quinta-feira, 28 de julho de 2011

Lições que o Ateísmo me Ensinou

por Cleiton Heredia


Durante o tempo em que assumi publicamente meu ateísmo agnóstico (de dezembro de 2009 até o dia de ontem) aprendi algumas coisas que quero compartilhar com você leitor deste blog:

1- Para a mentalidade religiosa o termo ateu assusta e ofende

Se você fala que é um agnóstico, os religiosos olham para a sua cara e fingem que não entenderam (se bem que alguns não entendem de verdade). Se você se declara um teísta agnóstico, o religioso acaba só ouvindo (ou entendo) a primeira palavra e desconsidera a segunda (alguns até chegam a pensar que você é um tipo de teísta mais inteligente que os demais). Agora, se você diz que é um ateu ou agnóstico ateu, é como se um alerta geral fosse dado na cabeça do religioso e a partir daquele momento você será visto como a própria encarnação do anti-Cristo na face da Terra. A palavra "ateu" ou "ateísmo" soa na mente religiosa mais assustadora e ofensiva do que as palavras pedófilo, estuprador, esquartejador, maníaco e psicopata todas juntas.

2- O preconceito dói

Como consequência desta visão deturpada que a palavra "ateu" provoca na cabeça do religioso, aquele que assim se declarou é automaticamente excluído do convívio de seus amigos e familiares crentes (até os crentes meia-boca não querem mais saber de você). Muitas vezes este afastamento não é declarado, mas sadicamente sutil e velado. Eles te encontram pelas ruas, academias e shopping centers e até te cumprimentam e conversam contigo como se nada tivesse acontecido, mas não se iluda, pois no fundo eles apenas estão querendo ver o momento que o raio cairá do céu e te fulminará por completo. Nos sites de relacionamento eles até podem ser condescendentes em te aceitar, mas será apenas para isolá-lo como um leproso em uma forma de ostracismo virtual. Alguns com o tempo te excluem da sua lista de amigos, porém a maioria não o faz por não querer perder aquele momento glorioso em que você postará a mensagem: "Estou morrendo de câncer", "minha família morreu" ou "estou na sarjeta desempregado, drogado e me prostituindo".

3- O ateísmo pode ser perigoso

Este é o aspecto que mais me preocupou enquanto um agnóstico ateu. Para as mentes mais jovens, ainda imaturas, influenciáveis e despreparadas, o ateísmo é entendido como um passaporte para o hedonismo e uma vida vazia e sem um sentido maior. Desta forma, aquele que se declara um ateu perante estes jovens, caso exerça algum tipo de influência sobre eles, pode acabar se transformando em uma influência das mais negativas e destruidoras. Veja bem, não estou dizendo que o ateísmo seja isto, mas sim que a forma deturpada como o ateísmo é visto por muitos jovens acaba sendo muito prejudicial à sua formação. Eu percebi que não adianta ser um ateu ético e moral, pois no fundo a mensagem que o ateísmo passa para os mais imaturos é de que se Deus não existe tudo é permitido e que a vida não faz sentido.

É por estes e outros motivos que a partir de ontem eu escolhi acreditar que existe algo superior a todos nós que pode dar um significado mais profundo para a vida, muito embora mantenha minha sinceridade intelectual em reconhecer que não tenho como provar isto. Mas tudo bem, porque o ateu também não tem como provar o contrário.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Chega de Ateísmo!

por Cleiton Heredia


Você sabe qual é a diferença entre o Teísmo Agnóstico e o Ateísmo Agnóstico?

A diferença é ridícula! Vejam:

Teísmo Agnóstico: é a filosofia que engloba tanto o teísmo quanto o agnosticismo. Um teísta agnóstico é alguém que assume não ter conhecimento da existência de Deus, mas ACREDITA que sim.

Ateísmo Agnóstico: é a filosofia que engloba tanto o ateísmo quanto o agnosticismo. Um ateísta agnóstico é alguém que assume não ter conhecimento da existência de Deus, e por isso NÃO ACREDITA que ele exista.

Percebeu a sutileza?

Como ambos precisam ter a sinceridade intelectual em assumir que NÃO possuem conhecimento (provas) da existência de Deus, tudo se resume essencialmente em acreditar ou não acreditar.

Espera aí! Acreditar ou não acreditar?!?

Sabe de uma coisa? A partir de hoje não mais me considero um ateu agnóstico, mas sim um teísta agnóstico.

No fim dá tudo no mesmo! Tudo que o agnóstico teísta ou ateísta possui é querer ou não acreditar. E como não vejo nenhuma precisão científica no verbo "acreditar", chega de ateísmo!

