segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Filhos - Melhor dentro ou fora da igreja (Parte 3)

por Cleiton Heredia


Analisando de forma superficial pode até parecer que, do ponto de vista da formação do caráter, os jovens inseridos dentro de um contexto religioso levam vantagem sobre os jovens que estão totalmente fora dele.

Mas basta aprofundarmos um pouco melhor esta questão para vermos que as coisas não são tão simples como aparentam. Existem outros fatores que precisam ser analisados. Por exemplo, é necessário analisar se o lar é bem estruturado, se os pais possuem uma conduta coerente entre aquilo que falam e fazem, se os relacionamentos são saudáveis, entre outros. De nada adianta manter os filhos frequentando uma igreja qualquer e falhar nestes pontos.

Analisemos novamente os cinco pontos da postagem anterior para vermos se aquelas vantagens seriam mesmo exclusivas do contexto religioso:

1º) As crianças são moldáveis. Pais não religiosos, mas de caráter, procurarão moldar seus filhos com os mesmos princípios de verdade, honestidade, integridade e honra que eles mesmos acreditam e defendem. Para que o princípio apresentado em Provérbios 22:6 funcione, ele não precisa estar necessariamente vinculado à crença em qualquer divindade que seja, nem muito menos ter uma placa de igreja por trás.

2º) Os pais tem o peso de sua responsabilidade dividida com a comunidade que frequentam. Acredito que esta seja um vantagem que pais religiosos desfrutam de forma muito mais fácil do que aqueles que não fazem parte de uma comunidade religiosa. Por outro lado, esta vantagem pode acabar se transformando em uma maldição para alguns pais acomodados, que transferem a sua responsabilidade para a comunidade que frequentam. Tem muito pai religioso que acaba esquecendo completamente da sua família para fazer aquilo que ele acredita ser a vontade do seu deus. Conheci alguns pais "igrejeiros" que largam e esquecem os seus filhos pelos corredores da igreja enquanto eles estão ali correndo de um lado para o outro atrás das "coisas de Deus".

3º) O peso da influência da maioria. Este é um ponto que pode ser interpretado como mais uma vantagem dos religiosos, porém se analisarmos mais detalhadamente veremos que a escola tem uma influência muito mais relevante do que o da própria igreja. A começar pelo tempo em que uma criança passa na escola em comparação com o tempo que passa na igreja. É claro que o grupo social da igreja exercerá sua influência, porém se a criança não for ensinada a pensar por si mesma, o grupo social da escola poderá facilmente destruir e anular a influência exercida pela igreja.

4º) A cultura religiosa. Só mesmo uma pessoa muito preconceituosa e bitolada pode querer imaginar que a cultura religiosa é o único tipo de cultura socialmente adequado ou correto. Todos que nascem em uma determinada região deste planeta estão condicionados à cultura predominante daquela localidade. Uma criança africana será culturalmente diferente de uma criança americana ou chinesa. O que deve ser levado em conta aqui é que cada cultura tem o seu padrão daquilo que é certo e daquilo que é errado. Uma criança deve aprender a fazer aquilo que é certo pelo simples fato de ser o certo, e não por medo do "homem-do-saco", do "bicho-papão" ou mesmo de qualquer divindade que castiga os maus.

5º) Influência subliminar. Bem, nem irei perder muito tempo neste item, pois qualquer um sabe que em termos de influência subliminar, nós vivemos em um mundo cercados de múltiplos estímulos que podem facilmente se sobrepor, não somente aos da igreja, mas inclusive aos do próprio lar.

Sendo assim, a questão de que se é melhor ter os filhos dentro da igreja ou fora dela, dependerá muito do referencial de cada um. Pais religiosos tem suas razões para achar que a igreja é o ambiente ideal para manter seus filhos, e pais não religiosos podem considerar esta questão completamente irrelevante.

Em termos práticos e puramente racionais, a igreja é apenas mais um centro de convivência entre os muitos outros com os quais os nossos filhos irão se relacionar ao longo se suas vidas. O que determinará se extrairão de cada um destes contextos o bem ou o mal, dependerá mais do caráter do que do próprio ambiente.

E falando em caráter, não é a religião que uma pessoa escolhe seguir que o definirá. Este é determinado por uma educação ética e moralmente responsável seguida por exemplos de vida que sejam coerentes com esta educação.

6 comentários:

  1. Concordo plenamente!!! Não há Religião no mundo capaz de estabelecer o caratér de uma pessoa. Elas podem nos ajudar e muito, mas não é capaz de determinar o comportamento de ninguém. O único que pode tal façanha é o Espírito Santo através da pessoa de Cristo. E ainda assim, muitos se mostram incapazes de fazer coisas "moralmente corretas". Conlusão, não somos bons porque somos assim, somos bons quando Deus atua de forma real e ativa em nossas vidas. Religião NÃO é tudo!!!!DEUS é tudo!!

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  2. Ah esqueci, tenha um dia feliz! Abração!!!

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  3. Muito bom. Pena que as pessoas que possuem capacidade para chegar a estas conclusões são poucas. Reitero meus comentários nas postagens anteriores e saliento que um bom grupo de amigos, religiosos ou não, mas possuindo alto valor ético e moral, pode (tal grupo) ser tão eficaz quanto o berço exclusivamente eivado de cultura religiosa.

