas pensam desta forma?

Bem, em primeiro lugar porque é muito mais simples do que procurar saber e entender quais foram os argumentos que me fizeram mudar de ideia. Depois, porque é uma forma de proteger as suas próprias crenças, pois como eles as consideram a essência da verdade, somente um louco ou um maquiavélico enganador poderia abandoná-las ou negá-las.

Confesso que fico um pouco chateado com tudo isto, mas no fundo o que me conforta é saber que estou em paz com a minha própria consciência. Quando fui um adventista do sétimo dia, o fui de todo o meu coração e com todas as minhas forças, procurando pregar o que vivia e viver o que pregava. E isto ainda não mudou e nem vai mudar!

5 comentários:

  1. Procuro me lembrar de um ensinamento de um professor (adventista) que dizia o seguinte, para as pessoas que julgavam sem analisar:

    "Enquanto os cachorros latem a corruagem passa..."

    Siga o seu caminho que eu sei que é sincero e que seus amigos "de coragem" sabem, também...

    Enéias

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  2. É, meu caro! Infelizmente, é o que mais tem por aí, gente que pensa dessa forma... Parece que o passado deixou de ter o seu valor só por causa de UMA COISA que se fez no presente... Isso é preconceito radical, sem dúvida!

    É como julgar alguém só por causa de UM DEFEITO esquecendo de MIL QUALIDADES que ela possa ter... Isso é no mínimo indouto e certamente magoa a alguém que é alvo desse tipo mesquinho de crítica... aliás, nem crítica é, senão um "apontamento infeliz" de uma conduta e conclusão errada a partir disso, SEM CONHECER OS REAIS MOTIVOS que a levaram a fazer aquilo.

    Aliás, esse tipo de julgamento infeliz é uma das fontes de fofocas que existe. Palavra.

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  3. Bom texto Cleiton.

    É o que acontece comigo, mas eu sigo com o meu pensamento: ser sincero comigo e consequentemente com as outras pessoas.

    Quando eu era cristão, o era de todo o meu coração e as pessoas que me conhecem sabem disso. Hoje não sou mais, mas sou sincero o suficiente pra dizer que se um dia eu perceber que errei nessa minha decisão, voltarei atrás sem medo do que falarão ou pensarão de mim.

    "Quanto mais sei mais sei que nada sei" Sócrates

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  4. Porcel,

    Um "defeito", como vc diz, pode ser uma qualidade dependendo do ponto de vista. Para os crentes fundamentalistas, nosso amigo Cleiton tem esse "defeito", mas para mim são qualidades de quem sabe pensar fora da gaiola sem condenar seus inquisidores.

    Cleiton,

    Como vc mesmo diz, quem te condena são "amigos"... De certo modo o ocorrido é bom para vc distinguir quais de seus amigos vc pode retirar essas aspas.

    Essa acusação contra vc é comum nos religiosos para se sentirem confortáveis em seu mundo de fé. É muito mais fácil condenar do que tentar entender e perdoar o próximo. Pior de tudo é saber que isso vem de uma religião que diz pregar amor e compreensão...

    Melhor fazer seu mingau do jeito que quiser e ser feliz !!!

    Abçs

    Adinan

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  5. Muito legal seu depoimemto e sua exemplificação! Realmente é interessanre como as pessoas usam essa falácia pra se distinguir do que não consideram bom.

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