quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Epicuro estava certo? (Parte 2)

Cleiton Heredia


Refletindo um pouco melhor sobre aquilo que apresentei na postagem anterior, pareceu-me um tanto temerário aceitar a idéia de um Deus que decide criar seres morais com o livre arbítrio, completamente ciente de que a partir daquele exato momento a entrada do mal (pecado) no universo não dependeria mais de sua onipotente vontade, mas sim das escolhas que estas criaturas fariam.

E o pior é que, mediante sua onisciência, ele já sabia de antemão que aquela empreitada não terminaria bem, pois um anjo se rebelaria, convenceria um terço dos habitantes celestiais a ficarem do seu lado, e depois seriam expulsos do paraíso, viriam para este planeta e implantariam seu império de dor, sofrimento e morte (conforme a Teologia Cristã).


E tudo isto por que? Simplesmente porque Deus, que é amor, não poderia passar a eternidade sem ter outras criaturas com quem repartir este amor (explicação que já ouvi de vários teólogos). Se eu estou entendendo bem a situação, bilhões de criaturas sofrem neste planeta porque Deus é amor e não suportou ficar sozinho!

"Não!!!" - exclamará o crente horrorizado - "As pessoas sofrem neste planeta por causa do pecado e Deus não tem nada haver com o pecado!"

Mas como não tem nada haver se foi justamente sua decisão de criar seres morais com livre arbítrio que possibilitou existir aquilo que chamamos de pecado?

O crente fiel pode insistir: "Deus fez suas criaturas morais perfeitas, mas foram elas que decidiram se rebelar e se afastar dele. O sofrimento é somente uma consequência das escolhas erradas que elas fizeram."


Elas quem? Adão? Eva? Pode até ser. Mas e quanto aquele bebê que sofreu desde o nascimento e morreu de câncer com apenas um aninho de vida? Que culpa tinha ele nesta história toda? O que um bebê entende de livre arbítrio? (por favor espíritas, poupem-me de suas explicações sobre carma e reencarnação, pois minha análise aqui é segundo a teologia bíblica cristã).

Como você chamaria uma pessoa que decide fazer alguma coisa por que quer muito aquilo, apesar de saber que sua decisão trará muita dor e sofrimento para muitas pessoas? Bem, se fosse eu que decidisse tal coisa chamar-me-iam de egoísta. Porém, como é Deus que decidiu, dizem que ele é amor.


Estou aqui tentando entender isto, mas confesso que não estou conseguindo. A coisa piora ainda mais quando se admite que o trinitarianismo é o conceito correto para se entender esta divindade. Se eram três e estes três eram um, Deus já tinha em si mesmo (Pai, Filho e Espírito Santo) uma forma de partilhar seu próprio amor sem precisar criar quem quer que seja (ainda mais com tantos riscos envolvidos).

Muitos acreditam que este dilema é solucionado com Jesus.

Irei tratar disto na próxima postagem.

Continua...

5 comentários:

  1. Eis aí minhas principais dúvidas sobre Deus, pecado e afins escritas de forma impecável.
    Enquanto não encontrar resposta para elas nunca serei um cristão como os demais, por mais que eu me esforce.
    Parabéns pelo post Cleiton!

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  2. Heredia, que livre arbítrio? São só dois (2) caminhos; amar a Deus sobre todas as coisas, obedecê-lo e ir para o céu, ou não e o inferno te espera.A mesma sacanagem foi feita com Adão, pois ele já sabia do resultado. Desde que Deus foi criado, ele joga com baralho marcado.

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  3. Cleiton,

    Você está tentando entender o blá blá blá dos cristãos. Não perca seu tempo. Nem eles entendem o que dizem. (rs)

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  4. Quanto mais tento entender as premissas cristãs menos eu as entendo. É uma engenharia maluca sem fim. Parece-me mais um eterno e engenhoso plano de poder (parece-me o mais óbvio).

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  5. Se Deus nos criou moralmente perfeitos, como pudemos tomar uma decisão tão absurda quanto comer a maçã e nos sujeitarmos aos castigos do pecado (que aliás, também foram definidos por ele)?

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