Sim, tudo não passa de uma simples questão de escolha pessoal, e eu cansei do ateísmo!

Esta é o tipo de mudança em que tudo muda e nada muda, se é que você me entende.

Dou as boas vindas em minha vida ao agnosticismo teísta ou teísmo agnosticista (dá no mesmo).

A única coisa que não muda é a minha busca sincera pela verdade, pois a verdade não teme a investigação.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Diálogo com um Cristão

por Cleiton Heredia


Estava hoje logo cedo checando alguns comentários de amigos em site de relacionamento quando me deparei com a seguinte frase escrita por um amigo pastor que conheci recentemente:

"Se você pudesse ter o paraíso, sem doenças e com todos os amigos que já teve na terra, e todas as comidas das quais gosta, e todas as atividades de lazer que aprecia, e todas as belezas naturais que contemplou, todos os prazeres físicos que já experimentou, e nenhum conflito humano ou desastre natural, se satisfaria com tudo isso, caso Cristo não estivesse nesse paraíso?"

Gostei da reflexão e registrei o seguinte comentário:

"Boa pergunta! Mas tenho outra pergunta bem parecida: "Se morrer por Cristo significasse morte eterna, quantos cristãos estariam dispostos a morrer eternamente, sem qualquer tipo de recompensa, por amor a Cristo?" Sacrifício e morte com garantia de vida eterna na sequência não me parece algo tão difícil de ser aceito pela egocêntrica lógica humana."

Na sequência um interessante diálogo se deu início com uma pessoa que irei denominar aqui como simplesmente "AMIGO CRISTÃO" (texto em vermelho):

AMIGO CRISTÃO: "Morrer por Cristo é viver eternamente!!!"

CH: "Ok Amigo Cristão, mas e se não fosse? Você morreria?"

AMIGO CRISTÃO: "Sim, pois vivo muito melhor com essa certeza!!!"

CH: "Posso estar errado, mas acho que ninguém pode responder com toda sinceridade a esta pergunta pelo simples fato de todos os cristãos terem plena certeza da vida eterna em Cristo. Dizer: 'Eu morreria eternamente por Cristo' sabendo que já tem garantida a vida eterna nunca será a mesma coisa que responder o mesmo sabendo que depois disto nenhuma esperança de recompensa existirá."

Alguns minutos depois, acrescentei:

"Eu entendo que aqueles que se apressam em dizer: 'Eu morreria por Cristo mesmo que fosse uma morte eterna!', deveriam se lembrar da história de Pedro: 'Senhor, mesmo que todos te neguem, eu não te negarei'. E mais: Lembram quando Jesus perguntou para Pedro se ele O amava mais do que os outros? A resposta imediata foi: 'Sim, Senhor,tu sabes que te amo!' Só na 3ª vez que foi confrontado por Jesus com a mesma pergunta que a ficha caiu para Pedro e ele então ficou triste. Eu acho que esta tristeza foi gerada por ele finalmente entender quão egoísta era o seu tipo de amor por Cristo."

AMIGO CRISTÃO: "Onde Pedro está?"

CH: "Amigo Cristão, os cristãos acreditam que Pedro está salvo e com a vida eterna garantida. Para uns ele virou santo e está no céu junto a Jesus e para outros ele está dormindo na sepultura aguardando a ressurreição para a vida terna. Isto para mim só reforça o argumento do egocentrismo do ser humano. Agora, já imaginou se o amor dele por Cristo, ao ponto de morrer em uma cruz de cabeça para baixo, não tivesse lhe garantido qualquer tipo de recompensa? Acho que muitos cristãos repensariam no tipo de amor que sentem por Cristo."

AMIGO CRISTÃO: "Não fomos criados para morrer e sim pra viver. Podemos imaginar, mas somente quando estivermos no céu é que entenderemos totalmente o que significou o sacrifício que Cristo fez por nós. Meu desejo é estar naquele glorioso dia. Viver ou morrer... para ver Cristo."

CH: "‎'Não fomos criados para morrer e sim para viver'. Amigo Cristão, eu entendo que este pensamento é uma boa justificativa (desculpa?) para todo o egocentrismo humano escondido por trás da aceitação de Cristo. Sem falar que é um argumento que pode colocar em suspeição ainda mais aquele que declara: 'Eu morreria eternamente por Cristo!'"

AMIGO CRISTÃO: "Cleiton, muito obrigado pela oportunidade de expressar minha certeza na existência em Jesus. Neste momento não seria capaz de morrer por você, mas quem sabe um dia!!!"

CH: "Muito bem Amigo Cristão! Prefiro assim, sabia? É muito bom quando as pessoas reconhecem francamente suas limitações humanas. Isto nos aproxima. Um abraço e obrigado pela oportunidade deste diálogo."

