terça-feira, 29 de março de 2011

A Mágica não é "coisa" do Diabo

por Cleiton Heredia


Arthur C. Clarke (1917-2008) foi um escritor e inventor britânico, autor de obras de divulgação científica e de ficção científica como, por exemplo, The Sentinel que deu origem a um dos mais clássicos filmes do gênero sci-fi: "2001: Uma Odisséia no Espaço".

Ele formulou três interessantes leis que tratam da relação entre o homem e a tecnologia:

1ª) Quando um cientista distinto e experiente diz que algo é possível, quase de certeza que tem razão. Quando ele diz que algo é impossível, ele está muito provavelmente errado.

2ª) O único caminho para desvendar os limites do possível é aventurar-se além dele, através do impossível.

3ª) Qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível de magia.

Chamo a sua atenção para a 3ª lei de Clarke. Esta lei foi elaborada em uma versão alternativa pelo físico e escritor de ficção científica Gregory Benford da seguinte forma:

"Qualquer tecnologia distinguível da magia é insuficientemente avançada."

Tanto Clarke como Benford estavam dizendo a mesma coisa: Não existe mágica no sentido de algo que extrapole as leis naturais.

Segundo o entendimento de Clarke, que foi muito feliz na proposição desta 3ª lei, um feito é considerado como algo mágico ou sobrenatural somente pelas pessoas que desconhecem ou não possuem acesso à tecnologia que possibilitou aquele feito. Muitas invenções científicas do passado foram inicialmente consideradas como feitos mágicos inexplicáveis. Como exemplos clássicos disto podemos citar a invenção da fotografia, do rádio e da televisão.

A versão de Benford não é menos elucidativa no sentido de desmistificar a magia como algo sobrenatural, pois diz que se em algum momento um feito for considerado como mágico ou sobrenatural, na verdade é apenas o conhecimento tecnológico das pessoas que assim o entendem que não está suficientemente avançado.

Portanto, meus amigos evangélicos, eu lhes peço que parem de classificar a milenar arte mágica como "coisa" do diabo. Em especial refiro-me ao segmento da mágica chamado de "mentalismo", que é visto com grande preconceito por aqueles que ainda acreditam que suas técnicas envolvem algum tipo de poder místico ou espiritual. Entendam que vocês apenas desconhecem os princípios lógicos e a tecnologia por trás destes efeitos. Só isto!

É claro que sempre existirão alguns "espertalhões" que tentarão tirar vantagem da ignorância das pessoas. No passado, por exemplo, os sacerdotes egípcios eram vistos como elos com as supostas divindades justamente por realizarem feitos considerados mágicos ou sobrenaturais por aqueles que nada sabiam das técnicas puramente racionais e naturais utilizadas por eles.

Atualmente ainda existem algumas pessoas que se arrogam detentores de poderes místicos e sobrenaturais, porém os mesmos nunca conseguiram passar pelo crivo da ciência. Basta colocá-los em um ambiente controlado e sob os olhares atentos de pessoas que conhecem tantos os princípios como a tecnologia utilizada no ilusionismo, para que seus supostos dons ou poderes simplesmente desapareçam ou sejam desmascarados como meras fraudes.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Mito sobre a Capacidade Cerebral

por Cleiton Heredia


Você já ouviu aquele argumento de que nós seres humanos usamos apenas 5% da capacidade do nosso cérebro? Alguns argumentam em termos de 1% e outros chegam a 10%. Dizem que Albert Einstein teria dito que "nós só utilizamos 10% do nosso potencial mental".

Bem, cientificamente falando, isto não passa de um mito que se transformou em um dito popular repetido sem qualquer tipo de embasamento.

Alguns acreditam que o mito dos 10% pode ter surgido por volta de 1920 a 1930, mas o Dr. James W. Kalat, autor do livro Biological Psychology, comenta que os neurocientistas na década de 30 tinham um conhecimento muito limitado sobre as funções dos neurônios e que foi justamente esta falta de informação que originou o mito dos 10%.

O fato é que este mito serviu muito bem aos interesses de determinadas pessoas que queriam "justificar" suas supostas e alegadas capacidades psíquicas ou paranormais, tais como a telepatia, a clarividência, a telecinese ou a precognição.

Uri Gueller se tornou mundialmente famoso alegando possuir poderes paranormais ou psíquicos com os quais conseguia entortar talheres de cozinha e parar os ponteiros de um relógio. Ele apresentava-se em programas de televisão explicando que tal capacidade advinha das potencialidades inerentes ao cérebro, disponíveis a qualquer um que se empenhasse em desenvolver-las.

Apesar de todos os seus feitos não passarem de meros truques de ilusionismo, que qualquer mágico mediano pode hoje realizar tranquilamente, o mito da sub-utilização do cérebro ajudou a promovê-lo como uma pessoa superdotada ou com superpoderes oriundos da utilização do cérebro de uma maneira mais plena.

Mas, de acordo com a neurologista Suzana Herculano-Houzel, não há qualquer razão científica para se supor que apenas 10% do nosso cérebro, ou 10% dos neurônios, ou 10% da capacidade cerebral seja utilizada. Ela afirma em seu site: "Todas as evidências sugerem, na verdade, o contrário: utilizamos nosso cérebro por inteiro" (http://www.cerebronosso.bio.br/).

O que os especialistas reconhecem é que não usamos todo o cérebro ao mesmo tempo, mas que o utilizamos em sua totalidade para diversas e distintas funções.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Uma Assustadora Teoria de Conspiração - Projeto HAARP

por Cleiton Heredia


Comecei a pesquisar um assunto deveras intrigante com o pensamento de que, ao avançar em minhas pesquisas, eu rapidamente encontraria motivos bem racionais para classificá-lo como mais uma absurda Teoria de Conspiração.

Porém, não está sendo bem assim. Tudo que tenho lido e visto tem me deixado cada vez mais preocupado.

Para não cansá-lo com uma leitura muito extensiva e técnica, eu lhe convido a ler aquilo que está na wikipédia sobre o HAARP (High Frequency Active Auroral Research Program - Programa de Investigação de Aurora Ativa de Alta Frequência), e depois, caso queira, acessar também o site do Projeto HAARP.

Agora assista a este vídeo do History Channel para entender o conceito científico que está levando muitas pessoas a se oporem ao Projeto HAARP. O vídeo não falará especificamente do HAARP, mas sim de uma invenção do grande cientista Tesla, capaz de gerar frequências potencialmente destruidoras. Como o HAARP é um dispositivo com a capacidade de gerar ondas de alta frequência, como se fosse um microondas gigante, então a comparação do gerador de frequência, supostamente inventado por Tesla, e o Projeto HAARP pode ser propícia.



