Cleiton Heredia
Segundo a teologia cristã, quando Deus decidiu criar seres morais com o livre arbítrio, ciente dos altos riscos envolvidos, elaborou antes um plano para o caso destas criaturas usarem sua liberdade de escolha de forma errada, ou seja, para se rebelarem e se afastarem dele.
Como o salário do pecado (do afastamento de Deus) é a morte, seu plano consistiria em enviar (dar) seu filho unigênito (a 2ª pessoa da trindade), que era um com ele desde a eternidade, para sofrer e morrer no lugar destas criaturas rebeldes que dele se afastaram. Desta forma, a exigência da sua imutável lei, que exige a morte do pecador, seria satisfeita com um substituto possibilitando assim ao pecador arrependido (que aceitasse este sacrifício) ser salvo ou restaurado à comunhão com o criador.
Este plano é apresentado na Bíblia como o Plano de Salvação. Porém, salvação para a raça humana, pois o mesmo plano não pôde ser utilizado para o caso do anjo que se rebelou (Lúcifer) e seus confederados (os anjos que se uniram a ele na rebelião celestial). Os cristãos explicam que este mesmo plano poderia também ser utilizado para o caso de outras criaturas morais em outros planetas, dele precisarem, mas para Lúcifer e os demais anjos que pecaram não foi feito plano algum (talvez porque os anjos sejam criaturas morais com um nível superior de consciência).
Porém, aquilo que considero mais intrigante nesta história do Plano de Salvação é o fato dele não ser de fato uma “alternativa para o caso” do ser humano pecar, pois Deus em sua onisciência já sabia que isto iria fatalmente acontecer. Portanto, Deus não estava criando um plano contingencial, mas sim determinando o elevado custo que estaria disposto a pagar por insistir em criar seres morais que ele já sabia que iriam pecar.
Para entender melhor um pouco melhor isto tudo, apresento abaixo a seguinte situação hipotética:
Imagine que um casal que se ama muito e queira muito ter filhos descubra que existe 50% de chance deles nascerem com uma terrível doença que causará muita dor, sofrimento e morte prematura. Porém, este percentual aplica-se somente a partir do 2º filho, pois para o 1º filho as chances são de 100%, ou seja, o primeiro filho fatalmente terá a doença. No entanto, existe uma possibilidade de cura caso a mãe ou o pai doem seu coração para a criança doente. Portanto, caso decidam ter o filho, já estão cientes que um dos dois deverá morrer para que o filho viva.
Agora se coloque no lugar do homem ou da mulher deste casal hipotético. Você ama muito seu cônjuge e ao mesmo tempo quer muito ter filhos. Será que você insistiria em ter filhos nestas condições?
Nossa lógica humana diz um sonoro NÃO para a idéia absurda de ter filhos nestas condições. A melhor e mais sensata decisão neste caso seria o casal entender que não pode ter filhos e dedicarem todo o seu amor um para o outro.
Como sou um ser humano e possuo apenas uma razão humana, não consigo entender porque Deus insistiu em criar seres morais com livre arbítrio quando já sabia com toda a certeza de toda a dor e sofrimento que a sua decisão iria causar a bilhões de criaturas. Será que a alegria de ter alguns filhos saudáveis compensa toda a dor, sofrimento e morte dos outros filhos?
Deus poderia ter prevenido o surgimento do mal?
Sim, bastava não ter criado seres morais com livre arbítrio.
Por que mesmo assim ele os criou?
NÃO SEI!
Mas penso: como ele é o Deus que tudo pode e para ele não existem coisas impossíveis, poderia, por exemplo, ser muitos (trilhões) ao invés de apenas três (para aqueles que acreditam na trindade) ou poderia ter criado vários outros iguais a Jesus (para aqueles que não acreditam na trindade). Mas nunca ter criado seres morais já sabendo com certeza absoluta que muitos iriam sofrer e morrer por causa disto.
Minha intenção com esta série de postagens não foi de ser ofensivo aos cristãos, mas simplesmente mostrar que como um ser humano que sou, não compreendo a Deus.
Fim desta série.
Gostei dos textos, o realismo, a indignação e o preposto. Você se esqueceu da imbecilidade humana que é a causa principal.
ResponderExcluirAbraços.
Nesse quesito, possuímos as mesmas dúvidas Cleiton. Porém, pelo que acompanho em seu blog, você optou por desacreditar em Deus (não o critico por isso) e eu optei por perguntar a Ele. Enquanto não obter a resposta, seguirei a minha vida, fazendo o que gosto e tentando ser uma pessoa melhor de acordo com minhas convicções, independente de prêmio celestial eterno.
ResponderExcluirAceito o sacrifício de Jesus por mim, porém não compreendo o propósito e se isso fizer de mim um ímpio, herege ou coisa parecida, apenas lamentarei e direi: fui criado assim.
Essa foi de longe a sua melhor postagem.
Cleiton,
ResponderExcluirSerá que existe mesmo o plano da salvação ou existe um plano humano para se levar a crer nisso?
É engenharia demais! Nem sei como consegui crer e difundir isso por tanto tempo.
Não sou de fechar as portas para a crença, mas essa do plano de salvação é contra qualquer sã pensamento. O exemplo que você deu (filho com 100% de chance de ter problemas) resume isso!
SDS
Olá, Cleiton!
ResponderExcluirObrigado pela visita e pelo rasgado elogio aos meus Irmãos; são realmente incríveis!
Sabe, estou refletindo a respeito desses pensamentos expostos nesses últimos três posts. Confesso que, de alguma forma, concordo com você, pois até hoje não consigo entender a lógica da teologia cristã. Tenho outra concepção religiosa; mas isso não vem ao caso agora. Apenas digo que para mim tudo isso que chamamos de bem e mal, bom ou mau, positivo e negativo, o "yin-yang", talvez seja a mesma essência do Criador... Nem bom, nem mau.
Sei lá, há muitas verdades e muito mais mentiras ainda, não? [rsrs] Talvez determinado período histórico e político possa desvendar o motivo pelos quais fizeram com que pessoas acreditassem em determinada crença...
Grande abraço, Irmão!
Como disse Woody Allen: "Deus não existe e, se existe, não é muito confiável".
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