quarta-feira, 26 de outubro de 2011

"Eu não sou um bolo de cenoura!"

por Cleiton Heredia


Um dia destes um amigo virtual cristão me perguntou de onde veio toda a matéria existente no universo. É claro que ele não perguntou como quem quer saber, mas como alguém que acha que já sabe a resposta: "O Deus Criador". Como eu não compartilho destas respostas simplistas, simplesmente lhe respondi que o fato de eu não saber a resposta, não significa que sou obrigado a aceitar qualquer solução sobrenatural só para eu poder dizer que tenho todas as respostas.

Bem, isto foi o suficiente para iniciar um debate que já se estende por vários dias.

Sua primeira reação foi recorrer ao "manjado" argumento do teólogo inglês William Paley, conhecido como "A Analogia do Relojoeiro", porém de forma adaptada (acho que para facilitar o meu entendimento). Ele contou-me a seguinte história por ele intitulada como "A existência do bolo de cenoura sem um cozinheiro":

"Um caminhão que abastece mercadinhos bate em uma casa, e desse caminhão sai 1/2 xícara de óleo, 3 cenouras raladas, 4 ovos, 2 xícaras de açúcar, 2 xícaras e meia de farinha de trigo e 1 colher de fermento. Esses ingredientes por coincidência caem dentro de uma forma, uma pedra abre o forno e outra abre o gás, uma faísca acende o fogo e a forma cai dentro do forno. O forro da casa, meio em ruína com a batida, fica meio querendo cair, mas demora uns 40 minutos e finalmente cai. A parte do forro que caiu desligou o forno, e de repente o dono da casa chega assustado com o acidente, mas não se surpreende com a coincidência que uma explosão acaba de ter criado um perfeito bolo de cenoura".

Na sequência ele me interroga se é possível isso acontecer, e já emenda a sua conclusão: "Um bolo de cenouras tem 6 ingredientes, mas o ser humano possui milhares de genes, ou seja, um ser humano é muito mais complexo do que um simples bolo". Em outras palavras, sem um criador é impossível existir algo tão complexo como o ser humano.

Eu procurei mostrar para meu amigo que achava muito contraditório ele exigir um criador para o fato de existir uma máquina humana tão complexa, mas se recusar usar o mesmo raciocínio para a sua divindade criadora que é infinitamente mais complexa que qualquer ser humano (deus onipotente, onisciente, onipresente, invisível, perfeito e ainda por cima três em um). Os teístas reclamam dos ateus de serem arbitrários ao defenderem um universo sem criador, mas não percebem que a defesa de um criador não-criado é uma ideia tão arbitrária quanto.

Richard Dawkins em sua obra "O Relojoeiro Cego" já refutou de forma brilhante esta ultrapassada argumentação criacionista. Dawkins apresenta neste seu livro argumentos para a teoria da evolução através da seleção natural, contrastando a diferença entre o projeto humano, com seu potencial para planejar, e o trabalho da seleção natural. Ele afirma:

"Explicar a origem do mecanismo DNA/proteína invocando um Projetista sobrenatural é não explicar precisamente nada, já que isso deixa inexplicada a origem do Projetista. Você tem que dizer algo como 'Deus sempre existiu', e se você se permitir esse tipo de saída preguiçosa, poderia igualmente apenas dizer 'o DNA sempre existiu', ou 'a Vida sempre existiu', e ficar satisfeito com isso" - Richard Dawkins.

sábado, 22 de outubro de 2011

Mentiras que os Religiosos contam por aí - 4ª Parte

por Cleiton Heredia


Os cristãos gostam muito das frases abaixo, pois as utilizam como uma ferramenta de manipulação e pressão psicológica. É como que através delas eles estivessem dizendo: "Veja o que vai acontecer com você se começar a duvidar de Deus! Você vai acabar igualzinho a estes ateus!" (na verdade eles torcem para que isto aconteça):

DAVID HUME, o ateu gritou: "Estou nas chamas!"

Jamais duvide da existência de um Deus amoroso que pode te queimar depois desta vida. O único probleminha é que não existe nenhuma evidência séria de que David Hume disse isso.

LÊNIN morreu em confusão mental pedindo perdão de seus pecados para as mesas e as cadeiras.