Agora, eu recomendo o próximo vídeo, feito bem no estilo de Teoria da Conspiração, pois ele é bem apelativo, mas pode também ser bem esclarecedor:



Se você tiver tempo, existem vários outros documentários na rede que falam sobre o Projeto HAARP. A maioria dos que assisti é feito no formato de denúncia e alerta para algo que pode ser potencialmente perigoso para a humanidade, principalmente se cair em mãos de nações mal intencionadas.

Vou colocar apenas mais um vídeo, pois o considerei muito atual devido ao recente terremoto e tsunami que massacrou o Japão:



Seria esta uma Teoria de Conspiração plausível?

Na verdade, todas as teorias de Conspiração possuem o seu grau de plausibilidade, porém não resistem a uma investigação feita com de forma séria e responsável.

Confesso que não encontrei até agora elementos suficientes para dizer que tudo isto não passa de mais uma teoria maluca. Apesar de esta história possuir todas as características de ser mais uma especulativa Teoria de Conspiração, não encontrei ainda a suposta verdade que a refutaria.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Como o Ateu lida com o Sofrimento?

por Cleiton Heredia


Acredito que a maioria já deve ter ouvido aquela jocosa frase de que dentro de um avião em pane ou nas trincheiras de uma guerra não existem ateus.

Parece-me um tanto quanto óbvio que o criador deste tipo de pensamento foi um religioso. Para ele o conceito de uma divindade que lhe oferece respostas, proteção e esperança é algo tão profundamente enraizado em sua mente que ele não consegue imaginar como alguém conseguiria sobreviver sem isto.

Porém, tenho para mim, por experiência própria, que quer seja para um religioso, quer seja para um ateu, o sofrimento sempre é algo muito difícil de se lidar. Tanto a crença em uma divindade como a ausência dela traz consigo alguns elementos que podem, ora ajudar, ora complicar a situação daquele que sofre.

Imaginemos, por exemplo, uma situação comum de alguém que sofre em função de alguma tragédia pessoal. Caso seja um religioso terá o conforto e esperança que a sua crença lhe proporciona, mas, por outro lado, poderá também ser afligido por alguns dilemas muito complicados, como o gerado pela situação real que passo a descrever:

Um crente acordou atrasado para o trabalho e saiu correndo de casa na tentativa de não chegar atrasado. Ao chegar ao ponto de ônibus, ele vê que se aproxima naquele exato momento justamente o "seu" ônibus. Ele dá graças ao seu deus por isto que ele considera uma benção divina, pois foi justamente aquele ônibus que permitiu que ele chegasse a tempo no serviço. Mais tarde ele recebe um telefonema comunicando que sua casa foi invadida por bandidos que mataram a sua esposa e estupraram a sua filhinha de apenas 4 anos de idade. Fico imaginando o profundo dilema que pode passar pela cabeça deste pobre homem ao ele verificar que o mesmo deus que controlou o trânsito naquela manhã de forma a permitir que o seu ônibus chegasse no exato momento que ele precisava, não pode (ou não quis?) controlar outras situações muito mais importantes que permitiram que aqueles bandidos pudessem chegar até a sua residência e cometessem tal monstruosidade. Porque o deus que manipulou o trânsito naquela manhã, não o fez também para impedir que aqueles bandidos chegassem até sua casa? Ou ainda mais simples, porque deus simplesmente não permitiu que eles fossem atropelados no caminho até sua residência? Com certeza, um deus todo poderoso teria inúmeras maneiras de evitar aquela tragédia.

É claro que tais dilemas metafísicos não torturariam um ateu, pois em seu conceito de mundo não existem seres sobrenaturais com soluções mágicas ou miraculosas. O religioso pode até querer se convencer de que a dor de uma pessoa religiosa que tenha passado pela situação acima descrita, seja menor do que a dor de um ateu que passe pela mesma situação. Mas será que a dor é realmente menor? Sinceramente, eu não apostaria nem sequer um centavo na possibilidade desta dor ser menor em um caso do que em outro. Para mim a dor é igual e tão grande quanto.

Eu até entendo que o religioso pode apegar-se à sua divindade para conseguir superar o sofrimento que lhe aflige, mas em termos práticos e palpáveis, precisamos entender que grande parte deste conforto vem através do apoio de familiares e amigos que se solidarizam com o sofredor. E isto não é um privilégio dos religiosos.

Se continuarmos nossa análise pela ótica da praticidade veremos que religiosos não são muito diferentes dos ateus quando lidam, por exemplo, com uma doença. Ambos recorrem aos hospitais, aos médicos e à tecnologia medicinal. Não conheço um único religioso que, ao adoecer, apenas ore ao seu deus pedindo que o cure. Todos oram, mas todos também recorrem ao ser humano na busca por soluções para o seu sofrimento. A diferença está em que o religioso entende que o ser humano será o instrumento na mão de sua divindade para curá-lo, e o ateu apenas entende que ali está uma pessoa que se preparou para ajudá-lo. O religioso exerce sua fé e o ateu exerce o seu pensamento positivo.

Nenhum dos dois tem a garantia da cura. Caso o religioso não seja curado, ele olhará com resignação para a sua divindade, procurando entender e aceitar, mediante a fé, que não foi da vontade do seu deus. Caso o ateu não seja curado, ele também olhará com resignação para todos os recursos utilizados, procurando entender e aceitar, mediante a razão, que apenas não foi possível.

Quem lida melhor com o sofrimento, religiosos ou ateus? Acredito que são os religiosos, mas isto não significa que os ateus não sabem lidar com o sofrimento. Cada um a sua maneira, todos, de uma forma ou outra, acabam aprendendo. Deste aprendizado depende a nossa sobrevivência.

terça-feira, 15 de março de 2011

Qual é a melhor explicação para o sofrimento?

por Cleiton Heredia


Conforme prometido, hoje pretendo abordar o mesmo assunto da postagem anterior, porém sob uma ótica um pouco diferente e que reflete minhas atuais convicções.

O raciocínio que eu usei no artigo que escrevi em 2004 pode muito bem satisfazer uma mente religiosa ansiosa por algumas explicações que conciliem a realidade, vivida e presenciada neste mundo, com o conceito de um Deus pessoal justo e amoroso que dirige o destino de todo o universo, bem como de cada ser vivo em particular (a Bíblia cristã ensina que nenhum pássaro ou fio de cabelo humano cai sem que Deus saiba e consinta). Porém, são explicações que satisfazem apenas uma mente doutrinada segundo os ensinamentos da Bíblia cristã.

