domingo, 30 de janeiro de 2011

O Pecado para o qual não existe Perdão - Parte 3 (Conclusão)

por Cleiton Heredia

Antes de mais nada, um recadinho de Jesus para a D.Maroca e a D.Candinha:


Agora vamos à conclusão desta série.

Para muitos cristãos, o problema não está em ser um ateu, desde que este nunca tenha tido contato com a "verdade" da existência de Deus relatada na Bíblia cristã. Eles, os cristãos, entendem que estes ateus não serão responsabilizados por Deus pela sua descrença, pois Deus não levará em conta o período em que viveram na ignorância.

Segundo estes cristãos, para estes ateus, que nunca tiveram a oportunidade de ouvir o evangelho, Deus tomará em conta, no dia do juízo final, apenas a luz que tiveram a oportunidade de receber. Se toda a luz que receberam foi que deveriam ser pessoas de bem respeitando o seu próximo, e estes viveram em harmonia com esta luz, então Deus poderá até salvá-los para a vida eterna. Ou seja, no céu destes cristãos poderá ser encontrado alguns ateus ignorantes, mas de boa índole.

Agora, para aqueles ateus que já conheceram a "verdade" da existência de Deus e já fizeram parte do grupo dos que crêem, mas que escolheram deliberadamente abandonar suas crenças rejeitando a Deus, nenhuma esperança existe. Todos estão irremediavelmente perdidos por toda a eternidade. Se fizeram teologia, pior ainda. Vão queimar e sofrer por mais tempo no juízo final. Aliás, muitos cristãos tem uma vontade oculta de adiantar a obra de Deus e atear fogo nesta cambada de incrédulos agora mesmo. Muitos só não o fazem porque o estado laico atualmente os proíbe de saírem por aí fazendo "churrasquinho" de ateu convicto.

O Deus destes cristãos não está nem aí se estes ateus mudaram suas convicções com base na razão com a qual Ele próprio um dia lhes dotou. Não importa para este Deus se estes ateus apenas estão procurando ser coerentes com aquilo que aprova a sua própria consciência norteada pela razão. Muito menos importa se estes ateus continuam sendo homens e mulheres de bem que respeitam e valorizam a vida e só querem viver em paz com os seus semelhantes.

Não, nada importa! O Deus destes cristãos é implacável quando se trata de pessoas que são "vira-casaca" em relação à crença nele. É assim que muitos entendem o pecado para qual não existe o perdão ou o pecado contra o Espírito Santo.

Se o Deus destes cristãos existir de fato exatamente da forma com eles o idealizam, eu só posso lamentar dizendo:

Que Deus mais incoerente e mesquinho este o de vocês!

Mais lamentável que a possibilidade da existência de um Deus assim, é a realidade da existência de pessoas que se dizem cristãs, mas agem como a "D.Maroca", fomentando a difamação do caráter e denegrindo a reputação daqueles que não acreditam da mesma forma que elas. E o pior de tudo é que as tais Donas Marocas e Donas Candinhas acreditam piamente que tal atitude não as impedirá de herdar a vida eterna ao lado de um Deus santo.

Sinceramente, se o céu existir e nele não entrarão ateus convictos de boa índole, mas será admitida a entrada de difamadores que acreditam em Deus, eu não quero ir morar para sempre ao lado de um Deus assim tão injusto, nem muito menos quero compartilhar a eternidade ao lado desta corja de fofoqueiros maledicentes.

Recadinho final:

"Não andarás como mexeriqueiro entre o teu povo; nem conspirarás contra o sangue do teu próximo. Eu sou o Senhor." Levíticos 19:16

P.S.: Os meus amigos cristãos que sabem conviver harmonicamente com os seus semelhantes que pensam de forma diferente não precisam vestir a carapuça.

Fim desta série.

sábado, 29 de janeiro de 2011

O Pecado para o qual não existe Perdão - Parte 2

por Cleiton Heredia


Você deve estar se perguntando: Mas porque ele está abordando este assunto?

Bem, agora você irá começar a entender. Preste atenção nesta conversa entre duas "consagradas" irmãs de uma igreja que um dia já frequentei, a D.Maroca e a D.Candinha (nomes fictícios, é óbvio):

D.Maroca - Irmã!!! Você ficou sabendo do Cleiton que foi ancião aqui desta igreja?

D.Candinha - Cleiton Heredia? Fiquei sim. Que absurdo! Dizem que ele apostatou de vez!

D.Maroca - Pior que isso, minha irmã. O homem virou ATEU!

D.Candinha - Misericórdia, irmã! Como pode? Ele pregava aqui na nossa igreja, dirigia a classe dos jovens, parecia ser uma pessoa tão consagrada.

D.Maroca - Tudo casca, minha irmã. Ele enganou a todos nós. Ele nunca acreditou naquilo e a prova esta aí para todos verem.

D.Candinha - É verdade! A Bíblia fala que nos últimos dias muitos abandonariam a fé dando ouvidos a espíritos enganadores.

D.Maroca - E tem mais, dizem que ele agora está mexendo com magia, poder da mente e coisas relacionadas com o espiritismo.

D.Candinha - Credo, minha irmã! Isto é coisa do Diabo! Mas ele não estudou para ser pastor?

D.Maroca - Sim, ele fez teologia. E é isto que não dá para entender. Como pode alguém que já conheceu a verdade, de repente abandonar tudo e não acreditar nem mais que Deus existe? Alguns falam que ele ficou meio louco porque estudou demais.

D.Candinha - Bem que o apóstolo Paulo dizia que as muitas letras fazem delirar.

D.Maroca - É minha irmã, eu é que não quero estar na pele dele no dia do juízo final. Deus vai pedir conta de toda a luz que ele recebeu, mas recusou.

D.Candinha - É mesmo! Jesus disse que aquele a quem muito foi dado, muito será exigido. Coitado.

D.Maroca - Coitado nada, minha irmã. Ele sabe muito bem o que está fazendo. Ele tem até um blog onde fica debochando de Deus e escrevendo as coisas mais absurdas.

D.Candinha - Jesus amado!!! Isto é pecar contra o Espírito Santo!

D.Maroca - Exatamente! Para alguém que já teve tanta luz como ele, que já conheceu tão bem a verdade, ele foi longe demais. Ele pecou contra o Espírito de Deus e eu acho que ele não tem mais volta. Está perdido para sempre.

D.Candinha - Que triste, né minha irmã? Ver alguém rejeitar a graça de Jesus e escolher a morte eterna. Que loucura!

D.Maroca - É terrível, minha irmã! E é nestes casos que a Bíblia fala que nem adianta mais orar pela pessoa, pois ela pecou para a morte. ... Ai, minha irmã, fiquei falando e nem vi a hora passar. Deixa eu ir que eu preciso me arrumar para ir no culto de vigília lá da igreja. Sabe, Jesus está voltando e eu quero estar preparada.

D.Candinha - Amém, irmã. Vai sim e que Deus te abençoe. Esta conversa só serviu para fortalecer a minha fé e querer se apegar a Jesus ainda mais.

Esta conversa foi elaborada com base em vários comentários da vida real que alguns fizeram (ou fazem) e que, de alguma forma, chegaram aos meus ouvidos. Eu poderia até dar nomes reais à D.Maroca e à D.Candinha, que poderiam também ser Sr.Maroco e Sr.Candinho, mas isto não tem a menor importância para aquilo que quero expor nesta série de postagens.

Amanhã eu concluo...

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

O Pecado para o qual não existe Perdão - Parte 1

por Cleiton Heredia


Alguns cristãos não gostam muito de pensar na possibilidade de existir algum tipo de pecado que não pode ser perdoado, com medo de já tê-lo praticado e assim estar irremediavelmente perdido por toda a eternidade.

A Bíblia cristã, em dois evangelhos, traz as palavras de Jesus mencionando o pecado imperdoável. São eles:

1) Mateus 12:31 e 32 - "Por isso, vos declaro: todo pecado e blasfêmia serão perdoados aos homens, mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada. Se alguém proferir alguma palavra contra o Filho do Homem, ser-lhe-á isso perdoado, mas, se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será isso perdoado, nem neste mundo nem no porvir."

2) Marcos 3:29 - "Qualquer, porém, que blasfemar contra o Espírito Santo, nunca obterá perdão, mas será réu do eterno juízo."

Mas o que seria blasfemar contra o Espírito Santo?

