sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Justin Bieber is coming!

por Cleiton Heredia


Atenção pais de adolescentes fãs de Justin Bieber: a partir da meia-noite de hoje já estamos todos em situação de ALERTA VERMELHO.

Dizem que em apenas dois minutos de vendas, todos os ingressos da Pista Premium se esgotaram. Bem, como se trata de Brasil, eu tenho cá as minhas dúvidas. Não duvido que os ingressos deste setor tenham se esgotado, mas duvido que tenham se esgotado apenas com a compra normal das fãs. Podem ter certeza que não demorará muito e surgirão os atravessadores (malditos cambistas mancomunados com os responsáveis pela vendas dos ingressos) oferecendo estes ingressos esgotados por mais de 2 mil reais.

A palhaçada começa quando se tenta comprar pela internet (Livepass) uma meia entrada. O site informa que estes já se esgotaram. Como assim? Em um show onde 90% das fãs são menores de idade e estudantes existe uma cota para as meias entradas? Isto é um absurdo típico de um país tupiniquim cheio de malandros aproveitadores. Quem quiser comprar uma meia entrada para a sua filha terá que enfrentar uma fila de 6 horas na bilheteria e ainda assim corre o risco de não conseguir.

Mas nem é isto que eu quero falar. A real preocupação de nós pais é com o insano fanatismo que parece estar contaminando a cabeça das meninas tal qual uma epidemia incontrolável. Li que no México uma adolescente havia publicado em um site de relacionamento que estava vendendo a sua virgindade por um ingresso para o show do Justin Bieber. Atitudes extremas como esta contaminam ainda mais a cabecinha fraca de algumas fãs que acabam acreditando que realmente vale tudo por Justin Bieber, até mesmo jogar a sua vida na lata do lixo.

Menos mal que este cantor é um rapazinho do bem. Ele é comportadinho, bom aluno, respeita seus pais, não se enche de tatuagens e piercings, não é promíscuo, não bebe, não fuma e nem se droga. Acredite, o nosso inferno poderia ser ainda pior. Mas o estranho é perceber que as fãs mais fanáticas de Justin Bieber não se tocam que o seu descontrole e piração por um ídolo acabam negando todo o bom exemplo que este ídolo quer transmitir (o próprio Justin Bieber, ao ficar sabendo da fã que queria vender a virgindade, mandou um recado para elas se valorizarem mais).

Acho normal os adolescentes terem seus ídolos, pois nesta fase da vida a admiração ou inspiração por algo é traço característico. Mas porque surtar? Porque fazer coisas ridículas e absurdas? Porque achar que a vida não faz mais sentido sem o dito cujo?

Os psicólogos explicam que na realidade o adolescente busca encontrar uma referência exterior à família na qual possa se espelhar. Ele tem a necessidade de pertencer a um grupo de iguais, de possuir uma identidade social. O ídolo, no caso, é apenas uma forma deles sentirem-se inseridos dentro de um contexto onde partilham de uma mesma paixão. Hobistas, colecionadores, apreciadores de uma determinada arte e religiosos fazem isto. Isto é normal e saudável.

Porém, quando a paixão se torna a única motivação para se viver, a vida se desequilibra e a pessoa começa viver um mundo irreal onde tudo gira em torno de seu ídolo. É o fanatismo doentio! Segundo a psicóloga, Claudia Alonso, o fanatismo age de forma que você à primeira vista não percebe. Apenas com o olhar atencioso de familiares e educadores uma situação assim pode ser detectada.

Os principais sintomas são: diminuição do rendimento escolar, insônia (passa madrugada na internet vasculhando vida do ídolo), deixa de realizar atividades antes prazerosas, isolamento social (só consegue se relacionar com pessoas que possuem a mesma paixão), agressividade (se envolve em brigas por causa do ídolo), e profunda depressão quando não consegue fazer as mesmas coisas que as outras fãs conseguiram (comprar um CD ou ir a um show).

clique na ilustração para ampliá-la


Solução?