Minha argumentação não serviria para pessoas que enxergam o universo por uma ótica diferente dos conceitos bíblico-cristãos. Por exemplo, no Japão, as recentes tragédias são vistas e entendidas pela grande maioria de japoneses segundo a filosofia dos dois principais segmentos religiosos daquele país: o xintoísmo e o budismo. Enquanto o pecado de Adão e as peripécias do Diabo explicam muita coisa para os cristãos, estes não fazem o menor sentido para quem não acredita que existiu Adão ou que exista uma criatura chamada Diabo.

Tendo em vista que cada religião ou filosofia tem a sua própria explicação para uma mesma pergunta: "Porque coisas ruins acontecem para pessoas boas?" É natural que a mente racional do ser humano, ao se deparar com tantas respostas diferentes e contraditórias entre si, faça outra pergunta na sequência: "Qual destas respostas reflete a verdade?"

Mas esta segunda pergunta é normalmente feita apenas por pessoas que se encontram em segurança desfrutando de saúde e um relativo conforto material. Quem está vivendo no meio do turbilhão do sofrimento geralmente não está muito interessado em avaliar o critério "verdade". Sua prioridade é simplesmente obter uma resposta que lhe proporcione explicação para o passado, conforto para o presente e esperança para o futuro.

As religiões, independentemente quais sejam, têm como objetivo proporcionar justamente isto para o ser humano:

- Uma explicação para o passado;
- Um conforto para o presente;
- E uma esperança para o futuro.

Você, meu amigo cristão, tenho certeza que se encontra plenamente satisfeito com as respostas que o seu segmento religioso lhe proporciona. Mas será que você entende que o japonês, que possui crenças diferentes da sua e que consequentemente entende o mundo de forma diferente, também pode estar plenamente satisfeito?

Jesus Cristo te trás explicação para o passado, conforto para o presente e esperança para o futuro? Que ótimo! Continue com sua fé firme nele. Mas, por favor, apenas entenda que uma pessoa com uma fé diferente da sua também pode perfeitamente acabar encontrando os mesmos benefícios psicológicos.

Quanto se trata do sofrimento individual é essencial que se respeite as respostas que cada um escolheu para si.

Que mundo trágico seria este se o sofredor não pudesse ao menos ter a liberdade de escolher a sua própria verdade?

segunda-feira, 14 de março de 2011

Deus Mata as Pessoas para Transformá-las em Seus Outdoors de Advertência?

por Cleiton Heredia


O título da postagem de hoje é o mesmo que utilizei em um artigo que escrevi logo após o trágico Tsunami do Oceano Índico, ocorrido em 26 de dezembro de 2004 e que ceifou a vida de mais de 285 mil pessoas.

Este artigo chegou a ser publicado em alguns sites religiosos, pois naquela ocasião este blog ainda não existia.

As reflexões nele contidas originaram-se de um artigo que li, na ocasião, de um renomado teólogo protestante chamado Samuele R. Bacchiocchi, que foi o primeiro não-católico a formar-se na Pontifical Gregorian University em Roma, tendo recebido uma medalha de ouro do Papa Paulo VI por conquistar a distinção acadêmica summa cum laude.

O artigo do Dr.Bacchiocchi trazia uma conclusão que muito me intrigava:

"Para os cristãos que crêem em Deus como Criador e Mantenedor deste mundo, há apenas a difícil conclusão de que a responsabilidade pelo desastre do Tsunami repousa diretamente em Deus." (negrito acrescentado)

Sua conclusão foi embasada em três pontos distintos:

a) uma forma enfática de Deus fazer um chamado ao arrependimento;
b) uma maneira impactante de Deus anunciar o juízo final;
c) uma convincente maneira de Deus reforçar a promessa da certeza do fim.

Em acréscimo ao impacto deste artigo, uma semana depois, eu ouvi um sermão no UNASP-SP aonde o pastor que o proferiu disse com todas as letras: "Os tsunamis são os grandes outdoors que Deus está utilizando para mostrar ao mundo que Jesus está voltando!"

Lembro-me que me senti muito desconfortável com tudo aquilo e então a minha mente religiosa, daquela época, trabalhou no sentido de tentar equacionar todas aquelas terríveis tragédias com o meu entendimento de um Deus perfeitamente justo e amoroso.

Minha argumentação foi a seguinte:

"Certa vez assisti um impressionante informe publicitário contra o consumo de álcool que foi veiculado em todas as redes de TV no Brasil. O comercial apresentava uma sucessão de carros destroçados em violentos acidentes com pessoas feridas e até mortas. Eram cenas muito fortes aquelas, e sem dúvida alcançaram seu objetivo que era alertar as pessoas para o uso indiscriminado de bebida alcoólica e suas inevitáveis conseqüências no trânsito. Mas é claro que não passou pela cabeça de ninguém que aqueles horrorosos acidentes com suas muitas vítimas foram provocados com o propósito específico de se produzir aquele comercial. Claro que não! Os produtores do comercial simplesmente se valeram de uma realidade que já existia, mas que de forma alguma foram eles os originadores. O comercial deixava bem claro: o culpado por tudo é o álcool!"

Com esta analogia eu tentei explicar que as tragédias humanas podem acabar se transformando nos Outdoors de advertência de Deus para a humanidade, porém Ele de forma alguma as ocasionava com este propósito. Assim como a culpa dos acidentes mostrados naquele informe publicitário era das pessoas imprudentes que insistiam em dirigir alcoolizadas, assim também a culpa das tragédias que assolavam a humanidade é do "pecado", ou melhor dizendo, dos efeitos degenerativos da maldição do pecado que repousa sobre este planeta há mais de seis mil anos.

Caso tenha a curiosidade de ler na íntegra o artigo que escrevi, clique aqui.

Agora, cá estamos nós vivendo o ano de 2011 e sendo obrigados mais uma vez a olhar com angústia e consternação mais uma terrível tragédia natural com suas milhares de vítimas fatais. Mais de seis anos se passaram do Tsunami do Oceano Índico e algumas coisas mudaram em minhas convicções, de forma que as reflexões que eu atualmente faço são outras.

Falarei delas na próxima postagem.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Fé para não crer em Deus?

por Cleiton Heredia


Entre os blogs que acompanho diariamente está o do meu amigo virtual Carlos H. Barth: Leite com Manga faz Mal?

Nesta última terça-feira (09/03/11), ele publicou uma interessante postagem que me levou (mais uma vez) à reflexão: Ateísmo: Crença na Descrença?

Recomendo a leitura deste texto, bem como de outros que existem por lá, pois são todos muito bem escritos e de uma profundidade filosófica ímpar.