Pelo contexto de Mateus e Marcos, onde estes dois textos estão inseridos, a blasfêmia dos fariseus foi atribuir ao Diabo as obras realizadas por Jesus mediante do poder de Deus. Foi por causa deste tipo de atitude dos fariseus que Jesus mencionou o pecado para qual não existe perdão.

Mas talvez você ainda esteja se perguntando: Mas como eu posso hoje blasfemar contra o Espírito Santo?

Para sermos bem criteriosos, nem mesmo entre os pais da igreja cristã existe um consenso sobre este assunto: Para Irineu o pecado imperdoável era a rejeição do evangelho; para Atanásio era a negação da divindade de Cristo, a qual foi evidenciada ao homem pela concepção do Espírito Santo; para Orígenes era toda a quebra da lei após o batismo; para Agostinho era a dureza do coração humano rejeitando a obra de Cristo.

Os cristãos tradicionais parecem concordar de forma mais ou menos unânime que a blasfêmia contra o Espírito Santo consiste em rejeitar sucessiva e sistematicamente a obra dele (Espírito Santo), que é a de levar os pecadores ao arrependimento, ao ponto de se tornar completamente insensível aos apelos de Deus, fechando assim toda e qualquer possibilidade de ser conduzido ao arrependimento. Desta forma, a pessoa adquire uma visão moral tão distorcida que já não resta qualquer esperança de recuperação.

Guarde isto: "uma visão moral tão distorcida que já não resta qualquer esperança de recuperação".

Amanhã eu continuo...

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Pseudo Ateus

por Cleiton Heredia


Entendo que o ateísmo é uma postura de não crença no sobrenatural, e consequentemente em qualquer tipo de entidade sobrenatural denominada deus, deuses, anjos, demônios, fadas, elfos, gnomos, fantasmas, espíritos, almas penadas, lobisomens, vampiros, mulas-sem-cabeça, Curupira, sereias, Saci-Pererê, ET de Varginha, Papai Noel, coelhinhos da páscoa, e por aí vai, e vai longe.

A premissa básica de qualquer ateu sério, sincero, ético, e responsável é a de buscar sempre a verdade, seja ela qual for, esteja onde estiver e doa a quem doer. É um erro pensar que um ateu tem um compromisso com a descrença, assim como os teístas possuem um compromisso com as suas crenças. A única bandeira de um ateu deveria ser a da busca pela verdade norteada pela razão.

Digo isso, porque o processo que leva uma pessoa ao ateísmo é (ou, deveria ser) justamente o da sincera busca pela verdade mediante contínuo questionamento e criteriosa avaliação de todas as possibilidades, optando sempre pela mais racional ou cientificamente aceitável.

Portanto, é completamente inaceitável para um ateu que, tendo passado por um processo tal, em algum momento se julgue dono da verdade ou se feche sobre um determinado ponto de vista.

Pessoas que se tornam atéias por qualquer tipo de frustração pessoal com os religiosos ou mesmo por revolta com determinados segmentos religiosos, não são ateus de fato.

São pseudo ateus!

O mesmo digo de alguns imaturos que escondem sua opção pelo estilo de vida hedonista na nomenclatura de ateus. Estes não são ateus por convicção, mas sim por conveniência.

Concluo esta postagem esclarecendo que não estou afirmando que os teístas não sejam pessoas sérias, sinceras, éticas, e responsáveis. Nem muito menos estou dizendo que os teístas não se preocupam de alguma forma com a busca pela verdade. Eles também valorizam a razão e a ciência, porém o fazem com certos limites.

O limite da fé que abraçaram!

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Ciência, Fé e Religião - Parte 3

por Cleiton Heredia


Esta foi a terceira e última pergunta desta rápida entrevista que o jornalista O.Donnini fez com o neurocientista Sam Harris:

G1: Fale-nos sobre o conflito entre ciência e religião.

Sam Harris: O conflito entre ciência e religião pode deduzir-se a um simples fato do discurso humano: ou uma pessoa tem bons motivos para acreditar naquilo que acredita ou não tem. Se houvesse boas razões para acreditar que Jesus nasceu de uma mulher virgem ou que Maomé voou para o céu em um cavalo alado, essas crenças necessariamente fariam parte de nossa descrição racional do universo. Já é hora de reconhecermos que a "fé" não é nada mais do que a licença que as pessoas religiosas dão umas às outras para continuar acreditando, quando não há razões para acreditar.

Meus comentários:

Acredito que os religiosos não deverão incomodar-se com a definição de Sam Harris, pois em termos práticos, fé é exatamente isto.

Existem evidências científicas para acreditar que Adão e Eva viveram literalmente como os primeiros seres humanos a habitar este planeta?

Não!

Então porque milhões crêem desta forma?

Fé!

É pela fé que os cristãos acreditam que o seu Deus é o único deus verdadeiro, pois tal crença não é passível de prova científica.

Porém, há de se considerar que é pelo exercício da mesma fé que os mulçumanos também acreditam que Alá é o único Deus verdadeiro.

Como a única razão para se crer no deus A ou no deus B é a fé, e contra a fé não existem argumentos racionais que sejam válidos, pois ela sobrevive mesmo sem eles, então há de se convir que Sam Harris está certo em dizer que "a 'fé' não é nada mais do que a licença que as pessoas religiosas dão umas às outras para continuar acreditando, quando não há razões para acreditar", mesmo que estas crenças sejam até contraditórias umas com as outras.

Eu fico aqui tentando entender uma coisa: que direito tem o cristão de falar que todos os demais deuses são falsos e só o seu é o verdadeiro, sendo que a crença em todos os demais deuses, que ele condena, foi estabelecida com base no mesmo tipo de conceito subjetivo que o levou a crer no seu Deus, ou seja, a fé?

É exatamente por isto que não faz o menor sentido cristãos, mulçumanos, judeus ou pagãos ficarem discutindo entre si querendo fazer que o outro aceite o seu deus como o verdadeiro. Independente do tipo de deus que acreditam ou deixem de acreditar, todos eles só possuem a sua fé pessoal como argumento de aceitação ou rejeição. E fé é fé! Não há como usar critérios objetivos (científicos) para determinar que a fé que levou a crer no deus A é melhor que a fé que levou a crer no deus B.

A fé é exatamente a mesma apesar das entidades divinas serem completamente diferentes.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Ciência, Fé e Religião - Parte 2

por Cleiton Heredia


Vamos a segunda pergunta da entrevista feita pelo jornalista Oduvaldo Donnini com o neurocientista Sam Harris:

G1: O que o Sr. nos diz sobre a tolerância religiosa?

Sam Harris: Bilhões de pessoa acreditam que o criador do universo escreveu (ou ditou) um dos nossos livros (Bíblia ou Alcorão), embora há muitos livros que alegam ter autoria divina, e fazem afirmações incompatíveis entre si a cerca de como nós devemos viver. Doutrinas religiosas rivais fragmentaram o nosso mundo em comunidades morais separadas, e essas divisões se tornaram uma causa incessante de conflitos humanos. Diante de tal quadro impera a intolerância. Ora, o homem racional, inteligente e distante de todo tipo de religião e fé, é, por excelência, tolerante.

Meus comentários:

Antes que um religioso se ofenda achando que Sam Harris quis sugerir que não existam religiosos racionais e inteligentes, eu já adianto que não é nada disso.

O foco nesta resposta é a tolerância religiosa. Precisamos reconhecer que a partir do momento que um religioso acredita com toda convicção que o seu segmento religioso é o verdadeiro, que as suas doutrinas religiosas são a expressão da verdade, e que o seu deus é o único deus verdadeiro, isto significa que ele entende que todas as demais religiões, doutrinas e deuses são falsos, espúrios e mentirosos. Daí vem a intolerância.

Coloque frente a frente um devoto cristão fundamentalista e um devoto mulçumano fundamentalista e peça para eles tentarem convencer um ao outro de que a religião, doutrina e o deus do outro é falso. É claro que ninguém vai querer ceder, e pode ter certeza de que ambos estarão dispostos a matar ou morrer por aquilo que acreditam caso entendam que esta seja a vontade de sua divindade.

Agora, coloque frente a frente um ateu com um devoto cristão fundamentalista. Este diálogo tem tudo para não dar em nada, pois conforme diz aquele ditado popular: "quando um não quer, dois não brigam". Um ateu esclarecido, que é movido pela razão, sabe que o religioso é movido pela fé, e contra a fé não existem argumentos. Para o ateu é fim de papo! Ele poderá continuar a conversa falando de futebol ou política, mas não tocará mais em religião.