Este texto é perfeito para se usar com o Salmos 14:1 - "Diz o louco no seu coração: Não há Deus". Lênin foi mais um que morreu de sífilis, cujo estágio final é a confusão mental, mas não existe nada que comprove que ele saiu pedindo perdão para a mobília de sua casa.

Agora, mais engraçado ainda é quando além de inventar a frase, os religiosos inventam uma pessoa para dizê-la:

SINOWYEW, o presidente da Internacional Comunista, que foi fuzilado por Stálin: "Ouve Israel, o Senhor nosso Deus é o único Deus".

Brincadeira! Não existe qualquer registro deste camarada, a não ser em sites religiosos.

YAROSLAWSKI, presidente do Movimento Internacional dos Ateus: "Por favor, queimem todos os meus livros. Vejam o santo Ele espera por mim".

Mais um personagem tão fictício quanto à frase que colocaram na boca dele. A propósito, não existe uma entidade denominada "Movimento Internacional dos Ateus".

Pelo amor de Deus, quanta bobagem!!!

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Mentiras que os Religiosos contam por aí - 3ª Parte

por Cleiton Heredia


MENTIRA Nº 3 - NAPOLEÃO

"O imperador morre solitário e abandonado. Sua luta de morte é terrível"

Os sites religiosos (basicamente cristãos) trazem esta informação como uma declaração de um suposto médico particular de Napoleão que testemunhou os seus momentos finais. Nenhum deles menciona o nome do médico ou a fonte documental de tal afirmação, mesmo porque nada pode ser encontrado em qualquer uma das biografias oficiais de Napoleão.

Como a mentira acima normalmente aparece junto com outras declarações ou testemunhos fictícios sobre ateus em seu leio de morte, o leitor desapercebido é levado a concluir que Napoleão teve uma morte miseravelmente triste devido ao fato de ter sido mais um desaforado ateu. Mas a verdade é que Napoleão jamais se declarou ateu. Apesar da sua conhecida aversão à hegemonia da Igreja Católica nos assuntos políticos, ele chegou a declarar certa ocasião que "uma sociedade sem religião é como um navio sem bússola". Ele também reconhecia o caráter controlador da religião sobre as massas, pois afirmou: "A religião é o que impede o pobre de matar o rico".

Mesmo que a declaração acima fosse comprovadamente legítima, existiria ainda a possibilidade de a interpretarmos como consequência das derrotas que Napoleão obteve nos últimos anos, principalmente na Batalha de Waterloo e o seu exílio em Santa Helena, antes de conjecturarmos ser uma consequência de uma vida sem Deus.

Continua...

sábado, 15 de outubro de 2011

Mentiras que os Religiosos contam por aí - 2ª Parte

por Cleiton Heredia


MENTIRA Nº 2 - NIETZSCHE

"Se realmente existe um Deus Vivo, sou o mais miserável dos homens"

Os religiosos gostam de "descer a lenha" em Nietzsche porque ele fez aquela famosa declaração: "Deus está morto". Porém, são poucos os intelectualmente honestos que colocam esta frase dentro do contexto correto, ou seja, de que ele estava falando da religião como era conhecida na sua época.

Quanto à frase em questão, se você fizer uma pesquisa no Google verá que ela só aparece basicamente em dois grupos de sites: em sites de religiosos e em sites de céticos, agnósticos ou ateus. O primeiro grupo simplesmente reproduzindo a frase sem qualquer preocupação de indicar uma única fonte confiável, e o segundo grupo justamente questionando o primeiro com a pergunta: "Mas de onde vocês tiraram isto?"

Até hoje não apareceu sequer um único cristão para indicar uma fonte bibliográfica, quer seja nas biografias oficiais ou em outro documento qualquer, que abalizasse esta frase como inquestionavelmente verdadeira e legítima.

Tudo o que se sabe é que Nietzsche morreu devido a uma paralisia progressiva ocasionada pela sífilis (doença incurável naquela época). Mas antes que alguns religiosos se apressem em dizer que a doença foi castigo divino, seria bom lembrar que ela também atinge os crentes em Deus, tais como os Papas Júlio II e Alexandre VI (como conseguiram contrair esta doença sendo celibatários é mais um mistério da fé).