Mas voltando ao texto acima mencionado, segue o que lá deixei em forma de comentário:

Eu ouço muito isto: "É preciso mais fé para crer que Deus não existe do que para crer que Ele existe".

Os defensores deste tipo de pensamento baseiam-se na idéia de que sem Deus muitas coisas básicas ficariam sem explicação. Por exemplo: Como explicar a origem do universo e a origem da vida se não for valendo-se do conceito de um criador divino?

Como os cientistas "ainda" não possuem todas as respostas (se é que um dia as terão), o crente* entende que os ateus precisam de muita fé para aceitar a existência de um universo aparentemente inexplicável em muitos pontos, caso a hipótese de Deus seja desconsiderada.

O que o crente não entende é que o ateu não precisa de fé para poder conviver com a ausência de algumas respostas. Ele simplesmente aprende a se conformar com a sua limitação de conhecimento e também aprende a esperar pelas respostas que, quem sabe, um dia virão.

Aliás, o ateu prefere conviver sem algumas respostas a ter que aceitar qualquer suposta solução que trará consigo outras perguntas muito mais difíceis de serem respondidas (para não dizer, impossíveis).

* A palavra "crente" é usada nos meus textos, não no sentido pejorativo, como alguns querem entender, mas apenas como uma forma sucinta de identificar uma pessoa que acredita em qualquer tipo de divindade sobrenatural (teístas, deístas, panteístas, etc.)

quinta-feira, 10 de março de 2011

Aviso Importante aos Paranormais, Médiuns e Psíquicos

por Cleiton Heredia


A Fundação Educacional James Randi (JREF), anunciou nesta quarta-feira que o famoso "Desafio de Um Milhão de Dólares" para quem conseguir demonstrar uma habilidade paranormal sob condições controladas que evitem a fraude ou erro, não será apenas prorrogado, como também terá suas condições para participação, facilitadas.

Este prêmio foi estabelecidos há mais de 40 anos atrás pelo mágico e cético James Randi, que ainda aguarda por alguém que prove merecê-lo. Até então, muitos criticavam as rigorosas condições impostas por Randi para que alguém pudesse ser aceito como um candidato ao prêmio. Estes eram obrigados a apresentar recortes de alguma reportagem veiculada em jornal ou revista, bem como ter uma carta escrita por algum um acadêmico demonstrando a seriedade da sua candidatura.

Agora, os candidatos só têm de apresentar um ou o outro, demonstrando que em algum lugar, em algum momento, alguma pessoa independente levou a sério sua reivindicação. Os candidatos que não puderem fornecer essa prova tem ainda uma opção nova com alternativa: apresentar um vídeo público que demonstre a sua capacidade. Este vídeo será analisado pela JREF, que irá decidir se o reivindicante merece ser considerado com um candidato em potencial, justificando todo o tempo e recursos que serão investidos nos futuros testes que o avaliarão.

Com esta nova opção, os candidatos que reclamavam serem detentores de poderes sobrenaturais, mas que se consideravam preteridos por serem desconhecidos na mídia ou por não terem documentação acadêmica, podem agora ter as suas reivindicações inicialmente consideradas.

Banachek, diretor do Desafio Paranormal de Um Milhão de Dólares da JREF e um dos grandes ilusionistas mentalistas da atualidade, esclarece: "Alguns candidatos chegaram a um acordo sobre o que todos nós consideramos regras justas para o teste, mas como falharam neles, alegaram depois que estes testes foram muito difíceis. Porém, se você é realmente o vidente que afirma ser, os nossos testes podem sempre ser vencidos. Mesmo que o seu terceiro olho não seja 20/20, ou mesmo que seja um astrólogo cujas estrelas não sejam as mais brilhantes do céu, nós iremos trabalhar com você para desenvolver um protocolo que determine se a sua capacidade alegada é real."

Será que agora teremos finalmente uma comprovação científica de que o sobrenatural existe de fato?

Vamos lá! Quem se habilita?

Caso queira conhecer melhor a história dos desafios céticos, eu recomendo as postagens abaixo:

- Procura-se um verdadeiro Paranormal ou Médium
- Céticos x Crédulos: A História dos Desafios

quarta-feira, 9 de março de 2011

Combata os argumentos e não a pessoa que argumenta

por Cleiton Heredia


Hoje eu estava relendo as postagens de meu amigo Ricardo, editor do Blog "A Arte de Ter Razão", e me deparei como a forte reação que sua postagem, intitulada "Sepulcro Vazio - Jesus Cristo não morreu por você", está recebendo.

Acompanho com interesse os comentários ali publicados para ver se surge alguém com alguma explicação lógica e racional para a sua simples, porém brilhante argumentação. Mas infelizmente nada! Apenas críticas à sua postura de escrever aquilo que pensa (diga-se de passagem, de forma muito coerente) no seu próprio blog. E o pior, alguns o fazem escondendo-se covardemente no anonimato.

Eu pergunto: Que sentido faz ler uma argumentação, discordar dela, criticar o seu autor pela iniciativa de tê-la escrito, mas não consubstanciar com argumentos à altura da argumentação feita, explicando por que discorda e critica?

Isto só me leva a pensar que eles não possuem uma resposta satisfatória para dar, e é exatamente por falta de argumentos é que atacam o autor, acusando-o de ateu fanático e homem sem fé.

Por favor, pseudo-defensores do cristianismo, PAREM COM ISSO!

Chega de ataques pessoais! Sejam inteligentes! Não combatam a pessoa, mas sim os argumentos desta pessoa.

Recomendo a leitura da postagem acima e continuarei acompanhando para ver se surgirá alguém que apresente um contra-argumento que seja tão lógico e racional quanto o que está ali apresentado.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Parábola do homem que queria encontrar a verdade sobre Deus

por Cleiton Heredia


Era uma vez um homem muito sincero que saiu pelo mundo a fora tentando descobrir a verdade sobre Deus.

Ele encontrou um grupo de ateus muito inteligentes e começou a freqüentar suas reuniões semanais. Em cada reunião eram apresentadas evidências e mais evidências de que Deus não passa de uma ilusão humana.

Após assistir em silêncio algumas reuniões, ele começou a participar contribuindo com suas idéias e pensamentos sobre o assunto. Como era uma pessoa sincera em sua busca da verdade, começou a questionar cada evidência apresentada confrontando com outras evidências que contradiziam e colocavam em dúvida os alicerces do ateísmo.

