Mostrando postagens com marcador Minhas leituras. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Minhas leituras. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Na Natureza Selvagem

por Cleiton Heredia


Em 1998 li um livro que muito me impressionou: "Na Natureza Selvagem" escrito por Jon Krakauer. Eu já havia lido um outro livro dele chamado "No Ar Rarefeito" e apreciei muito sua linha narrativa (acredito que para temas de aventura ele é um dos melhores escritores da atualidade que conheço).


Este final de semana assisti ao filme baseado em seu livro: "Na Natureza Selvagem" (Into The Wild - 2007) dirigido por Sean Penn, fantástico ator que já recebeu quatro indicações para o Oscar e que protagonizou de forma brilhante os filmes "Os Últimos Passos de Um Homem" (Dead Man Walking – 1995) e "Uma Lição de Amor" (I am Sam – 2001), e fiquei fascinado! (assisti umas três vezes seguidas sem contar algumas partes específicas que repassei várias vezes).

Toda a história é baseada em fatos reais, relatados após a excelente pesquisa jornalística feita por Jon Krakauer, da vida do brilhante aluno e atleta Christopher McCandless. O filme alterna sucessivamente entre sua solitária aventura no Canadá e os fatos que a antecederam, recorrendo constantemente a flashbacks narrativos de sua infância e juventude numa tentativa de encontrar explicações ou justificativas para sua inusitada e controversa escolha de vida.

O filme é um tapa na cara de uma sociedade consumista, hipócrita e repleta de superfluidades. Ele nos ajuda a enxergar um outro lado da vida, visto com extremo preconceito pelos que se julgam "normais", onde os valores reais são encontrados na essência de cada ser humano e não nas coisas que possuem ou nas aparências que mantêm.

Se me pedissem para fazer uma sinopse do filme, eu a faria reproduzindo o texto que Alexander Supertramp gravou num pedaço de madeira em maio de 1992:

"Dois anos ele caminha pela Terra. Sem telefone, sem piscina, sem animais de estimação, sem cigarros. Liberdade total. Um extremista. Um inusitado viajante cujo lar é a estrada. Fugiu de Atlanta. Não deseja voltar porque o Oeste é o melhor. E agora depois de dois anos de caminhada aproxima-se a grande e final aventura. A culminante batalha para matar o falso ser interior e vitoriosamente concluir a revolução espiritual. Dez dias e noites de comboios de mercadorias e de boléias trazem-no para o grande norte branco. Sem continuar a ser envenenado pela civilização ele foge e caminha solitário pela terra para se perder em meio à natureza selvagem." (1)


Selecionei abaixo algumas frases do filme que me marcaram:

"Eu vou parafrasear Thoreau aqui... mais que amor, que dinheiro, que fé, que fama, que equidade... dê-me a verdade." (2)

"Se admitirmos que a vida humana possa ser regida pela razão, então está destruída toda a possibilidade da vida." (3)

"Quando você perdoa, você ama. E quando você ama, a luz de Deus brilha em você." (4)

"Você sabe, falo de livrar-se desta sociedade doente... Sabe o que eu não entendo? Porque as pessoas, todas as pessoas, são sempre tão más umas com as outras. Não faz sentido. Julgamento. Controle. Todas estas coisas... De que pessoas estamos falando? Você sabe, pais, hipócritas, políticos, canalhas." (5)

E finalizo esta postagem com a contrastante visão de Christopher antes de sua marcante experiência:

"Você não precisa de relacionamento humano para ser feliz, Deus colocou tudo ao redor de nós." (6)

E ao final dela:

"A felicidade só é real quando partilhada." (7)

Caso queira, assista abaixo ao trailer deste memorável filme:



Frases originais em inglês:

(1) "Two years he walks the earth. No phone, no pool, no pets, no cigarettes. Ultimate freedom. An extremist. An aesthetic voyager whose home is the road. Escaped from Atlanta. Thou shalt not return, cause the West is the best. And now after two rambling years comes the final and greatest adventure. The climactic battle to kill the false being within and victoriously conclude the spiritual pilgrimage. Ten days and nights of freight trains and hitchhiking bring him to the Great White North. No longer to be poisoned by civilization he flees, and walks alone upon the land to become lost in the wild."

(2) "I'm going to paraphrase Thoreau here... rather than love, than money, than faith, than fame, than fairness... give me truth."

(3) "If we admit that human life can be ruled by reason, then all possibility of life is destroyed."

(4) "When you forgive, you love. And when you love, God's light shines upon you."

(5) "You know, about getting out of this sick society... You know what I don't understand? I don't understand why people, why every fucking person is so bad to each other so fucking often. It doesn't make sense to me. Judgment. Control. All that... What people we talking about? You know, parents, hypocrites, politicians, pricks."

