domingo, 3 de abril de 2011

A Felicidade da Transitoriedade

por Cleiton Heredia


O que as esculturas de areia, os bonecos de neve e os castelos de cartas possuem em comum?

Todos são transitórios.

Por mais bem elaborados que sejam e por mais tempo que tenham demandado em sua edificação, eles não foram construídos para durar para sempre. Quem os constrói já sabe o quão passageira será a sua obra. Da mesma forma, quem tem o privilégio de apreciá-los, também já sabe que contemplam algo que em breve deixará de existir.

A transitoriedade de uma obra não impede que o artista a ela se dedique investindo grande parte do seu tempo e todo o seu talento. Para muitos isto pode parecer frustrante, pois não conseguem entender como alguém pode investir um dia inteiro em algo que pode ser completamente destruído com a subida da maré, o brilho mais intenso do sol ou um simples golpe de vento. Mas mesmo assim muitas pessoas continuam esculpindo obras de arte na areia, fazendo os seus lindos bonecos de neve e edificando castelos de cartas cada vez mais altos.

Por quê?


A resposta para esta pergunta não está na lógica pragmática e racional, mas sim no simples fato de um dia ter se envolvido com estas coisas transitórias, porém muito divertidas. Não importa se tudo em um simples momento deixará de existir, o que realmente importa é a alegria de ter vivido aquele momento único que nos proporcionou realização pessoal, prazer, paz e felicidade.

A transitoriedade de uma obra não a impede de ser apreciada em toda a sua beleza. Vejam por exemplo, um show pirotécnico. Não importa se daqui a alguns segundos só restará a fumaça no ar, o que realmente importa é ter tido o privilégio de se encantar e se maravilhar com todos aqueles momentos de rara beleza.

E mais, uma obra pode até ser transitória em termos das dimensões físicas do tempo-espaço, porém não o será seu efeito sobre as pessoas que a contemplarem. Tais obras na verdade serão perpetuadas enquanto viverem as pessoas que as mantiverem vivas em suas memórias.

Felizes aqueles que aprendem a dar valor para a vida apesar de sua transitoriedade. Estes não somente saberão ser felizes, mas também conseguirão fazer os outros igualmente felizes, mesmo que seja fazendo esculturas na areia, moldando bonecos na neve ou edificando castelos de cartas.


"O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis." - Fernando Sabino.

Se tiver um tempinho leia também: A Beleza Efêmera

2 comentários:

  1. Por não aceitar a vida transitória o homem busca a eternidade, via religião...

    Enéias

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  2. "O homem que tem coragem de desperdiçar uma hora do seu tempo não descobriu o valor da vida" de Charles Darwin.

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