As argumentações de objeção daquele homem eram tão coerentes e sólidas que alguns daquele grupo começaram a rever seu posicionamento e depois de algum tempo deixaram de freqüentar às reuniões. Alguns chegaram a abandonar o ateísmo e se tornaram agnósticos; outros foram ainda mais longe, pesquisando e estudando, até tornarem-se teístas.

Não passou muito tempo, aquele grupo de ateus começou a se incomodar com aquele homem e a tratá-lo de forma diferente. O homem percebeu, mas não se importou com aquilo, pois tinha como prioridade cavar fundo em busca da verdade.

Porém, um belo dia em uma reunião, um ateu não agüentando mais suas argumentações, explodiu: "Você é um idiota cabeça dura e ignorante. Não vê que todos aqui já temos plena certeza daquilo que defendemos e você com estas objeções ridículas está causando confusão e discórdia em nosso meio?".

Aquele homem se retirou chateado e continuou sua jornada em busca da verdade. Mais adiante ele encontrou um grupo de fervorosos cristãos muito sinceros e pensou: "Aqui será diferente".

Fez amizade com aquele grupo simpático e começou a freqüentar suas reuniões semanais. A cada reunião eles louvavam a Deus e estudavam a Bíblia de forma sistemática e reverente.

Não demorou muito e aquele homem começou a participar dos estudos ali promovidos. Como era uma pessoa que sinceramente buscava a verdade, começou a questionar cada evidência apresentada confrontando com outras evidências que contradiziam e colocavam em dúvida os alicerces do cristianismo.

As argumentações de objeção daquele homem eram tão sensatas e lógicas que alguns daquele grupo começaram a rever seu posicionamento e depois de algum tempo deixaram de freqüentar às reuniões. Alguns chegaram a abandonar o cristianismo e se tornaram agnósticos; outros foram ainda mais longe, pesquisando e estudando, até tornarem-se ateus.

Não passou muito tempo, aquele grupo de cristãos começou a se incomodar com aquele homem e a tratá-lo de forma diferente. O homem percebeu, mas não se importou com aquilo, pois tinha como prioridade cavar fundo em busca da verdade.

Porém, um belo dia em uma reunião, um cristão não agüentando mais suas argumentações, explodiu: "Você está sendo um instrumento nas mãos do diabo. Não vê que todos aqui já temos plena certeza daquilo que defendemos e você com estes pensamentos heréticos e objeções fruto de rebeldia teimosa está causando confusão e discórdia em nosso meio?".

Aquele homem mais uma vez se retirou chateado e continuou sua jornada em busca da verdade. Mais adiante encontrou um grupo de judeus ortodoxos muito zelosos e pensou: "Aqui será diferente".

Mas a mesma história se repetiu.

O mesmo aconteceu com o grupo dos budistas, dos espíritas kardecistas, dos hinduístas, dos xamanistas e dos xintoístas.

A história sempre se repetia até que um dia encontrou um grupo de mulçumanos fundamentalistas e finalmente chegou ao fim de sua jornada em busca da verdade sobre Deus.

Morreu decapitado.

Texto publicado originalmente em 18/02/08

domingo, 6 de março de 2011

E se eu lhe dissesse que você também é um Ateu? (Parte 2)

por Cleiton Heredia


Como pudemos ver na postagem de ontem, segundo o argumento de Stephen Henry Roberts, todos são ATEUS de alguma forma. Permita-me apenas relembrar sua afirmação:

“Afirmo que ambos somos ateus. Apenas acredito num deus a menos que você. Quando você entender por que rejeita todos os outros deuses possíveis, entenderá por que rejeito o seu.”

Vamos analisar esta afirmação mais detalhadamente, dividindo-a em duas partes:

1) “Afirmo que ambos somos ateus. Apenas acredito num deus a menos que você."

Acredito que haja nesta parte um equívoco em relação ao termo "ateu". Por definição, um ateu é uma pessoa que não crê na existência de deus, deuses ou qualquer tipo de divindade sobrenatural.

Portanto, se alguém acredita na existência de uma divindade denominada "Alá", mas entende como fruto da imaginação humana outras supostas divindades, tais como: Brahma, Shiva, Mitra, Ganesh, Zeus ou Jeová, esta pessoa não pode ser considerada essencialmente uma atéia, pois ela acredita em algum tipo específico de entidade divina sobrenatural.

O fato de alguém crer um deus específico e rejeitar todos os demais não é o suficiente para fazer dele um ateu no sentido exato definido por esta palavra. Não é a quantidade de deuses que alguém diz acreditar que o torna mais ou menos ateu, pois se fosse assim, os religiosos politeístas seriam menos ateus que os religiosos monoteístas.

Aliás, não existe este negócio de mais ou menos ateu. Não existe "meio ateu". Uma pessoa, ou é atéia ou não é; ela, ou acredita em algum tipo qualquer de divindade sobrenatural ou não acredita. Um monoteísta não é um "quase ateu". Tal absurdo seria o mesmo que dizer que uma mulher, que só teve relação sexual com apenas um homem, é virgem em relação a todos demais homens. Virgem, por definição, é alguém que nunca teve uma relação sexual. Não existe este negócio de dizer que alguém que só tenha transado com uma única pessoa é "quase virgem", ou de alguém que transou "apenas" com meia dúzia de parceiros é "meio virgem". Assim como uma única relação sexual já é o suficiente para uma pessoa não ser mais virgem, assim também a crença em um único deus é mais que suficiente para que ela não seja uma atéia.

2) "Quando você entender por que rejeita todos os outros deuses possíveis, entenderá por que rejeito o seu."

Aqui Stephen Roberts estava corretíssimo!

Porque você, que é um cristão, não acredita no deus Zeus ou no deus com cabeça de elefante, Ganesh? Tenho certeza que você, como um bom cristão ocidental, tem condições de apresentar uma convincente relação de argumentos bem racionais para desbancar uma divindade que não passa de mitologia grega e desmistificar a outra como fruto da imaginação humana.

Porém, você precisa entender que os outros milhões de seres humanos que acreditam em uma divindade diferente da sua, também possuem outra relação de argumentos que eles consideram bem convincentes para desbancar o seu deus.

É isto que Stephen Roberts estava tentando dizer: Quando você cristão entender por que rejeita os deuses Brahma, Shiva, Mitra, Ganesh, Zeus ou Alá, então entenderá porque o ateu rejeita, não somente todos os mesmos deuses que você também rejeita, mas inclusive o seu próprio deus triúno.