Isto acontece porque é muito mais fácil para um ateu movido pela razão saber respeitar a fé do seu semelhante, do que um religioso movido pela fé aceitar sem preconceito o direito do outro em não ver o mundo da mesma forma que ele.

Continua...

domingo, 16 de janeiro de 2011

Ciência, Fé e Religião - Parte 1

por Cleiton Heredia


Reproduzo aqui uma interessante entrevista virtual que o jornalista Oduvaldo Donnini (do G1) fez com o neurocientista estadunidense, Sam Harris, autor dos livros "O Fim da Fé" (2004) e "Carta a uma Nação Cristã" (2006), que é uma resposta às críticas que seu primeiro livro recebeu. Logo após cada resposta farei alguns comentários.

G1: Em seu livro "Carta a uma Nação Cristã", o Sr. fala da moralidade, da honestidade e da humildade do ateísmo. Como é isso?

Sam Harris: A religião divide os povos, exacerba os conflitos entre as várias seitas, provocando ódios e divisões. Esse comportamento apaixonado dificulta a compreensão e apaixona as pessoas, levando-as a caminhos irracionais. Já no ateísmo, só uma bandeira flâmula: a da lógica, da ciência e da compreensão.

Meus comentários:

É fato! Não há como refutar que as religiões, cada uma com sua carga cultural característica, tem sido um fortíssimo fator de divisão ao longo da história da humanidade.

Quantas guerras em nome de deus ou dos deuses! Cada povo ou grupo se julga representante do deus verdadeiro ou dos deuses mais fortes, estando disposto a matar ou morrer para provar isto.

Por outro lado, o ateísmo não tem dogmas pelos quais matar ou morrer. A própria premissa da não existência de deus ou deuses, só é defendida enquanto a lógica científica assim o permitir.

Tenho para mim que qualquer ateu esclarecido mudaria prontamente suas convicções caso os fatos científicos assim exigissem.

O compromisso de um ateu não é com qualquer tipo de verdade absoluta, mas apenas com a própria verdade, seja ela qual for e esteja onde estiver.

Continua...

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Deus, Alice e a Matrix

Introdução por Cleiton Heredia


Recebi de um amigo leitor uma indicação de um texto muito bom, que ele comentou encaixar-se perfeitamente com o texto "Leproso! Leproso! Leproso!"

O texto é um pouco longo, mas acredito que aqueles que tiverem uns 15 a 20 minutos para investirem na leitura não se arrependerão. Ou talvez se arrependam.

Como assim?

Bem, é aquela história da pílula vermelha e azul do filme "Matrix". O texto que se segue abaixo pode ser bem parecido com o efeito de uma daquelas duas pílulas. Portanto, faça sua escolha antes de lê-lo:

Azul, continuar na doce ilusão, ou vermelho, conhecer a amarga realidade.

Caso decida pela pílula azul, por favor, não leia!

Caso sua escolha seja a pílula vermelha, boa leitura, mas depois não vai dizer que eu não avisei.


DEUS, ALICE E A MATRIX
Autor: Barros
Fonte: DEUSILUSÃO

“E desde então”, prosseguiu o Chapeleiro num tom pesaroso, “ele [o tempo] não faz mais nada que eu peço! Agora é sempre 6 da tarde!”
Um pensamento brilhante ocorreu à Alice. “Essa é a razão de todas essas coisas de chá estarem postas aqui fora?”, ela perguntou.
“Sim, é por isso”, disse o Chapeleiro com um suspiro. “É sempre hora do chá, o que não nos deixa tempo para lavar a louça entre as refeições.”
“Então vocês sempre ficam mudando de lugar, eu suponho”, disse Alice.
“Exatamente”, disse o Chapeleiro, “à medida que as coisas vão sendo usadas.”
“Mas o que acontece quando vocês dão uma volta completa na mesa?” Alice resolveu perguntar.
“Acho que devemos mudar de assunto”, a Lebre Maluca interrompeu, bocejando.
- ALICE’S ADVENTURES IN WONDERLAND & THROUGH THE LOOKING-GLASS. Carroll, Lewis. A Gignet Classic: New York, 2000. pág. 72. Tradução: Barros.

As aventuras de Alice foram apenas um sonho. Ela, entretanto, nunca desconfiou que estava sonhando, assim como nós mesmos também não temos a consciência de que estamos dentro de um sonho, mesmo se sonhamos que estamos indo ao cinema completamente sem roupa. Quando estamos sonhando, a realidade passa a ser a realidade do sonho.

Eu escolhi o diálogo acima para chamar a atenção para o fato de que, mesmo sonhando, Alice percebeu que alguma coisa não fazia sentido: ora, se eles nunca lavavam a louça em que tomavam chá, e para ter louça limpa eles tinham que mudar de assento, o que acontecia quando usavam todos os lugares? Pareceu óbvio a Alice que, ao darem uma volta completa na mesa, eles acabariam chegando aonde haviam começado e encontrariam lá a louça suja que haviam deixado. E foi isso que ela perguntou. Mas ninguém respondeu; porque a resposta seria: “Não esquenta a cabeça: sonhos não têm esse tipo de lógica” — ou lógica nenhuma; e a surpresa do fim do livro seria, assim, indevidamente antecipada. Por isso a interrupção da Lebre Maluca.

Minha professora de catecismo fez isso comigo várias vezes. Ante as muitas perguntas que eu fazia durante as aulas, ela dava uma de Lebre Maluca e desconversava.

- “Irmã, por que todo mundo abomina o ato de Judas se, de acordo com o plano divino, Jesus teria que ser traído por ele para ser crucificado e nos salvar?”
- “Irmã, a senhora disse que o sofrimento que há no mundo faz parte do plano de Deus, mas, sendo Todo-Poderoso, Deus não poderia ter feito um plano sem que houvesse nenhum sofrimento?”
- “Irmã, se Jesus e Deus são um só, então, por que Jesus ficou em dúvida na cruz sobre se Deus o tinha abandonado? Se Jesus era, também, Deus, ele não teria que saber que ele mesmo não teria abandonado a si próprio?”
- “Irmã, a senhora disse que as pessoas só irão para o Céu, para o Inferno ou Purgatório depois do Juízo Final. Para onde vão as almas nesse meio tempo?”
- “Irmã, por que Deus teve que descansar no sétimo dia?”

E por aí afora. A questão é que ela nunca respondia. Ela falava e falava sobre um monte de coisas, sobre como Deus era bom, sobre como ele tinha tudo planejado, sobre como precisávamos ter fé, lia esse e aquele versículo da Bíblia e eu acabava ficando sem as minhas respostas. Como fez a Lebre Maluca, ela desconversava e tentava me manter no mesmo sonho que ela.

Porque se todos sonham o mesmo sonho ao mesmo tempo, por mais maluco ou maravilhoso que seja, ele passa a ser “a” realidade.


Mesmo quando eu me considerava católico, andava longe de ser um cristão convicto. Até onde eu lembro, eu nunca realmente acreditei naquilo tudo. Não completamente. Como fez Alice na mesa do chá, eu vivia fazendo perguntas inconvenientes, e as Lebres Malucas que me pediam para mudar de assunto eram tantas que eu comecei a desconfiar que alguma coisa estava errada. Ou comigo, ou com todo o resto.

Não me atrevia a fazer esse tipo de questionamento a minha família, afinal, foram eles todos que invadiram meu pequeno e desprotegido cérebro e colocaram a coisa toda lá dentro; mas achei que a freira encarregada de me preparar para a primeira comunhão seria a pessoa ideal a quem dirigir tais perguntas. Não era. Eu concluí meu catecismo com uma sensação, até então inexplicável, que só poderia ser descrita como desconforto intelectual. Era como se eu não tivesse conseguido entender o que, aparentemente, todos os outros meus colegas de classe haviam entendido, ou — como penso hoje — tivesse entendido algo que nenhum deles conseguiu entender.

De uma forma ou de outra, acho que eu fui o único da minha turma que entrou pela primeira vez na “fila da hóstia” sem nenhum entusiasmo. Que eu lembre, eu só estava curioso para saber se ela era salgada ou doce. E enquanto eu voltava para o meu lugar, ainda com a hóstia irritantemente colada no céu da minha boca, a parte do meu cérebro que estava sendo treinada para a religião deixou escapar isso: “É um tipo de massa de pão!” E o resto dele respondeu em coro: “O que você esperava? Um naco de carne do corpo de uma pessoa? Eca!”.

