por Cleiton Heredia
Antigamente, mais precisamente nos tempos do antigo Israel bíblico, quando uma pessoa encontrava-se acometida de hanseníase, popularmente conhecida como lepra, era obrigada por lei a afastar-se de todo tipo de convívio social. Ele deveria deixar o seu lar e o seu trabalho, afastando-se por completo de sua família e dos seus amigos. A partir do momento que a doença fosse detectada seus únicos companheiros poderiam ser somente os outros leprosos igualmente marginalizados.
Como se não bastasse toda a dor causada pelo afastamento daqueles que ele mais amava, ainda era obrigado a se submeter à um humilhante costume exigido naquela época. Cada vez que um leproso visse uma pessoa normal se aproximando dele, deveria gritar para que todos pudessem ouvir:
- "Leproso! Leproso! Leproso!"
Desta forma as pessoas seriam avisadas para desviarem seu caminho e não se aproximarem daqueles que eram vistos como miseráveis pecadores amaldiçoados por Deus.
Os anos se passaram e aqui nos encontramos já vivendo o século XXI. A humanidade evoluiu cientificamente e com isso o bacilo Mycobacterium leprae foi identificado transformando a lepra em apenas mais uma doença passível de ser tratada e curada. Somente acho lamentável que a mentalidade de muitos seres humanos não tenha evoluído na mesma proporção que a ciência avançou.
Vivemos em um mundo onde 97% das pessoas são de alguma forma religiosas, ou seja, acreditam em algum tipo de força superior transcendente e sobrenatural denominada deus ou deuses. Os 3% que não pensam da mesma forma e se atreveram em algum momento de suas vidas a se declararem ateus ou ateus agnósticos, são vistos por esta esmagadora maioria de religiosos como verdadeiros leprosos morais.
Os familiares religiosos os rejeitam, os amigos religiosos se afastam e até no trabalho correm o risco de serem demitidos pelos seus patrões igualmente religiosos. Quando estes marginalizados do mundo da fé procedem de algum tipo de comunidade religiosa, passam a ser alvo de uma espécie de asco e ódio "santificados" por parte daqueles que antes lhes chamavam de irmãos.
O antagonismo que recebem é tão gritante que nem precisam mais alardearem pelos quatros cantos: "Leproso! Leproso! Leproso!". O mundo religioso é quem se incumbe de dar o sinal de alerta mediante sistemática difamação e insinuante calúnia: "Cuidado, aquele ali é um ateu!"; "Apostatou da fé!"; "Abandonou a Deus!"
Quanto a lepra, ainda entendo que havia uma razão lógica para, naquele tempo, afastarem os contaminados. A doença era contagiosa e não tinha cura. Mas e quanto ao ateísmo? Ele é contagioso? De forma alguma! Só se torna ateu quem quer. Ele não tem cura? Eu acredito que não, porém os "sãos" nada tem a temer, pois além de já estarem vacinados com a fé, não existe qualquer risco de contaminação involuntária.
Então, por que um ateu precisa ser tratado como um leproso? Eu sinceramente não entendo. Eles continuam sendo as mesmas pessoas. Suas convicções mudaram, mas não o seu caráter. É claro que existem bons e maus ateus, assim como existem bons e maus religiosos. Se um religioso é honesto e cumpridor das leis, a tendência é que, caso um dia venha se tornar um ateu, continue sendo honesto e cumpridor das leis.
Este negócio de pensar que a concepção da inexistência de Deus torna tudo válido, só passa pela cabeça pequena de pessoas que não entendem nada de cidadania e respeito ao próximo. Somente um péssimo religioso faz o que é certo com vistas na recompensa e com medo do castigo. Um bom religioso faz o que é certo simplesmente porque é a coisa certa a ser feita. Um bom ateu também!
O que mais me entristece nesta história é saber que estes "cristãos", que agem de forma discriminatória e desrespeitosa para com os ateus (leprosos?), tiveram em seu Mestre máximo um exemplo bem diferente.
Jesus não excluiu os leprosos de seu convívio, nem muito menos os considerou párias da sociedade.
Jesus os amou!
Observação: Esta postagem foi inspirada em uma rápida conversa que tive ontem ao telefone com um primo, por parte de pai, que eu admiro e gosto muito. Apesar de não mais compartilharmos das mesmas convicções, ele soube demonstrar na prática aquilo que alguns conhecem apenas por preceito. Não irei nomeá-lo aqui em respeito a sua privacidade, porém, caso ele um dia leia esta postagem e queira identificar-se, poderá fazê-lo no espaço reservado aos comentários dos leitores.
