
Minha desilusão com o adventismo moderno começou querer extrapolar para o cristianismo como um todo. Comecei a me perguntar por que eu era um religioso cristão e não um religioso de outro segmento qualquer. Seria pelo simples fato de ter nascido de um lado do planeta onde o cristianismo é a religião majoritária?
Bem, como a verdade não teme a investigação, continuei investigando, porém agora minha preocupação não se restringia a uma ramificação do cristianismo, mas sim ao próprio cristianismo em sua essência. Eu precisava entender por que o cristianismo deveria ser por mim eleito como “a verdade”, enquanto a religião mulçumana ou judaica, não (li o livro "Monoteístas - Os Povos de Deus" de F.E.Peters). Limitei-me às religiões monoteístas por uma questão de coerência lógica: se o entendimento da existência de um único Deus todo poderoso já é algo muito complexo de se entender, quanto mais a existência de múltiplos deuses.
Li um livro muito interessante chamado “Não tenho fé suficiente para ser ateu” de Norman Geisler e Frank Turek, que procura “provar” de uma forma racional que o teísmo cristão é uma verdade inquestionável. Esta leitura veio ao encontro daquilo que meu coração almejava, ou seja, a segurança de que existe um Deus soberano e pessoal que sabe da minha existência e se preocupa comigo. Percebi, porém, quão fácil é aceitarmos argumentos que correspondem aos nossos anseios pessoais, e então comecei a me questionar se aquela era realmente a verdade, ou apenas algo que eu queria muito (“torcia”) que fosse verdade?
Foi justamente nesta época que meu ousado amigo Ricardo Cluk começou a ler um livro que eu já conhecia, mas confesso que tinha certo receio de lê-lo: “Deus, um delírio” de Richard Dawkins. Conforme o Ricardo avançava em sua leitura e partilhava comigo o que estava lendo, meu teísmo racional começou a ser colocado na parede e lá se foi a minha momentânea tranquilidade. Em desespero de causa li um livro de oposição a aquele que o Ricardo estava lendo, intitulado “O delírio de Dawkins” de Alister McGrath e Joana McGrath, mas percebi logo o quanto estava sendo incoerente comigo mesmo, pois como poderia recorrer ao ponto de vista de oposição a algo que eu ainda não havia investigado com toda sinceridade e imparcialidade?
Precisei lutar contra o meu medo de descobrir que a verdade não era exatamente aquilo que eu queria que fosse. Incrível, não é mesmo? Toda a vida eu repeti para mim mesmo de que a verdade não teme investigação, porém lá estava eu com receio que continuar investigando e acabar descobrindo uma amarga verdade. Uma coisa é questionar as doutrinas de um segmento religioso ou mesmo comparar uma religião com outra, mas coisa bem diferente e terrivelmente mais assustadora é entrar num nível de questionamento que poderia destruir a essência máxima daquilo que eu sempre acreditei: “Deus”.
Esta era uma ponte sobre um abismo que eu jamais imaginara um dia deparar-me. Em meu íntimo perguntava-me se tudo aquilo que sou como pessoa sobreviveria após atravessá-la e vê-la definitivamente desmoronando atrás de mim.
Conseguiria eu viver do outro lado deste abismo?
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