segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Nelson Heredia - Este foi o meu pai

por Cleiton Heredia


Nelson Heredia

Nasceu em 09 de outubro de 1934 na cidade de Tabatinga, interior de São Paulo.

Filho de Laureano e Lídia Heredia, era o filho mais velho de uma família com mais quatro irmãos, Naor, Nilce, Nelma e Nilton. Viveu parte de sua infância no interior do Paraná onde trabalhou na roça colhendo café. Ainda jovem veio para a capital de São Paulo em busca de seus sonhos e aprendeu o ofício de relojoeiro.

Casou-se em 24 de junho de 1961 com Maria Alice Fuckner, que passou a se chamar Maria Alice Heredia, com quem ficou casado por 42 anos e com quem teve três filhos, eu, que sou o primogênito, e meus irmãos, Marcelo e o caçula que recebeu o seu nome, mas que acostumamos chamar de Nelsinho para diferenciar do pai.

Sempre em busca de novos horizontes procurou logo compensar a falta de oportunidade de estudos na infância, fazendo vários cursos profissionalizantes, tais como o de torneiro mecânico, técnico em eletrônica e mecânica de automóveis.

No ano de 1964 abriu a sua própria empresa especializada em Painéis Automotivos e, em poucos anos, a transformou em uma das maiores no seu ramo. Seu segredo? Nenhum segredo, apenas trabalho duro unidos a uma constante preocupação com detalhes como organização e limpeza. Seus grandes lemas eram: "A vida é dura para quem é mole" e "Cada coisa em seu devido lugar".

Assim como a maioria dos empresários deste país, sofreu com o baque dos planos econômicos que o levou praticamente de volta a "estaca zero". Porém, não se dando por vencido, e sempre com muito trabalho e criatividade, conseguiu se reerguer montando uma pequena indústria de Sensores Eletrônicos.

Apesar de todo sucesso que alcançou, nunca deixou de ser um homem simples que gostava de pescar com os amigos na barranca do rio, de tocar e cantar moda de viola, rir com as comédias do Mazaropi, dormir na rede em um tranquilo ranchinho, saborear uma comidinha caseira feita no fogão a lenha com panela de ferro, e cuidar dos animais.

Sim, o cuidado com os animais era uma de suas grandes paixões. Não importa se era um cachorro magrelo, um gato esgalepento ou uma pomba atropelada. Se eles estavam sujos ele mandava lavar, se estavam doentes ele comprava remédios e os levava ao veterinário, se eram feios ele comprava uma linda coleira na tentativa de embelezá-los.

Ainda falando sobre os animais em sua vida, destaco um episódio em particular. Certa vez pescando na beira de um rio com um amigo, notou que mais ao fundo um garoto se debatia desesperadamente sobre as águas. Ao perceber que ele estava se afogando, nadou até lá e salvou o garoto daquilo que seria uma morte certa. O pai daquele garoto ficou tão agradecido que o presenteou com um filhote de papagaio. A este bichinho é que eu devo o meu apelido familiar de "Pepo" (uma tentativa dele falar "Cleito"). Ainda me lembro do meu pai falando "dá o pé loro" e o colocando sobre a mesa de manhã para dar-lhe um pouco de pão molhado no café (ele adorava), chegando em casa do trabalho e colocando semente de girassol na sua boca para que o "loro" pegasse com seu bico, lavando o poleiro, cortando frutas para alimentá-lo, no inverno colocando uma lâmpada dentro da gaiola para que ele não sentisse muito frio e, quando o bichinho adoecia, dando remédio direto no seu biquinho enquanto eu tentava mantê-lo imóvel envolto em uma toalha. Este animalzinho nos acompanhou por mais de 10 anos.

Este foi o meu pai. O pai que cochilava em cima da bancada onde concertava relógios em razão de não ter dormido para me levar ao médico de ônibus em plena madrugada por causa de uma grave doença que tive quando ainda era um bebê; o pai que assinou os meus boletins escolares e fazia questão de colocar alguns dizeres como "Parabéns filhão"; o pai que me ensinou lutar judô no chão da sala, a andar de bicicleta e a nadar; o pai que gostava de me fazer surpresa trazendo à noite uma revista em quadrinhos ou algumas figurinhas para o meu álbum; o pai que gostava de fazer aos domingos pic-nic na sala enquanto assistíamos ao Fantástico; o pai que me levava ao estádio para ver o São Paulo jogar, mesmo sendo ele um Palmeirense; o pai que me contava muitas piadas, mas também o pai que me ensinou importantes lições de vida. Este foi o meu pai.

No dia 27 de fevereiro de 2011 o "NERSÃO", como era carinhosamente chamado por seus amigos e familiares, descansou! Infelizmente foi um descanso necessário em razão de todo o sofrimento com o qual foi obrigado a conviver nos últimos três anos, por causa de crescentes complicações de saúde. Ele descansou, e isto estava evidenciado em seu semblante que estava sereno, tranquilo e em paz.

A cerimônia de sepultamento foi simples assim como simples foi a sua essência. Ali estavam presentes alguns daqueles que tiveram o privilégio de o conhecer, de terem convivido com ele e de terem as suas vidas acrescentadas com um pedaço daquilo que ele mesmo foi.

Ele se foi fisicamente, porém espiritualmente permanece vivo em nossa memória através de seu exemplo de homem batalhador, seu bom humor nos momentos de descontração e também através do som das serestas que tanto gostava de tocar no violão, mas que ainda ecoam em nossas mentes (este vídeo abaixo tem a música que eu mais gostava de ouvir ele tocar no violão).


Tchau pai.

4 comentários:

  1. Cleiton, meus sentimentos.

    Nelson Heredia só deixará de existir definitivamente quando o último de seus queridos também sucumbir ao tempo, enquanto isso, ele persistirá brincando, aconselhando, cuidando de seus animaizinhos e tocando seu violão.

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  2. Cleiton,

    Meus sinceros sentimentos. Espero que você e familiares estejam bem. Estamos às ordens!

    Abraços/Enéias

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  3. Cleiton, nossos sentimentos.
    Fiquei emocionada ao ler sua postagem... perder alguém que a gente ama é muito doloroso.
    Parabéns pelo pai que você teve.
    Um abraço.

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  4. Seu Nelson! um grande patrão. Um cara que me deu oportunidade de trabalho e me tratava como um filho. Grande pessoa. Só coisas boas pra se lembrar. Sua família maravilhosa. Gratidão.

    Anderson R. Vilar

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