Bem, os pais devem acompanhar de perto seu(sua) filho(a) para saber em que momento uma admiração saudável pode se tornar em uma psicopatia. Conversas amigáveis (sem aquele tom de sermão ditatorial) contando das bobeiras que também já fizeram quando adolescente podem ajudá-los a ver de forma mais racional aquele momento que estão vivenciando. Incentivo à leitura ajuda a ampliar os horizontes e incentivo a prática esportiva ajuda a desviar o foco. Aceitação e amor podem lhes dar a segurança de que precisam para enfrentar a vida real onde os ídolos, apesar de muitas vezes intangíveis, são simples seres mortais de carne e osso.

Concluo com a recomendação da psicóloga Susan Bartell: "Escute apenas 20 minutos de Justin Bieber por dia. Depois disso, você precisa ter certeza que estará pelo resto do dia fazendo outras coisas. Nunca é bom ficar fanático a nível de nada. Tudo bem amar um cantor, é normal ter fotos dele em sua casa, mas você deve ter como herói na vida, alguém que pode retribuir seu amor."

domingo, 21 de agosto de 2011

A Árvore da Vida - Um filme que não é para entender, mas para sentir

por Cleiton Heredia


Ao entrar ontem no cinema com minha esposa para assistir a um filme com Brad Pitt e Sean Penn, eu jamais poderia imaginar que passaria por uma experiência cinematográfica tão intensa, diferente, introspectiva e intrigante.

Confesso que nos primeiros trinta minutos do filme eu pensei seriamente em me levantar e ir para a sala onde estava passando o filme "Lanterna Verde" ou "Capitão América" (para vocês verem o meu desespero, pois não gosto nenhum pouco deste filmes fantasiosos de super heróis). Vi vários jovens fazendo isto. Mas minha mente extremamente racional e questionadora não me deixou. De certa forma eu me sentia desafiado a continuar ali para tentar entender o que era tudo aquilo.

O mais interessante é que quando eu finalmente achei que estava entendendo o filme, ele dá uma guinada e me obriga a repensar na lógica de todo aquele conjunto de imagens, narrativas e diálogos. Foi então que eu finalmente desisti de continuar assistindo a aquele filme com os olhos da razão, e passei simplesmente a contemplá-lo com o coração. Somente neste momento é que o filme começou a fazer sentido para mim.

Muitas cenas do cotidiano familiar me transportaram para o passado de minha própria experiência familiar com minha esposa e meus filhos. Durante o filme, não foram poucas as vezes que eu e minha esposa trocamos comentários sobre lembranças de momentos vividos com nossos filhos. Entre as muitas lembranças nos sentíamos como viajando em uma montanha russa de emoções onde a alegria e a tristeza iam simplesmente se sucedendo sem aviso prévio.

Não irei me atrever em fazer uma sinopse ou dar a minha interpretação do filme, não somente pela complexidade da obra, mas porque entendo que este é o tipo de filme que cada um verá e entenderá de forma distinta.

Sendo assim, aqui está o trailer, porém ele nem de longe mostra o que é este filme:


Recomendo! Algumas sequências de imagens e a trilha sonora (37 grandes obras clássicas) já fará valer o seu ingresso.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

O Deus dos Espíritas e a Sua Lei de Causa e Efeito

por Cleiton Heredia


Assistindo ao filme "Nosso Lar" chamou-me a atenção o quanto a doutrina espírita (conforme apresentada no filme) está baseada na retribuição e no merecimento pessoal. Os espíritas chamam isto da lei da Causalidade ou Lei de Causa e Efeito.

No início do filme vemos o personagem principal André Luiz vagando pelo Umbral (uma espécie de purgatório) pelo fato de não ter sido bom o suficientemente para ir direto para o céu (ou para uma das colônias espirituais). Enquanto ele caminhava por entre os espíritos que ali sofriam, chamou-me a atenção um grupo de negros açoitando violentamente uma pessoa que não dá para ver muito bem. Como é ali que as pessoas "pagam" por aquilo que fizeram de ruim no mundo físico, eu imaginei que a pessoa açoitada fosse algum capataz que havia açoitado a muitos negros em sua vida terrena, e então naquele momento estava recebendo o seu devido e merecido castigo. O próprio André Luiz precisou beber lama e comer mato para "compensar" sua vida desfrutada egoisticamente com extravagância e luxúria.


Esta é a tal Lei de Causa e Efeito: Tudo que se faz de bom ou ruim receberá a devida recompensa ou castigo, senão nesta vida, na vida após a morte.