Que cada leitor tire as suas próprias conclusões.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Frases do filme "O Paraíso é Logo Aqui" que tocaram-me profundamente

por Cleiton Heredia


"O Paraíso é Logo Aqui" (Henry Poole is Here - 2009) é um filme maravilhoso com algumas belas mensagens e lições de vida que quero partilhar com você.

O filme conta a história de Henry Poole (Luke Wilson) que decide largar tudo para passar o resto da sua vida em uma casa no subúrbio vivendo de forma desleixada. Porém, uma misteriosa mancha na parede de sua casa foi notada por sua vizinha Esperanza (Adriana Barraza), uma católica fervorosa, que acredita ser ela um sinal de Deus pela semelhança com o rosto de Cristo. Não demorou muito e logo a notícia se espalhou, transformando sua parede em um local sagrado de visitação com o poder de realizar verdadeiros milagres. Henry, em seu ceticismo, fica tremendamente incomodado com aquela situação, mas somente quando sua atraente vizinha divorciada Dawn (Radha Mitchell) e sua filha Millie (Morgan Lily) passam a acreditar no poder misterioso da mancha na parede é que Henry vê seus planos mudarem completamente.

O filme é de uma simplicidade tão bela e de uma melancolia tão intensa que me cativou do início ao fim.

Bem, mas vamos às frases que mais me marcaram no filme, acompanhadas das reflexões que fiz ao ouvi-las:

1) "Às vezes você tem que ficar triste para saber que está vivo."

Uma frase irônica dentro do contexto do filme, mas que pode trazer algum tipo de verdade prática para o contexto em que vivemos. Nesta vida estamos continuamente aprendendo, e é inegável o fato de que o sofrimento sempre tem sido um professor muito mais eficiente e persuasivo do que a felicidade.

2) "Os que não têm fé às vezes precisam de uma ajudazinha."

Uma verdade inegável! Pelo menos no meu caso que perdi a fé já faz quase quatro anos. Não tenho a menor vergonha de reconhecer a necessidade desta "ajudazinha", e quem me dera se ela me chegasse da forma como chegou a Henry. Uma ajuda "sobre-humana" capaz de deitar por terra o racionalismo cético, e ao mesmo tempo uma ajuda simplesmente humana repleta daquele calor que somente o interesse sincero e abnegado daqueles que nos cercam pode produzir.

3) "Por que é tão necessário para você que eu creia? (...) Porque se você me convencer, as suas crenças se tornam mais reais."

Quando um ateu muda de opinião e se transforma em um teísta, tal como aconteceu com Antony Flew, os teístas de forma geral exultam de alegria, pois tal mudança serve de indicativo adicional de que estão no barco certo. Porém, o inverso pode acabar surtindo resultados semelhantes, só que no sentido oposto. Isto talvez explique toda a aversão que muitos religiosos possuem de mim. Bem lá no fundo esta aversão pode ser fruto do medo que eles possuem de terem as suas mentes invadidas pelos meus próprios questionamentos e dúvidas.

4) "Às vezes as coisas acontecem porque escolhemos que aconteçam. Eu escolhi acreditar!"

A fé é inegavelmente poderosa! Ela tem o poder de transformar a realidade daqueles que escolheram a ela se apegar. É claro que a palavra "ás vezes" no início da frase limita de certa forma a amplitude de resultados possíveis. Não é porque alguém escolheu acreditar que irá ganhar sozinho no próximo concurso da Mega-Sena que isto seguramente acontecerá. Por outro lado, se alguém escolhe acreditar no amor, na superação e na felicidade, é bem provável veja tudo isto acontecer em sua vida.

5) "Ela (a mancha na parede) ficou aqui o quanto foi preciso que ficasse, assim como tudo e todos."

Você e eu podemos escolher acreditar nisto ou não. Eu entendo que tal pensamento pode trazer conforto para quando determinadas coisas ou determinadas pessoas não mais estiverem presentes em nossa vida, bem como pode também nos ajudar a prosseguir adiante agradecidos pelas experiências que vivemos, ao invés de ficarmos nos lamentando pela vida não ser mais exatamente como antes. Falo disto por experiência própria, pois assim como a fé na minha vida um dia veio e se foi, quem disse que com a incredulidade não será exatamente o mesmo? Uma coisa eu sei, tudo só permanece conosco pelo tempo necessário e nem um segundo a mais ou a menos.

O filme é ótimo e eu recomendo.

