sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Era uma vez um agnóstico... (Parte 2)

por Cleiton Heredia


O Agnóstico, após aquele encontro, começou a ponderar a possibilidade da escolha de um Deus e resolveu partilhar suas considerações com um amigo do trabalho.

Este amigo ouviu atentamente ao agnóstico e então disse:

"Eu não acho que você precise escolher por um Deus específico. As divindades que existem foram formatadas pelas diversas culturas existentes, de forma que cada um idealizou para si um tipo de Deus que melhor correspondesse a sua visão particular do mundo. As religiões acabam limitando a Deus, mas Deus é tudo e está em todos. Faça como eu, tenha uma espiritualidade independente das religiões. Eu creio em Deus, mas não me preocupo em querer defini-lo como um Deus assim ou assado".

O agnóstico pensou um pouco e então perguntou: "Você ora ou reza para o seu Deus?"

- "Sim, claro! Converso com ele todos os dias", respondeu o amigo.

O agnóstico continuou perguntando:

- "Bem, então o seu Deus é uma divindade pessoal que não somente sabe que você existe, mas que também pode ouvir as suas preces?"

- "Sim, é lógico!", respondeu novamente o amigo.

O agnóstico continuou fazendo várias outras perguntas e ouviu após cada uma delas uma rápida e segura resposta afirmativa:

- "Seu Deus é eterno e todo poderoso?"
- "Sim, se não ele não seria Deus."

- "Seu Deus é um ser justo, compassivo e amoroso?"
- "Sim, é mais que natural que seja."

- "Seu Deus é o criador e mantenedor da vida?"
- "Sim, ele é o grande projetista e arquiteto de tudo aquilo que existe."

- "Seu Deus realiza milagres?"
- "Sim, não tenho dúvidas disso."

- "Seu Deus tem algum tipo de solução para a morte?"
- "Sim, a morte não é o fim!"


O agnóstico parou por alguns segundos, respirou profundamente e olhando bem nos olhos de seu amigo, disse:

- "Você me desculpe, mas eu não vejo a menor diferença do que você fez e os povos com as suas religiões fizeram. Você idealizou para si um Deus que melhor correspondesse a sua visão particular do mundo, e assim fazendo acabou estabelecendo a sua própria religião individual. Você se diz possuidor de uma espiritualidade que independe das religiões, mas não percebeu que assim fazendo acabou confeccionando a sua própria religião personalíssima".

Estendendo a mão como querendo se despedir, o agnóstico arremata:

- "Não me leve a mal, mas este tipo de Deus não me interessa! Se for para eu mesmo ter que formatar o meu próprio Deus para atender as minhas necessidades individuais e específicas, acho que seria mais sensato voltar a ser um ateu. Se Deus é aquilo que eu quero que ele seja, então temos um Deus diferente em cada cabeça, e isto não faz sentido. Não vejo a menor lógica em ter que inventar mais um Deus para mim, quando na verdade já existem tantos outros disponíveis aí para escolher."

Conversa encerrada, o agnóstico segue o seu caminho com a certeza de que caso ele não escolhesse um Deus, com certeza acabaria criando um só para si como muitos fazem. E isto ele não queria!

A história do agnóstico continua amanhã.

4 comentários:

  1. Todos esbarram na necessidade de um Deus pessoal. Poucos admitem a existência de um originador que não está muito preocupado com o que lhe cerca.

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  2. Olá Cleiton,
    Creio que as pessoas procuram por um Deus pessoal porque as conforta, é confortante "saber" que Deus pensa da mesma forma que voce.
    Em voltas que dou na internet me deparei com a seguinte frase durante uma discução:
    "Se Deus não é bondoso comigo e não me perdoa, então não merece o titulo de Deus, por isso prefiro o MEU DEUS"
    Era uma discução entre um evangelico e um mussumano,retrata bem o que quero falar.

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  3. Sobre a frase:
    "Todos esbarram na necessidade de um Deus pessoal"

    Nem todos, somente os religiosos, que acreditam num "Deus das desculpas": foi Deus que permitiu, foi Deus que me ajudou, é Deus que "escreve certo por linhas tortas", aliás, muitas linhas tortas nesse mundo. Esse "Deus das desculpas" tira das costas dos humanos a culpa por todas as mazelas desse mundo.

    Abçs

    Adinan

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