(6) "You don't need human relationships to be happy, God has placed it all around us."

(7) "Happiness only real when shared."

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Todos possuem um deus


Terminei a leitura do livro “Uma Breve História do Mundo” de Geoffrey Blainey e quero partilhar com os amigos a genial análise final feita pelo autor:

“A tendência da religião era florescer com mais vigor quando a vida cotidiana estava em perigo e quando havia muita dor. A religião florescia quando enchentes, secas e outras catástrofes da natureza eram mais destruidoras, quando a fome estava às portas, e a morte precoce era a expectativa da maioria das pessoas. A religião florescia quando as pessoas viviam da terra e sabiam como era fácil uma colheita, há tanto tempo esperada, ser arrasada por pestes, seca, exaustão do solo ou tempestades. Durante a maior parte da história, a vida humana esteve em perigo. A religião dava as respostas aos acontecimentos inexplicáveis da vida de um estado, de uma região ou de uma família. Satisfazendo uma ânsia profunda e, às vezes, inexplicável, ela era também uma fonte de força e inspiração.
A religião era a base de muitas sociedades que, de outra forma, possivelmente teriam desmoronado. Monarcas poderosos ganhavam muito ao sustentá-la...
No século 20, a religião enfrentou outras dificuldades. Com o aumento da prosperidade e da longevidade, parte do apelo da religião enfraqueceu...
Milhões de pessoas cultas no mundo ocidental se distanciaram dos deuses a quem, quando jovens, haviam sido ensinadas a orar. Parte de sua autoconfiança veio das conquistas da ciência e da tecnologia. A própria ciência era um novo deus racional e era aclamada como possuidora de todo o conhecimento, de toda a sabedoria e de ser capaz de produzir milagres materialistas. O marxismo, durante um tempo, foi uma religião alternativa poderosa. Karl Marx pregava ser o primeiro a descobrir as leis científicas da história da humanidade e que essas leis produziriam por fim um céu, muito embora esse céu ficasse na Terra. Se por um lado a ciência e o comunismo alegavam dispensar os deuses, elas praticamente entronizavam a raça humana e seu potencial, transformando-a em um deus.”
(págs. 336-339).

Interessante não? O conceito de deus como alguém ou algo capaz de responder as perguntas: de onde vim, quem sou e para onde vou, sempre esteve e estará presente na história da humanidade. O ateísmo não é a erradicação por completa do conceito de deus, mas simplesmente a substituição de um deus sobrenatural e transcendente por um outro natural e imanente.

sábado, 26 de abril de 2008

Cristianismo Mutante

Geoffrey Blainey, autor do livro que estou lendo, ao abordar o surgimento e desenvolvimento do Cristianismo observa de forma categórica:

"O cristianismo tornou-se como um sapato nas mãos de cem sapateiros, assumindo muitas formas diferentes até o ano 300. De província para província, a Igreja em expansão diferia em suas crenças e rituais. Um mercador e sua esposa que se transferissem de uma congregação na Ásia Menor para uma na Itália provavelmente teriam um choque quando vissem pela primeira vez seu novo pastor executar os rituais ou explicar sua teologia." Uma Breve História do Mundo, pág. 106.

Um pouco mais a frente ele relata a que ponto o Cristianismo mudou após quatro séculos de existência:

"... e os primeiros seguidores de Cristo tivessem voltado a viver, não teriam reconhecido muitas das crenças e rituais da Igreja que eles tinham ajudado a fundar." Idem, pág. 109.

Esta última frase me fez recordar de um texto que li num livro publicado pela CPB (2005) de autoria de um dos maiores professores de história da Igreja Adventista, George R. Knight:

"A maioria dos fundadores do adventismo do sétimo dia não poderia unir-se à igreja hoje se tivesse de concordar com as '27 Crenças Fundamentais' da denominação." Em Busca de Identidade, pág. 16.

O interessante é que ele foi corajoso o suficiente para, além de reconhecer isto, ser bem específico:

"Para ser mais específico, eles não poderiam aceitar a crença número 2, que trata da doutrina da trindade ... a maioria dos fundadores do adventismo do sétimo dia teria dificuldade em aceitar a crença fundamental número 4, que afirma a eternidade e a divindade de Jesus ... a maioria dos líderes adventistas também não endossaria a crença fundamental número 5, que trata da personalidade do Espírito Santo." Idem, pág. 16 e 17.

Na verdade, todas estas três especificações se resumem na primeira, Trinitarianismo.

É curioso observar que entre as mutações ocorridas no Cristianismo nos primeiros três séculos e as mutações ocorridas nas Crenças Fundamentais dos Adventistas, destaca-se como um ponto comum a introdução do dogma da Trindade.