Segue o trailer:

domingo, 17 de julho de 2011

Análise de um cético sobre um caso de possessão demoníaca

por Cleiton Heredia


Na postagem anterior abordei o tema da Falsa Memória, pois foi a primeira coisa que me veio à mente quando ouvi de um pastor o curioso e intrigante relato sobre possessão demoníaca, o qual passa agora a lhes contar:

Este pastor contou que estava em uma igreja se preparando para o culto, juntamente com outros dois colegas pastores, quando uma mulher possessa por demônios (diagnóstico feito pela ótica espiritual deles, é óbvio) apareceu na entrada da igreja e começou gatinhar para dentro do recinto.

Até aí, a minha mente racional não tinha visto nada de sobrenatural, pois aquilo que os religiosos muitas vezes interpretam como uma possessão demoníaca, pode ser explicado pela ciência como auto-sugestionamento, indução hipnótica ou mesmo algum tipo de problema mental.

O relato prosseguiu de forma a começar a me interessar. O pastor disse que presenciou juntamente com seus colegas a mulher gatinhando para dentro da igreja, sendo que à medida que avançava, as cadeiras à frente dela eram movidas de forma sobrenatural sem ela precisar ter que encostar nelas ou empurrá-las.

Arrepiante, não é mesmo? Mas os eventos sobrenaturais não param aí.

Ele ainda contou que no momento em que o demônio foi expulso corpo daquela mulher mediante a oração dos pastores, um grande estrondo parecido com o som de uma explosão foi ouvido na rua do lado de fora da igreja. Mais tarde eles constaram que havia sido o transformador de energia do poste localizado logo à frente que havia estourado.

Bem, a esta altura do relato, eu estava tão intrigado com as cadeiras se movendo "sozinhas" que pensei rapidamente comigo mesmo sobre o tal estouro: "Mera coincidência!". Como podem ver, minha mente cética não me dá sossego.

Como se não bastasse as cadeiras a me preocupar, o pastor relata que, muito embora o estouro do transformador tenha deixado todas as casas da rua sem energia elétrica, a igreja continuava misteriosamente com luz. Ele ainda disse que a reunião naquela noite aconteceu normalmente e todos os que ali chegavam perguntavam como era possível eles estarem com luz quando todos em volta estavam sem.

Agora não era só o testemunho de três pastores, mas a constatação de um provável evento sobrenatural testemunhado por centenas de pessoas: as que moravam na rua, as que compareceram na reunião e a do funcionário da Eletropaulo que compareceu no local no dia seguinte para fazer os devidos reparos e que, segundo uma vizinha da igreja, havia comentado que não acreditava que a igreja pudesse ter tido energia após das avarias ocorridas.

Confesso que tudo isto está fazendo com que eu reflita muito sobre algumas coisas. Entre elas, como eu gostaria de ter estado ali naquele dia para constatar por mim mesmo toda esta sucessão de eventos. Acho lamentável ninguém ter filmado as cadeiras movendo-se sozinhas ou não terem chamado um técnico para elaborar um laudo oficial constatando que a energia elétrica que alimentou a igreja naquela noite era de origem sobrenatural.

Sim, porque só assim para acreditar em algo tão incrível. Mas como ninguém teve esta preocupação científica, eu sou obrigado a ponderar racionalmente considerando outras possibilidades antes de aceitar os eventos como verdadeiramente sobrenaturais (princípio da Navalha de Occam).

Sendo assim, para o relato das cadeiras movendo-se sozinhas existe a possibilidade de estarmos diante daquilo que chamamos de "falsa memória", para o estouro do transformador a possibilidade de ter sido mera coincidência, e para a luz na igreja fica a possibilidade das avarias na rede não terem acontecido da forma relatada, bem como o relato da vizinha sobre o comentário do funcionário da Eletropaulo ser apenas um testemunho sensacionalista de uma mulher que apenas queria chamar a atenção do pastor.

Só me resta concluir apelando para qualquer um que testemunhe um provável evento sobrenatural, que tenha o cuidado de documentá-lo de forma científica para que céticos como eu possam finalmente ter que "dar as mãos à palmatória", reconhecendo de forma irrefutável a existência do sobrenatural.

Enquanto isto continuarei esperando por melhores evidências para finalmente poder acreditar.

sábado, 16 de julho de 2011

Falsa Memória

por Cleiton Heredia


Você já ouviu falar em falsa memória?

A Falsa memória é a sensação de ter ouvido, visto ou experimentado algo que na verdade nunca aconteceu conosco. Ela se manifesta porque, como a mente não recorda de todos os detalhes de um determinado acontecimento, as lacunas de memórias que se formam são muitas vezes preenchidas com base naquilo que imaginamos que deveria ter sido.