Eu realmente passei muito tempo sem entender o que estava acontecendo. Eu não tinha fé e não entendia por que me preocupava com isso; eu não acreditava em Deus e não sabia por que fingia que acreditava; eu não era em nada religioso e me culpava por não ser… Afinal, por que ser tão diferente? Por que não ser igual a todo mundo?

Eu, que não sou erudito, nem tenho uma inteligência muito confiável, não consegui encontrar sozinho uma resposta. Somente muitos anos depois do meu catecismo, quando assisti pela primeira vez no cinema às aventuras de uma outra Alice — a versão do século XXI — eu pude tecer, em retrospecto, uma analogia, e entender o que se passou comigo durante aquela época da minha vida. Eu ficaria muito orgulhoso de citar aqui o nome de um filósofo ou grande escritor que tivesse me feito assimilar o que significava a religião, mas foi com o filme “The Matrix” que eu finalmente entendi.

No domingo seguinte, eu fui assistir a uma missa. Sentei bem no último banco de uma igreja lotada. Não rezei, não cantei, não comunguei. Eu estava lá apenas para uma cerimônia muito particular: seria a primeira vez que eu iria “ver” a Matrix. E eu vi: a religião precisa mesmo ser compartilhada; precisa ser vivida em grupo. Uma pessoa isolada chegaria sozinha à conclusão de que suas orações são inúteis; seus rituais, tolos; as letras dos seus hinos, absurdas; e seus dogmas, algo muito próximo do tipo de mágica com que se distrai as crianças. Você precisa de reforço para acreditar. Você precisa estar conectado a um mundo de gente que também acredita; e eles serão tantos e estarão tão fortemente convencidos de suas crenças que você, quase que inevitavelmente, vai achar que eles todos não podem estar errados e só você, certo. Você não vai querer ser diferente; você vai querer fazer parte do rebanho. Talvez venha disso o carinhoso epíteto de “ovelhas”.

Durante cerca de uma hora, eu assisti a uma missa católica, a qual eu estava tão acostumado, mas só que de um outro ponto de vista. Foi como se, depois de tanto tempo perdido numa floresta densa, a gravidade tivesse deixado de existir e eu pudesse flutuar para muito acima da copa das árvores, apreciando o mundo de um novo ângulo, de uma nova dimensão. (Não foi só você que brincou de Super-Homem, Neo…)

Eu entendi, com alívio, que não havia nada de errado comigo, nem nunca houvera. Eu apenas não fazia mais parte daquele mundo. Eu estava desconectado da Matrix.

E foi bem ali, naquele banco de igreja, que eu vi confirmada a minha analogia com o filme; foi quando e onde eu compreendi o porquê de todo aquele desconforto, inquietação e dúvida; foi quando e onde, pela primeira vez, eu percebi a razão de achar aquele mundo tão estranho e inadequado para mim. Foi lá que encerrei minhas aventuras pelo País das Maravilhas. Mas não fiquei triste. Ninguém deveria ficar triste por ter despertado de um sonho. Mesmo se fosse um sonho bom; o que não era o caso.

Levantei antes do fim da missa. Estava já bem perto da porta e, enquanto saía, voltei os olhos involuntariamente na direção da estátua de um homem seminu atrás do altar. Por um breve instante, percebi que aquela parte do meu cérebro que desde muito tempo atrás habitara aquele mundo teve vontade de acenar um adeus de despedida. Mas eu a contive a tempo e acrescentei — desnecessariamente sarcástico, confesso — que o homem estava com as duas mãos pregadas: não iria acenar de volta.


“O vazio que os ateus sentem nas suas vidas é exatamente da forma e do tamanho de Deus.”

Sou capaz de apostar que todo ateu já ouviu isso de alguém. Ou isso, ou algo que o valha.

Eu só posso falar por mim: sou ateu e minha vida não é vazia. O que eu sinto é uma certa inquietude — e isso não tem nada a ver com vazio — cuja causa é a nossa condição única, como espécie, de questionar, de fazer perguntas. Como não temos respostas para a grande maioria das perguntas que fazemos, e como a nossa capacidade de fazer perguntas é infinitamente maior do que a nossa pequena habilidade recém-adquirida de respondê-las, talvez tenhamos um certo ar contemplativo, introspectivo, distante. E já que os religiosos não estão muito familiarizados com a atitude de racionalizar, pois eles têm respostas prontas para tudo, bem como tudo no mundo deles se explica com mágica, eles interpretam esse comportamento como sintoma de algum distúrbio mental, ou como sinal de tendência ao suicídio. Eles chamam de “vazio”, mas é só um eufemismo.

As pessoas, normalmente, não suportam o peso dessa inquietação intelectual e têm Deus como resposta única para tudo, sem levarem em conta que a origem e o propósito de Deus levantam muito mais questões do que respondem. Mas Deus é Deus. O Alfa e o Ômega, o Início e o Fim, etc., etc., etc., e isso basta para elas. Mas para mim, como para muitos outros, isso não basta. Ou, melhor dizendo: isso não serve como resposta.

Geralmente, quando alguém descobre que sou ateu, a primeira pergunta que me faz é esta: “Ora, ateu!? E quem você acha que criou tudo isso?”, e a pessoa espalma a mão para o céu. Apenas para testar se vale a pena iniciar um debate, eu costumo responder com outra pergunta:

— E por que você acha que “tudo isso” precisaria ter sido “criado”?
— Ora! Como “tudo isso” poderia ter vindo do nada?
— E quem criou, então, foi Deus?
— Claro.
— E quem criou Deus?
— Deus sempre existiu.
— E você não poderia supor que “tudo isso”sempre existiu?


A atitude da pessoa nesse ponto me permite avaliar se dá para continuar a conversa ou se é hora de bater em retirada. Pessoas religiosas podem se tornar bastante violentas de uma hora para outra. E isso é por demais compreensível: Deus está incrustado no cérebro deles. A ideia de se desfazer de Deus lhes desperta, no inconsciente, o medo que sempre se associa à expectativa da dor, pois perder parte do corpo, geralmente, envolve dor. Não criticaria ninguém por se estrebuchar enquanto estão tentando arrancar uma parte qualquer do seu próprio corpo.

Eles farão tudo para continuar acreditando. Não importa o que aconteça. Se um homem tinha uma entrevista de emprego e saiu de casa atrasado, mas o ônibus chegou no ponto bem na hora em que ele também chegava, ele irá atribuir a Deus essa graça. Como se Deus tivesse cronometrado tudo, atrasado certas coisas, adiantado outras só para o ônibus passar exatamente naquela hora em que ele mais precisava. Mas se ele, ao voltar para casa, descobrir que sua filhinha de 4 anos foi estuprada por dois homens e morta asfixiada com folhas e terra na sua garganta, como aconteceu há algum tempo na região metropolitana da cidade onde moro, ele irá, certamente, como todas as pessoas de fé que tentarão consolá-lo, atribuir aquilo ao Diabo. Eu, por mim, não me atreveria a perguntar para um pai nessa situação se ele não preferiria ter um Deus que se importasse mais com a sua filhinha de 4 anos do que com os horários dos ônibus.

As outras opções disponíveis são ainda mais estúpidas: Deus escreve certo por linhas tortas/isso faz parte do plano de Deus/são os desígnios de Deus/Deus está testando a minha fé/e por aí vai…

Eu mesmo não poderia inventar um Deus mais ridículo, mais criminoso, mais malévolo, nem mais mesquinho do que esse.


O apelo mais forte da religião é, sem dúvida, sua promessa de vida após a morte. Essa promessa é tão poderosa não só porque é tentadora, por si, mas porque reverbera em nosso ser até o nível dos genes, pois é esse o seu objetivo primordial: continuar existindo, mesmo depois que o corpo no qual eles temporariamente habitaram devolva, separadamente, todos os seus átomos para a Terra.

Acreditar que existe um lugar para onde ir depois da morte e continuar a existir lá pode ser extremamente reconfortante. Não sei de nenhuma religião que não prometa um tipo de paraíso para além do túmulo. (Esqueçamos o Inferno, por ora, pois as pessoas que acreditam em vida após a morte também fazem questão de esquecer a possibilidade de terem uma vida-pós-morte lá.) E as pessoas fazem de tudo para acreditar nisso.