Em 2009 eu publiquei uma série de postagens intituladas "EU QUERO ACREDITAR" onde procurei desenvolver este raciocínio. Caso você tenha a curiosidade de lê-las, seguem abaixo os links:

Parte 1 - Papai Noel
Parte 2 - Mórmons
Parte 3 - Mulçumanos
Parte 4 - Cristãos
Parte 5 - Conclusão

sábado, 5 de março de 2011

E se eu lhe dissesse que você também é um Ateu? (Parte 1)

por Cleiton Heredia


Permita-me fazer algumas perguntas:

1) Você acredita em um deus que foi parido secretamente na Caverna de Dicte porque sua mãe estava procurando esconde-lo de seu pai que queria come-lo, assim como fez com seus outros cinco irmãos, e que cresceu alimentado pela cabra chamada Amalteia e, após chegar à idade adulta, enfrentou o seu pai, obrigando-o a vomitar todos os filhos que tinha devorado?

Não?!? Mas porque não? Você sabia que no passado tinha um monte de gente que acreditava nisto como a mais pura expressão da verdade?

Tenho certeza que você não acredita porque pensa que hoje seria uma completa tolice aceitar como verdade algo tão irracional, certo? Isto é mitologia grega, não é mesmo?

Sabe de uma coisa? Eu concordo com você! Você e eu somos ATEUS em relação ao deus Zeus.

2) Você tem fé em um deus com quatro braços, com cabeça de elefante e com uma única presa que gosta de passear montado em um rato?

Não?!? Mas porque não? Você sabia que atualmente existem milhões de pessoas no mundo que adoram a este deus? Acho que se você tivesse nascido na Índia em uma família tradicionalmente hinduísta, você não somente acreditaria, como também teria muita fé nele. Mas você não nasceu na Índia, nem seus pais não são hindus, certo?

Tenho certeza que você, com uma mentalidade ocidental, deve achar muito estranho este deus e não entende como seres humanos racionais podem acreditar em um tipo de deus assim tão estranho.

Sabe de uma coisa? Eu também não entendo! Você e eu somos ATEUS em relação ao deus Ganesh.

3) Você acredita em um deus todo poderoso que sempre existiu, que criou tudo que existe, que te ama ao ponto de desejar que você more com ele no céu, mas que vai te mandar para o inferno para sofrer terrivelmente por toda a eternidade caso não o aceite ou não faça as coisas que ele quer?

Bem, se você é um cristão católico apostólico romano, com certeza dirá que acredita. Porém, se for de algum segmento protestante, fará algumas ressalvas à descrição acima, ou seja, dirá que acredita neste deus, mas que não aceita a hipótese dele condenar ao sofrimento eterno as pessoas que viveram no máximo uns 100 anos de descrença ou pecado.

Atualmente existem milhões de pessoas que acreditam no deus que condena eternamente algumas pessoas ao inferno. Mas existem muitas outras que não acreditam.

Sabe de uma coisa? Como eu nasci em um contexto cultural protestante, eu também não aceito este tipo de deus com um senso de justiça assim tão desproporcional. Você, meu amigo protestante, e eu somos ATEUS em relação ao deus segundo o conceito católico apostólico romano.

Poderíamos elencar aqui várias outras perguntas semelhantes, cujas respostas seriam sempre a mesma: "Você e eu não acreditamos neste tipo de divindade". Mas eu vou parar por aqui para não cansá-lo.

Acho que apenas estas três perguntas são suficientes para fazer você entender que ambos somos ATEUS em relação a vários deuses que atualmente são aceitos e adorados por milhares ou milhões de pessoas.

Portanto, eu poderia concluir com a famosa frase de Stephen Henry Roberts:

“Afirmo que ambos somos ATEUS. Apenas acredito num deus a menos que você. Quando você entender por que rejeita todos os outros deuses possíveis, entenderá por que rejeito o seu.”

Eu disse "poderia", porque existe uma outra lógica que pode refutar a argumentação acima.

Na próxima postagem eu falo dela.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Reflexões sobre "Esperança ou Desespero?"

por Cleiton Heredia


Meu amigo Enéias Borges, editor do blog "Convictos ou Alienados", postou hoje uma reflexão muito interessante com o título de "Esperança ou Desespero?".

De certa forma, os pensamentos dele ali apresentados, coincidem com as minhas divagações nestes últimos dias. Tenho pensado muito nesta questão da suprema busca pela verdade custe o que custar versus o conforto com algum tipo de esperança onde a busca pela verdade fica em segundo plano.

A princípio me sinto muito inclinado a concordar com a sua conclusão:

"Melhor viver e morrer com a esperança da salvação. Mesmo sendo tudo falso ainda assim terá imenso valor. Falso ou verdadeiro um ponto se torna inegável: melhor viver e morrer com esperança de salvação do que viver sem a esperança e com o desespero da morte eterna."

Sem dúvida, viver com uma esperança latente é bem melhor do que viver com uma dúvida amargurante ou mesmo com uma certeza desesperadora.

Mas eu me pergunto: Qual esperança deveria eu abraçar?

Seria a esperança da Bíblia cristã, da Torá judaica, do Alcorão islâmico ou da filosofia espiritualista que permeia vários segmentos religiosos diferentes?

Mesmo que eu decida pela esperança cristã, por uma simples questão de contexto cultural, meu problema continua. Devo abraçar a esperança conforme pregada pelo catolicismo ou pelo protestantismo? Sei que as duas estão centradas na esperança salvação e consequente vida eterna, porém há de se convir que na prática, os caminhos que levam a ela são diferentes nestes dois movimentos.

Bem, caso eu decida pelo protestantismo, mesmo assim ainda terei um amplo leque de opções à minha frente. Que tipo específico de contexto devo escolher para viver esta esperança? O contexto religioso dos Batistas, dos Mórmons, das Testemunhas de Jeová, dos Adventistas do Sétimo Dia, dos Presbiterianos, dos Neo-Petencostais ou de qualquer outra nova religião que surge a cada dia?

Como eu nasci em uma família tradicionalmente Adventista do Sétimo Dia, suponhamos que eu escolha por viver a esperança cristã dentro do contexto dos adventistas. Se você acha que aí encerro minhas possibilidades, você está enganado. Devo ainda decidir se quero me unir aos Adventistas do Sétimo Dia tradicionais, da Reforma ou da Promessa. E depois ainda tenho que decidir se fico com os que são trinitarianos ou com os não trinitarianos. Com certeza as opções são muitas, pois tem adventista que aceita Ellen White como profetiza e tem aquele que só aceita com uma mera conselheira, tem adventista que levanta a bandeira do vegetarianismo como requisito para uma vida santa e tem adventista que não sai da churrascaria, tem adventista que advoga o perfeccionismo (pós-lapsarianos) e tem adventista que o combate como fanatismo (pré-lapsarianos), ou seja, tem adventista de tudo que é jeito.