No que diz respeito a esta vida (o mundo físico), não tenho a menor intenção de contestar esta lei, pois sei que ela é uma realidade comprovada e funciona muito bem. Porém, no aspecto moral ela não é infalível, haja vista que existem pessoas que fazem o mal e conseguem se sair bem. É aí então que entram as religiões com a crença de que existirá um momento após esta vida onde tudo será devidamente corrigido, ajustado e acertado.

"A justiça precisa ser feita!" - diz a lógica humana. Portanto, caso nesta vida esta lógica falhe, o ser humano recorre à justiça divina como uma forma de suportar uma vida onde às vezes as coisas parecem não fazer muito sentido (as tais injustiças).

Eis um dos diferenciais importantes que torna a doutrina espírita tão atraente para a mente humana. Não é somente a crença na vida após a morte, porque isto todas as religiões prometem de alguma forma. O grande apelo está na "justa" retribuição meritória capaz de satisfazer a lógica humana: se alguém faz o mal ou o bem receberá inevitavelmente todo este mal ou este bem de volta.

O Deus dos espíritas com sua lei de causa e efeito não me surpreende nenhum pouco, pois pensa exatamente do mesmo jeito que pensa o mais primitivos dos seres humanos.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Minha crítica ao filme "Nosso Lar"

por Cleiton Heredia


Assisti neste final de semana ao filme "Nosso Lar" inspirado na obra psicografada do médium brasileiro Chico Xavier. Esperei passar na TV a cabo porque tinha uma impressão de que jogaria meu dinheiro fora caso fosse assisti-lo no cinema. Meus pressentimentos estavam corretos!

Apesar do filme ser, até o momento, a mais cara produção cinematográfica da história do cinema nacional (cerca de 20 milhões), eu achei que o filme deixou muito a desejar pelo roteiro monótono, narração repetitiva e diálogos excessivamente explicativos em tons de sermão.

O ponto alto do filme foi, em minha opinião, os cenários digitalizados pela empresa canadense Intelligent Creatures que procuram retratar a Colônia Espiritual, tal como foi concebida em desenhos e ilustrações mediúnicas. As tomadas aéreas são muito bem feitas e ricas em detalhes, porém o mesmo não se pode dizer dos takes internos.


A trilha sonora também decepcionou, mas só decepcionou porque eu esperava bem mais do grande nome por trás dela: Philip Glass, o mesmo que compôs a bela trilha sonora do filme "O Ilusionista". Sou fã das músicas dele, mas acho que ele não deveria estar nos seus melhores dias. A fotografia contou com o trabalho do suíço Ueli Steiger que imprimiu à obra um tom bem parecido a aquele que costumamos ver nas ilustrações de literatura religiosa (tipo aquelas da Torre de Vigia da Assembléia de Deus).

Está mais do que óbvio que o filme tem o claro propósito de disseminar a doutrina espírita, mas no meu caso "o tiro saiu pela culatra". Eu nunca havia lido o livro "Nosso Lar", mas já conhecia a doutrina espírita o suficiente para considerá-la fantasiosa demais para mim. Porém, após ver este filme com todos aqueles detalhes da vida após a morte, eu mudei meu conceito de fantasioso para absurdo. Até mesmo minha filha, com apenas 13 anos, elencou uma série de contradições enquanto assistia ao filme do meu lado.

Espero que meus amigos espíritas não se ofendam comigo, pois expresso aqui apenas meu ponto de vista assim como faria com qualquer outra doutrina religiosa. Entendo que aceitar como verdade aquilo que o filme mostrou é um ato de fé, assim como aceitar que Deus é um e três ao mesmo tempo ou acreditar que um dia Jesus vai voltar. Religião depende de fé, mas eu confesso que não tenho fé suficiente para ser um espírita e acreditar em coisas daquele tipo.

Segue abaixo o trailer:

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

O Herético!


"Fundamentalistas dão um toque de arrogante intolerância e rígida indiferença para com aqueles que não compartilham suas visões de mundo." - Umberto Eco

O vídeo abaixo é uma sátira que mostra com humor esta grande verdade:


"Todas as religiões são a verdade sagrada para quem tem a fé, mas não passam de fantasia para os fiéis das outras religiões." - Issac Asimov.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Era uma vez um agnóstico... (Conclusão)

por Cleiton Heredia


Acho que você já percebeu que esta história pode ir longe, pois quanto mais avançamos na tentativa de definirmos uma divindade, mais o leque de opções se abre:

- Cristianismo católico ou cristianismo protestante?
- Protestantismo tradicional ou pentecostal?
- Batista, Metodista ou Adventista?
- Adventista do 7º Dia ou Adventista da Reforma?
- Adventista do 7º Dia trinitariano ou Adventista do 7º dia não-trinitariano?