Eu costumava ver um programa americano na TV paga em que um médium num palco (porque aquilo era mesmo um “show”) alegava fazer contato com os parentes mortos das pessoas na plateia. Era algo mais ou menos assim:

— Sinto que um espírito está tentando estabelecer contato… e seu nome começa com a letra M. Alguém na plateia perdeu um ente querido cujo nome começa com a letra M?
— Sim, eu! Meu irmão Michael.
— Pois ele está aqui, querida. Ele diz que está bem, muito feliz, que está cuidando de você e olhando para você de onde ele está…


As pessoas na plateia não se importaram de perguntar como o médium “ouviu” o defunto dizer todas aquelas frases para a irmã, se, no início, só tinha conseguido ouvir que o dito cujo tinha o nome começado com a letra M. Talvez elas pensem que, depois que aparece alguém com os olhos cheios d’água, o download fica mais eficiente.

Com Zíbia Gasparetto a coisa muda. Ela escreve livros psicografados e adquiriu fama e fortuna com eles. Numa entrevista recente, ela disse que é muito fácil o seu trabalho: ela é apenas uma “secretária” que digita os textos ditados pelo seu mentor, o espírito Lucius, ou diretamente dos defunto-autores, tipo Brás Cubas. (Gente que, em vida, nunca se importou em escrever sequer um diário. Talvez o Céu seja um lugar muito tedioso e onde se proíbe o uso de laptops, daí os pobres dos defuntos precisam terceirizar o seu hobby.) Ela, então, senta-se em frente do computador, põe uma música suave e começa a escrever. Na época da entrevista, estava escrevendo três livros ao mesmo tempo, e dedicava dois dias por semana a cada um deles. Para continuar uma história de onde a havia deixado, bastava ler a última frase digitada, que o defunto-autor correspondente se aproximava e continuava dali. Com Zíbia, suponho que seja mais ou menos assim:

— Ei, desculpe, mas você escreveu ideia sem acento. Queira corrigir por favor, sim?
— Não, meu caro Lucius, é assim mesmo agora. Mudou a ortografia do português. Vocês aí em cima não estão sabendo?
— Foi mesmo? Não, não chegou nada aqui ainda. Na verdade, eu morri já há muito tempo e só há pouco que consegui me adaptar à reforma ortográfica de 1971… Já fizeram outra, foi? Nossa! assim fica difícil um espírito ganhar a vida como escritor…
— Lucius, querido, você já está morto. Quem precisa ganhar a vida sou eu. Deixemos de conversa mole. Continue com a história e deixe os acentos por minha conta.


Eu poderia concluir três coisas muito interessantes:

1ª se Zíbia Gasparetto assumisse o lugar do médium americano ficaria infinitamente mais rica, pois me parece que ela usa um tipo de conexão banda larga para se comunicar com o além;

2ª se o médium americano tentasse escrever romances psicografados iria ficar infinitamente mais pobre, porque, acho eu, ele precisaria de alguém que conhecesse o defunto-autor o tempo todo ao seu lado chorando para manter a conexão discada sem cair;

3ª as pessoas têm uma vontade tão grande de acreditar que a morte não é o fim que aceitam como verdade qualquer coisa que alguém alegue que veio “do outro lado”; seja apenas a letra inicial de um nome, ou milhões delas no formato de um romance encadernado em capa dura.


Eu resolvi dar a essa série de textos o título de “Deus, Alice e a Matrix” porque, para mim, essa trindade permite explicar “divinamente” bem meu ponto de vista sobre a religião. Mas para você entender por que, preciso, primeiro, explicar algo.

A palavra ‘nonsense’, nos originais em inglês, é sentida como uma assombração nos dois livros sobre as aventuras de Alice. ‘Nonsense’ pode ser traduzido como “bobagem”, “tolice”, “absurdo”, etc., mas seu significado mais profundamente etimológico não tem correspondente em português; então, é preciso parafrasear: ‘nonsense’ é “algo que não faz sentido”. Se eu disser que eu sou o cara mais bonito de todo o país, você pode dizer que isso é uma tolice, uma bobagem, ou uma mentira; mas não é ‘nonsense’. Já se eu disser que para alguém ser considerado bonito tem que ter acesso à Internet, é.

Os livros de Alice são puro ‘nonsense’. Mas isso só pode ser percebido completa e satisfatoriamente em inglês, porque o autor se valeu, obviamente, do seu próprio idioma para escrever a história. Da mesma cena do chá, eu traduzi um diálogo que exemplifica isso: O Arganaz está contando uma estória de três irmãs que moravam no fundo de um poço, e menciona que elas estavam aprendendo a desenhar.

— "O que elas desenhavam?", Alice perguntou.
— "Melaço", disse o Arganaz.
[APÓS UMA INTERRUPÇÃO PARA QUE MUDASSEM DE ASSENTO PARA OBTEREM LOUÇA LIMPA, ALICE VOLTA A PERGUNTAR:]
— "Mas eu não entendo: de onde elas puxavam o melaço?"
— "Você pode puxar água de uma cacimba", disse o Chapeleiro; "assim, eu deveria supor que você pudesse puxar melaço de um poço de melaço, hein, sua tonta?"


E a conversa desandou a partir daqui e tudo porque, devido à interrupção, Alice esquecera que as meninas da estória estavam aprendendo a “desenhar” (‘draw’, em inglês) e não a “puxar” (que é ‘draw’, também). Só que os interlocutores dela não se importaram com a confusão que ela havia feito com os dois significados dessa palavra e a estória acabou tomando um novo rumo, sem nenhuma ligação com o início, só para poder se ajustar ao significado de ‘draw’ que Alice estava, então, considerando.

Não tive ainda, até hoje, a curiosidade de ver como os tradutores resolveram — se é que resolveram — esse e todos os outros problemas envolvendo os trocadilhos em inglês, que enfeitam a história e são a base do ‘nonsense’, mas suponho que as traduções sejam apenas um arremedo mal feito.

Mas, enfim, Alice estava visitando um mundo completamente novo com leis e lógica próprias, mas que faziam sentido para os seus habitantes. O ‘nonsense’ só passou a existir por causa de Alice. Sem ela, o País das Maravilhas seria um lugar normal.

Já a Matrix do filme era um programa de computador que conectava todos os habitantes do mundo a um sonho comum que era o que, para nós, seria a vida real. A Matrix teria funcionado perfeitamente bem, mesmo se algumas pessoas despertassem e fossem desconectadas. O problema só começou — e é esse o mote do filme — quando os que acordaram do sonho aprenderam a se reconectar à Matrix para tentar despertar outros. Eles se tornaram um tipo de Alice, só que com um trunfo na manga: eles sabiam que estavam dentro de um sonho e, em sabendo disso, usavam e abusavam do ‘nonsense’ que só os sonhos permitem.


Aonde eu quero chegar? Aqui: Os religiosos estão vivendo dentro de uma Matrix Intelectual. Eles foram conectados a ela desde a primeira infância pelos seus pais, pela sua família, pela sua sociedade. O Sistema os mantém num sono profundo e os alimenta com os seus ritos, seus catecismos, seus livros sagrados, suas orações, suas missas, seus dogmas e tudo o mais que puder ser usado para mantê-los dormindo. Eles não têm como perceber que estão dentro de um sonho, pois o mundo em que eles vivem faz sentido, como o País das Maravilhas sem Alice faria. Eles não são capazes de perceber o ‘nonsense’ porque o ‘nonsense’ simplesmente não existe na realidade deles. Se todo mundo compartilha a mesma realidade repleta de mágica, então a mágica passa a ser considerada uma coisa normal, possível, ou mesmo esperada.

Então, já que é assim, como eu me atrevo a dizer que eles estão conectados, sonhando dentro de uma Matrix, e não eu juntamente com todos os ateus? Como saber quem está no mundo real e quem está na Matrix? Quem está sonhando e quem está acordado?

Bom… procure pelos personagens do País das Maravilhas na “sua” realidade. Se eles estiverem lá, você estará sonhando. Se você encontrar Lebres Malucas pedindo para você mudar de assunto sempre que você faz determinadas perguntas; ou se as suas perguntas são respondidas de um jeito que não faz o menor sentido, que não explica nada; ou se as estórias que você ouve as pessoas do seu mundo contar mudam de rumo e ninguém liga, tipo: Deus disse para o chefe de um povo que determinado homem tinha que ser apedrejado até à morte porque foi pego apanhando lenha no dia de sábado, e, depois, Jesus (supostamente o mesmo Deus) disse que não era bem assim…; ou se você se sente desconfortável quando alguém diz que vê o mundo de uma forma diferente da sua, a ponto de fazer você sentir necessidade de se afastar dessa pessoa e, adicionalmente, procurar refúgio e conforto nos seus próprios meios de ver o mundo junto com todos os outros que o veem como você, de forma a reforçar a sua própria crença nessa “realidade”… sinto dizer, mas você estará conectado.

