por Cleiton Heredia
Reproduzo aqui uma interessante entrevista virtual que o jornalista Oduvaldo Donnini (do G1) fez com o neurocientista estadunidense, Sam Harris, autor dos livros "O Fim da Fé" (2004) e "Carta a uma Nação Cristã" (2006), que é uma resposta às críticas que seu primeiro livro recebeu. Logo após cada resposta farei alguns comentários.
G1: Em seu livro "Carta a uma Nação Cristã", o Sr. fala da moralidade, da honestidade e da humildade do ateísmo. Como é isso?
Sam Harris: A religião divide os povos, exacerba os conflitos entre as várias seitas, provocando ódios e divisões. Esse comportamento apaixonado dificulta a compreensão e apaixona as pessoas, levando-as a caminhos irracionais. Já no ateísmo, só uma bandeira flâmula: a da lógica, da ciência e da compreensão.
Meus comentários:
É fato! Não há como refutar que as religiões, cada uma com sua carga cultural característica, tem sido um fortíssimo fator de divisão ao longo da história da humanidade.
Quantas guerras em nome de deus ou dos deuses! Cada povo ou grupo se julga representante do deus verdadeiro ou dos deuses mais fortes, estando disposto a matar ou morrer para provar isto.
Por outro lado, o ateísmo não tem dogmas pelos quais matar ou morrer. A própria premissa da não existência de deus ou deuses, só é defendida enquanto a lógica científica assim o permitir.
Tenho para mim que qualquer ateu esclarecido mudaria prontamente suas convicções caso os fatos científicos assim exigissem.
O compromisso de um ateu não é com qualquer tipo de verdade absoluta, mas apenas com a própria verdade, seja ela qual for e esteja onde estiver.
Continua...
ora, como se não houvesse moralidade, honestidade e humildade no meio religioso de qualquer religião.
ResponderExcluiras religiões se pautam por princípios como estes; as guerras religiosas não são feitas por devotos mas pelo clero sedento de poder e riqueza que acaba por manipular o próprio corpo dos devotos.
coloquem pessoas devidamente éticas e compromissadas com a sua fé e com abertura para a fé alheia que as guerras religiosas não mais existirão.
não suporto essa bandeira de certos ateus que não se bastam como ateus mas precisam do "ismo" e acabam por ser tão fundamentalistas em sua guerra contra a religião quanto o mais fundamentalista religioso na sua contra os ateus.
e o ateísmo tem dogma sim; como eu disse, no momento em que ele deixa de ser apenas ateu e vira ateísmo, dogmas são necessários; todos "ismos" são dogmáticos.
e o dogma maior do ateísmo, lógico, é: não há deus ou deuses ou qualquer outra realidade que não a material.
o que o ateismo não pode dizer que não existe é exatamente essa possibilidade para o transcendente, para o além da matéria, que todo ser humano tem, inclusive, os ateus.
abraços
Entendo que uma pessoa ética, seja teísta ou ateísta, segue o mesmo padrão de respeito. Ocorre que os ateus, de uma maneira geral, são mais esclarecidos e mais voltados para a ciência. É claro que entre os criacionistas existem pessoas no mesmo nível. Acontece que no mundo religioso a maioria é massa de absorção e é manobrada, desde cedo, por pessoas inteligentes e nem sempre éticas...
ResponderExcluirEduardo Medeiros,
ResponderExcluirEm nenhum momento foi afirmado que entre os religiosos não exista moralidade, honestidade ou humildade. O problema está na cabeça de muitos religiosos em achar que aqueles que não partilham de suas crenças, não as possuem.
Muita inocência sua afirmar que a violência religiosa (guerras e afins) não são feitas por devotos, mas que é exclusividade do clero. Quem alimenta a violência na Irlanda entre os católicos e protestantes são os devotos. Os homens-bombas que matam na oriente médio são constituídos de devotos fanáticos. A caça as bruxas nos Estados Unidos era alimentada pela ignorância dos devotos que denunciavam as mulheres para seus líderes religiosos. É claro que o clero manipula os devotos ao seu bel prazer, porém mesmo que o clero não existisse, os devotos nas religiões fundamentalistas já se bastam na manutenção da intolerância e da consequente violência.