Você pode estar pensando: "Mas calma lá! Estamos falando de esperança, de salvação em Cristo e de vida eterna, e para isto não faz diferença o segmento cristão que escolho filiar-me, pois todos eles concordam na questão da esperança." Concordo parcialmente, pois muito embora a esperança seja a mesma, a teologia sistemática que a embasa e, consequentemente, o contexto prático que a alimenta, pode ser radicalmente diferente.

Bem, mas partindo do pressuposto que eu quero a partir de hoje viver com a esperança, devo então escolher que tipo de esperança abraçar, bem como o contexto religioso onde devo mantê-la e alimentá-la.

Como fazer isto da melhor forma? Qual critério devo usar para fazer a melhor escolha? Afinal de contas ninguém quer abraçar uma esperança tola sem qualquer tipo de fundamento racional, certo? Se um grupo de malucos vier até mim e falar que a minha esperança de vida eterna deve estar baseada na adoração do sol, com certeza eu irei mandar estes caras ir pentear macacos (para ser educado), pois como pode uma simples estrela de quinta grandeza me fornecer qualquer tipo de esperança que seja eterna e principalmente racional?

Concluo então que devo começar a empreender uma busca pela verdade devidamente norteada pela razão.

Espera aí!!! Eu disse BUSCA PELA VERDADE NORTEADA PELA RAZÃO???

Como posso fazer isto se foi exatamente esta busca que me afastou de qualquer tipo de esperança religiosa???

Não! Esquece a busca pela verdade! Se eu quero esperança devo abraçá-la única e exclusivamente pela fé.

Epa! Mas pela fé eu posso abraçar qualquer coisa, até mesmo a esperança de que a salvação vem da adoração do sol ou a crença de que só o "Inri Cristo" salva (aquele brasileiro que fala "Meu Púaaai"). Não há necessidade de que a minha fé esteja baseada na razão, pois eu não preciso de fé para aceitar verdades puramente racionais. Eu não preciso de fé para aceitar o fato de que existe a lei da gravidade, mas certamente eu preciso de fé, e muita fé, para aceitar que existe um ser todo poderoso que sempre existiu, que é o criador do universo, que sabe que eu existo, que me ama e quer me levar para o céu.

Aqui estou eu de volta a estaca zero. Quero uma esperança eterna, mas qual? Se decido escolher com base na busca da verdade norteada pela razão, volto para um ponto que me afasta deste tipo de esperança.

O negócio é fazer "minha mãe mandou bater neste aqui" e pegar a primeira esperança que aparecer sem pensar muito.

Juro que eu já tentei, mas não consigo!

quinta-feira, 3 de março de 2011

É mais fácil abrir uma igreja do que um boteco

por Cleiton Heredia


Em 03 de dezembro de 2009 foi publicado no jornal Folha de São Paulo, por Hélio Schwartsman, um artigo com o título "O primeiro milagre do heliocentrismo". Não li o artigo na ocasião em que foi publicado, mas tive conhecimento dele recentemente através de um e-mail que recebi de meu irmão Marcelo.

Neste artigo ele conta que se juntou com dois amigos da Folha e decidiram abrir uma igreja. Eles precisaram de apenas R$ 418,42 para pagar algumas taxas e emolumentos e de cinco dias úteis (não consecutivos).

Foi tudo muito simples e sem qualquer burocracia. Não exigiram qualquer tipo requisito teológico, número mínimo de fiéis, nem muito menos um corpo doutrinário para criar um culto religioso. E nem poderiam, pois qualquer exigência neste sentido infligiria o direito à liberdade religiosa.

Esta igreja experimental foi batizada como o nome de "Igreja Heliocêntrica do Sagrado Evangélio". Não exigiram nem que a palavra "evangelho" estivesse escrita corretamente para conceder o CNPJ, com o qual eles puderam abrir uma conta bancária e começar a fazer aplicações financeiras totalmente isentas de IR e IOF.

Mas os benefícios fiscais não param por aí. Por artigo constitucional, as igrejas são imunes a todos os impostos que incidam sobre o patrimônio, a renda ou os serviços relacionados com suas finalidades essenciais, as quais são definidas pelos próprios criadores. Trocando em miúdos, a igreja pode facilmente se livrar de pagamentos como o IPVA, IPTU, ISS, ITR e outros vários impostos dos bens colocados em nome da igreja.

Mas não pense você que as vantagens são "somente" tributárias. As igrejas são livres para se organizarem como bem entenderem, o que inclui escolher seus sacerdotes. Uma vez ungidos, eles adquirem privilégios como a isenção do serviço militar obrigatório e direito a prisão especial. Ou seja, se você é um grande empresário, mas não tem curso superior, vai para o xilindró junto com a bandidagem, mas se é um pastor ungido analfabeto de pai e mãe, vai para cela especial.

Na sequência, o articulista da folha faz uma série de questionamentos que podem ser lidos acessando a reportagem integral. Para tanto basta procurar em qualquer site de busca com o nome do artigo e o nome do autor. Tem vários sites e blogs que o trazem na íntegra.

Apenas a título de curiosidade, veja abaixo os nomes pitorescos de algumas igrejas que recentemente foram abertas aqui no Brasil (não resisti e fiz alguns comentários):