Complicado não é mesmo?

Mas tudo isto por quê? Porque para as pessoas que acreditam em Deus, não basta querer acreditar em Deus, mas é também necessário escolher e declarar precisamente o tipo de Deus em que se acredita!

E o que é ainda pior! A especificidade de uma divindade não termina quando se chega na última ramificação religiosa possível, pois a concepção pessoal que cada um faz do seu Deus pode conter detalhes que extrapola os conceitos básicos definidos na teologia de cada segmento religioso. Ou seja, mesmo dentro de uma mesma religião podem existir algumas sutis diferenças individuais na forma como cada um vê o seu Deus.

Particularmente, não vejo nenhum problema no fato de existir um Deus diferente em cada cabeça, desde que ele fique por ali mesmo. Muitos conflitos e sofrimento seriam evitados se o ser humano parasse de tentar colocar o Deus que está na sua cabeça, dentro da cabeça do outro.

Você acredita em Deus? Que ótimo! Então seja feliz com o seu Deus, mas permita que o seu próximo também seja feliz com o dele.

PS.: Esqueci de dizer, mas os ateu são também muito felizes sem deus algum.

sábado, 13 de agosto de 2011

Era uma vez um agnóstico... (Parte 3)

por Cleiton Heredia


Enquanto apreciava o pôr do sol de um bonito final de tarde de inverno, o agnóstico refletia sobre tudo que lhe havia acontecido naqueles últimos dias, principalmente na necessidade que construíram em cima de sua recente mudança: agnóstico ateísta para agnóstico teísta.

Se recapitularmos o início desta história, nós veremos que a mudança do nosso agnóstico foi mais uma estratégia para evitar todo o preconceito e distanciamento que sentia das pessoas, do que propriamente uma decisão fundamentada em algum tipo de argumento lógico ou de evidência factual. Acreditar ou não acreditar era uma opção pessoal que em nada alterava o seu agnosticismo, porém poderia fazer uma grande diferença na forma como as pessoas passariam a vê-lo. Pelo menos esta era sua esperança.

Ele então ponderou consigo mesmo:

"Se eu tivesse que escolher uma divindade específica entre os milhares que existem, qual deveria ser a escolha mais lógica e racional? Bem, eu nasci em uma parte do mundo onde a religião predominante é a monoteísta, portanto não faria muito sentido proceder a uma escolha por entre as divindades de religiões politeístas. Mesmo porque não me sentiria nenhum pouco confortável tendo que admitir como possibilidades de escolha: Zeus, o deus da mitologia grega; Thor, o deus da mitologia nórdica; ou o Grande Juju da Montanha, o deus de algumas tribos da África Central".

Ele continuou:

"Como eu nasci em um país predominantemente cristão, acho que seria muito sensato escolher a divindade cristã. Nada contra a divindade dos judeus ou dos mulçumanos, mas porque complicar as coisas se eu posso simplificar?"

O agnóstico chega então a uma conclusão:

"A escolha mais sensata no meu caso seria escolher o Deus dos cristãos!"

Ele imediatamente liga de seu celular para o amigo que havia lhe dito que de sua escolha dependeria o seu futuro eterno e anuncia todo faceiro:

- "Como você me disse que não basta acreditar em Deus, mas é preciso definir qual Deus em que se acredita, eu farei minha escolha pelo Deus dos cristãos!"

Do outro lado da linha veio uma pergunta que caiu como um balde de água gelada na sua cabeça:

- "Mas de qual segmento do cristianismo estamos falando?"

- "Hã?!? Como assim? Eu preciso ser ainda mais específico do que isto?" - perguntou o agnóstico surpreso.

A resposta do seu amigo foi curta e grossa:

- "Claro que sim! O erro se infiltrou no cristianismo e hoje os vários segmentos cristãos adoram divindades com características bem diferentes umas das outras, porém um só segmento adora o verdadeiro Deus".