O cristianismo começou a preparar caminho para o trinitarianismo já no Credo de Nicéia em 325 d.C. e o incorporou de forma definitiva no Credo de Atanásio entre 381 e 428 d.C.

A Igreja Adventista começou a preparar caminho para o trinitarianismo com o artigo de F.M. Wilcox em 1913 e o incorporou de forma oficial na Assembléia Geral de Dallas em 1980.

Como estas mutações são historicamente irrefutáveis, desenvolveu-se o pensamento da "Verdade Progressiva", ou seja, assim como na série fictícia "X-Men" as mutações produziram seres humanos mais fortes e com habilidades especiais, assim também defende-se as mutações teológicas como uma evolução no processo de crescimento da igreja.

E você? Como entende estas mutações?

quinta-feira, 13 de março de 2008

Os Monoteístas – Os Povos de Deus


Terminei a leitura do livro ao lado e quero aproveitar o espaço deste blog para compartilhar alguns pontos interessantes e partilhar minhas impressões pessoais.

O autor, F.E.Peters, um dos maiores experts em fés monoteístas do mundo, é muito detalhista na forma de apresentar o assunto, o que, em minha opinião, dificulta um pouco o entendimento em algumas partes do livro. A leitura nas partes do livro que tratam dos judeus e dos cristãos é bem mais agradável que nas partes que tratam dos mulçumanos, que eu considerei um tanto quanto maçante e de difícil assimilação (a explanação é muito detalhada, mas não tão didática).

O livro basicamente apresenta uma comparação entre as três comunidades distintas de crentes em um único Deus (judeus, cristãos e mulçumanos), mostrando como se originaram, cresceram, se organizaram e mudaram até se tornarem aquilo que hoje vemos.

Quanto à origem dos mulçumanos, o autor estabelece uma diferença crucial entre os árabes (ismaelitas), identificados etnicamente como os descendentes de Ismael (filho de Abraão com Cetura), e o islã (religião mulçumana originada com o profeta Maomé). A única relação entre os descendentes de Ismael e os mulçumanos, reconhecida por estes últimos, é o fato de Ismael ser mencionado no Alcorão como alguém que peregrinou junto com seu pai Abraão até um local (Meca) para edificar uma construção sagrada (caaba) que mais tarde transformou-se num santuário.

Muito embora Maomé tenha enfatizado que o islã promulgado no Alcorão é a verdadeira “religião de Abraão”, não encontra-se qualquer pretensão de sua parte em afirmar que esta “verdadeira fé estava baseada na descendência de sangue abraâmica dos árabes por meio de Ismael” (diferente dos judeus cuja descendência por meio de Isaque e Jacó é vital). Em outras palavras, “os mulçumanos não são os ‘Filhos de Ismael’” (pág.36).

O autor faz uma viagem por toda a história recapitulando o desenvolvimento destes três segmentos religiosos, seus credos (ortodoxia), suas guerras contra a heresia, seus conceitos de comunidade e autoridade, e suas pretensões de cada um ser o verdadeiro povo de Deus na Terra.

Os últimos capítulos tratam da relação Igreja e Estado por parte dos cristãos, com todo aquele amálgama iniciado com a conversão de Constantino, e mostrando a diferença dos mulçumanos cuja Igreja é o Estado, e vice-versa.

Nos pensamentos finais o autor conclui:

“Os monoteístas são fanáticos até o osso, uma atitude que aprenderam no colo (alegórico) do Criador, que era, como ele mesmo observou, ‘um Deus ciumento’, que não toleraria nenhum concorrente ou rival e que exigiria fidelidade absoluta de seus seguidores. Não é de se admirar, portanto, que, quando as circunstâncias permitiam, judeus, cristãos e mulçumanos mostraram tolerância zero para com os vários goim, ethne, pagani ou kafirum que os cercavam. Esses tinham de reconhecer o Deus Uno Verdadeiro ou serem enviados à morte ou à escravidão.” (pág.353).

“O que os monoteístas não têm em tolerância, compensam em convicção. Deus não é só ciumento; é também absoluto em poder e absoluto em querer. Na Torá e no Alcorão essa vontade divina prescreve, com uma mão que parece pródiga, pena capital, mutilação, lapidação e açoite nesta vida para aqueles que desobedecerem aos seus mandamentos e, como se chegou a crer, tormentos ainda maiores na vida futura.” (pág. 356).

Se você estiver propenso a discordar das conclusões do autor, é bom lembrar que em seu livro na está em discussão o verdadeiro caráter de Deus, e sim como estes três segmentos religiosos, que afirmam serem Seu legítimo povo escolhido, O apresentaram e O representaram através da história.