E as mentiras vão continuar.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Mentiras que os Religiosos contam por aí - 1ª Parte

por Cleiton Heredia


A maioria dos religiosos que conheço não possui um compromisso sério e responsável com a verdade. O que eles possuem é um compromisso unilateral e exclusivista com a SUA verdade, ou seja, com aquilo que julgam e querem que seja a verdade.

Eles não conseguem enxergar o quão bitolada é esta postura, pois passam a vida toda lendo apenas os livros que coadunam com o seu ponto de vista, ouvindo ensinamentos somente daqueles que partilham das mesmas "verdades", reunindo-se em comunidades onde todos pensam igual, e o que é pior, exercendo um enorme preconceito contra outras fontes de conhecimento que divergem de seu ponto de vista, bem como demonizando a qualquer um que ouse pensar fora da caixinha de porcelana onde eles estão inseridos.

Com uma cabeça assim, não é de se estranhar que divulguem e perpetuem certas mentiras como se fossem verdades inquestionáveis. Vejamos algumas delas:


MENTIRA Nº 1 - VOLTAIRE

"Voltaire, o famoso zombador, teve um fim terrível. Sua enfermeira conta: 'Por todo o dinheiro da Europa, não quero mais ver um incrédulo morrer!' Durante toda a noite ele gritou por perdão."

Para início de conversa, Voltaire não era um ateu, mas sim um deísta, tal como Albert Einstein. As pessoas confundem o fato de ele ter criticado em seus escritos a igreja católica e alguns aspectos da religião, achando que por causa disto ele não passava de um completo descrente em Deus.

Como um filósofo iluminista, ele defendeu durante toda a sua vida as liberdades civis e religiosas, opondo-se ao cabresto intelectual imposto pela religião com seus dogmas de fé. Porém, Voltaire acreditava em Deus à sua maneira. A famosa frase: "Se Deus não existisse teria de ser inventado", conforme o Dicionário Filosófico, é de sua autoria.

Entre outras lendas sobre as palavras que teria dito em seu leito de morte conta-se a estória de que um padre e um missionário protestante estavam presentes e Voltaire então, após pedir para que ambos se pusessem um de cada lado, disse: "Agora sim, posso morrer como Jesus, entre dois ladrões". (Amazing!!!)

Outra historinha cômica é aquela de que um padre estava ao seu lado tentando convertê-lo no momento de sua morte, quando ele se vira e diz: "meu caro, lamento, mas não é hora de fazermos novos amigos". (A outra foi melhor!)

Bem, mas o fato é que não existe a tal citação da suposta enfermeira em qualquer biografia oficial de Voltaire. Isso só existe em livros, sites e na cabeça de religiosos tacanhos. Tudo que se sabe é que Voltaire morreu aos 83 anos de idade e provavelmente dizendo: "Pelo amor de Deus, deixem-me morrer em paz!".

Na próxima postagem mais mentiras que os religiosos contam por aí.

sábado, 8 de outubro de 2011

Entrando dentro do terreno do "inimigo" para desafiá-lo


A edição deste mês da revista Haunted (já nas bancas do Reino Unido) inclui uma chamada de três páginas da JREF (James Randi Educational Foundation) e seu desafio de Um Milhão de dólares, entrevistando o MDC Diretor Banachek.

A edição também traz um anúncio de página inteira do JREF (veja imagem acima), desafiando os psíquicos, médiuns, videntes, clarividentes ou qualquer outro com poderes paranormais do Reino Unido para aceitar este desafio.

O mais interessante é que a "Haunted Magazine" é uma revista dedicada a propagar supostas atividades paranormais e coisas do gênero. Seus leitores são pessoas que gostam de coisas sobrenaturais e até acreditam em toda esta "papagaiada".

E aí, quem vai encarar?

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Um Cristão Ateu


Introdução por Cleiton Heredia

O proselitismo religioso é algo muito praticado pelos cristãos, pois eles acreditam que são portadores de uma mensagem única cuja compreensão e resposta pessoal pode decidir o destino de toda a raça humana.