Ela difere da memória enganosa, também conhecida como memória errônea, que é a recordação que fazemos de experiências reais, porém feita de forma incorreta ou imprecisa.

A falsa memória é mais comum que muitos costumam imaginar e em minha limitada experiência como ilusionista tenho visto em diversos momentos ela se manifestar. Os meus amigos mágicos que estiverem lendo esta postagem saberão muito bem a que estou me referindo. Muitas vezes as pessoas vêm até nós para comentar um determinado efeito mágico que realizamos e, ao tentarem relembrar o que viram, é frequente ouvirmos estas pessoas relatarem coisas que não dissemos ou fizemos, incrementando a ilusão e muitas vezes a transformando em um verdadeiro milagre. É claro que isto acaba servindo de um excelente aliado para os mágicos e os grandes ilusionistas sabem muito bem como estruturar os seus números de forma a explorarem esta característica falha da mente humana.

Apenas para ilustrar o que estou dizendo, certa vez eu assistia um amigo fazer mágicas e em um determinado momento ele pediu a minha ajuda na realização de um número. Ele me deu um baralho e pediu para que eu o embaralhasse da maneira como achasse melhor. Na sequência ele pediu para que eu pensasse em uma carta qualquer e dissesse qualquer número entre 1 e 52. Eu mesmo contei as cartas do baralho e exatamente no número que eu havia dito, lá estava a carta que eu havia pensado.

- "Milagre!" - pensei eu - "Como pode? Este cara só pode ter feito pacto com o capeta!" (na verdade eu não pensei exatamente isto, mas infelizmente é algo que muitos pensam quando se deparam com o impossível acontecendo bem diante de seus olhos).

Dias depois eu encontrei este mesmo amigo e lhe disse o quanto a sua mágica havia me impressionado, relatando-a novamente para ele exatamente como o fiz logo acima. Ele olhou pra mim e me disse sorrindo: "Mas não foi exatamente isto o que aconteceu!" Ele repetiu a mágica para mim e aí, bem mais atento e já conhecedor daquilo que estava para ocorrer, pude perceber coisas que não havia percebido antes. Mas o que é pior, eu descobri que em minha mente acabei criando uma sequência de eventos bem diferente da que foi realmente executada. Foi a minha falsa memória em ação preenchendo as lacunas geradas pelo esquecimento com idéias que representavam a forma como eu achava que tudo deveria ter sido (é por isto que os ilusionistas evitam repetir suas mágicas para um mesmo público).

Mas por que estou escrevendo sobre isto?

Na próxima postagem eu explico, mas já adianto que o assunto é de arrepiar os cabelos.

Aguarde!

sexta-feira, 15 de julho de 2011

O outro lado da Oração

por Cleiton Heredia


A partir do momento que passei a observar o cristianismo de fora para dentro, comecei a notar algumas particularidades que antes não conseguia distinguir.

Uma delas é como a mentalidade religiosa facilmente adapta e ajusta as interpretações dos eventos diários, de forma que estes se encaixem à sua visão de mundo, geralmente vista pela ótica da fé que abraça.

Um exemplo clássico disto é a explicação dos religiosos para a forma como Deus responde às súplicas (pedidos) que fazemos nas orações. Eles ensinam que Deus sempre ouve as orações e sempre as responde de alguma forma. Às vezes Ele responde com um "SIM", concedendo o que foi pedido; às vezes Ele responde com um "NÃO", e outras vezes Ele responde com um "ESPERE".

Desta forma não existe a menor possibilidade de dúvida quanto à direção divina na vida daquele que ora, muito menos de equívoco na resposta divina, pois Deus não erra.

Imagine que um cristão ore por um familiar que está muito doente. Só existem três possibilidades reais a serem racionalmente consideradas: O doente pode se restabelecer, pode morrer ou pode continuar doente por tempo indeterminado. Se o religioso orou e ele foi curado, é claro que sua mente irá automaticamente atribuir aquela cura como um milagre de Deus. Agora se o ente querido morre ou continua doente, a mente religiosa não titubeia em considerar a morte como a vontade soberana de Deus ou a manutenção do estado de enfermidade como algum tipo de provação da fé, tanto daquele que orou como do próprio doente.

Em todos os prováveis desfechos de um determinado evento, a mente religiosa sempre conseguirá encontrar algum tipo de interpretação dos fatos que se encaixem perfeitamente aos seus conceitos de fé onde Deus sempre estará de alguma forma presente.

Veja bem, eu não estou criticando a forma como o religioso pensa. É claro que é muito mais confortante acreditar que existe um propósito divino em tudo o que acontece, do que simplesmente entender que a vida nada mais é do que uma sucessão de eventos aleatórios.