Nós, ateus, somos Alices invadindo uma Matrix muito, muito hostil. Saiba que, se você estiver pensando em despertar alguém, pode se ver em sérios apuros porque, como no filme, cada um deles faz parte do Sistema e irá lutar para defendê-lo. Enquanto não estiverem desconectados, todos eles serão seus inimigos. Muitos são Agentes — guardiões da Matrix — , definitivamente conectados a ela e especialmente treinados para combater invasores como você e eu. Não tente enfrentá-los: você não poderá vencê-los. [negrito acrescentado pelo editor deste bolg]

Mas, se mesmo sabendo disso tudo, você realmente quiser trazer alguém para fora, não entre lá sozinho. Monte uma equipe de resgate, trace um plano, treine antes. E se você vir um Agente, faça o que todos nós fazemos.

Corra.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Leproso! Leproso! Leproso!

por Cleiton Heredia


Antigamente, mais precisamente nos tempos do antigo Israel bíblico, quando uma pessoa encontrava-se acometida de hanseníase, popularmente conhecida como lepra, era obrigada por lei a afastar-se de todo tipo de convívio social. Ele deveria deixar o seu lar e o seu trabalho, afastando-se por completo de sua família e dos seus amigos. A partir do momento que a doença fosse detectada seus únicos companheiros poderiam ser somente os outros leprosos igualmente marginalizados.

Como se não bastasse toda a dor causada pelo afastamento daqueles que ele mais amava, ainda era obrigado a se submeter à um humilhante costume exigido naquela época. Cada vez que um leproso visse uma pessoa normal se aproximando dele, deveria gritar para que todos pudessem ouvir:

- "Leproso! Leproso! Leproso!"

Desta forma as pessoas seriam avisadas para desviarem seu caminho e não se aproximarem daqueles que eram vistos como miseráveis pecadores amaldiçoados por Deus.

Os anos se passaram e aqui nos encontramos já vivendo o século XXI. A humanidade evoluiu cientificamente e com isso o bacilo Mycobacterium leprae foi identificado transformando a lepra em apenas mais uma doença passível de ser tratada e curada. Somente acho lamentável que a mentalidade de muitos seres humanos não tenha evoluído na mesma proporção que a ciência avançou.

Vivemos em um mundo onde 97% das pessoas são de alguma forma religiosas, ou seja, acreditam em algum tipo de força superior transcendente e sobrenatural denominada deus ou deuses. Os 3% que não pensam da mesma forma e se atreveram em algum momento de suas vidas a se declararem ateus ou ateus agnósticos, são vistos por esta esmagadora maioria de religiosos como verdadeiros leprosos morais.

Os familiares religiosos os rejeitam, os amigos religiosos se afastam e até no trabalho correm o risco de serem demitidos pelos seus patrões igualmente religiosos. Quando estes marginalizados do mundo da fé procedem de algum tipo de comunidade religiosa, passam a ser alvo de uma espécie de asco e ódio "santificados" por parte daqueles que antes lhes chamavam de irmãos.

O antagonismo que recebem é tão gritante que nem precisam mais alardearem pelos quatros cantos: "Leproso! Leproso! Leproso!". O mundo religioso é quem se incumbe de dar o sinal de alerta mediante sistemática difamação e insinuante calúnia: "Cuidado, aquele ali é um ateu!"; "Apostatou da fé!"; "Abandonou a Deus!"

Quanto a lepra, ainda entendo que havia uma razão lógica para, naquele tempo, afastarem os contaminados. A doença era contagiosa e não tinha cura. Mas e quanto ao ateísmo? Ele é contagioso? De forma alguma! Só se torna ateu quem quer. Ele não tem cura? Eu acredito que não, porém os "sãos" nada tem a temer, pois além de já estarem vacinados com a fé, não existe qualquer risco de contaminação involuntária.

Então, por que um ateu precisa ser tratado como um leproso? Eu sinceramente não entendo. Eles continuam sendo as mesmas pessoas. Suas convicções mudaram, mas não o seu caráter. É claro que existem bons e maus ateus, assim como existem bons e maus religiosos. Se um religioso é honesto e cumpridor das leis, a tendência é que, caso um dia venha se tornar um ateu, continue sendo honesto e cumpridor das leis.

Este negócio de pensar que a concepção da inexistência de Deus torna tudo válido, só passa pela cabeça pequena de pessoas que não entendem nada de cidadania e respeito ao próximo. Somente um péssimo religioso faz o que é certo com vistas na recompensa e com medo do castigo. Um bom religioso faz o que é certo simplesmente porque é a coisa certa a ser feita. Um bom ateu também!

O que mais me entristece nesta história é saber que estes "cristãos", que agem de forma discriminatória e desrespeitosa para com os ateus (leprosos?), tiveram em seu Mestre máximo um exemplo bem diferente.

Jesus não excluiu os leprosos de seu convívio, nem muito menos os considerou párias da sociedade.

Jesus os amou!

Observação: Esta postagem foi inspirada em uma rápida conversa que tive ontem ao telefone com um primo, por parte de pai, que eu admiro e gosto muito. Apesar de não mais compartilharmos das mesmas convicções, ele soube demonstrar na prática aquilo que alguns conhecem apenas por preceito. Não irei nomeá-lo aqui em respeito a sua privacidade, porém, caso ele um dia leia esta postagem e queira identificar-se, poderá fazê-lo no espaço reservado aos comentários dos leitores.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Ateu e Agnóstico é tudo farinha do mesmo saco

por Cleiton Heredia


Se tanto um ateu quanto um agnóstico não dão crédito a qualquer tipo de revelação divina, não acreditam plenamente que Deus exista e valorizam a razão como o mais importante fator na busca pela verdade, por que será então que os crentes em deus ou deuses (teístas, deístas, panteístas, pandeístas) são complacentes com os agnósticos e extremamente preconceituosos contra os ateus?

Se perguntarmos para um ateu: “Você acredita que deus ou deuses existam?” Ele responderá: “Não!” Se continuarmos e perguntarmos: “Por quê?” Ele provavelmente dirá: “Não encontrei até o momento evidências satisfatórias para assim fazê-lo.”

Agora, se fizermos as mesmas perguntas para um agnóstico, ele dirá primeiramente: “Não posso afirmar que sim, mas também não posso afirmar que não.” Na sequência, em resposta ao “Por quê?”, ele provavelmente dirá: “Não encontrei até o momento evidências satisfatórias para assim fazê-lo.”

Pelo que entendo do ateísmo e do agnosticismo, o motivo de ambos os grupos não crerem que deus ou deuses existam é exatamente o mesmo: Falta de evidências.

Então por que os religiosos tratam os agnósticos de forma menos preconceituosa que os ateus? Será que eles pensam que todo aquele que se declara ateu já fechou a questão sobre este assunto e o agnóstico se mantém aberto para mais evidências? Se for isto, eles estão errados. Qualquer ateu esclarecido sempre se mantém disposto a seguir o rumo que as evidências o conduzirem. Ninguém se transforma em ateu sendo bitolado ou dogmático, muito pelo contrário.

Será então que o preconceito vem dos religiosos considerarem os ateus como criaturas sem deus no coração? Mas se for assim, quem disse para eles que os agnósticos têm mais deus no coração que os ateus? Os agnósticos são tão céticos quanto à crença em deus ou deuses quanto os próprios ateus. Se os religiosos consideram os ateus como seres maus e imorais por não terem deus em suas vidas, porque um agnóstico, que duvida da existência de deus, seria uma pessoa melhor? Em termos práticos, deus está fora da vida do ateu o tanto quanto está na vida do agnóstico?

O grande problema nesta questão se chama IGNORÂNCIA. Para muitos religiosos, o ateu virou sinônimo de filho do capeta, enquanto que o agnóstico, a maioria nem mesmo sabe o que significa (alguns acham a palavra “chique” com um certo ar de intelectualidade).

