segunda-feira, 23 de março de 2009

Deus é amor ou o amor é deus?


Em certo programa evangélico na rádio ouvi alguns testemunhos de pessoas que tinham em determinado momento de suas vidas se envolvido com drogas, prostituição, jogatinas e outros problemas diversos, e, como era de se esperar, acabaram no fundo do poço tendo que colher os frutos de suas escolhas equivocadas, tais como crise conjugal, doenças, filhos desajustados, desemprego, crise nas finanças pessoais, depressão e outros desajustes psicológicos, etc.

Todos eles eram enfáticos em dizer como a fé em um Deus pessoal de amor, compaixão e misericórdia mudou completamente suas vidas. O drogado acreditou que Deus o amava sendo poderoso para lhe libertar e acabou abandonando o vício. Aquele lar desajustado ficou muito melhor depois que passaram a acreditar que existia um Deus com um propósito específico para cada vida ali envolvida. Até mesmo os problemas de saúde (a maioria oriundos de desajustes psicológicos) encontraram a cura quando as pessoas que as sofriam passaram a encarar a vida de uma perspectiva mais otimista, pois passaram a crer que Deus se preocupava com os mínimos detalhes de sua vida.

Tirando todo o sensacionalismo e mercantilismo por trás da esmagadora maioria dos segmentos religiosos (aliás, não conheço nem um sequer que esteja isento disto), é inegável o fato que a crença em Deus tem seus benefícios pessoais e sociais. Para negar isto será necessário fechar os olhos para as evidências de fatos concretos bem palpáveis e mensuráveis.

Não quero aqui entrar no mérito religioso especificando qual conceito de divindade é mais vantajoso, mas apenas quero fazer uma breve análise tratando simplesmente da fé ampla em um ser criador amoroso, justo, onipotente, onisciente e onipresente. Mesmo porque existem certos conceitos de divindade que são considerados prejudiciais ao ser humano por mantê-lo preso a superstições que não fazem o menor sentido à luz dos atuais conhecimentos científicos. Esqueça isto por enquanto! Vamos apenas falar de forma generalizada da fé em um Deus capaz de transformar uma vida para melhor.

Este tipo de reflexão leva-me a pensar na proposta de alguns ateus mais radicais e militantes que afirmam aos quatro cantos que o mundo seria um lugar bem melhor para se viver caso a crença em Deus fosse definitivamente extinta. Será? Como? De que forma aquele viciado encontraria a libertação dentro de uma proposta de um mundo ateu? Onde aquele desajustado social encontraria forças para mudar de vida simplesmente acreditando que Deus não existe e de que ele está neste planeta sem qualquer tipo de propósito específico. Na ciência?

Teria a ciência o poder de transformar vidas? Tenho para mim que se o conhecimento científico fosse o suficiente para libertar o homem de suas mazelas, o ser humano estaria cada vez mais ajustado e o mundo cada vez melhor. É claro que esta é uma afirmação bem simplista, pois apesar do grande avanço científico, os desequilíbrios sociais neste mundo devem ser considerados, bem como o fato de ser humano ser o tipo de “bicho” que é.

Para o sincero pesquisador da verdade, aquele que procura entender se a existência de Deus é uma realidade ou não, este tipo de argumentação não será muito convincente. O fato de um conceito fazer bem para algumas pessoas não prova que ele seja verdadeiro. Acreditar em Papai Noel me fazia mais feliz quando eu era uma criança, porém isto não significa que este personagem existiu de fato na minha infância.

Conforme avanço neste tipo de raciocínio começo a conjecturar se que aquele viciado ou desajustado, que mudou sua vida devido ao “amor de Deus”, também não seria transformado com base na realidade do amor sem Deus. Entenda “amor sem Deus” como o amor desinteressado de um semelhante por outro, capaz de trazer significado para a vida por mais efêmera que seja.

O crente em Deus acredita que Deus é a fonte deste amor que transforma. Já o ateu entende que o amor pode transformar pelo simples fato de ser o que é e independentemente de onde se atribua sua fonte. Pronto! Está aí um conceito comum no qual crentes em Deus e ateus podem dar as mãos, a saber, de que o amor que gera interesse abnegado e altruísta de uns para com os outros é o grande segredo de uma humanidade melhor.

Que diferença faz se para o crente “Deus é amor” enquanto para o ateu “o amor é deus”? “Blasfêmia!”, dirá o crente que acredita não existir o amor sem Deus. “Idiotice!”, dirá o ateu que entende não existir qualquer tipo de deus.

Tudo bem! Então continuem brigando entre si para impor suas idéias uns aos outros ao invés de simplesmente entenderem que não importa se personificamos ou não o amor, pois no fundo o que realmente importa é o fato inegável de que o amor existe e pode continuar trazendo transformação e significado para a nossa existência.

3 comentários:

  1. Cleiton,

    É isso aí. Belo texto.

    Citando Nietzsche, "aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal".

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  2. Concordo!

    Sendo teísta ou ateísta sempre haverá a bandeira do amor. Nem precisa ser instintivo, como o dos animais irracionais...

    Deus sendo amor ou o amor sendo deus..., não importa. Paulo, o apóstolo, mesmo dizia que sem o amor...

    SDS

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  3. Deus é sinônimo para muita coisa, dentre elas o amor.

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