No entanto, só acho meio complicado tentar convencer alguém que ainda não encontrou razões justificáveis para acreditar no sobrenatural (Deus), que ele existe em função das respostas às orações, quando estas respostas estão dentro de um leque de possibilidades que podem ser entendidas de forma racional sem precisar apelar para o sobrenatural.

Se você não concorda com o que escrevi acima, eu vou tentar ser mais claro e direto:

Ver uma pessoa desenganada pelos médicos em fase terminal de uma determinada doença ser curada, não é suficiente para levar-me a considerar o sobrenatural como algo real, pois podem existir fatores naturais envolvidos que ainda são desconhecidos pela ciência atual.

Ver um amputado ter restabelecido seus membros naturais perdidos sem qualquer tipo de re-implante, implante ou ação de células tronco, isto sim é algo que me levaria a passar a considerar o sobrenatural como algo real e palpável.

Não me levem a mal. Eu quero acreditar! Só não quero abandonar a razão e ter que violar minha consciência para fazê-lo.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Quando o perdão se confunde com a impunidade

por Cleiton Heredia


Antes de prosseguir no relato das minhas impressões sobre a pregação que ouvi nesta terça-feira passada (12/07), eu gostaria de esclarecer algumas coisas, pois acabo de receber um telefonema tecendo severas críticas sobre a minha última postagem. A pessoa, cuja identidade irei preservar, falou que eu estou errado em criticar a mensagem do pastor, pois desta forma estou diminuindo a sua eficácia, bem como sendo um instrumento do Diabo ao desviar as mentes mais jovens da fé em Deus.

Em primeiro lugar, quero esclarecer que não tenho nada pessoal contra o pastor Rafael Rossi (nunca havia ouvido falar dele), nem muito menos contra a Comunidade Adventista do Morumbi (tenho alguns amigos lá dentro) ou mesmo contra a Igreja Adventista do Sétimo Dia (mantenho até hoje várias amizades neste segmento religioso). Quero que entendam que os meus comentários neste blog são meras reflexões pessoais dos fatos que me cercam, vistos e analisados sob minha "atual" perspectiva filosófica.

Não tenho a menor intenção de fazer proselitismo das minhas ideias (odeio o proselitismo religioso), nem muito menos pretendo enfraquecer ou aniquilar a fé em Deus de quem quer que seja. Aliás, caso você que acompanha este blog seja uma pessoa facilmente influenciável e titubeante nos caminhos da fé, por favor, pare agora de ler este blog e vai estudar a sua Bíblia que você ganha mais.

Este blog tem como objetivo fomentar algumas questões que considero relevantes na busca despreconceituosa da verdade, esteja ela onde estiver, e principalmente sem medo daquilo que vai encontrar pela frente.

Bem, dito isto, permita-me concluir meus comentários iniciados na postagem anterior.

Após uma brilhante (do ponto de vista religioso) e muito didática explanação do capítulo 5 de Apocalipse, o pastor resolveu concluir sua mensagem com uma ilustração sobre o perdão de Deus extraído de sua própria experiência pessoal.

Ele contou que estava viajando por uma rodovia quando seu telefone celular tocou. Como se tratava de um amigo que ele não falava há muito tempo, resolveu continuar conversando ao telefone e dirigindo ao mesmo tempo. Tudo transcorria na mais perfeita calma quando ele é surpreendido pelo carro à sua frente que havia quase parado em razão de uma barreira policial que ele, por estar distraído conversando no celular, não havia notado. Ele contou que apenas teve tempo de frear bruscamente e puxar o carro para o acostamento. Tal manobra brusca resultou em um quase atropelamento de um policial rodoviário federal que estava no acostamento naquele momento, e que precisou se jogar no chão para não ser atingido.

Como resultado de sua imprudência ao volante, o policial disse que iria lhe aplicar 3 multas de classificação gravíssima, ou seja, 7 pontos cada uma resultando em 21 pontos com a consequente perca da sua carteira de motorista. O pastor contou que na verdade deveriam ter sido 4 multas, mas o policial não percebeu que tudo havia acontecido porque ele falava ao celular.

O pastor enfatizou que pediu perdão ao policial, mas estava ciente de que não escaparia de ser devidamente autuado. Porém, sem qualquer tipo de explicação, o policial simplesmente mudou de ideia e decidiu perdoá-lo não aplicando mais as multas. O policial simplesmente devolveu sua carteira de motorista e depois de um "sermão" sobre prudência ao volante, o mandou embora.