Em termos práticos de vida religiosa e fé, ateu e agnóstico é tudo a mesma coisa, pois ambos não adoram ao mesmo deus que os crentes adoram, não acreditam no livro sagrado que eles acreditam, não confiam nos profetas que eles tanto valorizam e nem ficam de joelhos rezando com fé esperando um dia herdarem a vida eterna.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Todo Agnóstico é um Ateu

por Cleiton Heredia


Tradução: "Ateus eu posso aturar - são estes agnósticos insossos que eu não aguento!"


Antes que os Agnósticos "Teístas" protestem contra o título desta postagem, quero dizer que não sou eu que afirmo isto, mas sim a ATEA - Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos que é uma entidade sem fins lucrativos sediada virtualmente no site www.atea.org.br.

Na sessão que eles mantêm de Perguntas e Respostas, logo no primeiro item (Definições) encontramos o que se segue abaixo (em itálico):

O que é ateísmo?

Existem várias definições para ateísmo. Adotamos a definição mais abrangente, que reflete a etimologia da palavra: ateísmo é qualquer forma de ausência de teísmo - ou seja, ateísmo é a ausência de crença em quaisquer divindades.

O que é agnosticismo?

Também existem várias definições para agnosticismo. A definição que adotamos reflete a etimologia da palavra. O radical gnosis significa conhecimento; assim, agnosticismo é a afirmação de desconhecimento a respeito da veracidade de uma proposição. Em outras palavras, o agnóstico afirma que a questão da existência de divindades ainda não foi decidida, ou não pode ser decidida. A rigor, o agnosticismo pode se referir a qualquer afirmação, mas em geral a palavra se refere a idéias metafísicas, particularmente à existência de deuses.

Todo agnóstico é ateu?

Segundo as definições que adotamos, sim. Todos os ateus, agnósticos ou não, rejeitam o teísmo: os agnósticos porque entendem que a questão não está decidida, e os demais porque entendem que ela já foi decidida contra o teísmo. No entanto, quem se identifica como ateu em geral adota uma forma não agnóstica de ateísmo.


Portanto, do ponto de vista desta conceituada entidade, que adota uma interpretação etimológica das palavras Ateu e Agnóstico, quem se declara Agnóstico deveria entender que neste termo está subentendido uma postura ateísta, que é a ausência de crença em qualquer divindade.

A única diferença entre aquele que se declara abertamente Ateu e aquele se declara Agnóstico está na forma ou intensidade com que abraça o ateísmo. O primeiro é bem mais assertivo, enquanto que o segundo evita esta assertividade, adotando uma postura mais branda e até conciliatória. Porém, tal atitude por parte dos agnósticos é muitas vezes interpretada pelos que se declaram, com plena convicção, teístas ou ateístas, como uma postura dúbia ou, usando um termo mais popular, "em cima do muro".

Eu fico pensando se não seria mais coerente, para aqueles que não querem abrir mão na crença em um Deus Criador, assumir uma postura Deísta ou até Pandeísta:

Deísmo: postura filosófica que admite a existência de um Deus criador, mas questiona a ideia de revelação divina. É uma doutrina que considera a razão como uma via capaz de nos assegurar da existência de Deus, desconsiderando, para tal fim, a prática de alguma religião denominacional. (Fonte: Wikipédia)

Pandeísmo: corrente religiosa sincrética (do grego: πάν (pan), "todo" e do latim deus, "deus") proveniente da junção do panteísmo (identidade de Deus com o Universo) com o deísmo (O Deus criador do universo não mais pode ser localizado, senão com base na razão), ou seja, a afirmação concomitante de que Deus precede o Universo, sendo o seu criador e, ao mesmo tempo, sua Totalidade. (Fonte: Wikipédia)

A pergunta que fica é a seguinte: Se o Agnóstico Teísta ou Teísta Agnóstico (é a mesma coisa) assume não ter conhecimento da existência de Deus, então por que continuar insistindo em crer nele?

Perguntando de uma outra maneira: Se uma pessoa não quer abrir mão da crença em um Deus Criador por uma questão meramente pessoal (foro íntimo), por que então não abraçar pela fé o Teísmo de uma vez por todas e esquecer este negócio de agnosticismo?

Teísmo não combina com Agnosticismo.

sábado, 8 de janeiro de 2011

O mundo seria um lugar bem melhor sem religião

por Cleiton Heredia


Recentemente deparei-me com uma interessante postagem escrita por uma jovem de 20 anos cujo título era "Não gosto de religião".

Título intrigante se considerarmos o fato dele ter sido escrito por alguém que nasceu e cresceu em um lar cristão, estudou em um colégio cristão tradicional e frequentou uma igreja cristã de padrões conservadores desde a mais tenra idade.

Ela escreveu:

"Acredito que foi aos dezesseis anos que parei de frequentar a igreja e, desde então, não tenho sentido falta. Isso mesmo: não sinto falta, e ainda ouso dizer que não voltarei a sentir. Pra ser bem sincera, sempre me senti presa naquele meio, nunca levei muito a sério a lavagem cerebral a que era submetida semanalmente. Sim, para mim, aquilo era uma espécie de lavagem cerebral, pura alienação." (Grifos acrescentados)

Palavras fortes. Porém, o que mais me chamou a atenção foi esta declaração:

"Acho que o mundo seria um lugar bem melhor sem religião. Veja bem, não disse fé; disse religião. Não deveria existir denominação religiosa. Acho um absurdo a quantidade de notícias sobre violência relacionada à intolerância religiosa. Outro fator que me chama a atenção é que, geralmente as religiões pregam sobre a igualdade entre os homens, e o que vemos nestes contextos é exclusão, seja por classe social, por etnia e, principalmente, por opção sexual. Na teoria, as religiões deveriam unir o mundo; na prática, acabam dividindo-o ainda mais. Pode soar até meio anarquista (?), mas realmente, acho que o mundo seria bem melhor sem religião." (Grifos acrescentados)

Já faz algum tempo que eu estava tentando escrever um texto para servir de contexto para o vídeo que vocês assistirão logo a seguir. Ao ler esta postagem da Michelle Borges, digo que não precisarei mais escrevê-lo. Ela conseguiu resumir muito bem a essência daquilo que eu gostaria de ter dito: "O mundo seria um lugar bem melhor sem religião".



Michele Borges é estudante de jornalismo, editora do Blog da Michas e filha de um grande amigo que formou-se juntamente comigo no Teológico.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Como viver mais e melhor

por Cleiton Heredia


Estamos vivendo em pleno século 21 e muitos são os tratamentos e substâncias que prometem evitar a velhice. Mas será que eles realmente funcionam?

Veja o que diz uma equipe de pesquisadores que resolveu avaliar cientificamente estas propostas de combate à velhice:

"À luz do conhecimento atual, nenhum dos métodos comercializados provou-se capaz de retardar, parar ou reverter o envelhecimento humano. Alguns desses métodos podem inclusive ser perigosos".

Decepcionado? É meu(minha) amigo(a), pelo jeito a fonte da eterna juventude continuará sendo exclusividade dos livros de contos de fadas ou das histórias de ficção científica. Porém, a boa notícia é que o avanço científico atual já nos permite minimizar muitos danos que diminuem a vida útil da máquina humana.

Como? Muito simples! ESTILO DE VIDA SAUDÁVEL. Nada de fórmulas mágicas, elixires milagrosos ou tratamentos caríssimos.

Mas o envelhecimento de cada um não está relacionado com a nossa carga genética? Sim, mas estudos recentes demonstram que fatores genéticos respondem por apenas 30% da longevidade do indivíduo. Os outros 70% ficam por conta do estilo de vida.

Mas qual é o estilo de vida ideal?

Tenho certeza que você já sabe a resposta a esta pergunta, pois ela é por demais óbvia. Um estilo de vida saudável pode ser resumido em nove atitudes muito simples:

1- ALIMENTE-SE CORRETAMENTE: Este item sozinho pode aumentar ou diminuir a vida de uma pessoa em até cerca de 13 anos. Muito embora a ciência esteja derrubando alguns tabus alimentares, transformando vilões do passado em mocinhos no presente, já se sabe com razoável certeza que uma boa dieta alimentar deve conter frutas, vegetais, grãos integrais, peixe, nozes e poucas porções de carne sem gordura.

2- NÃO FUME: Não preciso nem comentar, né? Hoje qualquer idiota sabe que o cigarro só faz mal.

