sábado, 19 de dezembro de 2009

Tipos de Ateísmo


Há várias modalidades de ateísmo, as quais diferem fundamentalmente quanto à atitude do indivíduo para com a ideia de uma divindade. Vale lembrar que tais classificações são meramente didáticas, feitas apenas para delinear as circunstâncias mais comuns em que o ateísmo pode ser encontrado.

1- ATEÍSMO IMPLÍCITO

Como o próprio nome indica, é a variedade de ateísmo que existe tacitamente (não manifesto formalmente). Nesse caso, o ateísmo não se fundamenta na rejeição consciente e deliberada da ideia de deus, baseada em conceitos filosóficos e/ou científicos, mas simplesmente existe enquanto um estilo de vida que não leva em consideração a hipótese da existência de algum deus para se guiar.

Este tipo de ateísmo pode se subdividir em dois grupos:

1a- Ateísmo Natural

É o estado de ausência de crença devido à ignorância ou à incapacidade intelectual para posicionar-se ante a noção de existência de uma divindade. Nessa categoria entram todos os indivíduos que nunca tiveram contato com a ideia de um deus; por exemplo, alguma tribo, grupo ou povo que se encontre isolado da civilização e que seja alheio à ideia de um deus. Também se enquadram nessa categoria os indivíduos incapazes de conceber a ideia de um deus, seja isso por imaturidade intelectual ou por deficiências mentais; por exemplo, poderíamos citar crianças de pouca idade; pessoas que sofrem de alguma enfermidade mental incapacitante também se enquadram nessa categoria.

1b- Ateísmo Prático

Enquadra aqueles que tiveram contato com a ideia de deus, ou seja, que conhecem as teorias sobre as divindades, mas não tomam qualquer atitude no sentido de negá-la, rejeitá-la ou afirmá-la, permanecendo, deste modo, neutros sobre o assunto. Os integrantes dessa categoria comumente se classificam como agnósticos, isto é, aqueles que julgam impossível saber com certeza se há ou não uma divindade. Sob essa ótica, devido a essa impossibilidade, afirmam que seria inútil qualquer esforço intelectual no sentido de comprovar ou refutar a existência de um deus. Qualquer pessoa que tem conhecimento da existência das religiões e de suas teorias, mas vive sem se preocupar se há ou não algum deus, ou julga impossível sabê-lo com certeza, sem rejeitar ou afirmar explicitamente a ideia de deus, é classificada como pertencente ao ateísmo prático.

2- ATEÍSMO EXPLÍCITO

É a rejeição consciente da ideia de deus. A causa dessa rejeição frequentemente é fruto de uma deliberação filosófica; contudo, não é possível fazer qualquer espécie de generalização quanto à causa específica da descrença, pois cada pessoa julga individualmente quais razões são válidas ou inválidas para corroborar ou refutar a ideia da existência de um deus.

O ateísmo explícito pode ser dividido em duas outras categorias.

2a- Ateísmo Negativo ou Ateísmo Cético

É a descrença na existência de deus(es) devido à ausência de evidências em seu favor. Essa variedade também pode ser encontrada sob a denominação de posição cética padrão, pois reflete um dos axiomas mais fundamentais do pensamento cético, que é: não devemos aceitar uma proposição como verdadeira se não tivermos motivos para fazê-lo; ou, em sua versão lacônica: sem evidência, sem crença. O ateu dessa categoria limita-se a encontrar motivos para justificar sua rejeição da ideia de deus, por vezes esforçando-se em demonstrar por que as supostas provas da existência divina são inválidas, mas sem se preocupar com a negação da possibilidade da existência de um deus.

2b- Ateísmo Positivo ou Ateísmo Crítico

Este é o tipo de ateísmo mais difícil de ser defendido, pois é uma descrença que envolve a negação da possibilidade de existência de um deus. Os ateus dessa categoria tipicamente se intitulam racionalistas e seguem o princípio de que o ataque é a melhor defesa; ou seja, literalmente atacam a ideia de deus, evidenciando as contradições e as incongruências presentes nesse conceito, empenhando-se em demonstrar, através de argumentos racionais, por que a existência de um deus – como definido pelas religiões – é logicamente impossível.

Fonte: Ateísmo & Liberdade - A.D.Cancian

Minhas Conclusões:

Diante do que acabamos de ler, eu diria que para alguns pode parecer muito mais confortável assumir a postura de um ateu implícito prático (agnóstico?), porém tal postura tende a ser muito pouco satisfatória quando se busca sinceramente por respostas que nos aproxime da verdade.

Já o ateísmo explícito me parece intelectualmente mais honesto a partir do momento que vai mais fundo na busca sincera por respostas, tendo a coragem de sustentar e defender aquelas que lhe parecem condizer com a realidade dos fatos.

Quanto a ser um ateu explícito cético ou crítico, tal posicionamento vai muito da vontade que cada um tem de não somente se convencer, como também de convercer os demais que se encontram a sua volta. Particularmente eu acredito que é muito difícil ser um puro ateu cético sem que em alguns momentos específicos se acabe assumindo uma postura mais crítica.

Muito embora entenda que a postura cética seja relativamente mais conveniente, entendo que muitas vezes são necessários homens como Richard Dawkins que corajosamente assumem uma postura fortemente positiva ou crítica, pois são eles que servem de contra-peso diante dos discursos radicalmente positivos ou críticos da maioria dos teístas fundamentalistas.

3 comentários:

  1. Cleiton,

    No que tange ao ateísmo prático e a sua conexão com o agnosticismo: podem existir agnósticos, que mesmo não vendo razões para a crença na existência de uma divindade, ainda assim, podem por algum tipo de opção, buscar guarida na religiosidade "exclusivamente" por deliberação de algo parecido com fé.

    Usando um caminho inverso poderíamos concluir que assim como existe um ateísmo prático, pode existir o criacionismo prático: praticado por aqueles que tiveram contato com o ateísmo, mas não tomaram qualquer atitude para negar ou afirmar - mesmo conhecendo as bases do ateísmo. Uso o mesmo raciocínio posto aqui, mas para inverter a posição do agnóstico ou mostrar uma outra opção agnóstica.

    Insisto na premissa de que o agnosticismo NÃO é o meio termo entre o teísmo e o ateísmo e sim o meio termo entre os que acreditam poder provar deus e aqueles que acreditam poder negá-lo.

    Abraços.

    ResponderExcluir
  2. Concordo! Os teístas práticos podem também se dizerem agnósticos. Porém, precisamos admitir que o agnosticismo se torna muito mais coerente dentro de um contexto ateu, pois de que vale crer em um deus que nem ao menos temos a certeza de que existe? A crença em um deus pessoal só faz sentido (pelo menos para mim) quando acompanhada de uma profunda convicção da realidade deste deus.

    ResponderExcluir
  3. Pois é...

    No que diz respeito ao deus pessoal, sim, a coisa se complica. Não é possível provar a existência de deus e logo não há a menor chance de provar este ponto.

    Ao que me parece o que sobra, no teísmo, é o agnosticismo deísta.

    Abraços.

    ResponderExcluir