    Abraços/Enéias

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  4. Nádia,

    Não sei se entendi corretamente, mas quando você escreve: "Somos bons quando Deus atua de forma real e ativa em nossas vidas", dá a entender que não existe verdadeira bondade, caráter, decência, ética e moral fora da crença em Deus.

    Entendo e respeito o seu direito como religiosa de afirmar que, PARA VOCÊ, Deus é tudo, porém espero que também entenda e respeite o direito do ateu de afirmar que, PARA ELE, deus é nada.

    Um forte abraço.

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  5. Oi Cleiton,
    fique tranquilo, sempre te respeitei muito além de admirá-lo.
    Conheço muitas pessoas que pensam o cristianismo de forma diferente da minha, ou até de pessoas que não crêem em Deus e sim numa "força"...enfim, várias idéias....E posso dizer com base de conhecimento, que muitas delas possuem o caráter mais decente que muitos que conheci(na igreja, inclusive)...Não trocaria alguns amigos incrédulos por meia dúzia de cristãos.
    Não se trata de ser bom ou de ser ruim, de ter bom carater ou mal carater. O resumo da vida não pode se limitar a isso apenas. Tem de haver um propósito para isso. Senão, para que eu quero ser bom, enquantos os outros são maus pra mim???
    Não importa se dentro da religião ou fora dela... pra que ser bom ou ruim???
    Se não existe Deus não importa se meus filhos estão dentro ou fora da igreja, se vão ser bons ou ruins....
    Ser bom para que? Para quem? Por que??? Só pela lei moral???
    A própria questão bem e mal tem sua origem em Deus.
    Você cita: "Por exemplo, é necessário analisar se o lar é bem estruturado, se os pais possuem uma conduta coerente entre aquilo que falam e fazem, se os relacionamentos são saudáveis, entre outros. De nada adianta manter os filhos frequentando uma igreja qualquer e falhar nestes pontos"

    Você conhece parte da minha história e se não fosse minha formação na igreja, hoje eu não imagino onde estaria hoje. Meu pai me batia violentamente, era xingada vergonhosamente e nunca soube o que era amor de pai. E se fosse com outra pessoa, como seria??? Seria igual???? Por isso eu te disse que olhando por este ponto vista(o meu rsrsrsrs)te digo que só Deus mesmo.
    Não quero aqui confrontá-lo, apenas expresso minha opinião.Ninguém muda de idéia assim!!!
    Um abração

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  6. Nádia,

    Quando eu escrevi sobre o respeito ao direito do ateu de afirmar que deus não é nada, não estava pretendo incluir-me entre os que pensam desta forma. Nunca fechei a questão em torno da existência de deus e nem pretendo fechar. Estou sempre aberto para novas descobertas e por isto não gosto de dogmatizar afirmando categoricamente que deus não é nada. Atualmente eu me considero mais um pseudo-ateu do que um ateu de verdade. Sou um ateu que torço para estar errado e descobrir que deus existe de fato. Recebo muitas críticas por esta postura dúbia, mas estou aprendendo a conviver com elas.

    Permita-me agora tecer alguns comentários sobre o seu questionamento do por que ser bom se deus não existe. Eu entendo que a palavra "bom" aqui está sendo usada como sinônimo de caráter íntegro, que por sua vez é sinônimo de uma pessoa honesta, cumpridora dos seus deveres e que respeita o seu próximo da mesma forma que quer ser respeitada.

    Bem, eu entendo que devemos ser pessoas "boas" (caráter íntegro) não somente porque pode existir um céu a ganhar e um inferno a evitar, mas porque esta é a melhor forma de vivermos em uma sociedade. Eu entendo que os meus filhos devem ser educados a fazer aquilo que é certo simplesmente porque é o certo a ser feito. Se vincularmos a escolha pelo certo à existência de um ser divino, como ficará caso eles um dia deixem de acreditar nesta divindade?

    Esta idéia de que se deus não existe tudo é válido é um dos maiores equívocos de pensamento por parte dos teístas. Mesmo se deus não existir, ainda existe a realidade desta vida que partilhamos juntos com outras vidas neste planeta, e precisamos encontrar a melhor forma de desfrutá-la coletivamente. Se eu respeitar o direito do meu próximo em ser feliz e ele respeitar o meu, de forma que a minha felicidade não impeça a dele e vice-versa, então acabamos de encontrar o principal motivo do por que ser "bom" independentemente da existência ou não de uma divindade.

    E mais, caso realmente exista um deus que preza acima de tudo pela essência de cada um de nós (o caráter), então um ateu que faz o que é certo somente pelo fato de ser o certo a ser feito, pode ser mais precioso aos seus olhos do que aquele que acredita nele e faz o certo com vistas na recompensa e com medo do castigo.

    Quero concluir lhe agradecendo-lhe por esta troca de idéias. Aqui neste espaço não existe esta de não querer me confrontar. Gosto de ser confrontado, pois sempre vejo nestas situações uma possibilidade de repensar melhor os meus próprios conceitos. E como eu sempre digo: aqui as idéias podem brigar, mas nós sempre continuamos amigos.

    Um grande e carinhoso abraço.

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