Eu ouvi aquilo e imediatamente pensei comigo: "Maldito país da impunidade! É por isso que as coisas aqui estão do jeito que estão". É claro que qualquer um no lugar daquele pastor ficaria muito feliz pela generosidade do policial, mas aquele policial na verdade foi negligente em seu dever. Menos mal que foi negligente com um pastor consciencioso que como certeza não usará aquela experiência de impunidade como motivo para praticar outras infrações. Mas confesso que achei aquela história bem inadequada para se contar em uma igreja na frente de crianças e jovens, e principalmente usá-la para ilustrar o perdão de Deus.

De acordo com a soteriologia bíblica, Deus não se torna um negligente em relação à sua lei ao perdoar o pecador. Ele paga o preço da transgressão no lugar do transgressor para então poder perdoá-lo. Esta história do pastor só faria sentido no contexto salvífico se o policial aplicasse devidamente as multas e ele mesmo as pagasse com seus próprios recursos financeiros, inclusive entregando a sua própria carteira de motorista ao transgressor, ficando ele mesmo o resto da vida sem poder dirigir, para que o transgressor perdoado pudesse voltar a ser um motorista sem qualquer tipo de restrição (como se isto fosse na prática realmente possível).

Bem, espero que você tenha entendido que meus comentários não são provenientes de qualquer tipo de aversão à religião ou aos religiosos, mas simplesmente eu os faço, e continuarei fazendo, cada vez que perceber que os princípios da lógica, da razão e do bom senso estiverem sendo de alguma forma violados.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Aceite a Jesus hoje porque amanhã você pode estar morto!

por Cleiton Heredia


Ontem à noite, depois de um bom tempo longe dos centros de difusão da fé, tomei a decisão de assistir a um culto. Havia recebido um convite e, após um pouco de insistência de minha esposa, resolvi conferir. Porém o fiz no conforto do meu lar, acessando o site da Comunidade Adventista do Morumbi (pertencente à IASD) que fica bem perto de onde eu moro.

A qualidade de imagem e som estava muito boa e então pacientemente aguardei terminar toda aquela parte inicial de boas vindas e cantoria para ouvir a mensagem que, segundo as informações que tinha, seria proferida por um pregador muito bom. Minha esposa havia me dito que ele poderia convencer qualquer um com os argumentos que usava. Nem preciso dizer que a minha expectativa era grande.

O nome do jovem pregador é Rafael Rossi e ele começou sua mensagem de uma forma que sinceramente me deu vontade de desligar o micro e ir assistir TV. Ele contou a história de um senhor com o qual havia estudado a Bíblia e que era uma pessoa muito inteligente e perspicaz. Em pouco tempo eles fizeram grandes avanços chegando num ponto em que o pastor sentiu que aquele senhor já tinha conhecimento suficiente para tomar uma decisão. O pastor fez o apelo, mas o senhor achou que ainda era cedo demais para uma decisão e disse que gostaria de esperar um pouco mais. Alguns dias depois este pastor recebeu um telefonema convidando-o para fazer o funeral deste senhor que acabara de falecer num trágico acidente de trânsito.

Sempre repudiei estas mensagens de terrorismo psicológico do tipo, aceite a Jesus hoje porque amanhã pode ser tarde demais. Cada vez que ouço isto eu fico pensando no tipo de Deus incompetente que não consegue preservar com vida um futuro herdeiro de seu reino até o momento em que este esteja preparado para aceitá-lo. O pastor não disse que o senhor morreu perdido (se o fizesse teria desligado o micro), mas na mente dos ouvintes sempre fica a mensagem subliminar de temor e insegurança em face de um futuro desconhecido com a possível perda da vida eterna devido à procrastinação.

Por outro lado, vejo a total contradição que existe neste tipo de história quando comparada a aquela outra da esposa que orou 50 anos pela conversão do marido incrédulo até o dia em que ele finalmente aceitou a Jesus como seu salvador. Não consigo entender como o mesmo Deus consegue contornar e ajustar as circunstâncias da vida de forma a esperar 50 anos pela decisão de um ser humano, enquanto no caso do outro, não conseguiu conceder mais que dois dias de período de graça.

Se Deus é todo poderoso e soberano ao ponto de nenhum pardal cair do céu sem que Ele saiba ou permita, e se o Diabo já foi derrotado na cruz, então como entender este disparate?

Bem, continuei ouvindo a mensagem e na sequência o pastor fez uma explanação teológica de Apocalipse 5, que foi até que interessante, e me fez esquecer momentaneamente aquele infeliz início.

Porém, o pior estava ainda por vir.

Continuo na próxima postagem.

sábado, 9 de julho de 2011

Deus está com saudades?

por Cleiton Heredia


Quero compartilhar com os leitores deste blog algo que me ocorreu quando estive de férias em Natal (RN).