A quem você quis se referir quando disse "coloquem pessoas devidamente éticas e compromissadas com a sua fé e com abertura para a fé alheia que as guerras religiosas não mais existirão"? O que você me falaria dos seguintes líderes em relação a ética e a não propagação da violência religiosa? Abraão, Isaque, Jacó, Moisés, Josué, Davi, os juízes de Israel. Meu amigo, não adianta se iludir com este papo de ética e compromisso com a fé, pois se surgir um profeta alegando que Deus lhe disse que você deve morrer por ser um apóstata, sempre existirá um crente fervoroso que fará isto em nome da ética e da fé.
Se existir algum Ateu fundamentalista, este com certeza está no lugar errado. Não tem lógica um ateu ser fundamentalista. Ateísmo não é religião! Você está equivocado em sua compreensão do ateísmo. O ateísmo não tem dogma. A não crença em deus ou deuses não é um dogma para um ateu. Nenhum ateu mataria ou morreria por isto. Esta é apenas uma conclusão pessoal que eles chegam com base na razão.
Para um ateu esta suposta possibilidade para o transcendente no ser humano, nada mais é do que medo da morte misturado com o egoísmo natural de querer viver para sempre.
Enéias,
ResponderExcluirAcredito que a religião tenha um ingrediente que pode colocar abaixo esta sua tese de que se uma pessoa é ética, seja teísta ou ateísta, seguirá o mesmo padrão de respeito.
Se o crente ético achar que o Deus todo poderoso lhe ordenou diretamente a sacrificar o seu filho, este crente não exitará em fazê-lo. Quanto maior for a sua fé, mais prontamente obedecerá à "ordem divina". E o pior é que a Bíblia não somente apoia este tipo de comportamento, mas o engrandece como um grande ato de fé.
Por outro lado, você nunca verá qualquer ateu normal querer sacrificar seu filho. Eles não são movidos pela fé, mas sim pela razão.
"coloquem pessoas devidamente éticas e compromissadas com a sua fé"
ResponderExcluirUps!! Que perigo!!! Nossa Senhora!! Eu acho que o casalzinho quis dizer "coloquem pessoas devidamente éticas e compromissadas com a MINHA fé"... porque acho muito improvável que eles quisessem uma pessoa devidamente compromissada com a fé muçulmana, que, seguindo as ordens divinas -- do deus deles, claro -- costuma exterminar infiéis.
O grande problema dos religiosos é esse: eles "acham" que o Deus deles existe; e só o deles.
cleiton, tudo bem?
ResponderExcluirde fato não se menciona que entre religiosos não exista ética.
" O problema está na cabeça de muitos religiosos em achar que aqueles que não partilham de suas crenças, não as possuem."
pelo menos nunca conheci um religioso que achasse que quem não tinha sua religião não podia ser ético ou moral. conhece algum?
é claro que não descarto que existam religiosos que pensem assim; mas veja, conheço vários ateus por aí que dizem que todos os religiosos são iludidos e burros, logo, o vento que sopra lá, sopra cá.
outro ponto: o devoto, em sua grande parte, o fiel, faz e aprende o que seu líder diz e ensina (infelizmente) sem questionar muita coisa pois para ele, seus líderes são pessoas ungidas por deus para a função de pastorear.
olha, já vi muito ateu que não suporta uma crítica dirigidas a seus papas (bennet, dawkins...)
você me pergunta:
" O que você me falaria dos seguintes líderes em relação a ética e a não propagação da violência religiosa? Abraão, Isaque..."
cleiton, um dos problemas da argumentação ateísta é querer trazer figuras míticas de uma religião milenar e seus feitos morais, todos praticados dentro do contexto social e religioso em que foram forjados, como crítica aos teístas de hoje.
isso é anacronismo.
a moral dos patriarcas hebreus é a moral de um povo que começou a se estabelecer como nação há mais de 2800 anos; a moral na tora vai evoluindo conforme evoluiu a própria sociedade do javismo; o decálogo está muito próximo do que nós hoje poderíamos aceitar como ético, desprezando é claro, o teor religioso e as diferenças de gênero.
você diz:
" pois se surgir um profeta alegando que Deus lhe disse que você deve morrer por ser um apóstata, sempre existirá um crente fervoroso que fará isto em nome da ética e da fé."