3- NÃO INGIRA BEBIDAS ALCOÓLICAS: Já sei, já sei. Você, que é chegado numa bebidinha "de vez em quando" vai vir com aquela história de que os cientistas já comprovaram que uma taça de vinho por dia faz bem ao coração e às artérias. É interessante notar que a maioria das pessoas que repetem isto são consumidores habituais de bebidas alcoólicas que raramente ficam apenas em uma taça quando bebem. Se uma taça equivale a cerca de 150 ml, então são SÓ 150 ml de vinho por dia e não venha com aquele cálculo compensatório achando que poderá tomar o dobro hoje só porque não bebeu ontem. O que estas pessoas esquecem que aquilo que pode estar beneficiando o coração e as artérias pode estar prejudicando o fígado. Meu(minha) amigo(a), tome suco de uva tinto puro que o benefício será o mesmo (se não acredita, leia aqui).


4- CONTROLE SEU PESO: Não estou falando para você se transformar em uma modelo anoréxica, pois pesquisas demonstram que não são apenas as pessoas muito gordas que vivem menos; as muito magras também! Descubra qual é a faixa de peso ideal para a sua altura e aprenda a se manter dentro dela.

5- EXERCITE O CORPO: Não precisa virar um atleta de alta performance, mas basta caminhar uma hora por dia durante sua vida para abreviar a morte por cerca de dois anos. Porém, exercício diário não é somente para se viver mais, mas para se viver com uma melhor qualidade de vida.

6- EXERCITE A MENTE: Estudar línguas estrangeiras é um ótimo exercício para o cérebro, pois cria novas conexões entre os neurônios. Caso queira conhecer mais dicas de como manter seus neurônios saudáveis, clique aqui.

7- TENHA MUITOS AMIGOS: Pessoas bem relacionadas socialmente têm menos problemas psicológicos e envelhecem de forma muito mais saudável.

8- DÊ MUITA RISADA: Risadas exercitam o coração, reduzem os níveis dos hormônios do estresse, aumentam a imunidade e limpam os pulmões. Pessoas bem humoradas e otimistas vivem mais que os mal humorados e pessimistas.

9- TENHA AUTONÔMIA E INDEPENDÊNCIA: Isto significa apenas que você deve aprender a cuidar de si mesmo. Tenha iniciativa de fazer por si mesmo as coisas que devem ser feitas e não fique esperando pelos outros ou, o que é pior, culpando os demais por não conseguir transformar a sua vida.

Seguindo estas simples e eficientes regrinhas de um viver saudável, a inevitável velhice não será um problema a temer em sua vida.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Por que envelhecemos?

por Cleiton Heredia


O ciclo de 2010 se completou e mais um ano se inicia nos dizendo, entre tantas coisas, que estamos ficando mais velhos. Podemos não notar, mas caso nossa vida fosse condensada em 60 minutos, veríamos isto:



É aqui neste ponto que muitos irão parar a leitura desta postagem, pois não querem de forma alguma ser lembrados deste fato inevitável do ciclo da vida. Porém, para aqueles que continuaram lendo, quer seja por mera curiosidade ou porque sabem que fugir do problema não é a melhor forma de encará-lo, quero partilhar algumas informações interessantes.

A maioria das pessoas acredita que o envelhecimento é simplesmente um processo programado que sucede o desenvolvimento embrionário e o crescimento, ou seja, é algo que acontece inevitavelmente pela simples passagem do tempo.

A ciência tem constatado que a longevidade dos seres vivos está diretamente relacionada com o número de vezes que a célula de cada espécie é capaz de se dividir. Por exemplo, as células do camundongo dividem-se 15 vezes e este animal vive em média três anos, já as células das tartarugas das ilhas Galápagos dividem-se 110 vezes e elas vivem cerca de 175 anos.

Os cientistas já sabem que o número de divisões celulares é determinado pelo tamanho dos telômeros (um novelo de DNA localizado na extremidade dos cromossomos). A cada divisão, os cromossomos perdem parte do telômero, até que chegar o momento em que ficam tão pequenos que a célula pára de se dividir e morre. Em outras palavras, o envelhecimento é predominantemente um problema de divisão da célula (Dr.Richard Lerner do instituto de pesquisa The Scripps - La Jolla, Califórnia).

Por outro lado, alguns outros cientistas, como o Dr.Jay Olshansky, estão mais propensos a entender o envelhecimento como um processo aleatório causado por danos que vão se acumulando no organismo, apesar de ainda existir algumas complicações neste tipo de entendimento.

Para eles, não existe uma programação genética que nos conduza forçosamente ao envelhecimento. Muito pelo contrário, existem sim genes programados para combatem o envelhecimento. Eles são os responsáveis por reparar os danos causados às células e evitar ameaças. Porém, com o passar do tempo (após a idade reprodutiva) o trabalho para eles aumenta de tal forma que vão perdendo sua eficiência, chegando num ponto em que não conseguem mais dar conta do recado. Ou seja, de acordo com esta teoria, os genes influenciam no envelhecimento, mas apenas de forma indireta.

Mas o que causa e aumenta o dano às células, complicando cada vez mais o trabalho dos genes protetores?

Os cientistas estão em busca desta resposta. O que se sabe atualmente é que os radicais livres (moléculas altamente reativas produzidas aos bilhões dentro da célula como resíduo tóxico da transformação da glicose em energia) são uma ameaça para a célula porque reagem com qualquer molécula que encontram, modificando-a (elas deformam o DNA, as enzimas e as proteínas que são vitais para o nosso corpo funcionar corretamente).

Em face disto, o que podemos fazer para viver mais?

Amanhã falaremos disto.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Presente e Futuro

por Cleiton Heredia


Muitas pessoas se gabam de viver o presente sem se preocuparem muito com o futuro. Porém, estas mesmas não param para pensar que o presente do amanhã é o futuro de hoje. Desta forma, não percebem que ao viverem o presente, nada mais fazem que vivenciar aquilo que para eles ontem era chamado de futuro.

Escrevo isto como uma forma de criticar a atitude imediatista que vemos na vida de muitos jovens hoje em dia.

Eles querem se divertir hoje! Querem curtir ao máximo o seu momento presente! Porém, o fazem de tal maneira inconseqüente que muitas vezes acabam inviabilizando o presente do amanhã, ou seja, o futuro que dizem não estarem preocupados.

Para eles, encher a cara em uma balada até o dia amanhecer, consumir psicotrópicos e abusar do seu corpo em situações de potencial risco, é viver intensamente o presente. Mas estes momentos não são eternos. Eles não possuem o poder de parar o tempo e transformar o volátil presente em um eterno presente. Eles não querem pensar no amanhã que acabará se transformando inevitavelmente no seu presente. E o pior, um presente onde terão que arcar com todas as conseqüências das suas escolhas tomadas no presente de ontem.

Não adianta tentar esquecer o futuro, pois ninguém poderá fugir dele. Ele fatalmente chegará para todos aqueles que continuarem vivos. Somente um ser imortal é capaz de viver um eterno presente aonde o amanhã nunca chega. Os jovens se julgam imortais, mas não o são! Aqueles que não acreditaram nisto tiveram que verificar na sua própria pele a veracidade de sua mortalidade. É uma pena que este tipo de aprendizagem não faça mais a menor diferença em sua vida, pois esta já não mais existe.

Faço um apelo para estes jovens que se iludem com a proposta fantasiosa de viver apenas o presente sem pensar no amanhã:

O presente de hoje inevitavelmente será seguido de um presente amanhã, portanto aprenda a viver intensamente o seu presente sem permitir que esta intensidade o inviabilize de viver intensamente seus demais presentes para o resto da sua vida.

Isto sim é saber viver o presente!

sábado, 1 de janeiro de 2011

Minha primeira postagem em 2011

Se você acha que a festa de recepção ao ano de 2011 em Copacabana foi incrível...


... espere para ver a de 2012!


Acho que todos conhecem aquela frase jocosa que diz:

"Para que levar a vida tão a sério se não sairemos vivos dela?"

Bem, é claro que esta é uma frase humorística e deveria ser entendida como tal, porém me espanto ao ver como tem babaca que a toma como uma profunda filosofia de vida a ser seguida.

Para início de conversa, o objetivo de levar a vida a sério não é sair vivo dela, mas apenas não sair dela cedo demais.

Outra coisa, levar a vida a sério não significa ser um chato de galochas. Encarar a vida com bom humor é fundamental para uma boa saúde física e mental. Somente os sábios sabem rir dos próprios erros sem perder a chance de aprender com eles.

Em 2011 encare a vida com a seriedade e o bom humor que ela merece.