sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Mantenha Isso Simples, Estúpido - Parte 2


Após algumas considerações iniciais sobre a Navalha de Occam feitas na postagem anterior, pretendo agora fazer uma aplicação prática deste princípio na comparação do Criacionismo com o Evolucionismo.

Sabemos que entre estas duas teorias rivais as evidências que possuímos até o momento não podem provar ou refutar de forma definitiva e inquestionável qualquer uma delas. Então neste caso específico seria recomendável utilizarmos a “Navalha de Occam” como um princípio racional de escolha.

Temos duas teorias:

Criacionismo = Deus criou todo o universo e toda a vida nele contida.

Evolucionismo = O universo e a vida originaram-se de forma espontânea e natural.

Qual destas duas teorias é a mais provável? Qual delas exige um número menor de pressuposições extras? Qual delas não se apropria de hipóteses desnecessárias?

Bem, aqui a briga vai longe!


Os criacionistas afirmam convictos de que é necessário muito mais fé para se crer que tudo veio do nada e do acaso, do que crer em um Deus Todo-Poderoso que tudo fez conforme sua vontade inteligente.

Para eles a Navalha de Occam deferia estar sendo utilizada para extirpar a pressuposição de que o tempo, por exemplo, é capaz de realizar o “milagre” de tornar real aquilo que é estatisticamente impossível de ocorrer.


Já os evolucionistas defendem a idéia de que deus é uma hipótese desnecessária uma vez que, como até o momento a ciência tem conseguido explicar através das leis da natureza uma significativa parte dos enigmas relacionados à origem do universo e da vida, a tendência é que com seu avanço todas as atuais “lacunas” usadas para se admitir a existência de deus sejam preenchidas com explicações naturais.

Para eles a Navalha de Occam deveria cortar a hipótese de deus, pois isto exigiria desnecessariamente o acréscimo de outras hipóteses como, por exemplo, aquelas relacionadas à origem deste deus muito mais complexo que o universo que conhecemos.


Nesta briga de idéias e conceitos devemos ser honestos em admitir que a Navalha de Occam favorece melhor a teoria que descarta deus, pois ao admitirmos sua existência e tentarmos prová-la, precisaremos recorrer a argumentos bastante complexos (e difíceis de acreditar sem o uso da fé). Portanto, de acordo com a Navalha de Occam, é melhor aceitar a teoria que exige um número menor de hipóteses extras.

Até o próprio Guilherme de Occam, mesmo sendo um sacerdote cristão, chegou à conclusão de que sua “navalha” dispensava a existência de Deus, pois insistia que uma explanação para ser válida precisa estar baseada em fatos simples e observáveis, suplementada por pura lógica (não é a toa que foi excomungado pela igreja católica).

Na verdade Guilherme de Occam cria em Deus, mas de uma forma diferente dos demais teólogos de sua época. Estes estavam constantemente à procura de uma prova científica para consubstanciar a existência Deus, porém ele entendia que a existência de Deus só pode ser defendida única e exclusivamente pela fé. Para ele a teologia e a ciência têm objetos e propósitos diferentes, e, portanto, requerem métodos diferentes.


Neste duelo travado entre o criacionismo e o evolucionismo considero inadequado quando uma das partes tenta se estabelecer atacando e tentando destruir a outra.

Os criacionistas precisam ser humildes em reconhecer que não jamais serão capazes de provar “cientificamente” a existência de Deus ou Sua bondade, ou quaisquer outros dogmas da “fé”.

Por outro lado, os evolucionistas também precisam ser mais realistas em admitir que, por mais que suas pesquisas científicas avancem, jamais conseguirão provar a inexistência de um deus para aquele que escolheu nele depositar a sua fé.

Mas pelo visto a briga tende a continuar porque nem um dos lados quer admitir e respeitar suas limitações, a saber, que Teologia é matéria de revelação inquestionável e Ciência é matéria de descoberta contínua.

5 comentários:

  1. Cleiton,

    Venho acompanhando seu blog há algum tempo e sempre gostei da sua forma de abordar os assuntos (e os assuntos em si).

    Meu post mais recente tange o assunto que você abordou nos seus dois últimos posts, o que me fez deixar esse comentário.

    É sempre bom ler considerações que buscam agregar valor à um debate sem tentar denegrir o valor dos participantes de ambos os lados.

    Passarei sempre por aqui. Abraços!

    ResponderExcluir
  2. Cleiton:

    Excelente a forma como abordou o tema. Como podemos inferir a sacada mais honesta, pelo menos para mim, é a âncora, ainda que momentânea, no agnosticismo...

    Bom texto!

    ResponderExcluir
  3. Olá, leio seus posts...Já te enviei comentário através da identidade TAXIDOOR...
    Sou corredor de provas rusticas...visite meu blog maratona 160min....vai participar de provas este ano?
    Abços

    ResponderExcluir
  4. Gostei da postagem, só que continuo não concordando com a idéia de que os evolucionistas precisariam provar definitivamente que Deus não existe para silenciar os criacionistas. Do meu ponto de vista a obrigação é dos criacionistas em provar que algo que parece ter saído de um conto de fadas existe. Agora, para aquele que escolheu depositar a sua fé nessa crença não há nada a dizer mesmo.

    ResponderExcluir
  5. Olá Cleiton!
    Gostei do seu artigo, ele é neutro e incentiva um debate mais lógico e menos fanático, bom para ambos os lados.
    Como dizia Raul Seixas "Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo".
    Um grande abraço!

    ResponderExcluir