terça-feira, 8 de dezembro de 2009

"Eu quero acreditar" (1ª parte)

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"Não é possível convencer um crente de coisa alguma, pois suas crenças não se baseiam em evidências… Baseiam-se numa profunda necessidade de acreditar." - Carl Sagan


Vamos imaginar que eu lhe conte a seguinte estória:

Há um homem que mora no Pólo Norte.
Ele mora lá com sua esposa e um monte de elfos.
Durante o ano, ele e os elfos fabricam brinquedos.
Então, na véspera de Natal, ele enche um saco com todos os brinquedos.
Ele coloca esse saco em seu trenó.
Este trenó está atrelado a oito ou nove renas voadoras.
Então ele voa de casa em casa, pousando nos telhados de cada uma.
Ele desce junto com seu saco pela chaminé.
Ele deixa brinquedos para as crianças que moram nessas casas.
Ele sobe de volta pela chaminé, volta para seu trenó e voa para a próxima casa.
Ele faz isso no mundo todo em uma única noite.
Então ele volta para o Pólo Norte e o ciclo se repete no próximo ano.


Esta, claro, é a estória de Papai Noel.


Agora vamos imaginar que um amigo seu, que já é adulto, lhe revele que acredita na veracidade disto tudo. Como ele acredita de todo o seu coração (ele é sincero), tentará convencê-lo a acreditar da mesma forma que ele.

O que você iria pensar deste seu amigo?

Bem, caso você seja uma pessoa sensata e com um mínimo de racionalidade, pensará que seu amigo, apesar da grande sinceridade e convicção, está errado em suas crenças.

Mas quais são as razões que te levam a crer que seu amigo está enganado?

Parece óbvio, não? Todos adultos normais sabem que Papai Noel não existe! A estória toda é apenas um conto de fadas. Renas voadoras e elfos, por exemplo, são devaneios. Qualquer um que acredite nisto só pode estar equivocado.

Imaginemos agora que você, como um bom amigo, tente ajudar seu companheiro a perceber que sua ridícula crença no Papai Noel é uma ilusão. A maneira como você tentaria convencê-lo disso seria fazendo algumas perguntas que o leve a pensar um pouco:

- Como o trenó pode carregar brinquedos suficientes para o mundo inteiro?

Ele então lhe responderia que o trenó é mágico e tem a habilidade inerente de fazer isso.

- Mas como Papai Noel entra nas casas ou nos apartamentos que não possuem chaminé?

Ele diria sem vacilar que Papai Noel tem poder para fazer as chaminés aparecerem no lugar que ele quiser.

- E se a chaminé estiver acesa?

A roupa do Papai Noel é resistente a chamas e auto-limpante também.

- Cientistas já calcularam o tempo necessário para se levar presentes para todas as crianças do mundo em apenas uma noite e constataram que o Papai Noel teria que se deslocar em uma velocidade superior à velocidade da luz, ou seja, é impossível! Como você explica isto?

Simples - ele diria - Papai Noel controla o tempo.

- Como Papai Noel sabe se uma criança foi boa ou má o ano todo?

Papai Noel é onisciente.

Você já nervoso e irritado com tanta "baboseira" insana, desfere seu último e mais contundente questionamento:

- Por que Papai Noel dá presentes melhores às crianças ricas, mesmos quando estas foram más e nunca dá nenhum para as crianças pobres?

Seu amigo lhe dá um sorriso e calmamente lhe responde:

"Não há como entender os mistérios do Papai Noel porque somos meros mortais, mas Papai Noel tem suas razões. Talvez, por exemplo, crianças pobres não conseguiriam usar brinquedos eletrônicos caros. Como elas poderiam arcar com as pilhas? Então Papai Noel as poupa desse peso."

Acho que depois disto você perderia as esperanças de faze-lo enxergar a realidade, não é mesmo?

As perguntas que você fez foram lógicas e racionais. Porém, como seu amigo quer acreditar no Papai Noel, para cada uma das suas perguntas ele encontrou uma saída explicativa, não levando em consideração o quão absurda e fantasiosa esta justificativa poderia ser.

Você desiste e sai frustrado se perguntando como seu amigo pode ser assim tão irracional, para não dizer, maluco. Por outro lado, seu amigo segue seu caminho satisfeito e confiante por ter dado de forma corajosa as "razões da sua fé" e também se questionando por que você não consegue ver as coisas da forma como ele vê.

Na verdade não importa o quanto você utilize a razão e a lógica para convencê-lo que o Papai Noel não é real. Ele não te ouvirá por uma simples razão:

ELE QUER ACREDITAR!

É exatamente este tipo de postura que o dicionário define como "engano", ou seja, uma “falsa crença ou ilusão, apesar de evidências em contrário”.

Continua...



(Texto adaptado de "Understanding religious delusion")

4 comentários:

  1. Nossa, muito bom o texto.
    Não acredito em Papai Noel, como vou contenstar contra isso?
    Acredito em tantas coisas que as pessoas nao acreditam. Acredito em Deus, e isso para muitos é um engano. E quem são eles para dizer que Deus não existe? E quem sou eu para dizer a um amigo que Papai Noel não existe?

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  2. Cleiton,

    Cuidado, porque o deus-imagem não o terá por inocente se você continuar comparando-o com o papai-noel-imagem. Agora, se você colocar o deus-imagem no mesmo nível do coelhinho-da-páscoa-imagem, daí sua perdição será irremediável - KKKKKKKKKKK...

    O eu-imagem acha tudo isso muito engraçado – KKKKKKKKKKK...

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  3. Cleiton,

    Papai Noel e Deus são amigos íntimos. os que acreditam em Deus e em Papai Noel também têm convicções "íntimas".

    Vamos ãguardar a conclusão e/ou continuação.

    Abraços.

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  4. Eu, acredito em papai noel, só não acredito em deus.

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