O brilhante texto a seguir, de autoria do criador e editor do site DEUSILUSÃO, é um dos muitos exemplos que temos de cristãos que nunca ousaram sair da caixinha de porcelana onde estão presos, mas que se postam arrogantemente como libertadores de um mundo em trevas, sendo que estas tais trevas são todas as filosofias religiosas que divergem daquela que eles defendem.

Se você é um cristão que acha que eu irei para o inferno ou que vou virar churrasquinho no dia do juízo final, por favor leia este texto com atenção e me responda uma pergunta muito simples:

- Que garantias irrefutáveis você tem para me apresentar de que possui a verdade e de que todos os demais que não pensam como você estão no erro?


UM CRISTÃO ATEU
por Valmidênio Barros

Eu tenho um primo evangélico que está sendo “treinado” para se tornar pastor da igreja dele. Um belo dia, ele veio aqui em casa e me fez uma pergunta bem estranha:

— E aí, Barros, já encontrou Deus?
— Eu não! Era pra eu tá procurando?

Isso levou a uma conversa já bem comum pra mim: o crente fanático querendo me vender a droga que ele usa. Daí que eu aproveitei que o interlocutor era meu primo — e muito provavelmente não iria me descer a porrada depois que eu não aceitasse a droga oferecida — e testei uma nova abordagem da discussão.

Eu disse a meu primo que iria conversar com ele sobre Deus, desde que ele concordasse em imaginar que eu também estaria sendo abordado, naquele exato momento, por um crente em Lord Brähma. Ele topou. E aí estão os melhores momentos:

— Mas por que você não acredita em Deus, Barros?
— Uai! O cara tá me fazendo lá a mesma pergunta: “Por que eu não acredito no Lord Brähma?”. E tu? Por que não acredita no Lord Brähma?
— Eu creio no único Deus verdadeiro.
— Não perguntei no que você crê. Perguntei por que você não acredita no deus do meu amigo lá do outro lado do Atlântico.
— Porque Deus é único!
— Ó, o cara disse que discorda de você.
— Não faz a menor diferença que ele discorde.
— Pois é: ele disse também que não interessa que você discorde dele. E que foi Lord Brähma o criador do universo.
— Ele pode pensar o que quiser. Deus é o criador do universo e a Bíblia é a sua revelação para a humanidade.
— Mas ele falou a mesma coisa, acredita? Que você pode pensar o que quiser, e que nada vai mudar a verdade. Que, no caso dele, é outra. E que, também, a revelação do deus dele para o povo dele é bem anterior à do seu deus para os hebreus… Que esse “para a humanidade” tá forçando a barra. Qual de vocês está certo, afinal?
— Está certo aquele que está do lado da verdade.
— Qual é a verdade? Deus criou o universo? Ou Lord Brähma criou o universo?
— A verdade está na Bíblia.
— E por que a verdade não está no Mahabharata, por exemplo?
— O que é isso?
— Mas você não sabe? Então que garantia você tem de que a verdade não está nesse texto sagrado e não no seu?
— A garantia que eu tenho é a de que Deus apenas deixou a Bíblia para ser sua forma de comunicação com o homem.
— E se num livro sagrado hindu estiver escrito que outros deuses falsos serão venerados e isso levará uma grande parte da raça humana para o Inferno de Lord Brähma? Você não estaria lascado?
— Barros, não dá pra discutir com quem rejeita a Bíblia como a palavra de Deus.
— E o crente lá da Índia tá dizendo que não dá pra discutir com quem rejeita o Mahabharata e os outros textos sagrados deles como a revelação de Brähma. Não é interessante?
— Só existe um Deus.
— Você, então, não acredita em Lord Brähma…
— Claro que não.
— E por quê?
— Porque não existe outro deus além do Deus vivo!
— Você não toparia estudar alguns textos hindus, frequentar alguns templos onde se pratique o hinduísmo, conhecer a filosofia deles, enfim, você não toparia procurar por alguma revelação de Brähma pra você?
— Não.
— Por quê?
— Não vejo razão para isso.
— Então não me peça pra procurar o seu Deus também. Porque você não vê razão para procurar Brähma, o hindu não vê razão para procurar mais outro deus além dos milhares que eles já têm, e eu não vejo razão para procurar deus nenhum.