terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Em Defesa de Deus?


A revista Época da semana passada (21-27/12/09) trouxe uma interessante reportagem sobre o mais novo livro da ex-freira Karen Armstrong, The Case for God (Uma defesa para Deus - tradução livre).

A autora, que se declara uma monoteísta free-lance, faz parte de um grupo de pensadores contemporâneos disposto a revidar os ataques de outro grupo de pensadores conhecido como os "novos ateus".

Mas sua defesa de Deus pode não agradar muito os cristãos mais tradicionais, pois ela parte de uma interpretação não literal das escrituras sagradas (a Bíblia) onde Deus não é visto como um ser todo-poderoso que governa o universo de seu trono no céu, e sim como um eterno mistério que só pode ser descoberto e sentido mediante o exercício da "fé", e não da razão.


No entanto, até a idéia de Karen a respeito desta fé é um tanto quanto controversa. Para ela, o encontro de Deus deriva menos de uma crença (dogmas, credos e conceitos teológicos) e mais do esforço pessoal.

Neste esforço pessoal ela destaca os "rituais" que devem preceder às idéias (os conceitos), e coloca como exemplo maior a persistência revelada por Buda que ensinou que o segredo da verdadeira paz interior não está tanto no crer, mas na prática insistente da meditação com afinco.

Em outras palavras, na concepção desta autora, a fé requer trabalho duro e persistência, pois ela entende que a essência da religião é a disciplina prática caracterizada por exercícios espirituais praticados com regularidade (orações, preces e meditação).


Desta forma, ela considera completamente irrelevante tentar defender a existência de Deus usando o pensamento racional ou mesmo a fé como um conceito espiritual abstrato. A existência de Deus não precisa ser provada, mas apenas vivenciada de forma prática através de um contínuo esforço pessoal focado na experiência ritualística.

Não é de se estranhar que, como uma ex-freira, sua defesa de Deus favoreça muito mais os conceitos religiosos da Igreja Católica Apostólica Romana do que os dos protestantes, que devem estar entendendo esta defesa como uma forma de destruir o conceito bíblico da salvação pela graça.

Acredito que muitos devem estar pensando que com defesores de Deus como Karen Armstrong, o Deus bíblico nem precisa mais de opositores.

Um comentário:

  1. Estamos assistindo ao sepultamento daquele deus em que muitos creram. Esse livro é apenas mais um episódio do serviço fúnebe.

    SDS

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