se tal coisa acontecesse seria a exceção e não a regra. existem malucos em todos os lugares.
ainda:
"Se existir algum Ateu fundamentalista, este com certeza está no lugar errado. Não tem lógica um ateu ser fundamentalista"
concordo com você. mas não é isso que tenho visto por aí. o que tenho visto é que está surgindo uns pseudo-ateus imbuídos com uma missão quase messiânica às avessas de salvar o mundo da religião e para isso eles atacam, criticam, menosprezam os que possuem fé.
isso para mim é fundamentalismo ateu. dogmático sim.
como um ateu pode dizer que um religioso não usa sua razão? que é um iludido? ora, os tais não conhecem a história.
não sou defensor de sistemas religiosos que produziram igrejas que são empresas, cujos líderes são empresários da fé e vendem um discurso religioso que não passa de autoajuda da pior espécie.
defendo sim, o sentimento religioso humano. aquele sentimento original que produziu no ser humano um assombro diante da grandeza da natureza, do universo ao mesmo tempo que constatava sua pequenez.
o sentimento que o faz querer religar-se com o todo, com suas origens, cuja abertura se faz para o transcendente (não necessariamente para um deus) mas que fixa-se no imanente da vida, mas percebendo-se capaz de ir além de si mesmo.
isso para mim é sentimento religioso. isso nenhum ateu militante pode negar que seja intrínsico à nossa espécie.
quanto aos deuses(ou quanto ao único deus da tradição ocidental)...ora, deixem os deuses serem deuses para quem precisa deles.
abraços
Eduardo Medeiros, a imoralidade existe em qualquer meio, mas no meio cristão ela não deveria existir pois, desde a mais tenra infância ela é combatida por pastores ou padres através dos ensinamentos de Cristo com o slogan "Façam o que digo, e não oque faço".Será que porisso existe tanta imoralidade na classe?
ResponderExcluirIsto porque seus líderes são ungidos de Deus.
"As guerras religiosas não são feitas por devotos mas pelo clero sedento de poder". He, he, he...
Cada fiel tem uma ética compromissada com sua fé e enquanto existir fundamentalismo cristão ou não, haverá guerras.
O ateu não está em guerra com religião alguma, ele é indiferente a todas. Não queira dar importância a um conceito que só existe na cabeça de apedeutas. Ateísmo é uma condição cultural, não uma imposição e é querer, não poder.
Não sei se perdi tempo refutando seu comentário, bastaria concordar com o Enéas.
Eduardo Medeiros, descubra o que é ser "ATEU".
Abraços
Perdão, troquei as bolas. Ateísmo naõ é querer, é poder.
ResponderExcluirEduardo Medeiros,
ResponderExcluirReligiosos como você não criam problemas, pois você não tem religião (acho). Você é apenas uma pessoa "espiritualizada" (nem sei se crê realmente em um deus pessoal ou se a sua divindade pode ser apenas uma força impessoal que permeia o universo).
Mas você, além de ser uma minoria no mundo, é visto como um verdadeiro herético por qualquer pessoa que tenha uma religião baseada em dogmas específicos e voltada para uma divindade específica. E são a estes que me dirijo em minhas postagens.
Apenas quero comentar algo que você escreveu: "como um ateu pode dizer que um religioso não usa sua razão? que é um iludido? ora, os tais não conhecem a história".
Amigo, não afirmo que os religiosos não utilizam a razão. Elas até a utilizam, porém de forma limitada, pois ela está subordinada a fé que abraçaram.
Para um religioso convicto, quando a fé e a razão conflitarem, a fé sempre irá prevalecer em detrimento da razão.
Eis a grande diferença entre o uso da razão por parte de um religioso e por parte de um ateu.
Abraços.
Eduardo
ResponderExcluirVerdadeiramente a fé é que torna uma pessoa irracional. Ela esquece a razão para dar ouvidos à emoção que é irmã da fé. Por isso tantas mortes e guerras. Paulo usou de razão muitas vezes em suas cartas, é só lê-las, principalmente com os Coríntios e criticou sua forma de fé.
A razão mantém um homem em pé, com capacidade para pensar e questionar e não aceitar tudo como verdade absoluta.