segunda-feira, 16 de março de 2009

Existência de deus - Porque tanta preocupação com aquilo que a ciência diz se no final das contas o que vale mesmo é a fé?


A aceitação racional da existência de deus tal como a de Antony Flew que abandonou o ateísmo após uma re-análise de suas convicções, ou mesmo daquele que afirma ter escolhido crer em deus na plenitude de sua razão, só me deixa ainda mais confuso em relação ao sentido prático desta crença.

Li recentemente que o conceito de deus apresentado pelas religiões pode ser muito limitado e desvirtuado por construções humanas, e portanto, que deveríamos nos permitir a um tipo de crença mais transcendental.

Mas se pensarmos bem, a razão pode até levar-nos a conjecturar a possibilidade de deus existir, porém nunca poderá ir muito além disto. Não poderei nunca afirmar que este deus é bom, santo, pessoal ou se está interessado em mim, com base na razão, ciência, epistemologia, axiologia ou metafísica.

Somente as religiões com base nas suas revelações sobrenaturais é que podem ir além da mera aceitação da existência de deus, para a definição de como ou quem é este deus.

E no final de tudo, o que realmente importa em termos práticos, não é simplesmente eu estar convencido de que o universo e a vida só seriam possíveis ou viáveis se algum tipo de deus existisse, mas sim se este deus é um ser pessoal e está positivamente interessado em minha vida.

Caso contrário, ser convencido racionalmente de sua existência sem ter condições de ter a mesma certeza de quem este ser é e de quais são as suas preocupações, só me leva a pensar que tal crença de nada me vale.

Agora, se você argumentar comigo que posso conhecer a este deus (que a razão pode sugerir existir) somente pela fé na revelação sobrenatural de um determinado segmento religioso, então eu lhe pergunto:

Porque se preocupar em fazer com que a crença num deus seja racionalmente científica, se em termos práticos (aqueles que podem fazer uma diferença significativa na minha vida neste planeta) eu terei que escolher um deus, entre os vários oferecidos pelas religiões, usando única e exclusivamente a fé?

3 comentários:

  1. Pois é: a resposta deveria ser simples, mas apenas a fé não satisfaz muitos e entre eles aqueles que procuram se calçar em evidências supostamente científicas, teorias como a do design inteligente e outras tais.

    No fundo a fé cega está à disposição de todos mas só é exercida por aqueles que não se aventuaram em especulações, seja por medo, seja por incapacidade...

    SDS

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  2. Vejo uma grande diferença entre o ato de crer (guardando isso para si) e o ato de espalhar (impor?) essa fé (ou sua "verdade").

    Nem todos aceitam a verdade pela fé. Assim, design inteligente, "evidências" científicas etc não seriam apenas ferramentas dos que aceitam a "verdade" pela fé usadas para convencer essas pessoas a partir daquilo que elas aceitam (ciência, razão, o que for)?

    Se for assim, a resposta a sua pergunta seria talvez a vontade (necessidade?) que temos de estarmos sempre "certos" e nada mais.

    Se for isso mesmo, os cristãos podem comemorar pois o argumento de que "muitos morreram em nome de Deus" é falso. Na verdade, muitos morreram para que outros pudessem estar certos.

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  3. Cleiton,

    Toda essa preocupação se deve ao fato da incerteza por parte daquele que diz crer, mas que na verdade não crê coisa nenhuma. Eu diria que uns... 100% dos religiosos não crêem em deus, mas fingem para si mesmos crer. Pelo menos é a impressão que 100% dos religiosos que conheço me passam.
    Daí, se apegam a qualquer coisa que lhes ajude a manter a farsa.

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