O agnóstico desligou o telefone com a nítida impressão que as coisas pareciam estar se complicando cada vez mais para o seu lado.

Continua...

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Era uma vez um agnóstico... (Parte 2)

por Cleiton Heredia


O Agnóstico, após aquele encontro, começou a ponderar a possibilidade da escolha de um Deus e resolveu partilhar suas considerações com um amigo do trabalho.

Este amigo ouviu atentamente ao agnóstico e então disse:

"Eu não acho que você precise escolher por um Deus específico. As divindades que existem foram formatadas pelas diversas culturas existentes, de forma que cada um idealizou para si um tipo de Deus que melhor correspondesse a sua visão particular do mundo. As religiões acabam limitando a Deus, mas Deus é tudo e está em todos. Faça como eu, tenha uma espiritualidade independente das religiões. Eu creio em Deus, mas não me preocupo em querer defini-lo como um Deus assim ou assado".

O agnóstico pensou um pouco e então perguntou: "Você ora ou reza para o seu Deus?"

- "Sim, claro! Converso com ele todos os dias", respondeu o amigo.

O agnóstico continuou perguntando:

- "Bem, então o seu Deus é uma divindade pessoal que não somente sabe que você existe, mas que também pode ouvir as suas preces?"

- "Sim, é lógico!", respondeu novamente o amigo.

O agnóstico continuou fazendo várias outras perguntas e ouviu após cada uma delas uma rápida e segura resposta afirmativa:

- "Seu Deus é eterno e todo poderoso?"
- "Sim, se não ele não seria Deus."

- "Seu Deus é um ser justo, compassivo e amoroso?"
- "Sim, é mais que natural que seja."

- "Seu Deus é o criador e mantenedor da vida?"
- "Sim, ele é o grande projetista e arquiteto de tudo aquilo que existe."

- "Seu Deus realiza milagres?"
- "Sim, não tenho dúvidas disso."

- "Seu Deus tem algum tipo de solução para a morte?"
- "Sim, a morte não é o fim!"


O agnóstico parou por alguns segundos, respirou profundamente e olhando bem nos olhos de seu amigo, disse:

- "Você me desculpe, mas eu não vejo a menor diferença do que você fez e os povos com as suas religiões fizeram. Você idealizou para si um Deus que melhor correspondesse a sua visão particular do mundo, e assim fazendo acabou estabelecendo a sua própria religião individual. Você se diz possuidor de uma espiritualidade que independe das religiões, mas não percebeu que assim fazendo acabou confeccionando a sua própria religião personalíssima".

Estendendo a mão como querendo se despedir, o agnóstico arremata:

- "Não me leve a mal, mas este tipo de Deus não me interessa! Se for para eu mesmo ter que formatar o meu próprio Deus para atender as minhas necessidades individuais e específicas, acho que seria mais sensato voltar a ser um ateu. Se Deus é aquilo que eu quero que ele seja, então temos um Deus diferente em cada cabeça, e isto não faz sentido. Não vejo a menor lógica em ter que inventar mais um Deus para mim, quando na verdade já existem tantos outros disponíveis aí para escolher."

Conversa encerrada, o agnóstico segue o seu caminho com a certeza de que caso ele não escolhesse um Deus, com certeza acabaria criando um só para si como muitos fazem. E isto ele não queria!

A história do agnóstico continua amanhã.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Era uma vez um agnóstico... (Parte 1)

por Cleiton Heredia


Era uma vez um agnóstico ateu que se sentia muito solitário por causa de todo o preconceito que o seu ateísmo gerava. Um dia, já cansado de ser tratado com indiferença e de ser julgado como uma pessoa de má índole, ele resolve adotar a linha filosófica de um agnóstico teísta, entendendo que isto não violaria sua sinceridade intelectual, uma vez que a diferença entre os dois segmentos resume-se em uma simples ação subjetiva de querer ou não acreditar.

Mal havia ele feito sua mudança quando foi abordado por um amigo religioso que lhe fez o seguinte questionamento: - "Em qual Deus você passou a acreditar?"

- "Como assim?" - perguntou o agnóstico já com medo daquele tipo de conversa.

