Só Deus poderia provar Sua existência

Acho interessante a maneira como os teístas se debatem na ânsia por estabelecer provas (evidências, argumentos) que consubstanciem a existência de um Deus pessoal (um Deus que se preocupa com cada um de nós em particular).

Porém, a Bíblia apresenta uma argumentação que eu considero bem interessante. No livro de Juízes existe um relato da forma como o pai de Gideão, Joás, argumentou com aqueles que queriam matar seu filho por este ter derrubado o altar de Baal:

"Vocês estão defendendo Baal? Quem o defender será morto antes do amanhecer. Se Baal é Deus, que ele mesmo se defenda. O altar dele é que foi derrubado. Daquele dia em diante, Gideão passou a ser chamado de Jerubaal, pois Joás havia dito: Que Baal mesmo se defenda. O altar dele é que foi derrubado." (Juízes 6:31-32).

Por que será que aqueles que crêem num Deus todo-poderoso não usam esta mesma argumentação? Será que o Deus onipotente precisa de homens que defendam a sua existência? Se Ele é o supremo Deus criador, então por que não se defende a Si mesmo contra todos os incrédulos ateus?


Carl Sagan em seu livro "Varieda- des da Experiência Científica" argumenta que Deus parece não ter demonstrado muita competência ao estabelecer ou deixar para nós provas absolutamente indubitáveis da Sua existência. E é justamente por causa desta incompetência divina (ou seria desinteresse divino?) que muitos seres humanos se debatem e se digladiam até hoje.

Ele explica que caso Deus realmente quisesse por um ponto final nesta questão, Ele simplesmente poderia ter deixado no livro sagrado do verdadeiro segmento religioso alguma frase cuja compreensão fosse impossível na época em que foi escrita, mas que mais tarde pudesse ser comprovada. Exemplos:

"Não se esqueçam, o Sol é apenas uma estrela entre milhões de outras";

"Meus filhos, entendam que aquela estrela vermelha é apenas um planeta desabitado e ferrugento com muitos vulcões. Ali existem nuvens e já existiram rios que não existem mais. Vocês entenderão isto mais tarde, mas por enquanto apenas confiem em Mim" (referindo-se a Marte);

"Um corpo em movimento tende a permanecer em movimento. Não pensem que os corpos precisam ser continuamente movidos para permanecerem em movimento. Mais tarde vocês entenderão que o atrito é quem faz toda a diferença";

"Não viajarás mais rápido do que a luz";

"Duas fitas entrelaçadas são o segredo da vida".


Já pensou no impacto que tais declarações causariam neste mundo moderno cada vez mais cético? Não seria esta uma forma irrefutável do próprio Deus por um fim na incredulidade?

Agora querem algo ainda mais radical? Já pensou se Deus tivesse gravado na Lua os Dez mandamentos de forma que pudessem ser vistos no dia em que os grandes telescópios fossem inventados ou quando alguma nave espacial de lá se aproximasse?

Sem dúvida qualquer uma destas providências teria calado a boca de qualquer ateu. Mas então por que será que Deus não fez isto? Será que Ele não levou em consideração que haveria pessoas sinceras que não creriam nEle justamente por não existirem evidências suficientemente irrefutáveis?

Diante disto sou obrigado a dar razão há aquilo que Protágoras (século V a.C.) deixou escrito nas primeiras linhas de seu "Ensaio sobre os deuses":

"Acerca dos deuses não tenho como saber nem se eles existem nem se eles não existem, nem qual sua aparência. Muitas coisas impedem meu conhecimento. Entre elas, o fato de que eles nunca aparecem".