terça-feira, 26 de agosto de 2008

Onisciência x Onipotência


Dentre os vários segmentos no mundo das mágicas o que mais me impressiona e atrai é o segmento chamado "mentalismo". O mentalista é uma espécie de mágico vidente que consegue ler a mente das pessoas, prever eventos antes que eles ocorram e interferir na matéria com seus "poderes mentais".

Antes que alguém saia por aí fazendo algum tipo de caça às bruxas (no meu caso seria caça aos bruxos), deixe explicar que estamos falando de técnicas bem racionais que nada tem haver com paranormalidade, espiritismo ou qualquer outro tipo de poder sobrenatural. É apenas um tipo diferente de mágica ou, como preferem outros, ilusionismo.

Alguns "espertalhões" se apoderam destas técnicas com a finalidade de se passarem por seres "iluminados" e com isto conseguem enganar a muitas pessoas. Geralmente fazem isto por interesses escusos relacionados à fama, poder, status e especialmente dinheiro. Lembram daquele tal de Jucelino? Pois é...

Já um mágico mentalista se limita a façanhas tais como adivinhar algo que está apenas no pensamento de uma pessoa, prever uma escolha que alguém ainda fará, fazer com que um evento aleatório de raríssima probabilidade aconteça no instante que ele quiser ou realizar outros inocentes prodígios "simplesmente" com o poder da mente. E tudo isto sem precisar vender a alma para o diabo, como acreditam alguns poucos de forma simplória (para não dizer ignorante).

Falando em prever o futuro, caso realmente existisse uma pessoa com este poder, será que alguém teria coragem de chegar para esta pessoa e perguntar em detalhes como será sua vida daquele momento até o dia de sua morte? Duvido!

Acho que poderíamos contar nos dedos os poucos corajosos que se arriscariam ouvir a resposta. E sabe por que? Porque ninguém quer trocar sua vida com base na emocionante esperança por numa vida pautada pela imutável certeza.

Já pensou se você soubesse de antemão tudo aquilo que aconteceu nos últimos 20 anos de sua vida? Pare e pense um pouco nisto...

Você tentaria mudar os episódios ruins, mas não conseguiria, pois o futuro que foi previsto é imutável. Frustrante, não? Você começaria a se questionar quanto ao seu livre arbítrio, pois do que adianta conhecer o futuro se não podemos mudá-lo quando queremos ou precisarmos?

Permita-me sugerir duas situações hipotéticas:

1ª) Imagine que alguém lhe faça uma previsão infalível de que você terá um filho que se tornará um serial killer que vitimará dezenas de pessoas e desgraçará a vida de muitas famílias. Sabendo disto de antemão, você não quer se arriscar a ter este filho, mas sabe que não poderá evitar pelo fato de ser um destino imutável. Terrível, não é mesmo?

2ª) Imagine agora que saiba que no futuro terá um filho que nascerá com uma grave doença congênita que fará com que ele tenha uma vida de dor e sofrimento, e o levará a cada novo dia de sua torturante vida desejar nunca ter nascido. É claro que ninguém desejaria ter um filho nestas condições, mas como se trata de um futuro imutável, você nada mais pode fazer a não ser esperar e assistir o seu cumprimento. Isto seria justo?


Acho que você já deva ter deduzido aonde estes questionamentos nos conduzirão: a onisciência e onipotência divina! Afirmam os teólogos que Deus conhece o fim deste o princípio, e também que é todo poderoso ao ponto de nada lhe ser impossível. Bem, você deve conhecer a história judaico-cristã da rebelião de Lúcifer, da entrada do pecado neste planeta e também é testemunha ocular e vivencial de todo o mal gerado em consequência destes dois primeiros eventos.

Estaria a onipotência divina limitada por sua onisciência? Seria Deus um escravo de sua própria onisciência? Se não, então por que permitiu o surgimento de Lúcifer? Por que simplesmente não alterou seu plano? Para preservar o livre-arbítrio de suas criaturas? Pode ser, mas pense bem! Quem é que poderia questionar a Deus por não ter criado um ser que ninguém jamais teve qualquer conhecimento e que está apenas em sua mente? O universo jamais sentiria falta de algo ou alguém que nunca existiu.

Assim como não condenamos um casal que prefere não ter filhos, mas respeitamos sua decisão, quem é que poderia condenar Deus por não querer criar alguns seres que com certeza arruinariam todo universo e destruiriam a vida de muitas outras criaturas inocentes?

Não pretendo desrespeitar a crença de ninguém, nem muito menos ser desrespeitoso para com Deus, mas apenas quero exercer meu direito de pensar e quem sabe levar você à reflexão: A onipotência divina está limitada por sua onisciência ou esta onisciência não é tão absoluta quanto imaginamos?

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