sexta-feira, 4 de março de 2011

Reflexões sobre "Esperança ou Desespero?"

por Cleiton Heredia


Meu amigo Enéias Borges, editor do blog "Convictos ou Alienados", postou hoje uma reflexão muito interessante com o título de "Esperança ou Desespero?".

De certa forma, os pensamentos dele ali apresentados, coincidem com as minhas divagações nestes últimos dias. Tenho pensado muito nesta questão da suprema busca pela verdade custe o que custar versus o conforto com algum tipo de esperança onde a busca pela verdade fica em segundo plano.

A princípio me sinto muito inclinado a concordar com a sua conclusão:

"Melhor viver e morrer com a esperança da salvação. Mesmo sendo tudo falso ainda assim terá imenso valor. Falso ou verdadeiro um ponto se torna inegável: melhor viver e morrer com esperança de salvação do que viver sem a esperança e com o desespero da morte eterna."

Sem dúvida, viver com uma esperança latente é bem melhor do que viver com uma dúvida amargurante ou mesmo com uma certeza desesperadora.

Mas eu me pergunto: Qual esperança deveria eu abraçar?

Seria a esperança da Bíblia cristã, da Torá judaica, do Alcorão islâmico ou da filosofia espiritualista que permeia vários segmentos religiosos diferentes?

Mesmo que eu decida pela esperança cristã, por uma simples questão de contexto cultural, meu problema continua. Devo abraçar a esperança conforme pregada pelo catolicismo ou pelo protestantismo? Sei que as duas estão centradas na esperança salvação e consequente vida eterna, porém há de se convir que na prática, os caminhos que levam a ela são diferentes nestes dois movimentos.

Bem, caso eu decida pelo protestantismo, mesmo assim ainda terei um amplo leque de opções à minha frente. Que tipo específico de contexto devo escolher para viver esta esperança? O contexto religioso dos Batistas, dos Mórmons, das Testemunhas de Jeová, dos Adventistas do Sétimo Dia, dos Presbiterianos, dos Neo-Petencostais ou de qualquer outra nova religião que surge a cada dia?

Como eu nasci em uma família tradicionalmente Adventista do Sétimo Dia, suponhamos que eu escolha por viver a esperança cristã dentro do contexto dos adventistas. Se você acha que aí encerro minhas possibilidades, você está enganado. Devo ainda decidir se quero me unir aos Adventistas do Sétimo Dia tradicionais, da Reforma ou da Promessa. E depois ainda tenho que decidir se fico com os que são trinitarianos ou com os não trinitarianos. Com certeza as opções são muitas, pois tem adventista que aceita Ellen White como profetiza e tem aquele que só aceita com uma mera conselheira, tem adventista que levanta a bandeira do vegetarianismo como requisito para uma vida santa e tem adventista que não sai da churrascaria, tem adventista que advoga o perfeccionismo (pós-lapsarianos) e tem adventista que o combate como fanatismo (pré-lapsarianos), ou seja, tem adventista de tudo que é jeito.

Você pode estar pensando: "Mas calma lá! Estamos falando de esperança, de salvação em Cristo e de vida eterna, e para isto não faz diferença o segmento cristão que escolho filiar-me, pois todos eles concordam na questão da esperança." Concordo parcialmente, pois muito embora a esperança seja a mesma, a teologia sistemática que a embasa e, consequentemente, o contexto prático que a alimenta, pode ser radicalmente diferente.

Bem, mas partindo do pressuposto que eu quero a partir de hoje viver com a esperança, devo então escolher que tipo de esperança abraçar, bem como o contexto religioso onde devo mantê-la e alimentá-la.

Como fazer isto da melhor forma? Qual critério devo usar para fazer a melhor escolha? Afinal de contas ninguém quer abraçar uma esperança tola sem qualquer tipo de fundamento racional, certo? Se um grupo de malucos vier até mim e falar que a minha esperança de vida eterna deve estar baseada na adoração do sol, com certeza eu irei mandar estes caras ir pentear macacos (para ser educado), pois como pode uma simples estrela de quinta grandeza me fornecer qualquer tipo de esperança que seja eterna e principalmente racional?

Concluo então que devo começar a empreender uma busca pela verdade devidamente norteada pela razão.

Espera aí!!! Eu disse BUSCA PELA VERDADE NORTEADA PELA RAZÃO???

Como posso fazer isto se foi exatamente esta busca que me afastou de qualquer tipo de esperança religiosa???

Não! Esquece a busca pela verdade! Se eu quero esperança devo abraçá-la única e exclusivamente pela fé.

Epa! Mas pela fé eu posso abraçar qualquer coisa, até mesmo a esperança de que a salvação vem da adoração do sol ou a crença de que só o "Inri Cristo" salva (aquele brasileiro que fala "Meu Púaaai"). Não há necessidade de que a minha fé esteja baseada na razão, pois eu não preciso de fé para aceitar verdades puramente racionais. Eu não preciso de fé para aceitar o fato de que existe a lei da gravidade, mas certamente eu preciso de fé, e muita fé, para aceitar que existe um ser todo poderoso que sempre existiu, que é o criador do universo, que sabe que eu existo, que me ama e quer me levar para o céu.

Aqui estou eu de volta a estaca zero. Quero uma esperança eterna, mas qual? Se decido escolher com base na busca da verdade norteada pela razão, volto para um ponto que me afasta deste tipo de esperança.

O negócio é fazer "minha mãe mandou bater neste aqui" e pegar a primeira esperança que aparecer sem pensar muito.

Juro que eu já tentei, mas não consigo!

2 comentários:

  1. Pois é Cleiton,

    Por isso eu disse que no caso do agnóstico teísta é difícil conviver com esse tipo de esperança. A esperança que dá alento é aquela baseada na ignorância. Há momentos em que ignorar (não saber) é fator de felicidade.

    Acredito que quem experimentou a essência do agnosticismo e do ateísmo só teria esperança se vivenciasse um milagre inquestionável e dirigido de forma específica para o que detém duvida...

    Abraços/Enéias

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  2. Então Enéias,

    Se a esperança com base na ignorância não nos é viável, resta-nos aguardar pelo milagre.

    Abs.
    Cleiton

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