O amigo então passou a explicar: - "Cada segmento teísta tem o seu Deus específico. Os monoteístas, por exemplo, podem ser judeus, mulçumanos ou cristãos, e não pense você que aquela besteira popular de que Deus é um só, corresponde à realidade. O conceito de Deus defendido por cada um destes três grupos é tão radicalmente diferente que eles chegam até a matar e morrer por estas diferenças!"

Se pensarmos bem, o amigo do agnóstico até que foi bem compassivo, pois ele poderia ter complicado bem a situação mencionando as religiões politeístas, aumentando assim de três para milhares de divindades possíveis.

O agnóstico então perguntou ao seu amigo: - "Mas eu sou obrigado a fazer uma escolha?"

- "Claro que sim!" - respondeu ele com os olhos arregalados e um sorriso estranho no rosto - "É esta sua escolha que determinará onde você passará a eternidade. Se ao lado do único Deus verdadeiro ou do lado do Diabo que inventou todos os demais deuses falsos".

Eles se despediram e lá seguiu o agnóstico o seu caminho com o coração pesado e remoendo o seguinte pensamento: "Para as pessoas que acreditam em Deus, não basta querer acreditar em Deus, mas é também necessário escolher e declarar o tipo de Deus em que se acredita!"

Esta história não termina aqui. Amanhã eu continuo.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

A Falácia do Escocês

por Cleiton Heredia


Fico analisando a postura de alguns "amigos" diante da minha decisão no passado de abandonar a Igreja Adventista do Sétimo Dia, e acho interessante ver como a mente religiosa deles funciona.

Aqueles que acompanham este blog sabem que nasci em um lar cristão adventista, fiz faculdade de teologia e durante mais de 20 anos servi a igreja adventista ocupando diversas funções eclesiásticas, tais como: pastor auxiliar, líder jovem, evangelista, palestrante, diácono e ancião.

Considero mais que justificável que minha mudança de conceitos tenha causado surpresa e assombro naqueles que me conheceram como um dedicado e atuante membro da igreja, porém isto não justifica ser julgado como um falseador da fé cuja vida foi pautada pela mentira e pelo engano.

Mas infelizmente foi isto que aconteceu!

Refletindo sobre isto pude perceber que estes que assim me julgaram estavam apenas usando uma artimanha lógica chamada "a Falácia do Escocês", que resumidamente consiste no seguinte:

Suponha que eu afirme que nenhum escocês põe açúcar no seu mingau. Você questiona isso apontando que seu amigo escocês chamado Angus gosta de colocar açúcar no seu mingau. Eu então digo "Ah, sim, mas nenhum Escocês 'de verdade' põe açúcar no seu mingau."

Percebeu a falácia? Para forçar um argumento eu invento uma definição falaciosa. A definição correta de escocês é uma pessoa nascida em um país chamado Escócia e nada mais do que isto. Porém, com intuito de tornar a minha afirmação verdadeira e refutar o argumento de que existem pessoas nascidas na escócia que colocam açúcar no mingau, eu simplesmente redefino a palavra escocês dizendo que somente os "verdadeiros" escoceses é que não colocam açúcar no mingau.

Quando alguns "amigos" ficaram sabendo de minhas mudanças, começaram a dizer:

- "Um verdadeiro cristão convertido nunca abandonaria a fé como ele fez!"

Portanto:

- "Se ele abandonou sua fé, nunca foi um verdadeiro cristão convertido".

A conclusão inerente a este tipo de raciocínio só poderia ser:

- "Ele foi um falso cristão durante todo este tempo. Nunca se converteu de fato. Foi um hipócrita mentiroso e esteve o tempo todo nos enganando!"

Mas por que será que algumas pessoas pensam desta forma?

Bem, em primeiro lugar porque é muito mais simples do que procurar saber e entender quais foram os argumentos que me fizeram mudar de ideia. Depois, porque é uma forma de proteger as suas próprias crenças, pois como eles as consideram a essência da verdade, somente um louco ou um maquiavélico enganador poderia abandoná-las ou negá-las.

Confesso que fico um pouco chateado com tudo isto, mas no fundo o que me conforta é saber que estou em paz com a minha própria consciência. Quando fui um adventista do sétimo dia, o fui de todo o meu coração e com todas as minhas forças, procurando pregar o que vivia e viver o que pregava. E isto ainda não mudou e nem vai mudar!