quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009
Reflexões de um Agnóstico Neófito
Abandonar as fileiras do cristianismo tradicional e migrar para o agnosticismo não é tarefa fácil e muito menos agradável, porém, no meu caso, algo inevitável.
É inegável o fato que enquanto membro atuante, sincero e convicto dentro do cristianismo, tudo era psicologicamente muito melhor, pois existia a confortável segurança do propósito na vida. Eu sabia exatamente de onde vinha, porque estava aqui e para onde iria.
Os ateus que me perdoem, mas a idéia de um Deus pessoal, amoroso, complacente, justo e profundamente interessado na minha vida individual ao ponto de querer me preservar ao Seu lado por toda a eternidade é algo incrivelmente desejável.
Tenho absoluta certeza de que no fundo de seus mais íntimos anseios todos os ateus gostariam que o deus que idealizam em suas mentes fossem uma realidade inegável. Notem que o deus que eu mencionei foi aquele idealizado em suas mentes, e não exclusivamente o Deus bíblico, pois muitos fazem ressalvas a este Deus lá revelado pelas páginas do Antigo Testamento, por interpretá-lo muitas vezes como um Ser intolerante, violento e caprichoso.
Porém, quando adquire-se a ousadia de fazer determinadas perguntas e se tem a coragem de partir em uma sincera busca pelas respostas que correspondem à verdade, o agnosticismo torna-se uma etapa, mesmo que temporária, inevitável.
Digo inevitável porque tanto os cristãos como os ateus verdadeiramente conscientes das limitações inerentes às suas convicções, sabem que o argumento que silenciará todos os demais contrários não dando mais margem para questionamentos ou dúvidas, está ainda por ser descoberto (se é que um dia será).
Acredito que todo agnóstico tenha tendências perfeccionistas, pois qualquer que seja a mácula em um determinado conceito, já se torna o suficiente para ele ali não querer ancorar o seu barco, mas preferir continuar navegando em busca de um porto que seja verdadeiramente seguro.
Mas como definir este porto seguro? Ele existe de fato ou a busca por ele está fadada a se tornar uma viagem inócua e sem sentido?
Bem, para mim este porto seguro existe, pois o chamo simplesmente de “Verdade” ou Realidade. Talvez este porto seguro ao ser encontrado não se revele tão seguro como a minha concepção pessoal de segurança gostaria que fosse, mas mesmo assim é o porto a que procuro simplesmente pelo fato de lá estar a verdade (seja ela qual for).
Os religiosos me propõe o atalho da fé para encontrar este porto de forma rápida e sem ter que gastar muito esforço. Por outro lado os ateus oferecem-me a rota da racionalidade científica, que não é tão fácil como o atalho dos religiosos, mas que ainda está repleta de encruzilhadas duvidosas onde os que por elas passam se vêem obrigados a utilizar os mesmos atalhos da fé utilizados pelos religiosos.
Enquanto peregrino no mundo das idéias prefiro assumir a condição de um agnóstico, pois assim terei a liberdade de adentrar sem medo por todo e qualquer caminho em busca do porto da verdade.
Alguns podem querer questionar minha escolha argumentando que gastarei toda minha vida nesta busca e que ao final dela olharei para trás arrependido por não ter ancorado em qualquer porto que oferecesse, mesmo que fugaz, algum tipo de refrigério.
A estes eu respondo com um contundente: “Vocês estão errados!”
Muito embora o destino escolhido seja o porto da verdade inquestionável, enquanto viajante não me angustio ou frustro-me, pois não entendo a felicidade como simplesmente alcançar um objetivo, mas sim como todo o processo de se trilhar um caminho em busca dele. Em outras palavras, aprendi a viver da melhor forma com as migalhas de verdade que possuo a cada momento.
Postado por
Cleiton Heredia
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Cleiton,
ResponderExcluirMinha opinião é só mais uma em meio à multidão, contudo, estou convencido de que se existe um Deus a ser alcançado ao seu lado estarão os amantes da verdade e não os religiosos.
Cleiton:
ResponderExcluirParabéns! No mínimo assumiu corajosamente o que chamo de compromisso com a verdade. A pessoa não escolhe ser agnóstica. É caminho obrigatório dos que estão dispostos a aceitar a realidade.
Ponto curioso: não me tornei agnóstico por força dos argumentos dos ateus (continuo achando-os frágeis) e sim pela fragilidade dos argumentos dos criacionistas...
Abraços.
Caro Cleiton Heredia,
ResponderExcluirCheguei ao teu blog graças à um recurso da ciência conhecido como tecnologia, também utilizado por Enéias Teles Borges cujo blog encontrei no Google enquanto procurava imagens para uma postagem em meu endereço.
A imagem do bebê na postagem "Precisamos da esperança, pois a vida é dura!" chamou minha atenção, assim como o texto e respectivos comentários. Ao acessar teu blog e ler a postagem "Reflexões de um Agnóstico Neófito" logo questionei de que lado eu estaria.
Dos três lados, concluo - pois ainda gastei um tempo no blog do Ricardo "A arte de ter razão". Sou mais um nesta busca por respostas para questões que, particularmente neste momento de minha vida, tornaram-se um tanto quanto angustiantes e vez por outra insuportáveis.
Resultado, não postei nada no meu blog mas encontrei outros três muito interessantes para acompanhar.
Quando notei que havia me tornado um questionador compulsivo, senti um enorme peso seguido de um desejo ainda maior de ocultar-me na ignorância e alienação. Por outro lado, um vazio silencioso e perverso mostrou-me os dentes quando minha mente cogitou tal possibilidade.
Cá estou então, trilhando meu caminho, muito feliz por descobrir que outros também foram acometidos deste despertamento para tão louca lucidez, não importando para o mundo mas apenas para si onde estarão fundamentados.
Paz !
Muito boa, Cleiton. Só posso dizer uma coisa: continue em frente!!!
ResponderExcluirCleiton, embora nossos rios nunca se cruzem,
ResponderExcluiradmito estar na mesma viagem.
Eis que minha persopectiva é tão mutável como o tempo, busco uma verdade nessa vida para que possa passar adiante esta e prezo que seja suficiente para minha futura filha/filho.
Que ela aprenda ainda a ser uma guardiã do mundo e da verdade assim como posso ser, algum dia, quem sabe.
Quem sabe nos encontremos em algum porto, mas até: Boa viagem, marinheiro.