terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Ciência, Fé e Religião - Parte 3

por Cleiton Heredia


Esta foi a terceira e última pergunta desta rápida entrevista que o jornalista O.Donnini fez com o neurocientista Sam Harris:

G1: Fale-nos sobre o conflito entre ciência e religião.

Sam Harris: O conflito entre ciência e religião pode deduzir-se a um simples fato do discurso humano: ou uma pessoa tem bons motivos para acreditar naquilo que acredita ou não tem. Se houvesse boas razões para acreditar que Jesus nasceu de uma mulher virgem ou que Maomé voou para o céu em um cavalo alado, essas crenças necessariamente fariam parte de nossa descrição racional do universo. Já é hora de reconhecermos que a "fé" não é nada mais do que a licença que as pessoas religiosas dão umas às outras para continuar acreditando, quando não há razões para acreditar.

Meus comentários:

Acredito que os religiosos não deverão incomodar-se com a definição de Sam Harris, pois em termos práticos, fé é exatamente isto.

Existem evidências científicas para acreditar que Adão e Eva viveram literalmente como os primeiros seres humanos a habitar este planeta?

Não!

Então porque milhões crêem desta forma?

Fé!

É pela fé que os cristãos acreditam que o seu Deus é o único deus verdadeiro, pois tal crença não é passível de prova científica.

Porém, há de se considerar que é pelo exercício da mesma fé que os mulçumanos também acreditam que Alá é o único Deus verdadeiro.

Como a única razão para se crer no deus A ou no deus B é a fé, e contra a fé não existem argumentos racionais que sejam válidos, pois ela sobrevive mesmo sem eles, então há de se convir que Sam Harris está certo em dizer que "a 'fé' não é nada mais do que a licença que as pessoas religiosas dão umas às outras para continuar acreditando, quando não há razões para acreditar", mesmo que estas crenças sejam até contraditórias umas com as outras.

Eu fico aqui tentando entender uma coisa: que direito tem o cristão de falar que todos os demais deuses são falsos e só o seu é o verdadeiro, sendo que a crença em todos os demais deuses, que ele condena, foi estabelecida com base no mesmo tipo de conceito subjetivo que o levou a crer no seu Deus, ou seja, a fé?

É exatamente por isto que não faz o menor sentido cristãos, mulçumanos, judeus ou pagãos ficarem discutindo entre si querendo fazer que o outro aceite o seu deus como o verdadeiro. Independente do tipo de deus que acreditam ou deixem de acreditar, todos eles só possuem a sua fé pessoal como argumento de aceitação ou rejeição. E fé é fé! Não há como usar critérios objetivos (científicos) para determinar que a fé que levou a crer no deus A é melhor que a fé que levou a crer no deus B.

A fé é exatamente a mesma apesar das entidades divinas serem completamente diferentes.

6 comentários:

  1. Cleiton,

    Belos textos. Eu tenho comigo o seguinte: a pessoa que afirma não poder provar a fé e ainda assim fica com a fé merece meu respeito. A escolha pela fé se justifica sozinha. Não engulo tentar empurrar goela abaixo teorias ridículas entre elas o famigerado DI.

    Abraços.

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  2. Adoro seu blog, venho aqui todos os dias :D

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  3. Oi Jéssica!
    Muito obrigado pelo carinho.
    Um grande abraço.

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  4. cleiton, não sigo um sistema religioso, apesar de ser cristão por herança cultural. e apesar de não acreditar nos dogmas do cristianismo, eu defendo aqueles que queiram acreditar.

    a crítica que você faz, em minha opinião, deve ser feita para aqueles ultrafundamentalistas que possuem uma fé cega e que faz da sua crença uma arma, estes, realmente precisam ser criticados.

    o lado espiritual faz parte de todo ser humano, de crentes e de ateus, a diferença é que cada um deles direciona essa espiritualidade para um foco diferente.

    um crente transcende lendo a bíblia e crendo nela (nas diversas possibilidades e jeitos de se crer nela) e o ateu transcende lendo, quem sabe, André Comte-Sponville (??) rsss


    abraços

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  5. Cleiton
    É como a coisa anda mesmo em relação aos deuses de cada um. Ante-ontem no canal SeuHistory estava vendo a estória de Hércules e começou a falar dos deuses gregos. Minha esposa que é cristã evangélica disse: Como eles podem acreditar nestes deuses inexistentes? Respondi: Da mesma forma que você crê em Deus e em Cristo. Do mesmo jeito que você acredita pela fé, eles também acreditam que eles existam pela fé.
    Interessante é como eu não tinha essa capacidade de questionar e argumentar. Iria concordar com ela, mas hoje vejo diferente. Como falei, busco a Deus pela minha razão hoje, esperando uma resposta que pelo visto está demorando a chegar.

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  6. miranda, se me permiti:

    buscar deus pela razão é uma busca vã. pela razão podemos até questionar se nesse nosso universo assombroso, nesse nosso cérebro fantástico, nessa nossa mente/consciência ainda desconhecida, se caberia uma razão inteligente para tudo isso; mas pensar assim não nos levará a deus nenhum crido nesse mundo.

    eu não descarto a possibilidade da existência de uma consciência cósmica que cria, pois há um paralelo para isso em nossa própria consciência, já que de certa forma, é a nossa consciência que cria o nosso mundo particular, nosso modo de ver as coisas.

    os cientistas ateus(sim, pois há os teístas) estão muito longe da explicação total para a existência e eles erram, ao meu ver, em descartar qualquer possibilidade que não seja material como explicação do mundo. pelo menos até que se afirme além de toda dúvida que o fenômeno mente/consciência também é puramente material.

    a fé é antes de tudo um sentimento, e é assim que ela funciona melhor.

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