por Cleiton Heredia
Segundo Christopher Hitchens, autor do livro "Deus não é grande" (2007), a religião, a fé e a superstição, distorcem nossa noção geral do mundo, ao ponto de envenenar tudo ao seu redor.
Talvez você, assim como eu, não concorde com a forma radical de Hitchens generalizar o mundo da fé, mas este jornalista e escritor é assim mesmo: direto, contundente, frontal, polêmico e irônico. Não é por acaso que ele integra o quarteto fantástico do ateísmo (ver postagem anterior).
Em março do ano passado (2010) ele esteve em Portugal e deu uma entrevista para o site i. Reproduzo aqui algumas partes interessantes desta entrevista para que você perceba como as suas respostas refletem bem o seu estilo:
i: De que forma é que a religião envenena tudo, como diz no seu livro?
Hitchens: A religião diz-nos que não temos liberdade, que fomos feitos por um ser superior. Esse ditador divino disse-nos que não saberíamos nada e que não seríamos capazes de distinguir o bem do mal. É uma forma doente de educar as pessoas. Envenena porque te torna num escravo, mas a religião não vai acabar.
i: Porquê?
Hitchens: Porque tem como principais recursos a estupidez humana, a crendice e a vaidade, disfarçada de humildade. A religião não acaba porque somos egocêntricos e temos medo de morrer. Assim, acreditamos que dizemos umas coisas pela ordem certa e vamos para o céu. Até agora nunca foi provado que aquele ser onisciente e benigno existe.
i: Porque escreveu "Deus não é Grande - Como a Religião Envenena Tudo"?
Hitchens: O debate entre os que acreditam no sobrenatural e os que não acreditam é o mais importante. Na altura (2007) havia um confronto entre a teocracia e a democracia. Além disso, tinha a sensação de que nos EUA estavam fartos de ver o ensino da biologia substituído por religião, com a história do criacionismo. A violência da jihad também era, e é, uma preocupação real. É o reavivar de superstições medievais, com crueldade e estupidez.
i: Em várias culturas sempre houve a noção de Deus, porquê?
Hitchens: É inato à mente humana procurar padrões para entender o mundo. Somos primatas que precisam disso, foi assim que aprendemos a domesticar animais, entendemos o padrão, logo o seu comportamento. A desvantagem é que preferimos aceitar qualquer tipo de padrão a nenhum. Haverá uma razão para que todas as igrejas de Lisboa tenham caído em 1755*? É tão importante para nós. De certeza que é importante para o cosmos. Mas estão enganados. Não havia plano, há sim uma grande falha entre Lisboa e os Açores. (* Ele faz menção ao famoso Terremoto de Lisboa considerado pelos cristãos como um dos grandes sinais registrados na Bíblia que indicavam o início do Tempo do Fim).
i: Somos demasiado egocêntricos?
Hitchens: Uma das grandes piadas da religião é que defende a ideia de que somos simples criaturas, não valemos nada, mas depois acrescenta: "Já agora, nós somos a razão pela qual o Sol se levanta." Pergunto: "Sou humildes ou não?" Aliás, são muito arrogantes. Pensam: "Claro que todas as igrejas de Lisboa caíram porque comi a mulher do meu amigo."
i: Mas a religião não é importante na educação, já que cria padrões morais?
Hitchens: É um argumento muito comum em todas as religiões. Tenho uma pergunta para essas pessoas: se a religião é a base da moral então enumerem-me uma ação moral que só uma pessoa de fé possa fazer e que eu, como ateu, não possa? Não existe. E conseguem indicar-me uma ação cruel que um crente faça apenas por causa da sua fé? Os exemplos são muitos: do 11 de Setembro à Inquisição.
i: Existem religiões mais perigosas do que outras?
Hitchens: Nos anos 30 e 40 do século XX, diria que a mais perigosa era o catolicismo romano porque estava relacionado com o fascismo. Agora é muito claro que é a versão mais radical do islamismo. Não aceito que vivamos à mercê de pessoas que às vezes nos toleram outras não. Quando armas de destruição maciça caem nas mãos de loucos, ou temos de ser muito educados para não os chatear - que para mim seria uma humilhação intolerável - ou vamos esperar pelo veredicto final - que é uma versão ainda pior do mesmo dilema. Recuso-me a viver um dia da minha vida submisso ao prazer destas pessoas.
Achei muito interessante ele afirmar que a religião não irá acabar porque nunca deixaremos de ser egocêntricos. Será que "no frigir dos ovos" não seria isto mesmo? Todos nós queremos viver agora e viver para sempre, queremos encontrar a felicidade, queremos ter paz, queremos sentir-nos seguros e queremos exatamente as respostas que se alinhem com estas nossas necessidades básicas.
Resumindo: As pessoas não estão em busca da verdade, mas sim em busca de segurança.
Hoje o que paira no ar é o seguinte: Deus existindo ou não, com base na situação atual da humanidade, seria possível viver sem a religião? A contaminação é geral, mas extirpá-la foria mais mal que bem?
ResponderExcluirAbraços/Enéias
Cleiton Heredia,
ResponderExcluirSó no 3º mundo, as pessoas seriam piores sem religiões. Lá (aqui) a igreja é a pricipal fonte de informações na infância devido a ausência da família e escola. A igreja prega seus conceitos através do medo ao castigo. Quando esta escória social deixar de reproduzir párias e aprender os conceitos morais com sua família ou escola. Ou quando seu manual de bons costumes forem herdados. Eu disse "HERDADOS". Não necessitarâo de um Deus legislador.
Abraços.