
Devido às reações geradas pela minha última postagem em relação à teoria do Design Inteligente, tais como: “
idéia sem pé nem cabeça” e “
oriundo de pessoas novas na fé e/ou inseguras na fé”, resolvi tratar esta questão com mais objetividade e clareza, pois talvez exista uma grande diferença conceitual entre aquilo que entendo e o que os meus amigos estão entendendo com respeito a esta teoria.
Design Inteligente (DI), Projeto Inteligente (PI), Desenho Inteligente ou ainda Desígnio Inteligente são nomes provenientes da nomenclatura original em inglês
Intelligent Design (
ID – vou utilizar aqui esta nomenclatura), que é a teoria que sustenta que certas propriedades do universo e dos seres vivos são melhor explicadas por meio de uma causa inteligente e não por leis físicas e processos naturais. Esta teoria não pretende determinar a identidade desta causa inteligente, nem afirma ser esta causa necessariamente um “ser divino”, ou uma “força superior”, por isto não é a mesma coisa que Criacionismo que afirma claramente ser Deus o agente criador. Ela limita-se a propor que a ciência possa identificar se certas propriedades do mundo natural são ou não produtos da inteligência. (extraído do site http://www.discovery.org/a/2348 - “Top Questions and Answers about Intelligent Design Theory”).
O ID surgiu em 1991 com o advogado cristão
Phillip Johnson que no livro “Darwin on Trial” (Darwin em Julgamento) apresentou pela primeira vez sua teoria. Porém, algumas de suas raízes podem ser rastreadas até argumentos científicos remotos que apontavam a probabilidade estatística para a origem da vida. Mais tardes os argumentos do ID foram ampliados e popularizados com a publicação do livro “Darwin´s Black Box” (A Caixa Preta de Darwin) do professor universitário de biologia
Michael Behe que elaborou o conceito da Complexidade Irredutível. Atualmente temos o matemático
William Dembski na liderança do movimento ID.
O conteúdo que se segue abaixo foi resumido principalmente do livro “A Linguagem de Deus” de Francis S. Collins, que é um dos cientistas que dirigiu o Projeto Genoma e também um evolucionista teísta convicto.
A teoria do ID esta alicerçada basicamente em três propostas:
1) A evolução gera uma visão de mundo ateísta e, portanto, aqueles que crêem em Deus devem se opor a ela.O fundador Phillip Johnson não era um cientista em busca da verdade sobre a origem da vida, mas um advogado com a missão de defender Deus contra a aceitação pública de um mundo puramente materialista. O triunfo do evolucionismo fez com que a comunidade de fé (religiosos) partisse em busca de uma explicação alternativa respeitável em termos científicos.
O fato da teoria do ID não ter surgido da tradição científica fez com que muitos cientistas a identificassem como pseudociência ou “criacionismo sub-reptício” ou “criacionismo 2.0”.
2) A evolução tem fundamentos falhos, pois não pode justificar a complexidade da natureza.O ID apresenta numa linguagem bioquímica, genética e matemática aquilo William Paley apresentou no início do século XIX, a saber, o argumento de que todo projeto complexo exige um projetista ou planejador.
Os exemplos apresentados são muitos, tais como a complexidade das máquinas celulares com mecanismos que traduzem o RNA para a proteína, que ajudam à célula se locomover e que transmitem sinais da superfície da célula para o núcleo deslocando-se ao longo de uma trilha em cascata (efeito dominó) através de múltiplos componentes. Outros exemplos são encontrados em órgãos complexos (formados por bilhões ou trilhões de células) tais como o olho humano ou no simples flagelo da bactéria que é o seu filamento de locomoção.
Os defensores do ID alegam que esses tipos de máquina jamais poderiam ter surgido com base em seleção natural, pois suas estruturas complexas, que envolvem a interação de muitas proteínas, perderiam completamente sua função caso apenas uma única proteína ficasse inativa. A evolução ao acaso de forma lenta e gradativa valendo-se de vantagem seletiva para continuar evoluindo não pode aplicar-se a estas estruturas complexas que só podem existir no seu todo completo e irredutível. A probabilidade matemática de uma evolução em paralelo acidental de diversos componentes sem utilidade (quando isolados) é quase infinitamente pequena.
3) Se a evolução não pode explicar a complexidade irredutível, deve então ter existido um planejador inteligente, de algum modo, e ele entrou em cena para fornecer os componentes necessários durante o curso da evolução.Relembro que o movimento ID toma cuidado para não especificar quem poderia ter sido esse planejador, muito embora os religiosos tenham se apropriado de seus conceitos definindo esse planejador como o Deus criador.
Quero concluir esta postagem, mas não o assunto, pois irei dar seqüência em uma postagem posterior, dizendo que minha admiração pelos conceitos apresentados pela teoria ID se concentra no item número dois. Fico maravilhado ao ver como o Universo e muitos elementos da vida dependem de uma sintonia fina tão precisamente definida e ajustada. Assim como não creio que uma explosão de uma gráfica possa originar uma enciclopédia prontinha, também tenho muitas dificuldades de aceitar que “tudo” tenha se originado do simples acaso despropositado.
Não entendo o ID como uma verdade sacramentada, mas considero que ele possa ser um dos muitos caminhos a levar até ela. Portanto, antes de julgá-la como uma idéia sem pé e cabeça ou algo proveniente de inseguros neófitos na fé, faríamos muito bem em abrir nossas mentes para uma avaliação despreconceituosa de todas as alternativas possíveis.