- Congregação Anti-Blasfêmias (pelo menos é original)
- Igreja Chave do Éden (O fundador é um chaveiro)
- Igreja Evangélica de Abominação à Vida Torta (malandro vida louca não entra)
- Igreja Batista Incêndio de Bênçãos (o diabo é chamado de bombeiro)
- Igreja Batista Ô Glória! (advinha qual é a expressão mais falada por eles)
- Igreja Explosão da Fé (espero que não sejam radicais islâmicos)
- Comunidade do Coração Reciclado (tá na moda)
- Igreja Cortina Repleta de Bênçãos (o fundador é dono de uma tapeçaria)
- Congregação Plena Paz Amando a Todos (Que bom!)
- Igreja Pentecostal Jesus Nasceu em Belém (Ah vá!)
- Igreja Evangélica Pentecostal Labareda de Fogo (fundada por um dissidente da "Incêndio de Bênçãos")
- Igreja Evangélica Pentecostal a Última Embarcação Para Cristo (se consideram a última bolacha do pacote)
- Comunidade Arqueiros de Cristo (Será que são de alguma reserva indígena?)
- Igreja Automotiva do Fogo Sagrado (o fundador é dono de uma concessionária)
- Igreja Batista A Paz do Senhor e Anti-Globo (Pelo menos eles não assistem Big Brother)
- Assembléia de Deus do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Será que são trinitarianos?)
- Igreja Menina dos Olhos de Deus (É bom não mexer com esta turma)
- Associação Evangélica Fiel Até Debaixo d'Água (Eles não tem dinheiro para consertar os buracos no telhado)
- Igreja Batista Ponte para o Céu (Ponte Rio-Niterói é fichinha)
- Igreja Pentecostal do Fogo Azul (Só usam gás butano)
- Cruzada Evangélica do Pastor Waldevino Coelho, a Sumidade (deu golpe e sumiu da praça)
- Igreja Filho do Varão (Tem palmeirense querendo batizar o filho lá pensando que é Ig.do Filho Verdão)
- Igreja da Pomba Branca (O hino oficial é o sertanejo Pombinha Branca)
- Igreja Dekanthalabassi (WTF???)
- Igreja dos Bons Artifícios (O dono é proprietário de uma casa de fogos)
- Igreja Cristo é Show (Logo irão fazer uma turnê em Las Vegas)
- Igreja dos Habitantes de Dabir (Seriam alienígenas?)
- Cruzada Evangélica do Ministério de Jeová, Deus do Fogo (fundada por dissidentes da Ig.Labareda de Fogo)
- Igreja Pentecostal do Pastor Sassá (Mutema?)
- Igreja de Deus da Profecia no Brasil e América do Sul (Filiada ao Mercosul)
- Igreja Caverna de Adulão (Eles não tinham dinheiro para comprar um terreno)
- Igreja Evangélica Facho de Luz (Eles não pagaram a conta de luz)
- Igreja Evangélica Adão é o Homem (Breve Filial: Ig. Evang. Eva é Mulher)
- Igreja Pentecostal Jesus Vem, Você Fica (Ué, então prá que frequentar esta igreja?)
- Igreja Evangélica Pentecostal Cuspe de Cristo (Estes foram cuspidos e escarrados)
- Igreja Evangélica Luz no Escuro (Mesmo porque luz no claro é um desperdício)
- Assembléia de Deus Batista A Cobrinha de Moisés (Eles acham que Moisés era japonês)
- Assembléia de Deus Fonte Santa em Biscoitão (O dono é proprietário de uma fábrica de biscoitos)
- Igreja Evangélica Muçulmana Javé é Pai (Putz, que salada de frutas é essa?)
- Igreja Abre-te-Sésamo (O nome mais adequado para uma igreja)
- Igreja Batista Floresta Encantada (Adoradores de Harry Potter)
- Igreja da Bênção Mundial Pegando Fogo do Poder (Você já sabe de quem eles são dissidentes)
- Igreja do Louvre (Adoradores da Monalisa)
- Igreja Evangélica Batalha dos Deuses (Evangélicos Pagãos)
- Igreja Evangélica do Pastor Paulo Andrade, O Homem que Vive sem Pecados (é a própria reencarnação de Cristo)
- Igreja Evangélica Idolatria ao Deus Maior (o Deus Maior deve ser uma estátua)
- Igreja Pentecostal Marilyn Monroe (Igreja só para loiras)
- Igreja Quadrangular O Mundo É Redondo (o cara que inventou isto só pode estar de sacanagem)
- Igreja de Deus que se Reúne nas Casas (Mais um que não tinha dinheiro para comprar um terreno)
- Igreja Pentecostal Vale de Bênçãos (O vale é todo dia 15)
- Ministério Favos de Mel (O fundador é um apicultor)
- Igreja Evangélica Florzinha de Jesus (Seriam parte de alguma comunidade gay?)
- Igreja A de Amor (A Bispa deve ser a Xuxa)
- Igreja Bailarinas da Valsa Divina (Meu, se prepara se não você dança!)
- Igreja Evangélica Batista Barranco Sagrado (Atividades suspensas devido a recentes deslizamentos de terra)
- Igreja Palma da Mão de Cristo (Esta igreja está furada)

A pergunta que não quer calar: "Onde será que isto vai parar?"

quarta-feira, 2 de março de 2011

O Tempo

por Cleiton Heredia


Assim como o mesmo calor do Sol, ora endurece o barro e ora amolece a cera, assim também o tempo que ora se mostra inimigo implacável deixando suas marcas registradas em nossa face, em nosso corpo e em nossa alma, e ora se mostra o aliado que tanto precisamos para que algumas dores sejam aliviadas, algumas decepções minimizadas e alguns traumas superados.

Na verdade, o tempo pode ser um bem muito precioso, mas também pode ser uma maldição. Tudo depende de como iremos aproveitá-lo ou simplesmente perde-lo. Enquanto muitos o aproveitam para planejar e executar, outros o perdem por simples relapso ou desleixo. A escolha do que fazer com ele é individual, porém muitas vezes suas consequências não são.

Mas existe algo a respeito do tempo que eu desconhecia de forma prática. O tempo é ilusório. E ele nos ilude nos dando a falsa impressão de que estará sempre presente e a nossa disposição.

É por isto que muitas vezes nos tornamos tão presunçosos a ponto de acharmos que temos todo o tempo do mundo. E o cúmulo desta presunção está em postergar para amanhã as coisas que podem e devem ser feitas hoje. O tempo nos ilude com o pensamento de que existirá um amanhã, quando na verdade tudo o que temos é o agora.

Se não estivermos atentos a esta realidade, corremos o risco de ver o tempo passar e com ele as oportunidades que a vida nos oferece. Por isso, se você tem alguma coisa muito importante que pode e deve ser feita hoje, jamais a deixe passar contando com a ilusão de que poderá fazê-las amanhã. Para o hoje o amanhã simplesmente não existe.

Hoje é o único tempo com que de fato podemos contar para pedir perdão, reparar um erro, demonstrar afeto e lutar por aquilo e aqueles que amamos. Não se iluda pensando que o tempo irá lhe esperar, pois ele não espera por ninguém.

Não espere para entender na prática que as oportunidades passam e as pessoas se vão. Este é o tipo de aprendizado que dói muito. O hoje é a única certeza de tempo que nós temos. O amanhã não existe.

terça-feira, 1 de março de 2011

Um Tributo ao Meu Pai

por Cleiton Heredia


Preparei o vídeo abaixo como uma homenagem póstuma ao meu pai, pois como comentou hoje um amigo:

"Nelson Heredia só deixará de existir definitivamente quando o último de seus queridos também sucumbir ao tempo, enquanto isso, ele persistirá brincando, aconselhando, cuidando de seus animaizinhos e tocando seu violão."



Obs.: As palavras ao final do vídeo é uma adaptação do poema "Ciclo da Vida" de Dom Morais.