Bom dia Cleiton. Cresci em lar católico, comecei a fazer catecismo, não terminei, a medida que o tempo passava mais me perguntava sobre a veracidade de tudo que existia naquelas missas e no seu livro sagrado. Lia muito a respeito das origens do cristianismo e religiões, mas guardava minhas opiniões sozinho e só compartilho com amigos que não são religiosos ou que tem a mente mais aberta. Não adianta dialogar com a sua mãe, primos, tias, parentes e outros mais religiosos, principalmente os mais velhos, pois eles não entendem. Então acabo sempre aceitando suas crenças, mas não exponho as minhas. Caso me perguntem, aí sim respondo: "Não acredito na Bíblia e nem no Deus que existe ali". Já vi alguns rostos de espanto, mas não me importo. Casei na igreja católica, mais por desejo dos familiares mesmo...eu não acreditava naquilo. Acabei me separando(nada a ver com a religião), hoje meus filhos tem 19 e 10 anos, e minha filha mais velha compartilha da mesma opinião que a minha. O pequeno eu espero que tbm tenha sua opinião formada a respeito, mas tbm não imponho nada. Hoje namoro uma pessoa evangélica(eu nunca imaginei namorando uma evangélica!!) da Assembléia de Deus e nos damos super bem. Ela me aceita, já conversei com ela sobre minhas crenças, já estamos quase casando, e não será na Igreja. Os pais dela me aceitaram, porém o seu irmão não, pois ele é muito ligado aos costumes da Igreja, como homens com calça comprida, casamento é pra sempre, mulher que casa tem que ter filhos, e outras babaquices mais. Mas não esquento. Sempre existirão pessoas que não vão nos aceitar. Viva sua vida e procure sempre pessoas com o mesmo perfil de pensamento. Não adianta discutir com religiosos. Um abraço e como diz minha amada mãe: "Fica com Deus"!!! rsrsr..
ResponderExcluir"disse o néscio em seu coração: não há Deus" - talvez esse versículo do livro de salmos tenha inculcado no imaginário religioso cristão que todo ateu é néscio, estúpido, devasso, etc. é muito difícil mudar séculos de condicionamento.
ResponderExcluirpor outro lado, os ateus renegam aquilo que a evolução nos deu e nos caracteriza como seres diferenciados:a transcendência, que por fim criou os deuses e as religiões.
todo ateu continua transcendendo, seja pela arte, pelos sonhos, pela imaginação. fazem bem em não transcender via religião. eu, que sou um ateu para os crentes e um crente para os ateus, continuo carregando no peito o evangelho de jesus como herança cultural e espiritual mas sem as dogmatizações inúteis e estéries.
abraços
Ótima postagem. Vou replicá-la no meu blogue.
ResponderExcluirAbraços de agnóstico-teísta.
Postagem Genial! De certa forma se encaixa perfeitamente com a postagem da Michelle Borges - Não gosto de religiões!
ResponderExcluirGrande Abraço! E saiba que pessoas como eu, que crêem em Deus, curtem muito mais pessoas racionais e sem fé do que pessoas com fé e irracionais!
Segue abaixo um link com um ótimo texto que se encaixa perfeitamente na postagem acima...
ResponderExcluirhttp://bulevoador.haaan.com/2011/01/11/deus-alice-e-a-matrix/#more-19616
Abraços...
Obrigado pela indicação Adinan.
ResponderExcluirO texto "Deus, Alice e a Matrix" é realmente muito interessante.
Irei recomendá-lo aos meus amigos "desconectados".
Agora, deixa eu correr antes que um Agente venha na minha cola. (rs)
Abração.
bom aqui vai o comentario de um ateu ... que sabe oque é se dignificar a se chamar de catolico e temente a deus ... por mero desejo dos pais ... se existe um deus a quem tenho que temer sinto muito por nao crer nele ... eu acredito em algo ? sim, acredito que se existir algo alem dessa vida que vivemos agora nao interesa ... viva uma vida sadia e justa se isso não for o bastante pra "ganhar o reino dos céus" paciencia ... cientificamente sei que existe o ilogico e o inexplicavel ... como ser humano sei que posso transeder minhas capacidades ... mais como catolico por criação estou tão perdido quanto o resto da humanidade ...
ResponderExcluirdesculpe tive que comentar de novo o link da postagem do Odinam e muito bom !
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