Estava eu, juntamente com a minha esposa, almoçando no restaurante do hotel, quando aproximou-se de nossa mesa o nosso atencioso guia e agente de viagens, Humberto Collaço. Ele nos fez algumas perguntas de praxe para verificar se estávamos sendo bem atendidos, e durante alguns poucos minutos conversamos sobre os pontos altos dos passeios que fizemos. De repente, ele virou para mim e olhando nos meus olhos disse: "A pessoa com que sonhei naquela noite foi você!"

Bem, permitam-me explicar isto um pouco melhor. Todo o início de noite era costume nos reunirmos no auditório do hotel para ouvir algumas orientações sobre detalhes das atividades que faríamos no dia seguinte. Durante estes momentos havia sempre uma rápida mensagem de cunho reflexivo e devocional, pois a maioria dos que ali estavam eram religiosos. A mensagem da noite de quarta-feira foi apresentada pelo Humberto, que após falar sobre algumas questões importantes da vida, relatou-nos um sonho que teve na noite anterior.

Ele contou que havia sonhado com uma pessoa que encontrava-se ali naquele momento. No sonho, ele viu claramente esta pessoa e em seguida ouviu Deus lhe falar: "Diga para ele que eu sinto a sua falta! Diga para ele que eu sinto saudades". Ele contou-nos que acordou no meio da noite surpreso por ter tido aquele sonho, mas que voltou a dormir logo em seguida. Porém, o sonho se repetiu exatamente da mesma maneira que da primeira vez fazendo com que ele novamente acordasse intrigado com aquilo. Mais uma vez ele tentou voltar a dormir e mais uma vez o mesmo sonho.

Após o relato do seu sonho para o grupo que ali estava, ele não revelou a pessoa com que havia sonhado, mas eu, como que intuitivamente, virei-me para a minha esposa e trocamos um olhar que trazia oculto a seguinte pergunta: "Será?"

Fiquei por algum tempo refletindo naquilo e a primeira pergunta que me veio à mente foi: "Será que este rapaz me conhece ou conhece a minha história?" Verbalizei esta pergunta à minha esposa que apenas se limitou a dizer que há alguns anos atrás havíamos frequentado uma classe de estudos bíblicos no UNASP-SP onde ele chegou a participar algumas vezes.

Como alguém que desconfia de tudo que tenha um caráter sobrenatural, minha mente começou imediatamente a trabalhar na tentativa de encontrar uma explicação racional para o caso daquela pessoa do sonho ser eu. Pareceu-me lógico imaginar que aquele rapaz deve ter se lembrado de mim nos tempos em que frequentávamos a mesma classe de estudos e, de alguma forma, deve ter ouvido alguém falar do meu afastamento do grupo. Quem sabe até mesmo ter ouvido falar de minha atual postura agnóstica ateísta. Sendo assim, achei mais coerente assumir o pensamento de que aquele sonho não passou de uma simples reação do subconsciente daquele jovem ao me ver ali novamente.

Esqueci o episódio, mesmo porque não havia uma certeza de quem se tratava, até o momento em que o Humberto se aproximou de nossa mesa e me disse de forma bem direta: "A pessoa com que sonhei naquela noite foi você!"

Perguntei a ele se ele se lembrava de mim na classe do UNASP-SP, e ele me disse que sim, inclusive destacando que eu marquei de alguma forma a sua vida em alguns momentos em que dirigi a classe ou dela participava com alguns comentários. Tentei argumentar com ele que seu sonho poderia ser apenas uma reação do seu subconsciente ao me ver novamente após saber que não sou mais um religioso. Ele insistiu comigo que não tinha nada haver e que nem sabia de fato que eu não fazia mais parte daquele grupo.

Bem, o que pensar disto tudo? Confesso que minha mente racional insiste em ponderar de forma estritamente lógica e reluta em considerar o sobrenatural. Mesmo porque o suposto elemento sobrenatural nesta história (Deus me enviando uma mensagem pessoal) pode ser facilmente refutado com a análise de alguns simples detalhes nela contidos.

De qualquer forma, apreciei muito a sinceridade e interesse do meu mais novo amigo, Humberto Collaço, pois enquanto muitos religiosos (inclusive familiares), se afastam e desejam que a justiça divina recaia sobre minha cabeça, ele teve a humanidade de simplesmente se aproximar demonstrando afeto e preocupação.

Obrigado, Humberto! Se o seu sonho é resultado de uma intervenção sobrenatural ou não (o tempo dirá), lhe agradeço por se aproximar enquanto muitos se afastam.

P.S.: Humberto Collaço é o sócio proprietário da Atitude Turismo e a menção de seu nome na história acima foi devidamente autorizada por ele.