sexta-feira, 13 de julho de 2012

Uns sofrem pela fé que professam, outros pela ausência dela

por Cleiton Heredia



Quando eu frequentava uma determinada igreja cristã protestante, constantemente ouvia testemunhos e histórias de recém-convertidos que foram abandonados por suas famílias e repudiados por seus amigos em razão da nova fé que passavam a professar.

As histórias que vinham de países como China, Oriente Médio e de algumas tribos africanas eram as que mais me impressionavam, pois falava de pessoas sendo perseguidas, maltratadas e até mortas somente por terem escolhido viver em harmonia com aquilo que a sua própria consciência aprovava.

Seus algozes eram muitas vezes seus próprios avós, pais, irmãos e parentes mais chegados. Eu pensava comigo: "Quanta coragem! Sofrer, mas não abrir mão daquilo que acha ser a decisão mais correta a ser tomada".

Lembro-me até hoje da história de uma menina de apenas 14 anos de idade que todos os sábados tinha que fugir de casa para ir até a igreja da nova fé que ela abraçara, mas sempre quando retornava para casa era espancada violentamente por seus pais. Eu pensava comigo: "Será que se eu estivesse no lugar desta menina, a minha fé suportaria tamanha provação?".

Eu queria ter aquele tipo de fé! Eu orava para que Deus me desse uma fé daquela qualidade. Sofrer, morrer se preciso for, mas nunca renunciar a aquilo que a minha consciência aprova como sendo "a verdade".

Bem, eu acho que as minhas orações foram de certa forma atendidas.

Depois de mais de 40 anos sendo um fiel seguidor de Jesus Cristo, resolvi criar coragem e sair em busca de respostas para várias perguntas que me condicionaram nunca fazer. Foi um caminho muito doloroso e difícil de ser percorrido, pois fui obrigado a ver todos os meus castelos de segurança serem destruídos, um após o outro. Precisei também atravessar certas pontes sabendo que elas ruiriam após eu atravessá-las impedindo o meu regresso. O lema que me impulsionava nesta jornada era um só: "A verdade não teme a investigação".

Cerca de dez anos após ter iniciado este processo, aqui estou eu, um agnóstico!

Alguns me perguntam, mas por que um agnóstico? A resposta é uma só: "Porque, até o momento, é a única postura que me permite continuar sendo honesto com a minha própria consciência".

Assim como as pessoas daquelas histórias que eu antes ouvia, que sofreram pela decisão de ter abraçado a verdade que a consciência delas aprovava, eu também fui obrigado a sofrer as consequências das minhas próprias escolhas pessoais. Fui abandonado pela família e rejeitado pelos muitos amigos que tinha.

Quando alguns ainda perguntam se eu me arrependo de ter tornado pública a minha novas convicções, eu penso naqueles homens e mulheres que não tiveram medo de abraçar e viver em conformidade com a verdade que descobriram para si mesmos, e então respondo: "Arrependido eu estaria se estivesse escolhido o caminho mais fácil em detrimento a aquilo que hoje eu entendo como verdade".

E você que lê estas linhas, não peço que me julgue com base no seu conjunto pessoal de verdades que sempre irão te dizer que eu estou errado e você certo. A questão aqui não é descobrir quem tem a verdade única e absoluta, mas apenas pedir um pouco de compreensão, pois se você tem coragem de viver em harmonia com a sua consciência e em conformidade com o seu próprio conjunto de verdades, eu também!

3 comentários:

  1. Sendo reproduzido na Facebook. Sei bem o que você passou e passa. O lado positivo, no meu caso, é que minha família é 100% racional. Não sofri qualquer tipo de pressão dos meus parentes diretos.

    Quanto aos amigos: será que você tinha mesmo muitos amigos? Amigos abandonam alguém por uma razão como essa?

    Abraços.

    ResponderExcluir
  2. No meu caso, felizmente, minha família católica nunca me rejeitou, mesmo tendo eu entrado para a IASD.

    Rejeitado, hostilizado e demonizado por alguns, não por todos, aconteceu quando resolvi questionar os ensinamentos e doutrinas da IASD.

    ResponderExcluir
  3. Muito bom texto Cleiton. Isso condiz com minha verdade hoje em dia.
    Abraço.

    ResponderExcluir